Sociedade

Caso Saul Klein: reviravolta a
partir da Justiça do Trabalho?

  DANIEL LIMA - 10/06/2022

Uma implacável sentença da Justiça do Trabalho pode escancarar de vez o encaminhamento final de uma narrativa até agora pouco convincente que transformou Saul Klein em devorador de mulheres.  

Filho do lendário Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, o ex-mecenas do São Caetano é acusado por mulheres que se disseram violentadas sexualmente, entre outros crimes. A denúncia estourou em dezembro de 2020.  

Exatamente uma das 14 mulheres que constam do inquérito na Delegacia de Polícia da Mulher em Barueri como vítima do namorador de Alphaville foi derrotada duramente numa reclamação trabalhista, de valor superior a R$ 2, 2 milhões.  

FESTIVAL DE MANOBRAS  

Daiane dos Santos Floriano perdeu fragorosamente a ação na Justiça do Trabalho. Saul Klein é o endereço da investida de vínculo empregatício.  

Daiane dos Santos Floriano viu comprometidíssimo o depoimento na Delegacia de Polícia numa operação que, na pior das hipóteses das defensoras das mulheres, pretende obter elevadíssimas somas em indenizações individuais.   

O Caso Saul Klein é um festival de manobras de múltiplos interesses ainda não esclarecidos, mas que em última análise pretende transformar em milionárias jovens mulheres que adoram namorar homens endinheirados.     

A decisão do magistrado trabalhista abre a fornalha para esturricar a tese por si só mambembe, porque sem provas sustentáveis, de que Saul Klein transformara sua residência na Grande São Paulo e em Boituva, Interior do Estado, em escalada de armadilhas e malvadezas contra pobres vítimas indefesas.   

JOGOS DE AZAR   

CapitalSocial vem acompanhando o Caso Saul Klein desde o nascedouro e vai continuar a seguir os passos do inquérito policial, do Ministério Público Estadual e da Justiça Criminal. E tampouco deixará de observar o entorno que influencie as decisões.  

Há um traçado lógico que lembra jogos de azar: em alguma situação entre as variáveis à disposição da especulação sobre as aventuras de namorador de Saul Klein caberia a possibilidade de engordar os cofres das mulheres com a tipificação de alguma coisa que gere indenização. Na Justiça de Trabalho não deu certo a uma das pretendentes.  

A Justiça do Trabalho é parte relevante na medida em que houve imbricamento entre uma personagem direta desse escândalo que até agora só consumou um fato: Saul Klein foi instalado às portas do inferno da reputação. 

Mas também há uma integrante indireta da opereta barrada no baile de fantasias de uma petição destruída pelo juízo. Uma testemunha de Daiane do Santos Floriano foi excluída do processo trabalhista pelo titular da 2ª Vara de Barueri porque se comportou como inimiga de uma das partes, no caso Saul Klein. 

CARREGANDO DEMAIS  

Trata-se de Patrícia Anielly Mendes Zorzelli de Souza. Mencionando trechos da oitiva, o magistrado trabalhista observou que a testemunha fez afirmação mais gravosa que a própria reclamante, demonstrando falta de isenção de ânimo. Patrícia também está entre as supostas vítimas de Saul Klein no inquérito policial em Barueri.   

O Caso Saul é a expressão de um assassinato social cristalizado. A mídia o tornou invasor e abusador de corpos alheios, desconsiderando o contexto mais que comprovado de que o empresário é até prova em contrário vítima de um esquema de industrialização do sexo associado a extorsões. Tudo orquestrado por uma cafetina paulistana e sua trupe.  

TRECHOS ESCLARECEDORES  

A reprodução de um trecho da decisão do juiz do Trabalho Charbel Chater, de 6 de junho último, da 2ª Vera do Trabalho de Barueri, dá a exata dimensão e clareza de que a tentativa de uma das mulheres que acusam Saul Klein no campo criminal é uma extensão de uma estratégia para auferir quantia milionária como suposta funcionária do empresário. Leiam: 

 Ressalte-se que, podendo se desvencilhar dos atos ilícitos e degradantes narrados na inicial – como afirmou em seu depoimento pessoal ao dizer que poderia abandonar o serviço quando quisesse – não se mostra razoável que a Reclamante teria continuado prestando serviços ao Reclamado se houvesse efetivamente tamanhos riscos à sua saúde. Por fim, tem-se que a Reclamante, conforme por ela narrado em depoimento pessoal, antes de começar a prestar seus serviços e na primeira entrevista com o Reclamado, teve ciência da natureza dos serviços que teria que prestar caso fosse contratada, in verbis: “que antes de iniciar o trabalho teve entrevista exclusiva com o reclamado; que a entrevista foi na casa dele; que nessa entrevista a senhora Pucca entrave e depois saia; que nessa entrevista conversaram sobre trivialidades da vida da depoente; que nesse momento o reclamado teve uma aproximação mais íntima com a depoente, do tipo sexual; que nesse momento teve relação sexual com o reclamado; que antes de estar sozinha com o reclamado, mas já dentro da casa, avisaram a depoente que o reclamado poderia ter esse tipo de contato; que não se sentiu confortável com essa situação”.  

RELAÇÃO CONSENSUAL  

Não parece haver nesga de dúvida de que a relação entre Saul Klein e a perdedora da ação trabalhista campo sexual se deu claramente de forma consensual.  

Ou seja: a mulher que foi à Justiça do Trabalho antes de engrossar a lista de supostas violadas de Saul Klein relatou que tinha pleno conhecimento do que faria e fez na residência de Alphaville e também no sítio de Boituva. Não se trataria, portanto, de qualquer ato que ultrapassasse o terreno típico de relações sexuais sem conotação obrigatória e constrangedora.   

O inquérito criminal do Caso Saul Klein foi devolvido à Delegacia da Mulher de Barueri após pedido de prisão preventiva e outras medidas que não encontraram respaldo do Ministério Público Estadual e do Judiciário.  

Em linhas gerais, o inquérito está muito distante de ser concluído porque faltam peças-chave na operação.  

CAFETINA É A CHAVE 

A cafetina Marta Gomes da Silva, de passado repleto de complicações, ainda não depôs à Polícia. Juntamente com Ana Banana, principal acusadora de Saul Klein, atuou no sequestro do empresário.  

Sequestro é força de expressão, mas não necessariamente um exagero: durante cinco anos Saul Klein sofreu de gravíssima depressão, período no qual foi dominado completamente pela quadrilha chefiada por Marta Gomes da Silva.  

Quando começou a se recuperar e se deu conta da situação, Saul Klein reagiu com o corte do suprimento de dinheiros. Daí à reação orquestrada por Marta Gomes da Silva e Ana Banana foi um passo.  

DEPOENTE FRÁGIL  

O Ministério Público Estadual, numa investigação da promotora criminal Gabriela Manssur, construiu em setembro de 2020 um enredo de abusos e violência exclusivamente com base no depoimento central de Ana Banana, uma ex-namorada de Saul Klein que tem sérios problemas psiquiátricos desde a infância. Ela teria sido abusada pelo próprio pai, conforme declarou ao MP na peça inicial. 

Embora em segredo de Justiça, a narrativa de Ana Banana virou fonte de denúncia e desdobramentos do Caso Saul Klein na Grande Mídia, a partir de reportagem na Folha de S. Paulo e no portal UOL, do Grupo Folha. Três dias depois estourou no Fantástico, da Rede Globo.  

Mais tarde, documentários na CNN Brasil e no UOL massificaram a versão de Ana Banana. E pouparam sempre e sempre a chave-mestra da operação, Marta Gomes da Silva.  

CLIENTELA AMPLA  

A mesma cafetina que teria relações comerciais, por assim dizer, com outros homens endinheirados de São Paulo, os quais, evidentemente, querem distância dos holofotes.  

O naufrágio da ação trabalhista de Daiane dos Santos Floriano coloca em situação desconfortável as defensoras das 14 mulheres que querem o escalpo financeiro de Saul Klein. A narrativa de crime sexual do filho de Samuel Klein já soçobrou no caso da perdedora na Justiça do Trabalho, mas se estenderá à Barueri da Delegacia da Mulher.

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