Esportes

Alertas e sugestões para a SAF
do Santo André não fracassar

  DANIEL LIMA - 12/05/2022

Os associados do Esporte Clube Santo André aprovaram ontem à noite a carta de liberdade para a diretoria executiva preparar o Santo André Sociedade Anônima que tanto se exige para que o maior patrimônio cultural da cidade se robusteça e ganhe impulso na hierarquia do futebol brasileiro, sob pena de virar pó.  

Já escrevi tanto sobre a SAF do Santo André que me sinto no direito e na obrigação de produzir uma lista preliminar de recomendações e sugestões. Então, vamos em frente com 10 pontos essenciais, entre tantos outros que poderia apresentar.   

PAÇO TÓXICO 

Mantenham o Paço Municipal o mais distante possível das negociações, porque o Paço Municipal de Paulinho Serra e seu entorno nebuloso são imperialistas. O que significa isso? Que eles pretendem ter o controle de Santo André para se perpetuarem no poder da forma mais abjeta, ou seja, ao mediocrizar todas as instâncias sociais, culturais e econômicas. Não é preciso muito esforço para isso. A empreitada vem de longe, desde que o PT morreu em Santo André como partido de oposição ou de situação e várias de suas lideranças se juntaram a alguns mandachuvas da política de negócios e de negócios da política. Santo André está desfalecida como cidadela democrática. É a unanimidade burra de uma minoria que silencia a grande maioria inepta no presente e irresponsável com o futuro.  

RECUPERAR ATRASO 

A SAF do Santo André já está atrasada no cronograma de oportunidade de negócios do futebol porque o Paço de Paulinho Serra e seus aliados fizeram de tudo para atrapalhar. Até deram corda e muito mais a um clube com o mesmo nome do Santo André com o objetivo explícito de atrapalhar a agremiação, legítima herdeira do Estádio Bruno Daniel. Os termos de concessão não podem invadir o terreno da arbitrariedade porque provavelmente afugentaria investidores. Ninguém que leva futebol empresarial a sério quer ser tutelado pelo Poder Público sujeito a chuvas e trovoadas gerenciais. São Bernardo e São Caetano são exemplos regionais de que não se misturam política e futebol na concessão de estádio.   

CAUTELA DIRETIVA 

A diretoria do Esporte Clube Santo André deve conduzir a transformação em clube-empresa com todo a cautela, sem permitir que interesses escusos comprometam o futuro da agremiação. O Santo André já deveria ter formado um grupo de elite independente de temores de pressões do Paço Municipal para blindar as relações com potenciais investidores, tornando-as compromisso a salvo de oportunistas. 

SAGED É LIÇÃO  

Santo André não pode cometer o erro de passado recente que ganhou o formato jurídico de Saged, empresa que tomou conta da agremiação durante cinco terríveis temporadas a ponto de abandoná-la a pão e água na Sexta Divisão do Futebol Brasileiro, o que vem a ser a Série A-2 do Campeonato Paulista. O que deveria ser um clube-empresa virou empresa-clube, num atentado à integridade histórica da agremiação. Até hoje o clube paga o preço do terrorismo diretivo que acovardou investidores, causando prejuízos incalculáveis. O título de vice-campeão da Série A-1 em 2010 e a disputa relâmpago da Série A do Campeonato Brasileiro foram preços altíssimos a tantas arbitrariedades e mandonismos.   

BRUNO DANIEL  

A concessão do Estádio Bruno Daniel ao Santo André Sociedade Anônima não pode ser vista e suportada como moeda de troca que a Administração de Paulinho Serra insinua nas entrelinhas ao instalar dificuldades com ares de responsabilidade. Maus conselheiros que não passam de apressados avaliadores da vida regional já instalaram a gestão de Paulinho Serra num calabouço de medidas e intervenções subterrâneas no caso da cessão do Bruno Daniel.  

UNINDO AS PARTES  

Diferentemente da ideia comum e banal de que haveria ruptura entre o social e o esportivo com a criação do Santo André Sociedade Anônima, se o parceiro escolhido for mesmo de linhagem clube-empresarial o que teremos será uma junção preciosa. Jamais o Esporte Clube Santo André utilizou todo o potencial de sinergia entre o Parque Poliesportivo Jairo Livolis e o Estádio Bruno Daniel. Um clube-empresa com olhos vivos nos dois campos jamais deixará de proporcionar aproximação que chegaria a resultados muito além dos gramados. O Santo André tem os pés nas duas metades geográficas do Município separadas pela linha do trem e pela Avenida dos Estados, acidentes econômico e geográfico que no passado estimularam movimento emancipacionista ainda frequente em mentes mais conservadoras.  

AÇÕES POPULARES  

Que além dos 10% das ações que ficarão em nome do Esporte Clube Santo André, conforme determina a legislação, um naco semelhante ou um pouco maior poderia ser disponibilizado à aquisição de torcedores ou investidores da região, sobretudo de Santo André. A iniciativa poderia proporcionar ao Esporte Clube Santo André a oportunidade de se fazer representar no Conselho de Administração do clube-empresa, de modo que acompanhe atentamente, e também colaborativamente, a nova fase do futebol profissional da cidade.  

ESCOLHA CRITERIOSA 

Preferencialmente, que o Santo André Sociedade Anônima seja propriedade de uma organização esportiva com experiência nos negócios do futebol. Mais que isso: que tenha combinação refinada de seleção, produção e venda de jogadores jovens que o mercado internacional demanda o tempo todo. Há 1.200 jogadores brasileiros atuando em outros países. Basta olhar no ranking das 20 maiores organizações do setor e prospectar quem se sensibilizaria mais com um produto de imagem límpida e de passado de façanhas extraordinárias, como a conquista da Copa do Brasil. Sem contar um mercado consumidor de quase três milhões de habitantes. Santo André é um Viveiro Industrial de Talentos Futebolísticos. Prova disso foi o trabalho no início do século, com apoio do prefeito Celso Daniel, que redundou em grandes conquistas. Inclusive da Copa do Brasil.  

MELHOR PROPOSTA 

A melhor proposta que for feita ao Esporte Clube Santo André para virar Santo André Sociedade Anônima não pode se prender a vinculações financeiras. Definir pontos cardeais de um sistema de escolhas que interpretem o futuro como base das negociações é o caminho mais saudável. Blindar a agremiação de bolas divididas que se apresentam no mercado da bola é uma obrigação. O Santo André não pode virar estuário de um modelo de clube-empresa que flerta com a contravenção, quando não mergulha na contravenção.  

MARKETING DA UNIÃO  

É de suma importância que o marketing a ser deflagrado pós-transformação do Esporte Clube Santo André em Santo André Sociedade Anônima não estabeleça subliminarmente ou objetivamente uma divisão de identidade e de temporalidade. Longe disso: a mensagem de unidade, de fortalecimento, de comprometimento com a história deve prevalecer em todos os encaminhamentos. O Esporte Clube Santo André, por força de limitações estruturais, deixou espaço extraordinário ao dinamismo do futebol da cidade com uma nova configuração jurídica e prática. É só explorar. Houvesse atingido esse estágio (como alertamos tantas vezes) jamais o prefeito Paulinho Serra e sua turma iriam afrontar os desígnios de mudanças inadiáveis. Mas, a bem da verdade, mesmo com tantos percalços, sobretudo após o advento destruidor da Saged, o Santo André resistiu bravamente num universo em que a competição impera—ou seja, os clubes estão em permanentes confrontos. Bem diferente, portanto, do que se vê no ambiente da administração pública quando se tem à frente grupos sem compromisso com o futuro.

Leia mais matérias desta seção: