Esportes

De pai para filho

  DANIEL LIMA - 19/09/2007

A pesquisa do Instituto Datafolha sobre a preferência clubística dos brasileiros remete a conclusão pouco satisfatória aos dirigentes do São Paulo que, do alto da incrível capacidade de montar equipes vencedoras nos últimos anos, propagandearam a idéia de que em uma década, se tanto, a agremiação lideraria o universo de aficionados no País. E, em sentido inverso, derruba a tese, inclusive deste jornalista, de que o Palmeiras estava em franca decadência popular.

Diz a pesquisa que Flamengo e Corinthians continuam imbatíveis em primeiro e em segundo lugares. O Flamengo tem 17% da preferência popular, contra 12% do Corinthians. São Paulo e Palmeiras vêm logo a seguir, empatados com 8%. A liderança flamenguista se dá principalmente por conta de estourar no Norte/Nordeste. Usufrui de entranhada cultura disseminada nas décadas de 1930, 1940 e 1950 pela carioquíssima Rádio Nacional, espécie de TV Globo em audiência daquele período. O Corinthians domina a região Sudeste, a mais rica do País. Ou seja: entre os maiores contingentes de excluídos, dá Flamengo. Entre a maior parte da classe média, dá Corinthians.

A importância desses números é muito maior quando confrontados com a primeira rodada da pesquisa do Datafolha, há 14 anos, em 1993. Nesse intervalo de tempo o Flamengo só colecionou derrotas no âmbito nacional mas mesmo assim não perdeu um tiquinho de torcedores. Provavelmente os títulos estaduais seguraram a barra.

Já o Palmeiras se viu enviuvado da Parmalat, voltou a se encontrar com anos de infortúnios, inclusive com rebaixamento temporão à Série B do Campeonato Brasileiro, mas aumentou em dois pontos percentuais a massa de torcedores.

O vencedor São Paulo aumentou em apenas um ponto percentual a participação relativa no mercado da bola, apesar de conquistar pela terceira vez a Taça Libertadores da América e o Mundial de Clubes.

O Corinthians ganhou três títulos nacionais e o Mundial de Clubes disputado no Brasil.

Sei lá o que se passou na cabeça dos dirigentes são-paulinos diante dos novos números. O clube paulista citado persistentemente e com méritos como uma das poucas ilhas de excelência do futebol brasileiro tem feito de tudo em matéria de marketing para conquistar corações e mentes da molecada. Desde licenciamentos de produtos em acordo internacional até excursões de estudantes às dependências do Estádio do Morumbi, onde a sala de troféus é santuário. Se tudo isso e muito mais, principalmente a trajetória de vitórias e títulos, não dão ao São Paulo o salto imaginado, de desbancar Corinthians e Flamengo, o que devem fazer os tricolores?

Rezar para que a pesquisa Datafolha esteja equivocada, o que, convenhamos, seria bobagem sem tamanho, já que aquele instituto não costuma chutar fora.

Ou então torcer para que o mais fiel e confiável nutriente de reposição geracional de torcedores de futebol — a paixão passada de pai para filho — seja subvertido pelo mundo da tecnologia ao alcance do mouse, por novas e vigorosas incursões de marketing e, juntamente com isso, o time de Muricy Ramalho não se esgote, vítima de próprio sucesso e eventualmente de cobranças de desempenhos nem sempre possíveis de repetir.

Embora faltem maiores informações sobre a pesquisa Datafolha, inclusive sobre o ranking estadual dos paulistas, por exemplo, a notícia divulgada pela Folha de S. Paulo de segunda-feira é esclarecedora para quem, como este jornalista, tem no futebol permanente entrega emocional e espiritual e fez dos quatro filhos devotos alvinegros, embalados desde o berço por hino tocado a cada incursão pelo trânsito e a cada vitória acompanhada principalmente na televisão.

Sigo rigorosamente o legado de meu velho pai, mais fervoroso, e de minha mãe, mais discreta. Foram seis corinthianos, uma são-paulina e um santista da prole do senhor Gabriel, meu ídolo maior.

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