Administração Pública

Como medir sem riscos a
eficiência de um prefeito?

  DANIEL LIMA - 23/08/2021

Não é tarefa fácil, mas tampouco impossível, estabelecer juízo de valor sobre a atuação de um prefeito tendo como premissa o Desenvolvimento Econômico, pátria amada do conjunto da gestão. 

Para começo de conversa, se conhece o tamanho dos compromissos sociais de um prefeito pelas patas de um planejamento econômico vigoroso.  

Quando se trata de prefeito no Grande ABC, de sete cidades sinérgicas nos passivos e pouco entrelaçadas nos ativos que repercutem principalmente nos indicadores econômicos, a dificuldade é maior. Mas nem por isso insuperável. 

Prefeito no cargo que observa o tamanho da bronca econômica e pouco faz, ou faz marolas, não é prefeito que se preza. Pode até ser prefeito, claro, mas não é prefeito com maiúsculas em todas as letras.  

Obstáculos de sempre  

Diagnosticar o desempenho de um prefeito não é missão para amadores que se apegam a condicionantes irracionais, quando não interesseiras, sobretudo a reboque dos marqueteiros que proliferam nos escaninhos do poder.   

O partidarismo, a ideologia, o corporativismo, o servilismo, o mercantilismo e tantas outras enfermidades oportunistas destroem o senso crítico e inibem a criatividade movida à necessidade sempre premente. Torcida organizada só vale nos estádios de futebol. Internamente ou nas redes sociais procrastinam decisões estruturais.  

Quando afirmo e dou fé que Paulinho Serra é um prefeito medíocre, não existe exagero nem imprecisão. A adjetivação deriva de planejamento avaliativo que leva em conta vetores relevantes.  

Exemplo intocável  

Ninguém melhor que Paulinho Serra para, ainda com mais de três anos de novo mandato, minimizar a constatação. Como não reage, e prioriza carreira pós-prefeitura, é melhor perder a esperança.  

Paulinho Serra está fadado a repetir outros prefeitos locais que estão aí ou já foram: um mero cumpridor do regulamento orçamentário em que receitas e despesas são burocraticamente organizadas e aplicadas sob pena de refregas legais. Um burocrata público, como se sabe. Um planilheiro sem o modernismo tecnológico dos algoritmos.  

Claro que seria estupidez isolar o prefeito de Santo André do contexto histórico. Paulinho Serra é medíocre no sentido literal da palavra assim como a grande maioria desde os anos 1980. E inclusive vários dos atuais prefeitos. Limito a 1980 porque foi justamente aí que as finanças municipais começaram a dar sinais de cansaço, desindustrialização comendo solta.  

Marketing demais  

O que diferencia Paulinho Serra de tantos outros e atuais é que o marketing mequetrefe o coloca como a fina flor da competência. Não há cristão sensato que suporte tamanha barbaridade. E é isso, além de outras coisas mais, que aflora meus sentimentos críticos. 

No fundo, Paulinho Serra não é diferente de Carlos Grana, Aidan Ravin e João Avamileno, imediatos antecessores. Só ganha em proselitismo, mas perde em empatia pública.  

Também deve ser considerada na reprovação a Paulinho Serra a permissão a que estranhos tenham invadido a Prefeitura de Santo André menos pelas qualidades técnicas e mais por conta de acordos com lideranças políticas igualmente fora da zona do agrião municipal. 

Quarteto sistêmico   

Existem pelo menos quatro fatores rigorosamente impactantes à definição do torque de uma administração municipal na região: 

1. Iniciativas inovadoras. 

2. Correção do rumo herdado. 

3. Dependência do ambiente regional. 

4. Macroeconomia nacional. 

Vejam que temos quatro variáveis que se cruzam no processo de avaliação. São aspectos que exigem ingredientes de relativização com elevado grau de subjetividades. Mas não há como lavar as mãos em forma de pragmatismo analítico.  

Os dois primeiros quesitos (Iniciativas inovadoras e Correção do rumo herdado) são de completa interferência e domínio de cada prefeito. E têm peso importantíssimo numa operação que destrave o grau de eficiência do mandatário.  

Ou seja: correm em raias separadas dos outros dois vetores, mesmo que os resultados sofram os efeitos do que está fora do controle da gestão.  

Pontos cruciais   

Prefeito competente mesmo (e estamos sempre nos referindo à célula principal do brilho de uma comunidade, o Desenvolvimento Econômico) faz dos dois primeiros quesitos carro-chefe da consagração. Para os medíocres, são os pontos centrais do cadafalso prospector do futuro.  

Não há dúvida, também, de que o terceiro ponto, de característica específica da região, precisa ser considerado com máxima atenção.  

Quem caminha nas duas estradas principais e sensibiliza os parceiros de paços municipais na construção da terceira variável pode até não obter num mandato de quatro anos os resultados comprovados de transformações, mas terá plantado para o futuro próximo as bases de mudanças.  

Sem herdeiros   

No Grande ABC dos últimos 50 anos, apenas e unicamente o prefeito Celso Daniel foi capaz de traçar um cenário que, com planejamento mais que municipal, erigiu as bases de mudanças significativas em vários campos.  

Entretanto, mesmo antes do assassinato, Celso Daniel recuou do terceiro vértice por ausência de parceiros igualmente comprometidos.  

Mas, mesmo assim, entregou como herança conceitos que só não seguiram adiante, e se fortaleceram, porque sucessores os destruíram com a força descomunal do despreparo.  

Há consistência na avaliação de relativa independência entre os dois primeiros itens desse quadrado de condicionantes a um bom desempenho econômico (e social) de um prefeito em relação ao entorno regional e o ambiente macroeconômico.  

G-22 é simbólico  

Basta ver o comportamento econômico distinto dos integrantes do G-22, o Clube dos 20 Maiores Municípios do Estado de São Paulo (mais Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra).  

Ou seja: as ações dos prefeitos não estão potencialmente tolhidas na plenitude das individualidades gerenciais por fatores que fogem do controle da administração diretamente aplicada.  

Macroeconomia tem grande peso, mas mesmo nos piores momentos os danos diretos e colaterais do ambiente nacional e internacional impactam diferentemente municípios com histórico de competência pública e municípios deserdados de qualidade de gestores.  

Megacidade dividida  

Ressalto mais uma vez que a distinção de tônus duramente negativo que enquadra o Grande ABC num diagrama de complicações extras precisa ser apontada em tom de gravidade. Todos os movimentos em contrário se comprovaram nocivos.  

Somos uma megacidade, como Belo Horizonte, por exemplo, com a desvantagem da repartição em sete pedaços desiguais e sem as vantagens de ser capital de Estado, entre outros tropeços do destino. O esquartejamento territorial e administrativo do Grande no século passado foi bom para determinadas fatias populacionais, mas jogou areia na engrenagem geral.   

Por conta disso, iniciativas de inovação e correções de rumo de percurso, os dois primeiros tópicos do quadrado de desafios, podem sim ser contabilizadas como potenciais de sucesso de um prefeito da região, embora com menos intensidade em situação análoga em regiões do Interior do Estado de maior independência correlativa entre municípios vizinhos. 

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