Administração Pública

Santo André ou Diadema: quem
é que gasta mais com servidores?

  DANIEL LIMA - 20/09/2021

Não faltam possibilidades de criar medidores que procurem identificar qual Prefeitura dos sete municípios do Grande ABC gasta mais com servidores públicos. Não se incluem nas contas os aposentados. Os dados oficiais dessas duas tropas são um tormento para quem pretende identificá-los. A despesa com os servidores públicos se restringem aos quadros atuais, de quem está em atividade. Santo André e Diadema estão na ponta em três indicadores de desempenho. Outros poderão igualmente ser lançados.  

Os valores absolutos médios por funcionário público e o confronto desses mesmos valores com a média do assalariamento geral de quem produz em várias atividades e também no enfrentamento ao salário médio da indústria de transformação, geradora de riqueza, são os mais sensíveis à realidade.  

O leitor prefere que o medidor seja o salário médio dos servidores público, independentemente do restante dos assalariados com carteira assinada em cada Município e do confronto com o salário médio dos trabalhadores industriais? Ou prefere que entre as três alternativas o melhor mesmo é ficar com a segunda e com a terceira?  

Melhores medidores  

São o segundo e o terceiro enunciados de minha preferência, porque têm o condão de contextualizar os dispêndios com o funcionalismo púbico municipal em relação ao conjunto de trabalhadores e à atividade industrial. Entre as duas últimas, optaria pela terceira, ou seja, pelo confronto entre salário médio dos servidores públicos e salário médio dos trabalhadores industriais.  Esse parece ser o referencial mais sustentável à interpretação do quadro econômico atual dos municípios de uma região fortemente desindustrializada.  

Para não dizerem que sou tendencioso ou algo parecido, vou adotar também a métrica dos salários médios absolutos dos servidores públicos, desconsiderando assalariados em geral e assalariamento médio industrial. Veja como fica a classificação regional: 

1. Diadema com pagamento médio por servidor de R$ 5.768,44. 

2. Santo André com pagamento médio por servidor de R$ 5.368,17. 

3. São Bernardo com pagamento médio por servidor de R$ 4.687,18. 

4. São Caetano com pagamento médio por servidor de R$ 4.351,58.  

5. Mauá com pagamento médio por servidor de R$ 3.288,45. 

6. Ribeirão Pires com pagamento médio por servidor de R$ 2.827,20. 

7. Rio Grande da Serra com pagamento médio por servidor de R$ 2.183,22.  

Servidores versus geral 

O ranking regional muda de configuração quando entra em campo um conceito mais apropriado de custo dos servidores públicos municipais, agora contrapostos ao salário médio geral de trabalhadores de todas as atividades econômicas – indústria, comércio, serviços, agropecuária, construção civil e mesmo Administração Pública. Veja como fica a classificação: 

1. Os servidores públicos de Santo André recebem em média salários mensais 44,08% superiores à média salarial dos demais trabalhadores: R$ 5.368,17 ante R$ 3.001,52.  

2. Os servidores públicos de Diadema recebem em média salários mensais 44,00% superiores à média salarial dos demais trabalhadores: R$ 7.768,44 ante R$ 3.329,87.  

3. Os servidores públicos de São Caetano recebem em média salários mensais 23,12% superiores à média salarial dos demais trabalhadores: R$ 4.351,58 ante R$ 3.345,59.  

4. Os servidores públicos de São Bernardo recebem em média salários mensais 18,08% superiores à média salarial dos demais trabalhadores: R$ 4.687,18 ante R$ 3.839,57. 

5. Os servidores públicos de Mauá recebem em média salários mensais 6,17% superiores à média salarial dos demais trabalhadores: R$ 3.288,83 ante R$ 3.085,40.  

6. Os servidores públicos de Ribeirão Pires recebem em média salários mensais 4,18% superiores à média salarial dos demais trabalhadores: R$ 2.827,20 ante R$ 2.708,87.  

7. Rio Grande da Serra é uma exceção: os trabalhadores das demais atividades econômicas recebem em média salários mensais 10,39% superiores à média salarial dos servidores municipais: R$ 2.448,62 ante R$ 2.183,22.  

Servidores versus indústria 

Agora, convém observar o ranking entre o salário médio dos servidores públicos municipais e o salário médio do setor industrial. Verifiquem que Santo André e Diadema, além de São Caetano, três dos cinco grandes municípios do Grande ABC, invertem a lógica de desenvolvimento econômico com o prevalecimento da atividade pública em termos de remuneração. 

1. O salário médio dos servidores públicos municipais de Diadema (R$5.768,44) é 34,30% superior ao salário médio do setor industrial (R$3.789,92). 

2. O salário médio dos servidores públicos municipais de Santo André (5.368,17) é 23,57% superior ao salário médio do setor industrial (R$ 4.10267).  

3. O salário médio dos servidores públicos municipais de São Caetano é 14,40% superior ao salário médio industrial do setor industrial (R$ 3.724,84).  

4. O salário médio industrial de São Bernardo (R$ 5.915,47) é 20,76% superior ao salário médio do funcionalismo público municipal (R$ 4.687,18).  

5. O salário médio industrial de Rio Grande da Serra (2.911,39) é 25,01% superior ao salário médio do funcionalismo público municipal (2.183,22).  

6. O salário médio industrial de Mauá (R$ 4.163,68) é 21,02% superior ao salário médio do funcionalismo público municipal (R$ 3.288,454). 

7. O salário médio industrial de Ribeirão Pires (3.158,64) é 10,49% superior ao salário médio do funcionalismo público municipal (2.827,20).   

Uma demorada reflexão remete a preocupante constatação: o Estado (em forma de Município) domina o ranking de assalariamentos quando se consideram todas as atividades econômicas. O esfarelamento industrial do Grande ABC, com repercussões em todo o universo produtivo, está mais que escancarado. Os dados desta análise são oficiais, do Ministério do Trabalho e Emprego e se referem a dezembro de 2019. Portanto, anteriores à pandemia. E os números de Mauá são relativos a dezembro de 2018, por conta de imprecisão informativa do MTE. Nada, entretanto, que altere minimamente os pressupostos apresentados. 

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