Auricchio tem três anos para
executar o que faltou em 12
DANIEL LIMA - 17/12/2021
O prefeito José Auricchio Júnior tem três anos do retardatário quarto mandato para fazer o que está devendo há 12 no campo econômico, peça-chave do equilíbrio social de São Caetano.
Como prometeu em entrevista ao jornalista Sérgio Vieira, em live do Diário do Grande ABC, espera-se que, ao assumir o cargo por ordem do STE, tenha disponível e factível um planejamento econômico estratégico.
São Caetano é uma nau em apuros neste século, como se não fossem suficientes as duas últimas décadas do século passado.
O esvaziamento industrial e econômico de São Caetano não é uma obra de ficção costurada por inimigos políticos. É realidade pura. Puríssima.
Segurando a lanterninha
Em junho do ano passado, por exemplo, preparei análise que dá com certa exatidão o grau de deterioração do tecido social do Município mais rico e socialmente mais engendrado do Grande ABC.
Escrevi que, na última década, de 2011-2020, o PIB de Consumo de São Caetano ocupa a lanterninha no G-22, o Clube dos 20 Maiores Municípios do Estado de São Paulo.
PIB de Consumo é o refinamento do PIB Geral, que é a geração de riquezas numa determinada temporada. PIB de Consumo é a acumulação de riquezas ao longo de todas as temporadas de um Município. As sacolejadas, portanto, são menos visíveis, menos detectáveis, mas fazem efeitos mais cruéis quando desprezadas, porque impõem reestruturação mais vigorosa.
Veículo desgastado
PIB tradicional é um veículo que tanto pode pegar uma autoestrada como uma estrada vicinal num determinado trecho. Ganhará mais velocidade ou menos velocidade, e até mesmo engatar um marcha-ré circunstancial ou estrutural.
PIB de Consumo é um veículo que, independentemente da estrada, dá sinais de fadiga do material em forma de estado de conservação. Começa a faltar estepe aqui, o limpador de para-brisa enguiça ali, a lona dos freios parece não obedecer ao movimento físico do condutor.
O veículo do PIB de Consumo pode ser de fabricação mais recente e apresentar melhor preço de venda que o veículo do PIB Convencional, mas uma linha do tempo futuro que virá sinaliza complicações.
No caso de São Caetano, quem quiser usar outra metáfora, de um Titanic, não estará exagerando.
Muito atrás de Mogi
Escrevi naquela edição do ano passado que entre 2011-2020 o PIB de Consumo per capita de São Caetano ocupou a última posição no ranking do G-22. Correu muito abaixo da inflação do período, de 66,84%. Os dados, com o suporte a Consultoria IPC, empresa especializada em potencial de consumo, não deixam margem a dúvidas.
A distância que separou a primeira colocada na década e São Caetano (22a classificada), é transatlântica. Mogi das Cruzes foi quem mais cresceu na década, da ordem nominal de 116,89%. Portanto, muito acima da inflação do período. São Caetano – reparem só no desastre – não passou de crescimento nominal per capita de 14,70%.
Quem entender que o que se passou em São Caetano como expressão de grandeza de riqueza acumulada e estremecida não foi um desastre e que, portanto, não se deveria acionar o botão de alerta de um projeto reformista, está decididamente fora de órbita crítica. Precisa de internação em algum endereço que trate de responsabilidade social. Convenhamos que são poucas as opções no Grande ABC no assunto. Talvez apenas redutos de Nossas Madres Terezas tenham algo que lembre o que chamaria de cidadania solidária.
Mais indicadores
O PIB de Consumo é apenas um dos vários indicadores que denotam a derrocada econômica de São Caetano. E o peso sobre os ombros do tetraprefeito José Auricchio é enorme. Afinal, quando completar o novo mandato conquistado nas urnas, terá cumprido 15 dos 24 anos deste século à frente da Prefeitura, Luiz Tortorello, que o antecedeu, e Paulo Pinheiro, que interrompeu o controle de seu grupo, permaneceram apenas oito anos.
E a bem da verdade e da justiça, a São Caetano que ainda resiste economicamente embora com forças reduzidas, mas suficientemente fortes para impedir estragos ainda maiores foi deixada por Luiz Tortorello.
Quem negaria a decisiva participação do então prefeito como agente principal de uma guerra fiscal regional, espelhada na vizinha Barueri? Não fosse o incremento de atividades de serviços com o rebaixamento de alíquota do ISS, São Caetano estaria à beira de precipício mais evidente.
Aumento de impostos
Também não se pode esquecer, como fonte de resistência administrativo-financeira da Prefeitura de São Caetano, a política de intensivo aumento de impostos municipais, notadamente o IPTU, iniciada por Luiz Tortorello e aperfeiçoada por José Auricchio.
Ao ouvir como ouvi o prefeito José Auricchio projetando de imediato o anúncio de um planejamento econômico para São Caetano, assim que tomar posse, imaginei a possibilidade de que, finalmente, mesmo que à falta de tempo para uma guinada transformadora, serão implantadas medidas que permitam a fertilização de um terreno árido demais para sugerir uma São Caetano diferente do que está aí, ou seja, em declínio econômico que erode perspectivas de que possa seguir com a qualidade de vida tão decantada, mas que, confrontada pelo Coronavírus, se provou menos eficiente do que se imaginava.
Entorno contaminado
Vou ficar na torcida para que José Auricchio possa plantar as bases mesmo que tardias de uma São Caetano que saia do piloto automático da louvação ludibriadora de que é o pedaço mais encantador da Grande São Paulo.
Não é mais e faz tempo, porque além da contaminação do entorno de um Grande ABC também deteriorado economicamente, há uma extravagante Capital a estabelecer divisores de águas que ainda não foram compreendidos de modo a se converterem em tração ao desenvolvimento tanto local quanto regional.
Se a retomada econômica do Grande ABC é um desafio descomunal, porque estamos no epicentro de uma revolução que há muito contempla a descentralização de atividades fabris, no caso de São Caetano a tarefa só não é mais escancaradamente inquietante por uma única razão, ou uma grande razão: há um passado de glórias que cristalizou uma sociedade economicamente mais equilibrada e isso tem servido constantemente de proteção.
Seminovo, talvez
Uma proteção que engana, porque dados socioeconômicos perdem o viço a cada nova temporada. O veículo na estrada há muito deixou de ser novo em folha. É seminovo, talvez.
São Caetano precisa desenhar o futuro econômico que a salvaria no futuro porque o futuro é cíclico e chega a cada nova virada de ano no calendário gregoriano.
Há uma certa desconfiança de que os formadores de opinião e os tomadores de decisão em São Caetano perderam a noção do tempo e as dificuldades que impactam a população. Algumas bolhas de mobilidade social submetem a maioria a anestesiamento acomodatício que não resiste aos indicadores econômicos.
O prefeito que é tetraprefeito sabe que ainda dispõe de três anos para mudar o que expõe como a maior fragilidade nos 12 anos em que esteve à frente do Executivo. Não há mais tempo a perder.
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