Economia

São Bernardo não precisa do
Grande ABC para crescer (3)

  DANIEL LIMA - 16/09/2021

Como ocorre no PIB (Produto Interno Bruto), a massa salarial dos trabalhadores em São Bernardo é superior ao efetivo com carteira assinada em Mauá, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Ou seja: São Bernardo é maior que a soma desses seis municípios. Apenas Santo André não entra no pacote equivalente à influência do mercado de trabalho.  

Os números que saltam à vista a cada novo indicador vão confirmar a supremacia da Capital Econômica do Grande ABC, endereço que dispensa ou mitiga a dependência da negligente regionalidade do Clube dos Prefeitos. Veja a massa salarial dos municípios do Grande ABC: 

1. Santo André com R$ 642.976.660 milhões para um total de 214.217 mil trabalhadores com carteira assinada.  

2. São Bernardo com R$ 991.085.166 milhões para um total de 258.124 trabalhadores com carteira assinada. 

3. São Caetano com R$ 365.821.531 milhões para um total de R$ 109.344 trabalhadores com carteira assinada.  

4. Diadema com R$ 285.1010.188 milhões para um total de 88.242 trabalhadores com carteira assinada. 

5. Mauá com R$ 188.269.202 milhões para um total de 60,677 trabalhadores com carteira assinada. 

6. Ribeirão Pires com R$ 58.462.833 milhões para um total de 21.585 trabalhadores com carteira assinada. 

7. Rio Grande da Serra com R$ 8.756.265 milhões para um total de 3.576 trabalhadores com carteira assinada.  

Números oficiais  

Nesta minissérie que oferece abordagem inédita no jornalismo regional (contrariando inclusive  pressupostos históricos de LivreMercado e CapitalSocial), a proposta é um paradoxo: estamos procurando demonstrar com dados estatísticos e realidade físico-territorial que São Bernardo pode contribuir muito mais com a regionalidade ao atuar com políticas públicas municipalistas no campo econômico do que ficar esperando pela funcionalidade inviável do Clube dos Prefeitos, em plena fase de mistificação.  

O ajuntamento dos sete municípios na instituição jamais foi fértil o suficiente para evitar a derrocada regional. Pior que isso: com o triunfalismo sequencial do prefeito dos prefeitos de plantão, a metodologia provou-se catastrófica.  

Os dados agregados desta análise são oficiais, do Ministério do Trabalho e Emprego. Referem-se à temporada de 2019. Os números do ano passado, atípicos por causa da pandemia do Coronavírus, ainda não foram oficialmente liberados, mas não deverão alterar significativamente a ordem geral.  

Afinal, o estoque de trabalhadores com carteira assinada no Grande ABC é um processo histórico, que se cristalizou durante décadas. Eventual oscilação numa temporada não afetará as avaliações.   

Médias salariais  

A melhor maneira de medir o dinamismo do mercado de trabalho regional é ter a massa salarial como referência principal. O número bruto de empregados nos vários setores é um indicativo de força, mas não é tudo. Distante disso. A média salarial encaminha a avaliação a um sentido lógico de robustez.  

Considerando-se essa premissa, São Bernardo de empresas automotivas, está distanciadamente na liderança. Veja a média salarial geral, envolvendo todas as atividades: 

1. Santo André – R$ 3.001,52 mil.  

2. São Bernardo – R$ 3.839,57 mil. 

3. São Caetano – R$ 3.345,59 mil. 

4. Diadema – R$ 3.329,87 mil. 

5. Mauá – R$ 3.102,81 mil. 

6. Ribeirão Pires – R$ 2.708,87 mil. 

7. Rio Grande da Serra – R$ 2.448,62 mil.   

Clássico regional  

Como se percebe, no que poderia ser chamado de principal clássico econômico do Grande ABC, o confronto entre Santo André e São Bernardo, centro geoeconômico dos sete municípios do século passado, até que Santo André entrasse em convulsão juntamente com São Caetano, a Capital Econômica comandada hoje pelo prefeito Orlando Morando acumula larga vantagem.  

A média salarial geral em São Bernardo é 28% superior a de Santo André. E também supera os demais municípios.  

Como se pode observar no ranking de médias salariais gerais, Santo André conheceu nas últimas décadas ciclos de desindustrialização com fundas perdas salariais. O que poderia ser um processo diferente, de redução do estoque de trabalhadores sem afetar a riqueza média nos holerites, se tornou duplamente danoso. A média salarial geral de Santo André só é superior a de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, economias menos qualificadas no Grande ABC.   

Mais equilíbrio  

A participação relativa da massa salarial de empregos formais do setor industrial de São Bernardo parece menos sensível a solavancos futuros do que o que já se registrou em São Caetano e em Santo André e que supostamente impactaria ao longo dos próximos anos os demais municípios da região. Explico.  

O conjunto de salários pagos a trabalhadores com carteira assinada em São Bernardo derivado do setor industrial representa internamente 24,39% do total geral, enquanto em Mauá chega a 45,05%, em Ribeirão Pires a 34,93%, em Rio Grande da Serra a 36,34 e em Diadema a preocupantes 50,98%.  Em São Caetano o estoque de trabalhadores industriais significa 18,91% da massa de salários e em Santo André, antigo e superado Viveiro Industrial, não passa de 16,77%.  

Quando se sabe que a média salarial do emprego industrial é geralmente muito superior a das demais atividades, o desequilíbrio para baixo ou para cima é preocupante. No primeiro caso, pode sugerir desindustrialização ou baixa industrialização (no caso de Santo André e São Caetano é desindustrialização grave) e no segundo um excesso de dependência da atividade de transformação de produto. Veja a comparação entre salário industrial e média salarial geral:  

1. Santo André tem média salarial industrial de R$ 4.102,67 ante média salarial geral de R$ 3.001,52. Diferença de 26,84% pró-indústria.  

2. São Bernardo tem média salarial industrial de R$ 5.915,47 ante média salarial geral de R$ 3.839,57. Diferença de 35,09%% pró-indústria.  

3. São Caetano tem média salarial industrial de R$ 3.724,84 ante média salarial geral de R$ 3.345,59. Diferença de 1018% pró-indústria.  

4. Mauá tem média salarial industrial de R$ 4.184,18 ante média salarial geral de R$ 3.102,81. Diferença de 25,84% pró-indústria.  

5. Diadema tem média salarial industrial de R$ 3.789,92 ante média salarial geral de R$ 3.329,87. Diferença de 12,14 % pró-indústria.  

6. Ribeirão Pires tem média salarial industrial de R$ 3.158,64 ante média salarial geral de R$ 2.708,87. Diferença de 14,23% pró-indústria. 

7. Rio Grande da Serra tem média salarial industrial de R$2.911,39 ante média salarial geral de R$ 2.448,62. Diferença de 15,89% pró-indústria. 

Liderança industrial 

Como se pode observar, São Bernardo lidera o ranking regional de média salarial tanto no setor industrial quanto na média geral de todas as atividades. Isso quer dizer, entre outros pontos, que há um agregado de riqueza produtiva a se espalhar por todas as cadeias de produção e de serviços. O resultado da média geral de assalariamentos também envolve atividades da construção civil, Administração Pública, Comércio e Serviços.   

Como seria, então, o quadro das atividades de Serviços no Grande ABC, considerando-se que a atividade é a maior empregadora e cada vez mais responsável pelos resultados do PIB? Veja:  

1. Santo André com média salarial de R$ 2.835,85. 

2. São Bernardo com média salarial de R$ 2.965,26. 

3. São Caetano com média salarial de 3.19896. 

4. Diadema com média salarial de 2.536,28. 

5. Mauá com média salarial de R$ 2.653,52. 

6. Ribeirão Pires com média salarial de 2.703,48. 

7. Rio Grande da Serra com média salarial de R$ 2.513,69.  

Empregos de papel  

A liderança de São Caetano na média salarial de Serviços precisa de especial atenção. Há indicativos de que se trata de resultado falso. A guerra fiscal lançada durante os anos 1990 pelo prefeito Luiz Tortorello, distorce a realidade dos fatos. Há excesso de empregos de papel em São Caetano.  

Isso significa que há empresas de Serviços que não contam efetivamente em São Caetano com quadros de funcionários, especialmente na área de construção civil. Benefícios fiscais que contemplam especificamente o ISS (Imposto Sobre Serviços) estão na raiz da distorção. Os empregos estariam em outros municípios. Há evidências imbatíveis no mercado imobiliário: são trabalhadores demais para baixíssima produção de obras.  

Em dezembro de 2019, o universo de trabalhadores industriais nos municípios do Grande ABC chegava ao estoque de 185.082 carteiras assinadas. São Bernardo contava com quatro a cada 10 postos de trabalho. Bem mais que o 1,42 registrado por Santo André. Veja os dados:  

1. Santo André com 26.281 trabalhadores. 

2. São Bernardo com 74.061 trabalhadores. 

3. São Caetano com 18.572 trabalhadores.  

4. Diadema com 38.339 trabalhadores. 

5. Mauá com 20.271 trabalhadores. 

6. Ribeirão Pires com 6.465 trabalhadores. 

7. Rio Grande da Serra com 1.093 trabalhadores.  

Setor de Serviços  

A maior fatia de empregos formais no Grande ABC, em dezembro de 2019, estava concentrada no setor de Serviços. Veja os dados: 

1. Santo André com 124.976 trabalhadores. 

2. São Caetano com 56.789 trabalhadores.  

3. São Bernardo com 113.665 trabalhadores. 

4. Mauá com 21.592 trabalhadores. 

5. Ribeirão Pires com 6.253 trabalhadores. 

6. Rio Grande da Serra com 608 trabalhadores.  

7. Diadema com 20.928 trabalhadores.  

Mais suscetível a deformidades locacionais, ou seja, fora do controle de presença física dos trabalhadores por causa da guerra fiscal do ISS, o setor de Serviços exige cuidados interpretativos. Tanto é verdade que Santo André e São Caetano concentram 181.765 postos de trabalho, o equivalente a 52,71% do estoque de empregos no setor no Grande ABC – 344.811. Uma participação superlativa e aparentemente sem sustentação econômica porque a atividade industrial, sempre mais agregadora de valor, não passa nos dois municípios de 44.863 postos de trabalho, ou 24,23% do total regional. É muita disparidade.  

São Bernardo conta com proporção de 32,96% de empregos formais de Serviços no conjunto dos sete municípios. Bem abaixo dos 40% de participação relativa tanto no emprego industrial quanto no total de empregos.

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