 
 DANIEL LIMA - 03/10/2025
DANIEL LIMA - 03/10/2025
Cá estou de volta um dia depois de prometer que levantaria dados sobre o índice médio de trabalhadores com carteira assinada que contam com diploma de Ensino Superior no Grande ABC em confronto com a média nacional. A média paulista ainda não registrei. A conclusão é a esperada: perdemos para a média brasileira.
Perder para a média brasileira, média brasileira que todos sabem é a média de um País que não cresce há muito tempo mais que 1% ao ano no PIB per capita, perder nessas condições é o fim da picada. Mas perdemos.
O Grande ABC conta nesta temporada com estoque 40% abaixo da média brasileira como saldo líquido de empregos de Ensino Superior.
O Grande ABC contabiliza nesta temporada apenas 109 contratações com carteira assinada de profissionais com Ensino Superior completo. O universo de contratações registradas no Ministério do Trabalho alcança 22.112 trabalhadores.
Já o Brasil como um todo, incluindo o Grande ABC, contratou nos primeiros oito meses deste ano, em termos de saldo líquido, 1.491.148 trabalhadores. Desse total, 102.771 são portadores de diplomas de Ensino Superior.
DIFERENÇA ALARMANTE
Comparando a participação relativa exclusivamente do Grande ABC nesse recorte educacional, registramos 4,93%, enquanto o registro relativo à média brasileira é de 6,89%. A diferença é de 1,96 pontos percentuais, ou de 39,75%. A distância deveria ser tratada como alarmante por quem tem juízo.
Como assim, alarmante? Ora bolas, porque é alarmante mesmo, levando-se em conta o concorrente que derrota o Grande ABC. Mal comparando, mas comparando, é como se o Palmeiras de Abel Braga, o time mais competente dos últimos cinco anos no futebol brasileiro, viesse a cair pelas tabelas e se estatelasse em desvantagens diante de times de menor qualificação.
O Grande ABC econômico é relativamente maior que a média brasileira em tudo que for importante, mas no mercado de trabalho, especificamente no quesito de contratações líquidas de diplomados, perde para um concorrente comprovadamente frágil. E a diferença é de 40%. Quem acha isso pouco precisa ser internado.
MAIS CONFRONTOS
Fico imaginando um novo desdobramento, do qual dificilmente vou fugir como objeto de investigação. Qual seria então a situação comparativa entre o Grande ABC como um todo e os municípios que constam do G-22, o grupo das 20 maiores cidades do Estado de São Paulo (exceto a Capital), comprovadamente com desempenho muito mais positivo neste século?
Não custa lembrar que o G-22 é invenção deste jornalista por conta de que não posso praticar a burrice de defender a regionalidade em todos os sentidos e esquecer que o mundo regional não se limita aos sete municípios locais.
Mais que isso: a regionalização, a estadualização, a federalização e a globalização dos negócios e decisões não permitem que alguém com juízo no lugar se restrinja a analisar o Grande ABC exclusivamente pela ótica do Grande ABC. Infelizmente, é o que muitos fazem. Aliás, todos fazem na região. Criei o recorte do G-22 porque somente assim, entre outras formulações, é possível capturar nuances essenciais a qualquer tipo de avaliação sobre qualquer tipo de assunto sem que se cometa o erro crasso de cair do cavalo de interpretações.
DISPUTA LÓGICA
Me parece que não há possibilidade alguma de a metodologia que apliquei à mensuração da participação relativa de profissionais com diploma do Ensino Superior no Grande ABC ser inapropriada tanto internamente quanto em confrontos com outras esferas de governo, e mesmo com outros municípios, como pretendo levar adiante nos próximos dias.
A ideia contraposta em boa hora, porque permite o contraditório fértil, de que os diplomados do Grande ABC seriam mais suscetíveis a carreiras solos, como empreendedores, é contraponto interessante na tentativa de amenizar a situação no quadro comparativo. Mas o que vale para a região vale para todos, País como um todo ou municípios individualmente.
Não custa lembrar, também, que eventual investigação sobre o empreendedorismo individual ou assemelhado, caso das MEIs, revelaria o agravamento da escanteada dos diplomados de atividades econômicas. Como assim? Basta ver o quanto de inadimplência desse modelo de sobrevivência profissional aparece nas manchetes de jornais de vez em quando.
PROVAS DE PERDAS
De fato, muitos dos MEIs não passam de desempregados profissionais que vivem de esporádicos trabalhos. Está aí, também, mais um condimento de contestação, ou de esclarecimento, aos festejados índices de baixo desemprego nacional. Sem contar, claro, o Bolsa Família.
Mas, retomando a questão regional do baixo grau de contratações formais de trabalhadores com diploma de Ensino Superior, a situação é portanto muito mais grave do que se supunha.
Insisto nessa constatação porque não se deve desprezar o fato de que o PIB per capita médio dos moradores do Grande ABC ainda é maior que o PIB per capita médio dos brasileiros. Já escrevi sobre isso. E que, também, o PIB de Consumo per capita médio do Grande ABC é igualmente maior que o PIB de Consumo per capita média dos brasileiros.
Esses dois indicadores são suficientes para, também, comprovar o processo de ladeira-abaixo do desenvolvimento econômico da região. Algo que vem do passado, especialmente dos anos 1990, e que segue insidiosamente. Tanto quanto o descaso de autoridades públicas, de agentes privados e da mídia em geral.
FICHA NÃO CAIU
A ficha de todos ainda não caiu. Vivemos intenso festival de triunfalismo, mesmo quando as manchetes de jornais, constrangidas e contraditórias, apontam a imperiosidade dos fatos que resistem a versões adocicadas.
Prometo aos leitores que preferem os fatos às fantasias que a questão da participação relativa de profissionais diplomados passará a integrar o vasto portfólio de análises desta publicação que já completou 35 anos ininterruptos. Ou seja: as equações que confrontarão o que somos em termos de mão de obra supostamente preparada e o que outros endereços contam serão permanentemente abordadas. Não darei trégua nessa nova empreitada.
Sei que a insensibilidade geral e o individualismo irrestrito que marcam uma sociedade servil e desorganizada seguirão em frente até que, quem sabe, uma liderança brote desse lamaçal de obscuridades e omissões e comece a mudar essa configuração diabólica.
Toda vez que visito o site do Clube dos Prefeitos do Grande ABC e da Agência de Desenvolvimento Econômico (e faço isso permanentemente) mais me convenço de que estamos afundando como Titanic e que a orquestra que toca o que não deveria tocar, porque nem existir deveria existir, não está nem aí com o que interessa para valer. A burocracia gélida produz programas supérfluos diante da realidade escancarada e se configura como um dos sintomas de um organismo entregue a deus-dará.
Estamos fritos, fulos, ferrados e fuzilados.