Esportes

SAF do Imperador do Santo
André e dos coronéis da Mooca

  DANIEL LIMA - 08/06/2022

Os coronéis do Clube Atlético Juventus, o Moleque Travesso dos anos 1960 e 1970, têm tudo a ver com o imperador Paulinho Serra, prefeito de Santo André.  

No caso do Juventus o desastre já está consumado, porque coronéis não gostam de protelar decisões.  

No caso do Santo André, cozinha-se o desastre em banho-maria típico de políticos de carreira.  

O Juventus acabou de jogar no lixo o passaporte para o futuro, em forma de clube-empresa. Decidiu rejeitar o ferramental da SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Prefere as sinuosidades emocionais de clube associativo.  

O Santo André, burocracia legal resolvida,  segue emperrado sob o arbítrio de um prefeito que finge gostar do clube, mas que está amarrado a composições partidárias e de outras modalidades que não podem ser reveladas sem provas, mas que existem, existem.  

TRADIÇÃO E ARBÍTRIO  

O Juventus Moleque Travesso conta com o disfarce da tradição como manto protetor de um despautério. 

O Santo André sofre as consequências de não estar na extensa lista de instituições sob o jugo direto ou indireto do Paço Municipal. O imperialismo viceja e se consolida em Santo André.  

O Conselho Deliberativo do Juventus rejeitou proposta de R$ 13 milhões de uma multinacional italiana para sair do marasmo em que se meteu.  

O Juventus prefere manter o que raposas em forma de conselheiros chamam de tradição. Bobagem. O Juventus no modelo atual, que é um modelo fora-de-moda, é candidato a novos mergulhos de desimportância esportiva. Está na Sexta Divisão do futebol brasileiro, caso da Série A-2 do Campeonato Paulista.  

GARANTIR POSTOS  

O que conselheiros do Juventus querem mesmo é sustentarem postos de  mandachuvas e mandachuvinhas de uma equipe esportiva que se apequena a cada temporada. São patrimonialistas no pior sentido do termo.  

A direção e o Conselho Deliberativo do Esporte Clube Santo André são mais modernos e prospectivos.  

Sabem que o futebol, maior patrimônio cultural de Santo André, só se sustentará com o ingresso no mundo empresarial, que a vizinhança toda, de uma forma e de outra, já adotou. Tanto que todos já aprovaram a mudança, quando não emergiram com roupagem de negócios. 

O prefeito Paulinho Serra, jovem dominado pelo coronelato da política local e estadual,  resiste. Ouve maus conselheiros. Cede a interesses obscuros. Protela continuamente a cessão do Estádio Bruno Daniel, espaço sem o qual nenhuma negociação que leve ao estágio de clube-empresa se viabiliza.   

O Estádio Bruno Daniel foi inaugurado em 14 de dezembro de 1969 como casa do Esporte Clube Santo André, então Santo André Futebol Clube. Sem o clube não existiria o estádio. Sem o estádio o clube não teria direito a seguidos acessos dentro de campo.  

USUCAPIÃO VOLUNTÁRIO  

O Estádio Bruno Daniel é o Estádio Conde Rodolfo Crespi do Juventus. O Santo André não ganhou de presente o Estádio Bruno Daniel. Eventuais royalties por propagar o nome de uma cidade decadente na economia pagariam de sobra a concessão.  

O Estádio Bruno Daniel é usucapião voluntário da população de Santo André ao clube que sempre a representou. Até que Paulinho Serra surgisse com sua turma. 

Cheguei a pensar em outra manchetíssima aí em cima. Pretendia fazer um trocadilho, por assim dizer, que refletisse fielmente o que separa ou o que une o Santo André e o Juventus, time da Mooca, Zona Leste de São Paulo, adversário sempre carne de pescoço do Santo André.  

PINÓQUIO E MOLEQUE  

Se seguisse o que tem sido comum nas redes sociais e mesmo na mídia tradicional, não teria receio ético de formular enunciado mais abusado, por assim dizer.  

Para a imprensa que chama o presidente da República de genocida e de nazista e o candidato de oposição de Ladrão e Bêbado, identificar Paulinho Serra pelo codinome das redes sociais não seria exagero.  

Preferi conter o ímpeto. Mas não custa nada reproduzir abaixo o título pretendido e censurado por mim mesmo. Uma autocensura da qual não me arrependo. Por enquanto. O título seria exatamente o seguinte:  

“O que há em comum entre Pinóquio e o Moleque Travesso?”. 

RETRANQUEIRO  

Não preciso ser redundante ao identificar Paulinho Serra como Pinóquio, entre outras razões porque ele é visto e hostilizado assim pela oposição.  

O Juventus é mais que conhecido por “Moleque Travesso”. Tudo porque, dentro de campo, adotava tática defensivista para surpreender os grandes em contragolpes. Milton Buzetto, técnico de várias jornadas, tornou a expressão “retranca” sinônimo do próprio nome.  Tanto que ao se aposentar batizou de “Retranca” o sitio em que se instalou em Piracicaba.  

A realidade dos fatos é que,  enquanto a transformação do moribundo Juventus em clube-empresa virou um caso de internação psiquiátrica coletiva, a mudança de Esporte Clube Santo André para Santo André Sociedade Anônima poderia ser remetida a uma estrada com endereço próprio a investigações em outras esferas que não a esportiva.   

Ou seja: não se trata exclusivamente de birra de um prefeito que não controla a própria Prefeitura, mas que quer controlar o destino do clube. Vai além disso. De compromissos estabelecidos exatamente para atormentar o futuro do Santo André. E permitir o ingresso de penetras no baile de novos tempos esportivos.  

Gente que não sabe porque a bola é muito mais redonda quando sai do gramado do romantismo e vai para o pragmaticismo responsável do marketing empreendedor .  

QUESTÃO DE TEMPO?  

Possivelmente o Juventus não encontrará outra saída senão dobrar-se à fortuna de clube-empresa que, claro, não é um formato jurídico inviolável a decepções.  

A diferença entre a proposta e o que está na praça da Mooca há quase um século é que o mundo do futebol mudou desde que se descobriu que aquele jogo com os pés e o marketing de meritocracia e enriquecimento em novos formatos culturais têm tudo a ver. 

O Clube Atlético Juventus fez provavelmente uma opção temporária de seguir como maria-fumaça enquanto muitos outros optam por um trem-bala. Vai perder tempo, dinheiro e o prestígio que resta  

A alternativa de trilhar novos caminhos, como tantos clubes pequenos o fizeram mundo afora desde que futebol virou sinônimo de milhões, possivelmente será a retomada das negociações, mesmo que em outras circunstâncias.  

MUSEU A CÉU ABERTO  

Ou então seria melhor que o Juventus providenciasse o tombamento do Estádio da Rua Javari, entregando-o ao patrimônio público em forma de museu a céu aberto. Poderia, quem sabe, recriar numa imensa tela daquele que foi considerado o gol mais bonito da carreira do Rei Pelé.  

Para má sorte do prefeito Paulinho Serra, a comparação de Pinóquio com Moleque Travesso lhe é bastante desfavorável. Afinal, por mais que os conselheiros do Juventus sedentos de poder minúsculo, mas que parecem maiúsculos num bairro tradicional tenham cometido uma burrada, sempre haverá em defesa da trapalhada o conceito de tradição.  

Já no caso do Ramalhão abortado pelo prefeito de Santo André, não existe saída estratégica. Será conhecido e reconhecido para sempre como o pior titular do Paço Municipal de todos os tempos na história do futebol profissional da cidade. Ainda há tempo de Paulinho Serra sair da enrascada em que se meteu.  

BALANÇO -ESPELHO  

O Moleque Travesso produziu fora de campo de forma extravagantemente nociva o inverso do que dentro de campo lhe valeu o codinome de forma tradicionalmente respeitável,  sempre complicando a vida dos times grandes da Capital.  

O Pinóquio das redes sociais que CapitalSocial jamais adotaria como sinônimo do prefeito de Santo André (porque também não o faz com outros personagens da política implacavelmente impactos nas redes sociais) ainda não se deu conta do que está a patrocinar. Ouve gente que não deveria, toma decisões protelatórias prejudiciais ao futuro e se considera acima do bem e do mal. 

O engraçado no comparativo entre o futuro do Santo André e do Juventus que se cruza em decisões atabalhoadas é que as duas equipes, dentro de campo, em confrontos diretos, também parecem espelhos.  

JOGANDO ATRÁS  

Em jogos oficiais, em todas as competições estadual e nacional, foram 37 encontros, com 12 vitórias de cada equipe e 13 empates. Desse total de jogos, em 16 não se marcou mais que um gol. Metade desses foi zero a zero.  

O Santo André disputou com o Juventus mais jogos em casa (22 ante 15) e poderia, pelas leis de probabilidade do futebol, estar em vantagem no cômputo geral.  

Mas quem disse que o Moleque Travesso adotava apenas contra os grandes paulistas a tática que o consagrou? E da qual parece não se livrar agora fora de campo, com uma decisão de cartolas e cartolinhas enciumados com a possibilidade de trocaram o ego individual e grupal pelo futuro em forma de nova configuração do time de futebol.  

O Santo André está em estágio superior, de Série A-1 do Campeonato Paulista, ante uma renitente Série A-2 do mesmo campeonato do irmão siamês de decepção. Ainda enxerga o futuro na próxima esquina chamada SAF. Basta o prefeito não continue a atrapalhar.

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