É POUCO PROVÁVEL FICAR
RICO NA DECADENTE REGIÃO

Os números são implacáveis e assim devem ser traduzidos, ou seja, sem contemplação. Afinal, o que está bem retratado, ou pessimamente retrato, no balanço pós-Plano Real, é que o Grande ABC virou um território em que o desejo de ingressar no seleto clube de famílias de Classe Rica não passa de ilusão, ou quase isso.
Pensei 10 vezes até chegar à manchetíssima aí em cima. Ao invés de “pouco provável”, pretendia enfiar um “quase impossível” para sintetizar os novos dados que brotam dessa investigação inédita sobre como se comportaram a economia e a sociedade regional durante os últimos 29 anos, tendo 1995 como plataforma de embarque.
O resumo do resumo da ópera é o seguinte: a Classe Rica do Grande ABC sofreu duros golpes nesse período e quando se restringem os dados apenas ao saldo final envolvendo o destino da Classe Rica, o que temos é algo muito pior do que em outras categorias econômicas -- Classe Média Tradicional, Classe Média Precária e Classe de Pobres e Miseráveis.
AVANÇO PÍFIO
A Classe Rica do Grande ABC, observada estritamente como saldo desses 29 anos, cresceu em termos reais apenas, apenas e apenas 0,26%. Ou seja: praticamente nada. Foi congelada nos ativos construídos ao longo da história, tendo 1995 como indexador. Na ponta dos dados, em 2024, o total de domicílios da Classe Rica era, portanto, praticamente o mesmo de 1995. O rombo em termos de participação relativa no conjunto de moradias foi estrondoso.
Como colocar o que já é tenebroso para quem ainda acredita que o Grande ABC é um mar de mobilidade social? Decidi comparar os dados do Grande ABC de sete municípios e 1.006.397 milhão de moradias com a soma de cinco municípios do Interior do Estado de São Paulo que contam com total de moradias semelhante, no caso 1.048.683 milhão. O resultado não poderia ser mais inquietante.
Quando se somam os dados da Classe Rica de Jundiaí, Sorocaba, Piracicaba, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, que, repito, formam em número de moradias o que é o Grande ABC, a constatação é chocante. Enquanto o Grande ABC avançou apenas 0,26% no crescimento da Classe Rica em termos de saldo na comparação entre 1995 e 2024, Jundiaí chegou a 5,16%, Sorocaba a 3,23%, Piracicaba a 3,29%, São José do Rio Preto a 3,19% e Ribeirão Preto a 2,48%.
MUITO ABAIXO
Traduzindo tudo isso, chega-se à conclusão de que na média geral desses cinco municípios que são um Grande ABC em domicílios residenciais, a possibilidade de ingressar na Classe Rica é 14 vezes maior.
Em termos quantitativos, houve uma inversão de incidência de Classe Rica envolvendo os dois territórios que utilizo nesse embate.
Em 1995, primeiro ano completo do Plano Real, o total de Classe Rica no Grande ABC era superior ao do conjunto dos cinco municípios mencionados acima: 39.598 a 32.869. Ou seja: a participação de domicílios da Classe Rica do G-5 (Jundiaí, Sorocaba, São José do Rio Preto, Piracicaba e Ribeirão Preto) correspondia a 83% do total do Grande ABC.
Quando o ano de 2024 terminou, ou seja, 29 temporadas depois, os resultados foram profundamente alterados. A Classe Rica do G-5 subiu na contagem para 52.114 domicílios, enquanto no Grande ABC o avanço foi quase imperceptível, para 40.729 moradias. Ou seja: enquanto o G-5 registrou crescimento quantitativo da Classe Rica de 58,55%, o Grande ABC evoluiu apenas 2,83%. Um massacre.
O que houve, portanto, de crescimento de domicílios de Classe Rica no Grande ABC durante os 29 anos pesquisados não ultrapassa a 1.131 unidades residenciais. Como o Grande ABC contou com novas 432.409 moradias no mesmo período, a participação relativa de famílias de Classe Rica não passou de 0,26%.
G-5 MUITO MAIOR
Para se ter ideia do desastre, em 1995 o percentual de Classe Rica no Grande ABC em relação ao total de moradias registrava 6,9%. Em 2024, caiu para 4,05%. Não fosse o passado histórico de ocupação demográfica, ou seja, se o Grande ABC existisse apenas durante os 29n anos do Plano Real, os ricos praticamente não existiriam.
Enquanto os sete municípios do Grande ABC somaram apenas 1.131 novas unidades familiares ao longo de 29 anos, o G-5 escalado para servir de embate avançou 19.245 unidades. Ajustando-se o crescimento demográfico desses dois territórios, a diferença favorável ao G-5 é mesmo um alto 14 vezes maior.
Quem mais cresceu em termos relativos na produção de Classe Rica entre os cinco municípios concorrentes do Grande ABC foi Jundiaí. Entretanto, como um fenômeno que se alastrou no País, a participação relativa da Classe Rica no conjunto de moradias durante o período do Plano Real também afetou o G-5.
MARCHA DA CONTAGEM
Em 1995, Jundiaí contava com 7,37% domicílios de famílias da Classe Rica, caiu para 6,19% em 2024 e registrou 5,16% no estrito critério de saldo do período comparado com o total de novas moradias. Sorocaba contava com 6,05% moradias de Classe Rica em 1995, passou para 4,37% em 2023 e o saldo estrito do período registrou 3,23%. Piracicaba contava com 6,27% de famílias de Classe Rica em 1995, passou para 4,71% em 2024 e consolidou 3,29% no período estrito de saldo geral. São José do Rio Preto contava com 6,31% de famílias de Classe Rica em 1995, passou para 4,67% em 2024 e estabeleceu 3,29% no saldo estrito. E Ribeirão Preto contava com 8,49% de Famílias de Classe Rica em 1995, passou para 5,18% em 2024 e consolidou 2,48% do saldo geral.
Na contabilidade geral, que afere a distribuição de riquezas acumuladas e em recorte temporal específico, caso dessa análise, o crescimento de Jundiaí, Ribeirão Preto, Piracicaba, Sorocaba e São José do Rio Preto é muito mais acentuado do que o do Grande ABC, mesmo com a persistência de queda da Classe Rica em quantidade e participação relativa na geografia nacional.
No Brasil como um todo, o índice de crescimento do efetivo de famílias de Classe Rica quando se compara o saldo registrado entre 1995 e 2024 é levemente superior ao do Grande ABC, com a marca de 0,82%, portanto mais que o 0,26%.
O saldo líquido de famílias de Classe Rica no Brasil ao se encerrar o ano de 2024, quando comparado a 1995, totalizou 265.251 unidades residenciais de um total de novas 32.421.464. A média nacional de participação da Classe Rica no conjunto de residências em 1995 era de 4,40%. Passou para 2,56% em 2024 e caiu para menos de 1%, como se observa, na aferição do saldo do período. Números que comprovam a queda participação do estrato econômico mais elevado da população.
MAPEAMENTO IMPLACÁVEL
O mapeamento do pós-Real do Grande ABC no campo de distribuição de riqueza para ser consumida não se esgotou. As demais classes socioeconômicas (Classe Média Tradicional, Classe Média Precária e Classe de Pobres e Miseráveis) também serão completadas. Os números que virão se assemelham aos desastres já analisados de Santo André e São Bernardo, principais economias de consumo da região.
Tudo o que você ouvir e ler sobre o poderio econômico do Grande ABC -- como se observa e estamos batendo nesta tecla há 35 anos --precisa ser relativizado. A riqueza do passado ficou praticamente no passado. O esticamento ao presente sem considerar o mata-burro do período especifico de 29 anos de transformações provocadas pelo Plano Real, entre outros fatores, não passa de mistificação.
Estamos economicamente à deriva e isso se reflete no PIB de Consumo, parente próximo do PIB Tradicional de trajetória amplamente investigada por este jornalista, além de solenemente ignorada por autoridades públicas.
PREFEITOS PEDINTES
O Clube dos Prefeitos Pedintes está dia sim e dia seguinte também nas páginas de papel ou digitais dos jornais clamando por socorro ao governo estadual e ao governo federal. Pior que isso, muito pior: segue nas redes sociais e também nas páginas de jornais de papel e digitais a desfilar um marketing mequetrefe de euforia político-eleitoral.
Eles, os prefeitos dessa nova e sofrível turma de mandachuvas, ainda não acordaram. Tratam o Grande ABC do presente sombrio como o Grande ABC de passado que já passou. Os novos prefeitos agem em conjunto como os prefeitos que os antecederam no Clube dos Prefeitos. Não há como sair da enrascada se as autoridades públicas só pensam em votos. As próximas gerações que se danem. Como se danou a geração do passado desses 30 anos e que está presente hoje em forma de decepções. Onde falta mobilidade social, falta esperança. Ou a esperança vira pó.
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