Clique aqui para imprimir




Política

DANIEL LIMA - 29/04/2022

Os leitores terão abaixo, numa análise que escrevi há quase 20 anos, então na revista impressa LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, a prova provada de coerência do conceito claramente crítico contido na manchetíssima aí em cima: o deputado federal Alex Manente quer reserva de mercado dos candidatos do Grande ABC na disputa eleitoral desta temporada para a Assembleia Legislativa e a Câmara Federal.  

O apelo de caráter individualista, revestido de coletivista, persuasivo ao eleitorado, também se traveste de regionalismo maroto. Tanto maroto que ele vai pescar em outras freguesias, no Interior do Estado, o que é um direito legítimo dele. Se o faz fora, com liberdade de mercado, por que então prega o que soa como reserva de mercado no Grande ABC? 

Não existe contradição alguma deste jornalista entre o fato de no passado ter até vestido literalmente a camiseta em defesa do voto em candidatos da região e o que escrevo agora.  

PASSADO PRESENTE  

No passado até atuei como integrante do Fórum da Cidadania, instituição que iniciou processo de revolução na região em meados dos anos 1990. Pena que tenha se desmilinguido por razões que não cabem reproduzir agora. 

Insisto na necessidade de leitura do texto que está logo abaixo, de 20 anos atrás, para se compreender antecedentes da premissa que repito agora: o apelo eleitoral endereçado agora aos eleitores da região reveste-se de oportunismo, de sobrevivência política.  

Alex Manente faz parte dessa turma de falsos regionalistas, ou de regionalistas sazonais, ou de regionalistas seletivos.  

LEGISLADOR PROFISSIONAL  

Possivelmente fosse este jornalista também legislador profissional, como se tornou Alex Manente, o discurso guardaria alguma semelhança. Ou seja: tanto é um direito sagrado de apresentar-se como salvador da pátria regional, ou um dos pretensos salvadores, como de, do outro lado da democracia da informação, esclarecer os fatos históricos de modo que se aparem as arestas de inconsistências. 

Regionalidade é uma roupa esfarrapada que não se joga no lixo porque sempre será possível, em situação em que o oportunismo deve ser esgrimido, tornar-se proteção supostamente humilde em busca de sucesso nas urnas.    

Quem apela ao regionalismo como plataforma impulsionadora de votos sem ter feito absolutamente nada ou quase nada pela causa ao longo do respectivo mandato não passa de aproveitador. Arrumar verbas para os municípios não está inserido nos parâmetros de regionalismo de verdade, que é transformador.  

Falasse o deputado federal exclusivamente em nome próprio, sem apelo a um sentimentalismo geopolítico, a história seria outra.  

FUGINDO DA RAIA  

Alex Manente não suportaria uma entrevista exclusivamente voltada a questões regionais. Fugiria da raia como o diabo da cruz. Não é exagero algum. Seu mundo é o mundo político de Brasília com algumas ramificações de marketing no Grande ABC para contar, a quase quatro anos, com respaldo nas urnas. Os deputados da região ao longo dos anos em Brasília também agiram assim.  

Alex Manente faz parte da gigantesca tropa de candidatos com domicílio eleitoral na região que corre atrás de votos nesta temporada, no exercício de cargos de legisladores ou em busca desse objetivo.  

Trata-se, entretanto, de um gigantismo numérico que não corresponde à prática democrática: há os claramente privilegiados pela mídia, há os discriminados pela mídia e aqueles que vão concorrer apenas para marcarem presença em busca de alguma coisa que os beneficiem no futuro, no pós-eleitoral.  

Claro que também há quem acredite piamente na possibilidade de que poderão superar barreiras que condicionam o sucesso nas urnas, embora reconheçam os obstáculos que se lhes antepõem.  

MOVIMENTOS CONEXOS  

No passado se adotaram sequencialmente dois motes estimuladores do voto regional (tudo está logo abaixo, leia). Primeiro, “Vote no Grande ABC”. Depois “Vote com qualidade no Grande ABC”.  

O lançamento de uma terceira versão parece fora de cogitação. Estamos às vésperas da corrida oficial às urnas e nada se introduziu como mecanismo do regionalismo mesmo que meia-boca dos concorrentes e suas ramificações. 

Menos mal, menos mal. Ou nada pior, porque nem a competência de marketing os supostos regionalistas contam no portfólio de atividades. 

Se no passado, tanto no primeiro mote quanto no segundo, havia entre formuladores da iniciativa um tom de franqueza, compromisso e seriedade, desta vez não passaria de ostensiva operação engana-trouxa.  

Naquelas duas oportunidades (leiam abaixo, leiam abaixo) havia no Grande ABC sinais de preocupação de verdade com a regionalidade, embora longe da densidade representativa na prática.  

Desta feita, ou seja, neste 2022, a iniciativa não teria o respaldo da sociedade e tampouco das instituições, maioria das quais em estágio avançado de esclerosamento representativo.  

O Grande  ABC institucional, de entidades oficiais, de entidades de classe, de tudo que supostamente é ocupado coletivamente, cai pelas tabelas. Quando falta pão (no caso, quando a Economia regional vira uma montanha de perdas) todos gritam e ninguém tem razão.  

Na sequência, além da análise à qual já mencionei, de 20 anos atrás, reproduzo a reportagem desta semana do Diário do Grande ABC, que entrevistou o deputado Alex Manente.  

 

Vote num Grande ABC de

compromissos assinados 

 DANIEL LIMA - 30/08/2002 

O mote Vote no Grande ABC, lançado em 1994, deu origem ao Fórum da Cidadania. Na sequência, em 1998, foi rebatizado com seletividade subjetiva, o de Vote com Qualidade no Grande ABC. As campanhas foram meritórias, mas incompletas. E por serem incompletas permitiram que oportunistas de plantão capitalizassem o anseio da comunidade e não retribuíssem na proporção desejada o senso de responsabilidade e de compromisso pretensamente sugerido. Sem contar que geraram mal-estar em candidatos forasteiros que conseguem amealhar votação em diferentes regiões do Estado e que, eleitos, têm peso importante nas relações políticas. 

Por mais que deva ser compreendido o limite de atuação legislativa, já que o arcabouço constitucional privilegia o Poder Executivo, não é possível continuar relevando a inapetência dos deputados estaduais e federais eleitos pelo Grande ABC. Não é por acaso, portanto, que jamais tivemos um único deputado com presença marcante em São Paulo ou em Brasília. Lula passou por ali quase incógnito. Celso Daniel também pouco produziu. Da safra atual, questões pontuais resolvidas e alardeadas por alguns de nossos legisladores confirmam a regra de discretíssima participação. 

MAIS VOTE  

A tentativa de maquiar o instinto de sobrevivência com o mandraquismo chamado Bancada do ABC, dos deputados estaduais, só ratifica a troca do coletivo pela embromação. Nesse ponto, só compra a bobagem quem perdeu o senso crítico. Mesmo sob o risco de nos próximos quatro anos esse enredo repetir-se como moto-contínuo, é possível configurar propostas que balizariam o foco de atuação dos deputados que serão eleitos por potencial de 1,66 milhão de votos do Grande ABC.  

MAIS VOTE  

Houvesse uma única instituição não-governamental capaz de diagnosticar, planejar e formular pauta conectada com as necessidades locais e, com independência sobre os desígnios legislativos de nossos eleitos, cobrar-lhes respostas permanentes e públicas, não tomaria este jornalista a iniciativa de relacionar sucintamente uma série de sugestões que, a partir de janeiro do ano que vem, pautarão o monitoramento que exerceremos junto aos deputados eleitos.  

MAIS VOTE  

Em janeiro próximo, quando os novos representantes do Grande ABC tomarem assento na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, enviaremos por meio de carta protocolada uma cópia das premissas básicas que permitirão a avaliação dos mandatos delegados pelos votos locais. O ideal mesmo, caso fôssemos República do ABC capaz de honrar um regionalismo que só existe em expressões publicitárias ou em devaneios político-eleitorais, é que essa iniciativa tivesse outra roupagem: uma pauta escrita a várias mãos seria assinada num evento específico por todos os candidatos que pretendessem acrescentar à campanha o aval da logomarca da instituição promotora da iniciativa.  

MAIS VOTE  

Mesmo aqueles que eventualmente não pudessem comparecer ao encontro receberiam o material para pronta devolução assinada. Compromisso firmado, a assinatura teria efeito bumerangue quatro anos depois se o candidato eleito não tivesse superado os critérios de avaliação da instituição formuladora da iniciativa. Entre os pontos específicos do plano de atuação legislativa dos deputados eleitos pelo Grande ABC estariam também questões municipais e regionais cujos resultados não dependeriam necessariamente de projetos específicos na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal.  

MAIS VOTE  

O quadradismo de considerar que deputado estadual e deputado federal só têm responsabilidade sobre suas jurisdições é uma maneira antiquada de esquadrinhar a função do homem público. Mesmo sem poder de voto, tanto os deputados estaduais como os deputados federais podem influenciar as questões que permeiam o quadro socioeconômico regional fora de seu alcance legal.  

MAIS VOTE  

Um exemplo? A questão tributária no Grande ABC, que vive guerra fiscal interna, poderia ser avocada pela (agora sim) Bancada do ABC, tanto estadual como federal, como forma de pressão para harmonizar as relações internas. Para os eleitores, não interessa se essa incursão viesse a colocar o deputado eleito de saia justa junto a prefeitos do partido que representa. Voto regional é voto regional e, como tal, deve ser tratado em dimensões extraordinárias. Perceberam como há camadas sobrepostas e igualmente instigantes de mudanças conceituais, técnicas, operacionais e políticas que bombardeiam o convencionalismo com que se tratou até agora a questão Vote no Grande ABC e sua variante Vote com Qualidade no Grande ABC? 

MAIS VOTE  

É preciso acabar com essa franquia de geopopulismo travestido de engenharia de responsabilidade eleitoral. Não basta votar nos candidatos do Grande ABC. É indispensável que os candidatos do Grande ABC tenham compromissos com o Grande ABC. Isto posto, não será tão relevante quanto se imagina que se destinem sufrágios aos candidatos necessariamente com domicílio eleitoral em qualquer um dos sete municípios locais. Entenderam a diferença?  

MAIS VOTE  

Vejam só o seguinte exemplo: se o deputado federal Delfim Netto assinar o termo de responsabilidade de lutar por um conjunto de propostas-eixo que visam atingir em cheio os principais focos de incêndio no porão da governabilidade socioeconômica do Grande ABC, por que não permitir que o candidato faça campanha eleitoral por estas plagas com igualdade de tratamento em relação aos concorrentes locais, sem qualquer tipo de constrangimento? O que acontece hoje com Delfim Netto e tantos outros candidatos que cavoucam votações no Grande ABC é que eles capitalizam as vantagens de suas bases locais sem a contrapartida de submeter-se ao elenco de reivindicações mais prementes da região. Por isso mesmo, sentem-se absolutamente liberados de qualquer ação coordenada com os legisladores locais. 

 

Alex critica votos em candidatos de 

fora e quer maior bancada regional  

 DA REDAÇÃO -- 28/04/2022

O deputado federal Alex Manente (Cidadania) defendeu ontem que políticos do Grande ABC se unam nas próximas eleições para evitar que eleitores da região votem em candidatos sem ligação com as sete cidades. Em live veiculada no Facebook do Diário, o parlamentar lembrou que, no pleito de 2018, quase 80% dos votos das urnas regionais foram dados a forasteiros. “Temos uma missão: fazer com que a nossa região entenda a importância de ter representantes da nossa região, que conheçam as características das cidades”, disse o deputado em entrevista ao diretor de Redação do jornal, Sérgio Vieira. “É um debate que sempre fazemos, mas, infelizmente, na disputa do dia a dia, as pessoas acabam (se) afastando e, com isso, quem perde é o Grande ABC”, completou. 

EVASÃO DE VOTOS  

No pleito de quase quatro anos atrás, políticos sem domicílio eleitoral em uma das sete cidades tiveram adesão prioritária em boa parte das urnas da região. Foram os casos de Janaína Paschoal, Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, a primeira eleita deputada estadual e os dois últimos, federais. “Quase que 80% dos seus votos válidos (foram) para candidatos de fora”, lamentou Alex. “Quando nós brigamos entre nós quem perde é a região. Precisamos fazer com que todos que tenham vontade, (que) queiram representar o (Grande) ABC estejam à disposição para que o eleitor tenha uma oferta maior de candidaturas (e) possa enxergar as candidaturas do Grande ABC e fazer com que tenhamos uma bancada maior”, defendeu Alex. 

SUPRAPARTIDÁRIA  

Atualmente, com quase 2,1 milhões de eleitores, a região possui dois deputados federais – além de Alex, há Vicente Paulo da Silva (PT). O parlamentar do Cidadania argumentou que a campanha pró-Grande ABC deve ser suprapartidária, já que existe consenso da bancada na hora da votação de projetos importantes para as sete cidades. “As divergências ideológicas podem ocorrer, mas existem convergências que são pelo bem do (Grande) ABC e essas não podem ser debate em disputa eleitoral, Se nós pensarmos assim o (Grande) ABC dá passos para trás. Se pensarmos em produzir um (Grande) ABC forte, pujante, vamos fazer com que todos os atores de todas as matrizes políticas cresçam. Esse é o papel que precisamos estabelecer como ponto de partida para pensarmos o (Grande) ABC do futuro”, ilustrou Alex. 

ORLANDO MORANDO 

O deputado também falou da parceria com o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), a quem se aliou nas últimas eleições municipais após divergências de 16 anos. Afirmou que já conversou “várias vezes” com o tucano sobre o assunto e disse que apoio do chefe do Executivo “não vale nada”. “O que vale é o sentimento (das pessoas) do resultado do que nós trouxemos em parceria. O apoio dele, ou não, é um direito individual. Sei separar muito bem essas coisas.” 



IMPRIMIR