Economia

Paulinho Serra usa propaganda
mentirosa para encobrir fracasso

  DANIEL LIMA - 21/06/2022

O desempenho econômico de Santo André é um fracasso que não começou com o prefeito Paulinho Serra, mas é um fracasso que segue adiante com Paulinho Serra.  

Esse é o ponto nuclear da constatação de que a propaganda de página inteira veiculada no Diário do Grande ABC é uma associação ardilosa de mentiras, meias-verdades, sofismas e enganação.  

O prefeito Paulinho Serra, em suma, é um fracasso retumbante naquilo que deveria ser o coração da administração: a recuperação econômica da cidade mais violentamente impactada pela desindustrialização no século passado.  

Vamos ser objetivos ao provar e comprovar que a matriz de um delito de ordem ética, quando não de outras ordens, ou seja, a peça publicitária, não é fruto de qualquer outra consideração senão fatos subjacentes à qualificação da operação de marketing do prefeito com claro traçado eleitoral, entre outros aspectos.  

CAROLINA VERSUS CARLA  

Afinal, não se pode esquecer que a mulher do prefeito é o foco do prefeito neste período de disputa pela Assembleia Legislativa.  

A ordem unida no Paço Municipal e na Câmara de Vereadores é tornar Carolina rainha das urnas. Sobretudo ao se pretender que dê uma surra em Carla Morando, já deputada estadual, mulher do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, inimigo pessoal do chefe de Executivo de Santo André.  

Eis alguns aspectos básicos para compreender o significado eticamente delituoso da peça publicitária oficial da Prefeitura de Santo André: 

1. Manipula-se o tempo em relação aos postos de trabalho preenchidos. 

2. Despreza-se a contínua perda de geração de emprego industrial. 

3. Esconde-se a média salarial dos trabalhadores como prova provada da decadência contínua do mercado de trabalho em Santo André.  

4. Ignora-se o resultado de cinco anos de dois mandatos em relação à base de comparação do período recessivo de Dilma Rousseff. 

5. Esconde-se o contínuo nanismo do emprego industrial em confronto com as demais atividades.  

6. Transforma práticas corriqueiras de prefeituras em suposta exclusividade. 

7. Vende a mentira descarada de um programa de Primeiro Emprego que é tão inócuo quanto nos demais municípios brasileiros.  

8. Exercitam-se ilações de grandiloquência de produtos públicos como salvação da lavoura da empregabilidade que não se constata de fato porque a fragilidade do Desenvolvimento Econômico de Santo André tem raízes fundas.  

O enunciado-âncora da página de propaganda diz o seguinte, abaixo do título em letras garrafais “Mais Desenvolvimento e Renda com a geração de mais de 13 mil empregos”.  

 SANTO ANDRÉ SEGUE LIDERANDO A GERAÇÃO DE EMPREGOS NO ABC, ESTIMULANDO O EMPREENDEDORISMO, A ECONOMIA E UMA VIDA MELHOR PARA MILHARES DE ANDREENSES. ESSE É UM TRABALHO DA PREFEITO QUE SEGUE EM FRENTE  PARA OFERECER CADA VEZ MAIS OPORTUNIDADES NO MERCADO DE TRABALHO PARA NOSSA GENTE.  

Agora, vamos aos destaques temáticos da propaganda enganosa e respectivas avaliações críticas:  

 GERAÇÃO DE MAIS DE 13.000 EMPREGOS NA CIDADE COM CARTEIRA ASSINADA, AUMENTANDO AS VAGAS DE EMPREGOS EM 33% EM 3 ANOS.  

Quando Paulinho Serra assumiu a Prefeito em janeiro de 2017, Santo André contabilizava exatamente 195.125 trabalhadores com carteira assinada. Dados de dezembro de 2016. Cinco anos depois, dezembro de 2021, o total é de 210.473 é, portanto, 15.348 num período de cinco anos, não de três anos Uma variação positiva de 7,86%, ou média anual de crescimento de 1,572%. A variação de 7,86% no acumulado dos cinco anos está, portanto, distante da variação estratosférica de 33% da peça publicitária, para três anos, que também não se sustenta para esse período seletivamente restrito.   

Mauá, que, como Santo André, sofre menos com os solavancos automotivos e tem o respaldo do setor químico-petroquímico, avançou 7,46% no saldo e empregos no mesmo período.  

Ao pinçar apenas três anos de dois mandatos que já somam cinco anos cheios, a peça de propaganda enganosa maltrata a inteligência dos contribuintes. O filtro só teria sentido se Paulinho Serra, por qualquer razão, estivesse formalmente à frente da Prefeitura de Santo André apenas entre janeiro de 2017 e dezembro de 2019.  

Sempre é bom ressalvar que apenas parte da responsabilidade do comportamento do emprego formal é de um prefeito. Políticas sustentáveis de atração e investimentos produtivos amadurecem ou apodrecem ao longo dos tempos. Santo André é um caso de apodrecimento. Paulinho Serra é uma sequência de incompetências de antecessores num quadro amplamente desfavorável ao Grande ABC como um todo, em sistemática desindustrialização e empobrecimento. 

Não custa lembrar, ainda sobre o desempenho do emprego formal em Santo André, assim como dos demais municípios da região e do País, o peso de uma base de comparação frágil.  

Trata-se do seguinte: o ano de 2016, antecedente portanto ao primeiro mandato de Paulinho Serra, complementava da catástrofe do governo Dilma Rousseff, de dois anos seguidos de recessão. Ou seja, o emprego formal no País desabara. Santo André não seria diferente. 

Tanto é verdade que quando se compara os número de empregos com carteira assinada em Santo André tendo como base o ano de 2013, ou seja, pré-recessão dilmista, o resultado é negativo. Eram 215.122 carteiras assinadas em dezembro de 2013, ante 210.473 em dezembro do ano passado.  Faltam 4.649 postos de trabalho no período.  

Nesse período de comparação (dezembro de 2013 a dezembro do ano passado), o Grande ABC como um todo foi solapado num total de 66.395 empregos formais em todas as atividades.  

O mais grave é que no que mais interessa, porque gera maior riqueza e salários, no caso o setor industrial, o Grande ABC perdeu 67.814 carteiras assinadas. São Bernardo e Diadema, mais diretamente impactadas pela brutalidade de queda no setor automotivo, perderam muito mais empregos industriais: São Bernardo 30.186 e Diadema 16.489.   

Santo André, detentora de menor proporção de empregos industriais em relação ao total de empregos em todas as categorias, sofreu uma queda cumulativa de 10.004 trabalhadores formais no setor de transformação. Eram 34.726 em dezembro de 2013 e passou para 24.722 em dezembro de 2020. Os dados detalhados de 2021 ainda não foram contabilizados pelo Ministério do Trabalho. 

Exaltada no século passado, antes da chegada dos anos 1990, como “Viveiro Industrial”, Santo André contava em dezembro de 2020 com apenas 12,24% de trabalhadores com carteira assinada no setor industrial. Muito abaixo dos demais municípios da região. Mesmo de São Caetano, também duramente impactada pela desindustrialização. São 18,23% dos trabalhadores industriais que estão no estoque de empregos formais em São Caetano.  

Por conta da desindustrialização e da ausência de políticas consistentes de substituição de matrizes econômicas, Santo André de Paulinho Serra, também resultado de Santo André de antecessores, só supera Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra na média salarial dos trabalhadores com carteira assinada.  

Em dezembro de 2020 a média salarial em Santo André era de R$ 3.116,65. Perdia para os R$ 3.869,27 de São Bernardo, para os R$ 3.532,93 de São Caetano, para os R$ 3.405,30 de Diadema e para os R$ 3.268,78 de Mauá. 

Tradução desses números: a economia de Santo André está em frangalhos há muito tempo. E mesmo números positivos de recuperação de emprego durante determinado período escolhido a dedo, mas mesmo assim fora da realidade, não significam recuperação econômica.   

 REABERTURA DO CPTR PARA NOVAS VAGAS DE EMPREGO.  

Criar Centros Públicos de Trabalho e Renda é política da maioria dos prefeitos no Estado de São Paulo e em municípios de regiões metropolitanas. Ou seja: não significa absolutamente nada de distinção qualitativa.  

 MELHOR PROGRAMA DE PRIMEIRO EMPREGO DOS PREFEITOS DO BRASIL  

Trata-se de balela que, seguindo a política de conquista de títulos e troféus sob encomenda, poderá redundar em alguma nova premiação. Os leitores vão ficar assustados com a realidade do primeiro emprego não só em Santo André mas no Brasil como um todo. 

Primeiro Emprego pressupõe que jovem de 14 a 17 anos ganha oportunidade para valer no mercado de trabalho. Se o pressuposto é esse, e não poderia ser outro, os dados são assustadores.  

Do total de trabalhadores de Santo André com carteira assinada em 2020 (201.916) apenas, vejam só e não esqueçam, apenas 797 (isso mesmo, 797) estavam na faixa etária típica de primeiro emprego. Ou seja: 0,395% do total de trabalhadores. Os demais endereços do Clube dos 20 Maiores Municípios do Estado de São Paulo (o G-22 organizado por CapitalSocial, com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra por pertenceram à região) apresentam proporcionalidade semelhante. E é assim no Brasil como um todo.  Santo André fez do Primeiro Emprego uma falácia propagandística que não resiste aos dados oficiais de quem cuida do rebanho de trabalhadores formais no País.  

 MAIS DE 1 BILHÃO E 500 MILHÕES EM INVESTIMENTOS DA INICIATIVA PRIVADA NA GERAÇÃO DE EMPREGOS NA CIDADE  

Faltam informações a respeito dessa provável fanfarronice. Não há nada em fontes diversas que levem a isso. Provavelmente a gestão de Paulinho Serra, como tantas outras, confunde anúncios de investimentos com investimentos de fato. E, espertamente, não os relativiza ante outros municípios. Faz parte do show pirotécnico-marquetológico vender ilusão. Qualquer aprofundamento sobre o tema exige manancial robusto de dados que não constam da propaganda enganosa de página inteira.   

 MAIS DE OITO MIL PESSOAS REQUALIFICADAS E REINSERIDAS NO MERCADO DE TRABAHO 

Reparem que o total de pessoas supostamente requalificadas e reinseridas no mercado de Trabalho de Santo André é expressivo no saldo de empregos formais no período dos últimos cinco anos encerrado em dezembro de 2021. Quem acredita que foram os requalificados e reinseridos que tornaram empregados com carteira assinada? Quem pode imaginar que o emprego está praticamente garantido a todos que passaram pelo processo milagroso de sair dos cursos direto para uma atividade remunerada com carteira assinada?  

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