Administração Pública

Santo André prepara-se para
sair do armário da escuridão

  DANIEL LIMA - 30/11/2021

Santo André conhece tão pouco Santo André que olhar para o espelho seria um exercício inútil, porque o reflexo não indicaria patavina.  Por isso Santo André resolveu sair do armário. Do armário da escuridão comportamental.  

O prefeito Paulinho Serra e o secretário de Assuntos Estratégicos José Police Neto estão à frente de um projeto já colocado nas ruas em forma de programa aparentemente bem estruturado na concepção e na operação logística.  

Santo André quer retirar do armário do desconhecimento peças importantes para se vestir senão de gala, mas apropriadamente às temporadas futuras. Isso é muito bom. É motivo de sobra para despertar a atenção jornalística de quem tem por filosofia olhar lá adiante, porque o hoje regional está comprometido. 

Mosaico regional  

Santo André é uma peça do mosaico regional e na condição de linha de frente na geração de riqueza juntamente com São Bernardo, Capital Econômica do Grande ABC, tem responsabilidade social do tamanho dessa importância. Portanto, qualquer iniciativa que coloque no gramado tem repercussão além do próprio território.  

O lançamento do projeto denominado Marco Regulatório da Política Urbana coincide com movimentação ainda incipiente, mas promissora, de ações que frequentam a Via Preferencial de políticas públicas voltadas ao Desenvolvimento Econômico, com a formalização do que chamo de Pacto pela Governabilidade Regional.  

Uma coisa tem tudo a ver com outra coisa, ou seja, o varejismo no bom sentido de termo, que significa prescrutar a realidade municipal de forma detalhada, com participação da sociedade, e o atacado de ações estratégicas contando com grupo restrito de integrantes reconhecidamente capazes de construir mudanças significativas.  

Mas, fiquemos com o saída do armário do desconhecimento socioeconômico-estrutural de Santo André.  

Qualidade de vida  

Segundo o noticiário de hoje do Diário do Grande ABC, trata-se de um processo de escuta da população sobre as mudanças que devem ser feitas pelo Poder Público no Plano Diretor da cidade, na Lei de Zoneamento, no Código de Obras e Edificações e em outras leis específicas que envolvem investimentos em habitação, em infraestrutura e em equipamentos públicos de saúde, educação, saneamento, transporte, lazer e de segurança pública. 

Verificaram os leitores que as temáticas versam sobre questões visíveis e mensuráveis no cotidiano da população, e que fazem a diferença. E fazem mesmo também quando não contempladas com uma organização que dê prioridade à integração conceitual entre as áreas.  

Desconhecer a cidade em que se vive é meio caminho ao inferno de surpresas desagradáveis. A Santo André abarrotada de veículos nas ruas a qualquer horário do dia e da noite, réplica de tantas outras grandes cidades do País, é consequência natural de descuidos de políticas públicas. Espera-se que a programação anunciada comece a fazer a diferença.  

Saindo do armário  

Verticalização do mercado imobiliário não é necessariamente sinônimo de baixa qualidade de vida no campo habitacional, mas é preciso provar que também pode ser algo que corresponda à insanidade urbana.  

Não tenho conhecimento sobre a abrangência da escuta à população de Santo André. Creio que não faltará algo como uma pesquisa embutida nas intervenções da sociedade no sentido de capturar vários aspectos subjetivos que ajudariam a costurar o futuro muito além de obras físicas e doutrinas sociais.  

Saber o que a população de Santo André pensa de Santo André e da região como um todo me remete à metáfora de sair do armário do desconhecimento. É indispensável que o trabalho contenha essa vertente. Não sabemos onde estamos, essa é a dura realidade.  

O que pensa a média da população municipal e também regional sobre determinados assuntos locais?  

Nudez institucional  

O Diário do Grande ABC informa também que os primeiros seminários sobre o Marco Regulatório da Política Urbana serão realizados desta sexta a domingo. E coloca uma declaração de José Police Neto para dar um tom de esclarecimento importante: “Vamos apresentar dados e informações sobre cada região da cidade e as legislações atuais que dão suporte para o desenvolvimento de nosso Município. A Prefeitura também anuncia que será apresentado aos participantes dos painéis o Portal Siga (Sistema de Informações Geográficas Andreense) acessado por meio do siga.santoandré.sp.gov.br, que possibilita analisar informações sobre a cidade em mais de 170 camadas diferentes da pesquisa.  

Não sei exatamente o que significa essa enxurrada de dados. Talvez sejam os indicadores que estão escondidos no armário da informação ainda deficiente no sentido de interação com a sociedade. É impossível avançar o ritmo e sugerir que espécie de strip-tease reverso seja aplicado de imediato.  

O que isso significa? Como cobrir a nudez institucional-estatística de Santo André com as vestimentas que estão num compartimento específico, um armário de dados supostamente interessante.  

O tamanho geoeconômico de Santo André é desafiador mas ao mesmo encantador aos desbravadores de uma iniciativa que deve se refletir em ganhos acumulados. São mais de 700 mil habitantes distribuídos por 112 bairros, os quais foram divididos em 15 macroterritórios.  

O que vai sair de tudo isso em consequência da metodologia a ser aplicada é uma senhora pauta jornalística porque se pressupõe que haverá devassa informativa que cobrirá Santo André sem pudores e horrores, encaixadíssima num modelito de modernidade participativa.   

Mobilização importante 

Mal comparando, apenas para entendimento dos leitores, o que teremos em Santo André, provavelmente, será a reprodução de alguns conceitos em tempos modernos e tecnológicos do Orçamento Participativo lançado nos anos 1990 pelo PT.  

Se entendi bem o que li sobre o caso-Santo André, a mobilização da sociedade não estará pendurada obrigatoriamente na terceirização de parte do orçamento aos participantes dos eventos, como eram os orçamentos participativos. Pena que o amadurecimento do programa tenha descambado em forma de extensão de interesses político-partidários. O que parecia uma modalidade reformista acabou encapsulada pelo imediatismo eleitoral.  

Teremos, isto sim, uma mapa completo do Município, macrobairros por macrobairros, com as respectivas caraterísticas sociais e econômicas, além, quem sabe, de nuances interpretativas do que é viver no Município.  

Talvez a pandemia tenha cerceado a criatividade dos gestores de marketing na Prefeitura de Santo André. Caberia a eles (e aos reforços operacionais), a programação de um evento-chave de apresentação não diria majestosa, mas impactante, do programa em questão. 

Faltou um mote que não precisaria remeter ao strip-tease abusado deste texto, mas a algo que despertasse a atenção da sociedade para que se enxergue como protagonista de uma iniciativa que alcança uma escala de elevado potencial esclarecedor, retirando Santo André das trevas informativas. Que outros municípios sigam o exemplo.

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