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Entrevista Indesejada

DANIEL LIMA - 18/04/2013

Errou redondamente quem acreditou que Maurício Xangola Mindrisz, presidente da FUABC (Fundação do ABC), responderia à Entrevista Indesejada de CapitalSocial. Depois de impor condicionalidades rejeitadas porque não passavam de pretexto para amenizar a fuga, Xangola deixou esgotar o novo prazo esticado. O dirigente se acha intocável, porque foi elevado ao cargo pela cúpula da Prefeitura de São Bernardo, especificamente pelo prefeito Luiz Marinho e pela primeira-dama e supersecretária Nilza de Oliveira, em combinação com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

 

Por conta do silêncio autocondenatório do presidente da Fundação do ABC, CapitalSocial voltará nos próximos dias a desvendar e a analisar aquela instituição sustentada por recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) repassado às Prefeituras de Santo André, São Bernardo e São Caetano.

 

Desenvolveremos em capítulos uma avaliação da Fundação do ABC, tendo como base a condensação dos pontos temáticos implícitos nas indagações não respondidas por Xangola. Eis os assuntos sobre os quais se debruçará CapitalSocial:

 

a) Por que Xangola não resiste às pressões da Faculdade de Medicina, uma das instituições do entorno da Fuabc, a ponto de promover socorro financeiro fora dos padrões de legalidade?

 

b) Por que o Conselho Curador da Fundação do ABC é avaliado como encenação de legalidade, de legitimidade e de democracia resolutiva?

 

c) Por que a Administração petista de São Bernardo pretende perpetuar-se no controle estratégico e financeiro da Fundação do ABC?

 

d) Por que a sustentabilidade institucional da Fundação do ABC se dá à custa de um regime diretivo que fecha os olhos a obscuridades mutuamente desfrutadas pelo consórcio que lhe dá guarida política e financeira?

 

e) Por que a Central de Convênios é uma caixa-preta dentro da caixa-preta da Fundação do ABC?

 

f) Como se explica a queda preocupante dos números de eficiência administrativo-financeira da Fundação do ABC desde a chegada de Maurício Xangola Mindrisz à presidência?

 

g) Por que a Fundação do ABC não toma a iniciativa de chamar o Ministério Público para refutar as informações de que é um centro de desmandos diretivos que têm como núcleo de incorreções a contaminação da gestão de recursos financeiros?

 

h) Por que o presidente da Fundação do ABC não dá um passo em direção à transparência de verdade em forma de propor a abertura de vagas no Conselho Curador a representantes da sociedade sem vinculo direto ou indireto com as administrações públicas?

 

Feixe para a fuga

 

Como se observa, basta esse conjunto de questões a exprimir o material remetido a Maurício Xangola Mindrisz para que se retirem todas as eventuais dúvidas sobre os motivos que o levaram a fugir da raia de Entrevista Indesejada. Xangola cumpre um ritual de acovardamento semelhante a de gestores que passaram pela presidência da Fundação do ABC. Nada surpreendente, portanto, embora haja um ingrediente novo e preocupante: a premissa de que São Bernardo pretende imprimir um ritmo todo especial de vantagens políticas no comando daquela entidade entre outras razões porque se entende que se está investindo num território praticamente liberado a flexibilidades administrativas.

 

Não existe possibilidade de que este jornalista esteja a exagerar na dose de liberdade de expressão e de liberdade de imprensa, muito menos de liberdade crítica, quando assegura que a Fundação do ABC é caso único de regionalidade que deu certo na Província do Grande ABC porque é fruto de acertos. Tome o leitor a conclusão que quiser sobre o jogo de palavras da frase. Deu certo por causa de acertos, eis uma frase para ser pensada e repensada. Só não se admitem ingenuidades, evidentemente.

 

Se Maurício Xangola Mindrisz imaginou que a Fundação do ABC teria prazo de validade esgotado nesta revista digital em consequência do distanciamento informativo que ele prefere manter da sociedade da Província do Grande ABC provavelmente foi mal orientado. Não é por conta de uma negativa mais que esperada que Fundação do ABC passaria a constar apenas do arquivo de CapitalSocial. Conhecesse melhor o viés elucidativo desta revista digital, Maurício Xangola Mindrisz não teria tomado um ramal equivocado na bifurcação que se lhe apresentou, ao tomar o atalho mal iluminado da omissão em vez de socializar declarações esclarecedoras.

 

E o Conselho Curador?

 

Fosse o Conselho Curador da Fundação do ABC razoavelmente livre para agir em nome de uma instância que manipula mais de R$ 1 bilhão por ano, mais que obrigatoriamente teria reagido à iniciativa de CapitalSocial e, antes mesmo de esperada bateria de respostas à Entrevista Indesejada, teria programado uma assembleia geral para que esclarecimentos fossem expostos por Xangola. Nada diferente se esperaria da diretoria executiva.

 

Mas como imaginar qualquer iniciativa interna que coloque a Fundação do ABC sob o crivo de esclarecimentos se a estrutura corporativa range de compadrios como uma engrenagem enferrujada?

 

É por essas e outras que CapitalSocial não abrirá mão de manter na agenda de análises tudo o que se passa na Fundação do ABC que tenha implicações com os recursos financeiros encaminhados às respectivas prefeituras.

 

Xangola deve ter chegado à conclusão, com essa decisão de CapitalSocial, que, ao fazer-se de vítima de que estaria sendo desrespeitado pelo tratamento nominativo que CapitalSocial lhe atribui, simplesmente se utilizou de uma falácia que enterrou de vez qualquer possibilidade de ser levado a sério.

 

Afinal, se Maurício Xangola Mindrisz é Maurício Xangola Mindrisz e não Maurício Marcos Mindrisz, a explicação está na autodeclaração do presidente da Fundação do ABC, que se apresenta como Xangola e mantém caixa postal eletrônica sob a denominação Xangola, embora com a grafia (Changola) que CapitalSocial não aprovou e decidiu metabolizá-la por conta de uma sintonia mais fina entre consoantes e vogais e o resultado fonético que apresenta. CapitalSocial sugere que “Changola” adote “Xangola”, porque nesse caso, diferentemente da fuga de Entrevista Indesejada, a emenda é melhor do que o soneto.

 

É claro que a questão nominativa a envolver o presidente da Fundação do ABC é apenas uma brisa idiossincrática cultivada pelo presidente da instituição que CapitalSocial resolveu transformar em dilúvio de complicações para aquele dirigente. O mais importante mesmo e sobre isso não há como arredar pé é efetivar-se completa imersão nas águas impuras de uma organização que retirou o verbete regionalidade do gueto de incompetências sistêmicas na Província do Grande ABC e o instalou num patamar de suspeição a ser apurada.



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