Política

Quais das quatro vias vão à
finalíssima em São Paulo?

  DANIEL LIMA - 09/06/2022

Enquanto sempre faltou e continua a faltar uma terceira via presidencial (apesar dos esforços da Velha Imprensa), a corrida pelo governo do Estado de São Paulo é civilizadamente feroz.  

Há quatro candidatos que alguns pretendem que sejam três. O leitor está convidado a um desafio. Quem vai para o segundo turno?  Vejam os candidatos que correm atrás de votos: 

a) Fernando Haddad, petista, líder de todas as pesquisas. 

b) Márcio França, do PSD, que disputa o segundo lugar nas pesquisas. 

c) Tarcísio de Freitas, Republicanos, que também disputa o segundo lugar nas pesquisas. 

d) Rodrigo Garcia, PSDB, igualmente com espaço potencial na segunda colocação. 

COMBINAÇÕES POSSÍVEIS   

Feita essa exposição, vamos às combinações possíveis para o turno decisivo de outubro: 

a) Fernando Haddad versus Marcio França. 

b) Fernando Haddad versus Tarcísio de Freitas. 

c) Fernando Haddad versus Rodrigo Garcia. 

d) Tarcísio de Freitas versus Márcio França. 

e) Tarcísio de Freitas versus Rodrigo Garcia. 

f) Marcio França versus Rodrigo Garcia.   

MELHOR NIVEL 

Se não estiver enganado, acho que esgotei todas as potenciais possibilidades de um segundo turno paulista que provavelmente será memorável. 

Temos muito mais qualidade competitiva pelo Palácio dos Bandeirantes do que para a presidência da República.  

Mais qualidade competitiva em todos os sentidos. Inclusive nas distinções individuais em relação aos presidenciáveis Lula da Silva e Jair Bolsonaro. 

Vou explicar apenas mais embaixo porque qualquer um dos quatro candidatos ao governo do Estado é melhor que os dois finalistas ao governo federal. 

OUTRA COISA  

Isso, entretanto, não quer dizer que os paulistas terão, a partir de janeiro do ano que vem, um governador sob medida, desses com capacidade de ir além das quatro linhas de um piloto automático que despreza ou não cuida direito ou negligencia o poder econômico do Estado mais importante do País. 

Tanto é verdade que, mesmo em escala inferior, o Estado de São Paulo sofre há décadas de desindustrialização. Só perde para o Grande ABC e só se salva porque os setores de serviços de valor agregado, especialmente financeiros, tapam parte do buraco. 

Mas isso é outra história. O que interessa agora é a disputa ao governo paulista. 

MOVIMENTO DAS PEDRAS 

Vamos então a algumas considerações especulativas. Isso mesmo, considerações especulativas, porque em política tudo pode acontecer. Inclusive nada. 

a) Esqueçam a disputa final entre Márcio França e Fernando Haddad. Eles são parentes muito próximos no cromatismo político-ideológico. Não há espaço político-eleitoral para ambos numa finalíssima. Tanto não existe que o que mais se debate nos bastidores das duas campanhas que se confundem com a campanha presidencial de Lula da Silva é decifrar o enigma de quem seria o concorrente mais forte a um segundo turno paulista.  

b) Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Jair Bolsonaro, e Rodrigo Garcia, indicação a contragosto de João Doria, jogam pelo segundo turno. Garcia tem a máquina tucana a incrementar forças. Tarcísio conta com a força-tarefa bolsonaristas. Quem apostar em Tarcísio de Freitas hoje não pode ser rotulado de estúpido. Mas um Rodrigo Garcia a um segundo turno teria competitividade semelhante a de Tarcísio de Freitas. Eles, como no caso de Haddad e França, são excludentes. Onde um vai o outro não vai atrás.  

c) São essas, portanto, as combinações mais prováveis para um segundo turno paulista. Ou seja: Tarcísio de Freitas ou Rodrigo Garcia enfrentará Fernando Haddad ou Márcio França. 

d) O paradoxo é que o líder das pesquisas teria menos possibilidade de ganhar o segundo turno. O PT perdeu 11 disputas seguidas ao governo de São Paulo porque PT e conservadorismo não dão liga.  O PT só se dá bem nos grandes centros demográficos. E mesmo assim com ressalvas. Com um mais que provável segundo turno presidencial, a clivagem antipetista seria intensa e aguda. Pesquisas apontam inelasticidade cruel quando se pretende projetar as intenções de votos de Haddad e Márcio França no sentido de um casamento, de complementaridade. Não dá cola. É um ou é outro mesmo. E o mais indicado é quem tem menor grau de restrições históricas. No caso, Márcio França. O problema de ambos é que a soma das intenções de votos não seria transposta ao segundo turno. O vermelho que se funde ao lilás segue vermelho, mas não tão mais vermelho do que o original vermelho porque o original vermelho, vermelho sempre será. E o lilás ganha tons azulados e amarelados.  

e) A maior oportunidade que o PT teve ao longo da história eleitoral em São Paulo de fazer um governador se deu em 2002, quando Lula da Silva virou presidente na quarta tentativa e massacrou a candidatura tucana de José Serra. O PT estava com a bola toda. Chegou mesmo a ganhar a disputa presidencial em São Caetano, microsímbolo do conservadorismo nacional. Mas o candidato a governador, José Genoíno, não seguiu os rastros de Lula da Silva. Era um concorrente com perfil pouco adaptável à média do eleitorado paulista. Haddad é mais próximo disso. Alguém com suas características teria vencido naquela oportunidade. Mercadante, por exemplo, que só foi lançado depois. E se deu mal também porque a situação macropolítica era outra e os tucanos, antes das rachaduras paulistas, eram imbatíveis. Haddad parece fora do tempo nestes períodos de guerras midiáticas e nas redes sociais. Tem um passado inglório à frente da Prefeitura de São Paulo. Que vai pesar na hora do vamos ver entre os paulistas. Tanto que não degela o eleitorado além do pouco mais de um terço que registra.   

NOVAS CENTRALIDADES 

Posto tudo isso de forma bastante simples, há raciocínios políticos que não funcionam como antes, sobretudo em disputas de grandes massas, para governador e presidente da República.  

Para prefeito ainda dá liga, porque o municipalismo não tem a magnitude catalizadora de diversidade de forças nas redes sociais, principalmente. 

A Velha Imprensa perdeu a centralidade da informação e da catequese nas disputas eleitorais desde que as redes sociais ganharam massificação. E cada vez mais os aparelhinhos portáteis vão fazer a diferença, por mais que o Supremo pressionado pelo baronato do Consórcio de Imprensa aja como agremiação política a pretexto de assegurar a Democracia que, todos sabem, é uma espécie de jogo do mandante.  

ESQUADRINHAMENTO  

Um Márcio França num segundo turno será esquadrinhado ideologicamente e correlacionado a parceiros de pensamento político como jamais o seria se a Velha Imprensa dominasse o cenário. A recíproca é verdadeira em relação aos demais possíveis finalistas. Ganhos e danos colaterais serão incontroláveis.  

Para complementar, o conceito de que qualquer um dos quatro concorrentes em São Paulo é melhor do que os dois favoritos à presidência da República a partir de janeiro do ano que vem está sincronizado aos novos tempos. 

a) Bolsonaro e Lula têm passivos imensos, que os tornam indesejáveis a largas parcelas, embora, contraditoriamente, os imunizem contra eventuais concorrentes. 

b) As quatro vias paulistas ao Palácio dos Bandeirantes são tecnicamente mais preparadas que os dois presidenciáveis.  Prevalece a percepção popular de que não são pontas inconciliáveis de intolerâncias mútuas. Diferentemente, portanto, de Lula versus Bolsonaro. Acredita-se até que quem romper a fronteira da civilidade eleitoral sofrerá maiores prejuízos. Radicalismo estaria restrito à disputa pelo Palácio do Planalto entre outras razões porque o histórico de gestão do País levou a isso. O Estado de São Paulo não tem uma Assembleia Legislativa e um Poder Judiciário, por exemplo, tão combatidos quanto correlatos em Brasília. A amplitude temática da disputa presidencial é enlouquecedora e divisionista. A disputa estadual seria uma trégua de lucidez. Até porque não há nenhum símbolo a atear fogo. Escândalos aqui e ali serão explorados, correlacionados, claro, mas nada tão abrasivos quanto temáticas da esfera federal.  

RODRIGO OU TARCÍSIO 

Se o leitor quer saber quais são os candidatos favoritos hoje, a quatro meses da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, não tenho razão alguma para fugir da raia.  

Ganha quem no campo de centro e centro-direita chegar ao segundo turno, ou seja, Tarcísio de Freitas ou Rodrigo Garcia.  

Talvez Tarcísio seja favorecido pela polaridade presidencial, puxando Bolsonaro e sendo puxado por Bolsonaro durante o primeiro turno.  

A questão é saber até que ponto a força de tração da bipolaridade presidencial influenciará na multipolaridade ao governo do Estado. Mas isso é assunto para outra análise.  

Ou seja: até que ponto as quatro vias resistirão como quatro vias num cenário de predomínio da visão do eleitorado na disputa presidencial. Qual será o grau de contaminação?   

O favoritismo de Garcia ou de Tarcísio num segundo turno é apenas um chute com a bola pingando na pequena área, gol vazio. Quantos já não perderam gol assim? É improvável, claro, mas não impossível.  

Vou voltar a esse assunto, porque o que abunda hoje pode escassear amanhã.

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