Economia

Desindustrialização e
mercado imobiliário

  DANIEL LIMA - 15/04/2024

O estoque de empregos industriais com carteira assinada caiu de 152.060 para 116.396 trabalhadores nos três principais mercados imobiliários (Santo André, São Bernardo e São Caetano) no ano de 2021 quando comparado ao ano de 2014, pré-recessão de Dilma Rousseff. O estrago econômico foi brutal. Vamos traduzi-lo em forma de apartamentos novos para morar.

A desindustrialização em forma de empregos e de Valor Adicionado custou, somente nessa comparação, entre 2014 e 2021, o equivalente a 4.507  apartamentos de classe média, de 55 metros quadrados, em valores de dezembro de 2021.

A combinação de menos emprego e média salarial rebaixada explica a tragédia da principal atividade produtiva da região. São números que deveriam provocar um choque nas autoridades públicas. Mas não entram no cardápio indigesto de tratar as questões mais graves da sociedade com seriedade e senso de urgência. O que se prefere mesmo é falar de amenidades ou de varejos administrativos.

MUITO MAIOR

Se fosse fazer uma conta mais abrangente, detalhada e sofisticada, o estouro da boiada seria muito, mas muito maior. Preferi enquadrar restritamente as duas temporadas, 2014 e 2021, para não assustar demais. E também porque teria muitas dificuldades de chegar a números aproximados. Ninguém se aventurou a isso nos órgãos oficiais do governo.  

O que você leu aí em cima, quanto à quantidade de imóveis de deixaram de ser negociados porque faltaram salários de 35.664 trabalhadores demitidos entre a temporada de 2014 e a temporada de 2021 é uma conjunção de dados consolidados e dados projetados.

Não existe maneira de chegar proximamente a números com garantia total de acerto. O acerto, portanto, é quase total.

A massa salarial dos três municípios mais importantes da região, que, somados,  representam 70% do PIB, registrou em valores gerais de dezembro de 2014 de R$ 546.585.891 milhões. Com a aplicação da correção inflacionária do IPCA, de 50,75%% em sete anos, o total da mesma massa salarial deveria chegar a R$ 823.978.230 milhões em dezembro de 2021. A diferença de R$ 277.392.339 milhões se refere, portanto, restritamente à comparação entre dezembro de 2014 e dezembro de 2021.  

GRANDE DESAFIO

O grande desafio era chegar ao desfalque do ano inteiro de 2021 se o Ministério do Trabalho e Emprego não conta e não divulga resultados mês a mês? Fui em frente e cheguei aos 4.507 apartamentos novos de R$ 400 mil a unidade. E, portanto, ao total de R$ R$ 1.802.931.339 milhões para a toda a temporada de 2021.

Sei que não será fácil ao leitor acompanhar o raciocínio dessa conta. Não existe outra saída senão prestar muita atenção para compreender o drama que a desindustrialização rediviva durante o governo de Dilma Rousseff, especialmente no período 2015-2016, representou como danos irreparáveis no casco da riqueza regional.

Peguei pelo chifre do desafio a perda da massa salarial de dezembro de 2021 (os tais R$277.392.339 milhões) como ponto de partida. Como teriam sido os números nos 11 meses anteriores, não contabilizados pelo Ministério do Trabalho.

A conta foi simples, repito: peguei os valores restritos a dezembro como base de decomposição dos valores de cada mês anterior, conforme o andar da carruagem das demissões.

Explico: as perdas de dezembro, somente de dezembro, se limitaram para efeitos de massa salarial à perda de 35.664 trabalhadores quando se compara com dezembro de 2014. A cada mês de 2021, o estoque foi sendo impactado, com as respectivas perdas dos valores monetários das demissões de cada período, conforme a média salarial.

PERDA EM 12 MESES

Por isso o total de perda está mais pronunciado no dezembro restrito de 2021, mas ao longo daquele ano se acumularam mais perdas. Em janeiro de 2021 a queda da massa salarial foi de R$ 27.739 milhões, em fevereiro foram R$ 55.400 milhões. E assim sucessivamente. Em novembro de 2021, por exemplo, a perda teria alcançado 11/12 avos de dezembro de 2021, num total de R$ 254.276.311 milhões.

Lembro que fiz uma correlação linear aos 11 meses anteriores a dezembro de 2021. Não é o que supostamente ocorreu na prática, porque as oscilações do estoque e também dos salários não foram rigorosamente uniformes durante o ano inteiro. Mas a projeção está de acordo com o mais provável. As variações não alterarão o percurso final, considerada uma margem de erro baixa.

Não há muita diferença entre Santo André, São Bernardo e São Caetano na perda relativa de empregos industriais quando se leva em conta os números de dezembro de 2014 e dezembro de 2021. O saldo negativo de 35.664 trabalhadores corresponde a 7.035 em Santo André, 21.803 e São Bernardo e 6.826 em São Caetano.

Os números absolutos podem conduzir a conclusões precipitadas, porque cada Município contava e conta com universos distintos de estoque de emprego industrial. São Caetano perdeu 25,85% do estoque (de 26.410 para 19.584), enquanto São Bernardo perdeu 23,64% (de 92.211 para 70.408) e Santo André perdeu 21,03% (de 33.439 para 26.404).

Vou voltar ao assunto nos próximos dias. As sacolejadas do calendário eleitoral da região não podem obscurecer os passivos, principalmente os passivos, econômicos. 

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