Imprensa

Capas: mais 612 páginas do
melhor jornalismo regional

  DANIEL LIMA - 24/08/2021

O que os leitores vão ler na sequência são trechos de novas cinco matérias que ocuparam posição de destaque de Reportagem de Capa da revista de papel LivreMercado, agora referente ao período de fevereiro a junho de 1998.  

O Grande ABC estava tomado por uma onda de otimismo justificável. A liderança do prefeito Celso Daniel se espraiava em direção àquilo que se imaginava uma retomada do Desenvolvimento Econômico, duramente impactado pela abertura econômica em 1990 e pelo fim da crônica inflação em 1994, além, claro, dos estilhaços do sindicalismo mais rebelde. 

Com essas cinco novas edições do Projeto Reportagem de Capa, chegamos a 2.130 páginas impressas em 20 edições a partir de novembro de 1996, quando LivreMercado ganhou o formato físico de revista e, portanto, deixou para trás a estrutura de tabloide. O total de 239 páginas de Reportagem de Capa se consumava. 

  

Quem salva os pequenos negócios? 

 DANIEL LIMA 

Reportagem de Capa – 12 páginas 

Edição de fevereiro de 1998 – 116 páginas

O império do salve-se quem puder domina os pequenos negócios do Grande ABC sem que autoridades públicas e lideranças da livre-iniciativa se movam de forma minimamente interessada. Cada novo grande empreendimento comercial ou na área de prestação de serviços que aporta na região, muitos dos quais em reformadas instalações de indústrias que debandaram, é recepcionado com entusiasmo e ufanismo só reservado aos heróis de guerra. É a indispensável modernidade que chega. As pompas variam, mas são geralmente pródigas no Poder Público, que concede facilidades de instalações de olho no bolo de receitas de impostos, muito mais concentrados e, portanto, mais fáceis de fiscalização. Ganham os consumidores, que passam a contar com conjunto cada vez mais completo de produtos e serviços, cujos preços refletem a competição pelo terceiro potencial de mercado consumidor do País. E os pequenos e tradicionais comerciantes de rua e prestadores de serviço, estimados em perto de 40 mil pontos de negócios? A cada nova inauguração de hipermercado, supermercado, grandes redes de autopeças, de móveis e de material de construção, o pequeno empreendedor amarga retração no caixa e engrossa a lista de mortalidade empresarial. O Grande ABC vive momento socioeconômico delicado na área industrial, como todos reconhecem, já que a abertura econômica, a globalização e a estabilidade monetária compõem vendaval de consequências ainda não exatamente dimensionadas. Entretanto, poucos detectaram os percalços entre pequenos varejistas dos centros comerciais históricos, dos corredores econômicos dos bairros e também, ou principalmente, das periferias. A legislação de uso e ocupação do solo é permissiva o suficiente para canibalizar os negócios não só diante da chegada de empreendimentos gigantes como também pela multiplicação desordenada, desorganizada e desesperada dos pequenos. A nordestinação dos negócios na região é realidade cada vez mais palpável. Entenda-se por nordestinação o fenômeno de abertura de pequenos empreendimentos principalmente por parte de desempregados da indústria. Garagens de veículos transformam-se em mercearias, bares, lanchonetes, pizzarias, locadoras de fitas de vídeo, açougues, cantinas.  

 

Região mostra nova cara 

 DANIEL LIMA E LARA FIDELIS  

Reportagem de Capa – 34 páginas 

Edição de março de 1998 – 132 páginas  

Entretenimento. Entretenimento. Entretenimento. Guarde bem essa palavra. Melhor ainda: guarde a expressão indústria do entretenimento. É a quinta onda econômica do Grande ABC, depois das cerâmicas, dos têxteis e dos químicos a reboque da chegada da São Paulo-Railway no final do século passado, da indústria automobilística nos anos 50, dos shoppings a partir do final dos anos 70 e do boom dos serviços em seguida. Entretenimento é um conjunto de atividades relacionadas diretamente com qualidade de vida. Bares, restaurantes, danceterias, cinemas, hotéis, teatros, centros de exposição, centros de convenções, tudo isso tem o guarda-chuva do entretenimento. Mas está faltando alguma coisa ainda — poderosíssima por sinal. São os parques temáticos, que dão visibilidade regional, imobilizam e mobilizam milhões de investimentos, atraem multidões de vários pontos do País e geram muitos empregos diretos e indiretos. São uma raridade no Brasil, mas atraem milhões de pessoas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Pois é: o Grande ABC de cara sisuda vai passar a exibir a alegria do entretenimento maior, dos parques temáticos. Nas páginas a seguir você vai entender muitas transformações por que passa o Grande ABC na indústria do entretenimento. Aliás, sejamos honestos: ninguém até agora se deu conta de que já estamos trafegando nessa ampla via de desenvolvimento econômico. Talvez seja porque ainda está longe do ideal, do minimamente aproveitável para uma região que contabiliza o terceiro mercado potencial do País. O parque temático Planeta Azul, num terreno de 100 mil metros quadrados na Avenida dos Estados, em Santo André, cujo lançamento está sendo preparado com pompa e circunstância, vai inaugurar a temporada de novas atrações da indústria do entretenimento no Grande ABC. Vão ser consumidos R$ 80 milhões num projeto inédito e com parceiros internacionais. Mas tem mais atrações. Em São Bernardo, nas antigas instalações da Volkswagen Caminhões, outro parque temático está pintando. Detalhes são mantidos em segredo, mas tudo indica que vai acoplar também algumas torres de hotéis em parte dos quase 300 mil metros quadrados de terreno. Quem achar que esses investimentos já são boas novas demais é porque não conhece o restante da história. Só em São Bernardo o prefeito Maurício Soares deve privatizar a administração e a operação de dois equipamentos que estão à deriva: a envelhecida Cidade da Criança e o quase abandonado Parque Estoril. Tem mais: a Agesbec vai sair da Avenida Índico. O mega-armazém que tantos problemas provoca no tráfego do centro do Município cederá lugar a um conjunto de atrações, entre as quais uma espécie de grande centro de convenções voltado prioritariamente à juventude. Querem mais novidades ainda? Então se prepare: a Anchieta, antiga rodovia que é vista pela maioria apenas como congestionada avenida, mas que já comporta corredor de entretenimento que começa com a Rota do Frango com Polenta, passa pela Rota dos Motéis e chega até o romântico Riacho Grande, também deverá ganhar um centro de exposições e um museu automotivo. Para variar, esses novos equipamentos devem tomar antiga área industrial, numa repetição da ocupação dos shoppings centers e dos supermercados e hipermercados.  

 

Capuava é grande 

Desafio regional  

 DANIEL LIMA 

Reportagem de Capa – oito páginas 

Edição de abril de 1998 – 116 páginas  

O aumento de produção da Petroquímica União, a primeira central de matérias-primas do País, é o maior teste à capacidade de mobilização institucional do Grande ABC. Responsável pelo abastecimento de empresas de segunda geração do setor petroquímico do Polo de Capuava e também de outros municípios, inclusive Cubatão, a PQU vive situação decisiva. É agregar mais capacidade de produção de eteno, do qual deriva multiplicidade de subprodutos da cadeia produtiva, ou continuar a marcha batida de perda de importância econômica com repercussões em grande parte do parque industrial da região. A Petroquímica União, que já foi a maior central de matérias-primas da América Latina, perde feio para as outras duas unidades-chave do País, a Copene e a Copesul, porque só participa com 21% da produção nacional de eteno. A batalha que as forças políticas, sociais e econômicas do Grande ABC têm pela frente é dessas oportunidades que se oferecem para testar até que ponto estão realmente preparados para potencializar a região o Consórcio Intermunicipal (formado pelos sete prefeitos), o Fórum da Cidadania do Grande ABC (integrado por conjunto de 100 entidades dos mais diferentes espectros) e a Câmara Regional do Grande ABC (uma combinação do Consórcio e do Fórum a que se somam Secretarias do governo do Estado). A importância econômica do Polo de Capuava, até recentemente relegado ao quarto de despejo das organizações político-administrativas da região, vai muito além da visibilidade tributária que começa a ser propagandeada. Mais que os 43% que os petroquímicos representam de forma direta para as receitas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de Mauá e 40% de Santo André, o grupo de empreendimentos que produz petroquímicos na divisa dos dois municípios pode significar, com novos aportes de produção, o surgimento de novas empresas de terceira geração, responsáveis por produtos acabados. Em resumo: tão relevante quanto os recursos tributários diretos e indiretos que proporciona, a revitalização do Polo de Capuava implementaria investimentos e empregos em novas unidades industriais. Por isso, não foi apenas o sentimento de solidariedade regional que levou ao Rio de Janeiro o prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, no começo do mês passado, numa comitiva que buscou sensibilizar o presidente da Petrobrás, Joel Mendes Rennó, para a importância da recuperação econômica da região. Tampouco o prefeito de Santo André, Celso Daniel, lhe fez companhia só porque é um dos mais determinados defensores da integração regional.  

 

Moveleiros querem  

uma virada no jogo 

 MALU MARCOCCIA  

Reportagem de Capa – 10 páginas 

Edição de maio de 1998 – 116 páginas  

A indústria de móveis do Grande ABC prepara-se para florescer novamente. Setor que já esteve no apogeu e deu fama à região até fins dos anos de 1970, quando começou a sucumbir diante de outros polos moveleiros do País e do furacão inflacionário que varreu a década de 80, a indústria de móveis está de volta. Não se trata apenas de tentar retomar a dinâmica econômica há muito desacelerada das estimadas 450 empresas que formam o parque produtivo regional e que empregam perto de seis mil trabalhadores. Trata-se de embarcar em iniciativas históricas que podem alterar o cenário do setor, preocupado em reposicionar-se para enfrentar outros polos que dispararam na corrida pela qualidade e produtividade dos tempos modernos, casos de Bento Gonçalves (RS), Rio Negrinho (SC), Arapongas (PR), Votuporanga (SP), Ubá (MG) e Linhares (ES). São áreas reconhecidas como polos moveleiros pela Abimóvel (Associação Brasileira da Indústria de Móveis) e que golpearam sobretudo São Bernardo, que até há duas décadas notabilizava-se como a Capital do Móvel do País por vender diretamente ao consumidor com lojas de fábricas, enquanto outras regiões só produziam para atacadistas. A sorte do jogo da indústria moveleira local será definida por uma reestruturação que tem como madrinha a Câmara Regional do Grande ABC. Grupo de trabalho do setor moveleiro foi criado no início do ano dentro da Câmara, instância que reúne o governo do Estado, as sete Prefeituras da região, entidades de classe empresariais, sociais e trabalhistas em busca de retomar o desenvolvimento do Grande ABC. “Somos uma das vocações econômicas da região e queremos mostrar que mudamos de cara, mas não morremos” – afirma o presidente do Sindicato da Indústria de Marcenaria de São Bernardo, Hermes Soncini, no comando de um programa de modernização centrado na renovação dos equipamentos, qualificação da mão-de-obra, capacitação tecnológica e melhoria da gestão dos negócios.  

 

Escolas despertam e 

descobrem o mercado 

 MALU MARCOCCIA – TUGA MARTINS 

Reportagem de Capa – 14 páginas  

Edição de junho de 1998 -- 132 páginas   

A Química ganha derivação para estudo do meio ambiente, a Mecânica cria opções para atuar com manutenção ou, num estágio mais avançado, em eletroeletrônica. O Direito do Consumidor recebe ênfase nos estudos de Administração e a mais nova profissão hightech, Info-Telecom, já prepara a primeira fornada para a virada do século. Formadores de conhecimento e de mão-de-obra, o Ensino Superior e as escolas profissionalizantes começam a seguir a cartilha da modernização econômica e a jogar pelos ares conteúdos pedagógicos ultrapassados. Cientes do potencial letal da desqualificação da mão-de-obra sobre os planos de eficiência das empresas, os centros de ensino do Grande ABC ajustam as grades curriculares a um mercado de trabalho implacável com baixa formação educacional. Mas nem todos os elos dessa corrente se fecham. Se estão abrindo com maior carga de conhecimentos a principal porta de entrada dos jovens no mercado, as faculdades e universidades — estas, sobretudo — mantêm fechadas as portas laterais que levam à integração mais estreita com as empresas: a pesquisa e o desenvolvimento de produtos. Boa parcela do Ensino Superior seria reprovada no vestibular da cooperação empresa-escola, desenvolvendo pouco, ou quase nada, em atividades para essa aproximação. Grande parte do novo posicionamento curricular das escolas decorre da visão de que recursos humanos qualificados são matéria-prima estratégica de empresas que buscam diferenciação. Conhecimento profissionalizante e formação geral consistente passaram para a ordem do dia de vários centros de ensino, preocupados não apenas em gerar empregos de qualidade, mas sintonizados com a atualidade. Foi o que a Faculdades Integradas Senador Fláquer, de Santo André, fez com o curso de Administração, seu carro-chefe com 1,8 mil alunos, ou 40% do total do alunado. A carga de informática foi duplicada para 160 horas, integrando não só noções básicas de computador mas sua aplicação no mundo administrativo. A turma do quarto ano ganhou disciplina nova, Análise do Meio Ambiente e Ecologia, assim como o Direito do Consumidor passou a inovar o currículo.

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