Esportes

Risco do Santo André
cair é tudo isso mesmo?

  DANIEL LIMA - 05/03/2024

Ainda não entreguei a rapadura do rebaixamento do Santo André à Série A-2 do Campeonato Paulista. Diferentemente do site Chance de Gol, que atribui ao Santo André 88,5% de possibilidade de queda, acredito que há exagero na avaliação. O Ituano corre muito mais riscos com os 91,9% e o Guarani um pouco menos que o Santo André, mas não apenas os 19,7% registrados. As três equipes jogam em casa na última rodada e os jogos são todos indigestos.

O Santo André tem cinco pontos ganhos, nenhuma vitória e saldo negativo de 10 gols. O Ituano tem seis pontos, uma vitória e saldo negativo de 13 gols. Já o Guarani tem sete pontos, uma vitória e saldo negativo de cinco. Esses são os três critérios de definição de rebaixamento.

O Guarani só precisa do empate em casa com o Red Bull Bragantino, o Santo André precisa vencer a Ponte Preta no Estádio Bruno Daniel e contar com derrota do Guarani e no máximo um empate do Ituano. E o Ituano precisa vencer o São Paulo em Itu e ainda torcer para o Guarani não vencer.  Não entro em especulação sobre saldo de gols porque seria apenas uma apelação contra o bom-senso.

Lendo esse último parágrafo, o leitor acha que a distribuição de riscos está equilibrada?

MENOS PROBLEMÁTICO

O Guarani não pode cantar de galo e achar que empatar com o Red Bull é bola no barbante, porque o time de Bragança Paulista, titular ou misturado, como já se viu, é um convite ao drama.

A desvantagem do Santo André na classificação geral frente a Ituano e Guarani é relativamente compensada com o jogo menos problemático da rodada. A Ponte tem três pontos a mais que o Água Santa na luta pelo segundo lugar no grupo e uma vaga no mata-mata. Só perderia a nova etapa se, além de ser derrotado pelo Santo André, o Água Santa vencer o Corinthians. O Ituano cai pelas tabelas enquanto o São Paulo corre pela classificação e também pelo primeiro lugar no grupo. Está empatado com o Novorizontino que joga em casa e está um ponto à frente do São Bernardo, que enfrenta o Mirassol, no Interior. O Mirassol já não concorre a nada na competição.

Traduzindo tudo isso, vou repetir sem receio de estar cometendo um equívoco: se fosse estabelecer pesos relativos, colocaria que o Ituano tem 90% de possibilidades de cair, o Santo André por volta de 65% e o Guarani com o restante, ou 45%. A discrepância do Chance de Gol parece evidente.

UM TIME-BARRACA

Diferentemente de outros tempos, o leitor deve ter percebido que não tenho me detido sobre formulações táticas e técnicas que explicariam ou ajudariam a explicar as razões de o Santo André estar onde está na competição.

Por incrível que pareça, e sem que isso entre para o rol da insensatez que os números sugeririam, o Santo André desta temporada não é um time sem qualidade. O que não teve até agora foi o espírito de competição no sentido mais amplo do sentimento.

Não é fácil disputar o melhor campeonato estadual do País tendo a formula operacional que resta ao Santo André. Um time preparado em cima da hora, com um caminhão de contratações, é um time de aventuras a cada rodada.

Os adversários na maioria dos casos são muito mais poderosos, estão organizados há muito mais tempo e não disputam a competição como único compromisso na temporada. O Santo André sem calendário e sem SAF é um time-barraca-de-praia. Monta e desmonta a cada temporada de verão.

Quando há algum tempo rotulei o Santo André de primo-pobre do futebol da região não faltaram insultos. Essa turma de descuidados, quando não de ignorantes, confunde as bolas. Transformam tradição, história, conquistas, em algo permanente, quando de fato são acúmulos que não dão salvo-conduto à competitividade.  

O Santo André, como já escrevi, corre duplamente contra o relógio de um rebaixamento iminente, mas ainda não consumado, e, principalmente, para embarcar numa dinâmica de futebol em forma de negócios com parceiros que não sejam uma dor de cabeça.

Já escrevi e repito: nenhum modelo em vigência na região, inclusive do São Bernardo, me convence como roteiro do Santo André em forma de clube-empresa. São Caetano, Água Santa e São Bernardo têm pecados que não estão no meu escopo de torcedor, jornalista e cidadão. O Santo André é a última fronteira de um sonho de ver o futebol da região fugir de redemoinhos que satisfazem investidores, mas não se encaixam-nas premissas de novos tempos de regionalidade no sentido mais amplo.

O rebaixamento do Santo André poderia irromper um ataque a tudo isso, entre outras razões porque mesmo sem o que se avizinha em forma de ameaça, os abutres há muito rondam o clube e por conta disso devem festejar possível queda.

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