Regionalidade

Clube dos Prefeitos precisa dar
uma espiadinha em João Doria

  DANIEL LIMA - 17/08/2021

O Clube dos Prefeitos do Grande ABC (comandado que é pelo prefeito dos prefeitos, ou seja, todo prefeito que é dirigente máximo do Clube dos Prefeitos), precisa dar uma espiadinha no que o governador João Doria preparou para o Estado avançar na logística que reverterá em maior competitividade econômica.  

O que sempre propus ao Clube dos Prefeitos é algo parecido, mas olimpicamente ignorado porque arrogância e teimosia quando multiplicadas dão nisso mesmo.   

Vou revelar o batom na cueca do Clube dos Prefeitos. Antes não custa lembrar que o prefeito Paulinho Serra, agora me referindo apenas ao território de Santo André, prometeu e não cumpriu levar adiante a proposta deste jornalista.  

Naquele grupo que organizei com a concordância do prefeito para atuar voluntariamente, ou seja, sem remuneração, e dar encaminhamento à competitividade econômica do Município, o princípio de tudo era a contratação de uma consultoria especializada em tornar o Município (e a região caso a proposta fosse levada ao Clube dos Prefeitos) referencial de reorganização desenvolvimentista. 

Na beira da estrada  

Como todos sabem ou deveriam saber, Paulinho Serra deixou-me (e os convidados especializados em importantes ramais da economia de Santo André) na beira da estrada. Mais abaixo, para rememorar aquela frustração, vou reproduzir trechos da matéria que preparei a respeito.  A proposta acabou arquivada por excesso de incompetência administrativa.  

O resumo da ópera é que Paulinho Serra marcou de vez uma característica que dificilmente deixará de se consolidar como tatuagem de sua personalidade pública: o varejismo como extremo de suas possibilidades. E varejista qualquer prefeito pode ser, basta orçamento com rubricas de aplicação de recursos em pequenas obras, inaugurações, coisas assim. É o que Paulinho Serra está assegurando para a história. Ou seja, será um prefeito a ser esquecido, como tantos antecessores.  

Prova provada  

Afinal, qual é a prova dos nove de que o Clube dos Prefeitos é um amontoado de projetos e de algumas iniciativas que não vão mudar jamais a situação macroeconômica, por dizer assim, do Grande ABC?  

O que, por sua vez, agravará quando não eternizará, os fundos problemas sociais. A prova dos nove é o programa logístico de passageiros e cargas prometido para os próximos anos pelo governo do Estado.  

Na estimativa do Estado, segundo reportagem da Folha de S. Paulo de sábado passado, os investimentos privados podem chegar a R$ 70 bilhões, dos quais 77% para o setor ferroviário. O plano prevê linhas de expresso de cargas, trens intercidade e obras rodoviárias e ferroviárias na macrometrópole paulista, que compreende os arredores da Capital, da Baixada Santista e dos municípios de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. Tudo a ver com o Grande ABC, portanto. 

Se o leitor ainda não captou o pulo do gato é porque ainda não o revelei. Não se trata, portanto, de descuido ou negligência na leitura nestes tempos de hiperinformações que, por sua vez, tornam o conhecimento rarefeito, quando não apressado, para não dizer enviesado.  

O pulo do gato é que tudo isso que se pretende com a marca do governo do Estado tem raízes semelhantes às que proponho há séculos ao Clube dos Prefeitos -- e mais recentemente ao indolente Paulinho Serra em Santo André. A iniciativa privada como fonte inspiradora, planejadora e executora de propostas.  

Reportagem da Folha  

Querem ver? Leia então os parágrafos que selecionei de imediato da reportagem da Folha de S. Paulo: 

 Estudo finalizado em julho pelo consórcio PRO-Tl, formado por cinco empresas vencedoras de um edital em 2018, serve de base para as discussões. Ele estrutura alternativas para desafogar o trânsito e acelerar o transporte de cargos ao porto de Santos. O consórcio reúne a consultoria DB Internacional, a Progen, de engenharia, a TTC Engenharia de Tráfego e de Transportes, a assessoria econômica Addax e o escritório Tozzini, Freire, Teixeira e Silva Advogados. A Secretaria de Logística e Transportes de São Paulo está apresentando a ideia a entidades de classe para colher informações. Já teve reuniões com (....) – escreveu a Folha de S. Paulo.  

Proposta antiga   

A proposta de entregar o Planejamento Estratégico do Grande ABC (sempre tendo o foco no Desenvolvimento Econômico) vem de longe. Outro dia mesmo vasculhava os arquivos desta revista digital (que contempla boa parte do acervo reformista da revista de papel LivreMercado) e reparei que já no começo deste século escrevi sobre essa alternativa que se tornou imperativa. E nada até agora. 

 A proposta não é exatamente semelhante à do governador do Estado para a área de logística paulista, mas lembra muito no sentido de que manda um recado claro, cristalino, contundente e irreversível: o Estado na versão municipal (ou seja, os chefes de Executivos municipais) mesmo na versão consorciada, que é o cerne do Clube dos Prefeitos, não conta com apetrechos para liderar tecnicamente a iniciativa. Mas tem a plenitude potencial de agir institucionalmente para uma grande reviravolta.  

Exemplo no futebol  

Guardadas as devidas diferenças setoriais e outras mais, o Grande ABC precisa de uma grande virada estratégica. Algo que, por exemplo, o Flamengo realizou no futebol nos últimos cinco anos, chegando ao estágio atual de maior agremiação futebolística do País em todos os sentidos, dentro e fora de campo. Executivos que deixaram de lado o passionalismo empenharam-se na construção de nova configuração do Flamengo.  

Não faltou humildade durante a trajetória. O Corinthians que antecedeu o Flamengo no sucesso dentro de campo neste século foi estudado a fundo. Os cariocas ficaram com a parte boa e descartaram o que não prestava. Não é preciso dizer o quanto há de distância entre os dois clubes hoje.  

O Clube dos Prefeitos é o retrato fiel da prepotência e do descompromisso do coletivo dos prefeitos com o futuro da região. E os prefeitos individualmente, salvo a visão mais estrutural de infraestrutura de São Bernardo, que o prefeito Orlando Morando impôs com política de obras viscerais, estão equidistantes de qualquer coisa que tenha relação com o futuro. 

São varejistas no pior sentido do termo. Fazem somente o que obviedades orçamentárias determinam. São incapaz de enxergar um lance adiante. Fossem enxadristas, seriam ridicularizados. 

Conselho Especial  

Conforme o prometido acima, reproduzo trechos da análise que fiz para esta publicação em 31 de julho de 2019 (portanto há mais de dois anos), sob o título “Conselho Especial emperra na burocracia do Poder Público”. Leiam: 

 Sabem a proposta de criação do Conselho Especial de Assessoramento Econômico que apresentei ao prefeito Paulinho Serra como passo inicial de inovação na gestão pública e, com isso, de reviravolta na baixa competitividade econômica de Santo André? Acabou de acabar. Pelo menos nos moldes idealizados por este jornalista e adotado como premissa à composição de um grupo de voluntários, essa é uma decisão sem volta. A burocracia emperrou a iniciativa. De minha parte, estou me despedindo da iniciativa. Não tenho vocação a malhar em ferro frio de experiências frustradas, como a alternativa sugerida por assessores do tucano. Já vivi tempo suficiente para distinguir oportunidade de arapuca, reestruturação de enrolação.   

Mais Conselho Especial   

 Embora faltem informações consistentes de assessores escalados por Paulinho Serra para desenhar o projeto de lei que seria enviado ao Legislativo, transpirou-se nas entrelinhas do material a impossibilidade de atendimento legal à iniciativa proposta. O que propus ao prefeito Paulinho Serra e o que retornou em forma de projeto de lei praticamente seis meses depois de acertar os ponteiros no primeiro encontro, em fevereiro, não tem nenhuma digital de semelhança. É uma monstruosidade. Desenhava-se uma ação reformista e o que se pretende plantar é uma velha e surrada medida que levaria à desqualificação dos participantes.   

Mais Conselho Especial   

 O Conselho Especial proposto por este jornalista seria um órgão informal no organograma oficial da Prefeitura. Virou, segundo o projeto de lei, um órgão oficial atreladíssimo à Prefeitura. Veja os principais pontos de conflito entre a proposta deste jornalista e a resposta em forma de projeto de lei. O Conselho Especial seria integrado por no máximo nove representantes da sociedade do Grande ABC. Os nomes seriam e já estavam sendo definidos entre os próprios participantes, a partir do primeiro chamamento deste jornalista. Chegamos a sete componentes e não tínhamos pressa para aumentar o quadro até o limite máximo. Mais importante era manter o foco e disseminar a cultura que permearia as atividades.   

Mais Conselho Especial   

 O projeto de lei dos assessores do prefeito Paulinho Serra seguiu em outra direção ao propor um organismo paritário, com nove representantes ligados diretamente à Prefeitura e nove da sociedade, todos escolhidos pela Administração Municipal. E outro tanto comporiam o quadro de suplentes. Não existe a menor possibilidade de a contraproposta ser aceita por este jornalista. Não respondo pelos demais integrantes informais. A arquitetura de conselhos sob a tutela do Poder Público está comprovadamente falida. O histórico de iniciativas paralelas é recheado, quando não integralmente tomado, de fracassos institucionais.   

Mais Conselho Especial   

 Mesmo Santo André já conta com um Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico, com quase duas dezenas de integrantes. Ninguém conseguiria, por mais criativo que fosse sustentar alguma utilidade do organismo. Há conflitos de interesses eloquentes, quando não estrelismos frustrados. O Conselho Especial que sugeri já contava com um código informal de conduta no qual a relação com a mídia seria bastante restrita. O Conselho Especial proposto por este jornalista e cujos princípios foram levados aos demais participantes que aceitaram a empreitada congrega a premissa de foco exclusivo ou principalmente nas questões de competitividade econômica, o nó górdio da gestão pública no Grande ABC. Algo que sugere tanto trabalho que todos eles, prefeitos, preferem descartar ou minimizar.  

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