Economia

PIB de Serviços torna mais
grave viuvez de Santo André

  DANIEL LIMA - 10/06/2022

Enquanto o prefeito Paulinho Serra trata a sociedade como indígenas deslumbrados com espelhos e outras quinquilharias de prêmios compulsórios, o futuro de Santo André segue mais que preocupante.  

Números deste século provam e comprovam que o Viveiro Industrial do passado segue sem rumo nem prumo.  

Virou de fato Viveiro Assistencial no pior sentido da expressão, porque foge da linha de montagem de mobilidade social e se enquadra nas trilhas tortas de ações tópicas e geralmente eleitoreiras.  

A viuvez industrial de Santo André, asfixiante antes da virada do século, não encontrou alternativa compensatória ainda. O setor de Serviços sofre de raquitismo crônico. É o que vamos mostrar em seguida.  

SONHO VIRA PESADELO  

Voltar ao passado para explicar a Santo André destes tempos é essencial. Quando prefeito, em 1998, Celso Daniel sonhava e articulava medidas para tentar transformar Santo André e o Grande ABC como um todo em ramal preferencial de serviços de valor agregado da Capital.  

Celso Daniel sonhava em pegar carona na grandiosidade da Capital. Quem pegou de fato foi a vizinhança do outro lado da Região Metropolitana de São Paulo, casos das áreas da Grande Osasco, que inclui Barueri. A Velha Economia do Grande ABC perdeu a competitividade para a Nova Economia daquele outro lado.  

Celso Daniel morreu em 2002 e com ele qualquer objetividade de políticas públicas voltadas à redução do prejuízo causado a partir dos anos 1980,  quando a desindustrialização do Grande ABC ganhou corpo. Prometeram-se ao longo de temporadas medidas corretivas. Tudo não passou de embuste que tem no inútil Clube dos Prefeitos expressão máxima, mas não única.  

MEDIOCRIDADES  

Celso Daniel tinha os olhos preferencialmente sobre o território de Santo André. Passaram-se prefeitos de todos os calibres e cores. Paulinho Serra é mais um na contabilidade de mesmices e mediocridades econômicas.  

Santo André é um Município inexpressivo no setor de Serviços e se torna menos relevante na área industrial. Derrapou profundamente neste século. 

De Viveiro Industrial a Viveiro de Serviços não teria sido prejuízo incontornável, mas nem isso Santo André alcançou.  

É um território sem eira nem beira na realocação de medidas que poderiam encontrar um veio importante de recuperação.  

O Desenvolvimento Econômico de Santo André foi para o brejo da negligência da administração pública. Nada muito diferente do Grande ABC como um todo, mas mais grave porque a viuvez industrial afeta a qualidade de vida dos moradores de forma mais grave.  

EVASÃO DE CIDADANIA 

Tanto afeta que os últimos cálculos colocam pelo menos 40% da População Economicamente Ativa de Santo André atuando em outros municípios da região e também da Capital.  

Ou seja: quase metade de profissionais produtivos deixam diariamente Santo André em busca de sustento.  

Mais que isso: a fuga de mão de obra e cérebros esgarça o tecido social também no campo de cidadania, de inter-relacionamentos. Santo André é um Município que perde identidade e abre brechas seguidas ao arbítrio e ao imperialismo do Paço Municipal.  

RELAÇÕES PÚBLICAS  

Repetir mil vezes a mesma verdade é uma fórmula que se pretende frutífera para compensar o lambe-lambe de relações públicas de parte da mídia regional.  

O comportamento do PIB de Serviços de Santo André neste século, entre 2000 e 2019, com base de dados de 1999, é sofrível.  

Houve crescimento nominal, sem considerar a inflação do período, de 480,33%. A média modesta do Grande ABC, dos sete municípios, chegou a 524,70%. No Estado de São Paulo, média geral, o avanço nominal do PIB de Serviços registrou 673,81%. 

O PIB de Serviços de Santo André  de 1999 (portanto, antes da chegada do novo século) representava 26,97% do PIB de Serviços do Grande ABC. Vinte anos depois a participação caiu levemente para 25,22%.  

COMPARAÇÕES JUSTAS  

Comparar qualquer Município do Grande ABC com o Grande ABC ou qualquer outro Município do Grande ABC é um erro crasso em qualquer tipo de indicador. Não se pode medir o rasgado e o esfarrapado para se conhecer a realidade dos fatos.  

Por isso,  quando se compara tanto o PIB de Serviços do Grande ABC individualmente ou não com outras geografias, a desvantagem é sempre acachapante.  

Basta confrontar o crescimento médio já apontado do PIB de Serviços do Estado de São Paulo e o PIB de Serviços do Grande ABC. Um confronto que rompe o tempo. Vinte anos não são alguns pares de anos, geralmente selecionados por quem quer manipular dados.  

ESTADO MELHOR  

Se no começo do século o PIB de Serviços de Santo André representava 1,69% do mesmo indicador do Estado de São Paulo, em 2019 caiu para 1,27%. Ou seja, os dados de Santo André foram bastante comprometidos.  

Santo André contava com PIB de Serviços de R$ 2.962,18 bilhões em 1999, ante R$ 175.079,29 bilhões do Estado de São Paulo (sempre em valores nominais). Já em 2019 Santo André somava R$ 17.190,52 bilhões ante R$ 1.354.778,26b bilhão do Estado.  

O Grande ABC como um todo viu o PIB de Serviços cair com menos intensidade no mesmo período. Em 1999 os sete municípios representavam 6,23% do PIB Estadual, enquanto em 2019 somavam 5,03%.  

Sempre é importante considerar que a queda do PIB de Serviços no Grande ABC como um todo tem fortes relações com a queda do PIB Industrial no mesmo período.  

SÉCULO CRUEL  

O novo século tem sido cruel com o Grande ABC na área de transformação industrial. Não muito diferente ante as duas últimas décadas do século passado.  

Neste século, o PIB Industrial do Grande ABC em confronto com o PIB Industrial do Estado de São Paulo perdeu participação forte, de 10,03% para 7,55%. Tudo fica ainda pior quando os números detectam que os paulistas perderam participação no bolo nacional.  

De volta ao PIB de Serviços, o sonho de Celso Daniel se tornou pesadelo. Comparar a Santo André com que ele sonhava com a Santo André destes tempos tem o mesmo sentido de jogar a toalha da decepção.  

SEMPRE ATRÁS  

Afinal, enquanto o crescimento nominal do PIB de Serviços de Santo André neste século não passou de 480,33%, a cidade de São Paulo registrou no mesmo período avanço de R$ 662,89%. O PIB de Serviços de Santo André equivalia a 4,28% do PIB de Serviços da Capital em 1999. Já em 2019 não passava de 3,25%.  

O PIB de Serviços do Grande ABC como um todo em 1999 (R$ 10.908,38 bilhões) representava 15,75% do PIB de Serviços da Capital (R$ 69.260,19 bilhões). Já em 2019, a participação caiu para 12,90% (R$ 68.145,00 bilhões do Grande ABC ante R$ 528.380,12 bilhões da Capital). 

A diferença brutal de perfil do PIB de Serviços da Capital e de Santo André, por exemplo, está na qualidade média da mão de obra.  

PERDENDO FEIO  

Como tem baixo valor agregado, já que atividades de serviços de Santo André e do Grande ABC como um todo são de salários muito abaixo da atividade industrial decadente, a média salarial é bastante baixa.  

Em Santo André, não passava, em dezembro de 2020 (ainda não saíram do forno do IBGE os dados de 2021) de R$ 2.945,14. Já na Capital de atividades mais nobres, a média salarial de serviços em 2020 registrava R$ 4.387,18. Ou seja: os trabalhadores da atividade em Santo André recebiam em média 67,13% dos trabalhadores da Capital.  

Um dado complementar mais acachapante ainda entre a média salarial de trabalhadores em Santo André e de São Paulo em 2020: as atividades de serviços na Capital rendiam aos trabalhadores mais que as atividades industriais em Santo André. A média salarial do setor industrial de Santo André em 2020 era de R$ 4.220,71. Abaixo portanto dos R$ 4.387,18 de Serviços de São Paulo.  

A média salarial de 2020 em Santo André, quando se consideram todas as atividades econômicas, registrava R$ 3.116,65, enquanto na Capital chegava a R$ 4.445,33. 

Ou seja: a Santo André projetada por Celso Daniel bateu com a cara na porta da ineficiência histórica dos sucessores.  

DESCENDO A LADEIRA  

No caso específico de Santo André a situação é mais grave porque os 20 anos derradeiros do século passado foram destruidores da atividade industrial e, com isso, possibilitariam até mesmo por questão de emergência debruçar-se numa alternativa mitigadora do desastre no século que chegaria.  

Santo André acumula neste século queda brutal no PIB Per  Capita. No G-22, Clube dos Maiores Municípios do Estado de São Paulo, ocupa a 16ª posição. De fato, o G-22 conta com os 20 maiores municípios paulistas, porque Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra só estão incluídos porque pertencem ao Grande ABC. Quando o século começou, Santo André estava na 12ª colocação.  

Quando se desconsidera o G-22 e se observa o Estado de São Paulo como um todo, com mais de 600 municípios, Santo André é a 114ª colocada no PIB Per Capita.  

A corrida pelo PIB de Serviços parece completamente perdida por Santo André e pelo Grande ABC de sete municípios dispersos, rivais e detentores de cegueira estratégica.  

Enquanto isso, a Secretaria de Premiações e Indicadores da Prefeitura de Santo André segue a desfilar supostas conquistas. Tudo jogo de cena com fins eleitorais. Dona Carolina, mulher do prefeito, está sempre a reboque.  

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