DIADEMA É MESMO PIOR
QUE SANTO ANDRÉ? (1)
Um choque de realidade que coloque frente a frente Santo André e Diadema talvez seja o melhor remédio para despertar a atenção dos administradores de dois dos sete endereços mais complexos e desafiadores do Grande ABC. Esse é o primeiro capítulo de uma série que vai procurar mostrar o que separa e o que aproxima Santo André e Diadema em vários indicadores econômicos e sociais. O pano de fundo é o contraste gerencial ao longo dos anos.
O que teria ocorrido com uma Santo André de administradores públicos conservadores e esquerdistas que se revezaram no comando do Paço Municipal neste século, com alternância de poder, e o que se registrou em Diadema, que, desde 1982, com a eleição do metalúrgico Gilson Menezes, praticamente dominou o cenário politico local, exceto nos oito anos de dois mandados de Lauro Michels, a agora a menos de um ano com o também conservador Taka Yamauchi.
O ponto de interrogação da manchetíssima retrata uma situação que ainda não foi desvendada por este jornalista. Se for considerada apenas e tão somente uma métrica relevantíssima, como o PIB, a resposta seria de empate técnico, mas há profusão de indicadores que precisam e vão ser esmiuçados. A cada semana esse jogo da verdade vai se consolidar como consulta obrigatória a quem pretende conhecer parte do território do Grande ABC.
DECADÊNCIA CONVERGENTE
Os leitores vão ter a oportunidade de acompanhar essa marcha da contagem. Poderia ter escolhido confronto regional envolvendo outros municípios, mas Santo André e Diadema são emblemáticos, como microcosmo regional. Ascensão e queda econômica ligam os dois municípios.
Há convergência de decadência envolvendo Santo André e Diadema que, em determinado período da história, especialmente nos anos 1990, apontavam sentido divergente. Santo André caia pelas tabelas enquanto Diadema crescia em muitos indicadores. Entretanto, chegou o novo século e, principalmente em decorrência de vetores gerais e específicos, a dupla caminhada seguiu paralelismo de desconforto semelhante.
Ou seja e lamentavelmente: Santo André e Diadema estão seguindo em direção à destruição do que poderia ser chamado de qualidade de vida, expressão que representa o somatório de todas as métricas que iremos explorar.
Tomar o pulso dos dois municípios tendo o Grande ABC como pano de fundo, porque o Grande ABC também vai mal das pernas em vários ranqueamentos respeitados, é pauta inédita. Não que Santo André e Diadema já não tenham sido escrutinados por este jornalista. Claro que não: o foram persistentemente ao longo dos anos. Mas agora a situação é específica: o confronto será direto e reunirá mais de uma dezena de marcadores.
MELHOR IMAGEM
Aparentemente para muitos que entendem que Santo André é muito superior a Diadema, a comparação chega a ser uma ofensa à imagem construída ao longo dos tempos. Bem diferente de Diadema, que se separou de São Bernardo muito tempo depois.
É verdade que a imagem pública de Santo André está muito à frente do que Diadema representa como imaginário popular dentro e fora do Grande ABC. Não há como negar. O processo ocupacional de Diadema, com intensidade migratória muito superior à história vivida por Santo André, carregou no ventre muita improvisação. E, principalmente, uma distinção de ordem político-ideológica.
Diadema é vista como a cidadela petista mais densa do Grande ABC e uma das maiores expressões do esquerdismo no País. Santo André é um endereço em que o sindicalismo jamais ultrapassou limites que o colocasse como protagonista dominador.
Não adianta, portanto, agir politicamente correto para tentar amenizar ou sufocar a realidade dos fatos históricos que se estendem a esses dias: Santo André é um endereço municipal mais admirável que Diadema e isso carrega uma imensidão de outras qualificações.
PIB DESPENCA
O problema de Santo André é que o tempo passou pela janela do descuido administrativo e cada vez mais avança em direção a indicadores consolidados em Diadema. Entre o declínio sistemático de Santo André nas últimas quatro décadas e o crescimento seguido de arrefecimento de Diadema no mesmo período, existe um ponto em comum: os dois municípios não oferecem perspectivas de recuperação. E podem se aproximar muito mais ainda dos incômodos que já exibem.
Pretendia nesta primeira edição desta série especial oferecer alguns dados estatísticos já selecionados e que consubstanciariam essas definições preliminares. Estava pronto nesse sentido. Mostraria, por exemplo, como foi o comportamento do PIB per capita e do PIB Geral de Santo André e de Diadema a partir deste século em confronto com média ados 645 municípios paulistas. A queda de Santo André e a queda de Diadema são estarrecedoras.
Entretanto, resolvemos segurar as pontas em forma de suspense. O que podemos adiantar é que, mesmo com antagonismos econômicos que também explicarei no segundo capítulo, Santo André e Diadema não escapam da armadilha de decadência econômica que se estende, evidentemente, a outras áreas.
O interessante desta nova série, como também em outras temáticas que não se esgotam numa única análise, é que cada capítulo oferecerá aos leitores uma imensidão de dados estatísticos e definições interpretativas que darão consistência às conclusões efetivas e às projeções inescapáveis.
VAREJISMO FESTEJADO
Tocar nas feridas de Santo André e de Diadema é uma ação providencial nestes tempos de propagandismo oficial dos inquilinos dos Paços Municipais. Eles passam dia e noite nas redes sociais e em canais de mídias locais a desfilar sucessos ou pretensos sucessos que não ultrapassam a superficialidade do varejismo.
Os prefeitos da região comemoram cada eventual novidade de investimentos como se o campeonato da competitividade econômica e social houvesse sido conquistado. A ocupação midiática que os aparelhos portáteis proporcionam freneticamente destilam a impressão, quando não a certeza, de que os sete prefeitos são exemplares extraordinários de consertadores dos estragos que a desindustrialização provocou nas últimas décadas na região, como estamos cansados de explicar.
Estamos longe, mas muito longe de qualquer iniciativa tanto municipal quanto regional que nos retiraria do encalacramento que se consolida e nos torna cada vez mais debilitados frente à concorrência externa.
Santo André e Diadema, por esse prisma e tantos outros, vão servir de referenciais explicativos à situação posta porque reúnem pesos e contrapesos mútuos que agravam o desempenho geral exatamente porque mantêm-se despreparadas para reagir. A Economia de Santo André fez água e a de Diadema mais ainda neste século. É inacreditável como desembocaram num mato de dificuldades sem cachorro de planejamento e ações.
DESCER DO PEDESTAL
Fico a imaginar a cara de influenciadores sociais de Santo André, gente que vive próximo dos poderes constituídos, gente de bairros nobres de uma camada de classe média tradicional, gente que perdeu mobilidade social, diante da manchetíssima aí em cima.
Comparar Santo André com Diadema é um chute nos fundilhos da arrogância de parte de uma população de bem-aventurados, embora não tanto como antes, que sempre enxergou a vizinha não tão próxima como um pedaço de complexidades criminais e de ocupação acelerada de migrantes em busca do pão nosso de cada dia.
Santo André precisa descer do pedestal entre outras razões porque não faltam dados que colocam Diadema em posicionamentos superiores.
Produzir o enunciado e meter o ponto de interrogação na manchetíssima de hoje são um prazer imenso para quem espera chamar a atenção para uma lamentável realidade imposta pelo tempo que não para: Santo André e Diadema são mais semelhantes em determinados quesitos do que muitos jamais acreditariam. E estão umbilicalmente ligados no negligenciamento sistemático de medidas reformistas.
Os dois endereços são a cara e a alma penada do Grande ABC entregue estrategicamente às baratas. Um Grande ABC que vê a corda apertar no pescoço da submissão covarde à Doença Holandesa Automotiva e à Doença Holandesa Petroquímica.
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