Administração Pública

São Caetano é alerta ao
imperialismo de Serra

  DANIEL LIMA - 24/05/2022

A prisão do mandachuva do São Caetano até outro dia incensado pela mídia e a resposta da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC), invadida na semana passada por agentes da Prefeitura de Santo André, são safanões providenciais no prefeito Paulinho Serra. O imperialismo precisava mesmo de um freio, mas foram dois em forma de parada técnica ao tucano.  

Cercado de gente poderosa com a qual divide o poder municipal, Paulinho Serra precisa entender que não pode tudo, por mais que Santo André seja peça decorativa como representatividade de equilíbrio de forças entre Estado, Empreendedores e Sociedade. O Estado em forma de Administração Municipal joga com todas as cartas. Faz gato e sapato do interesse público. Despreza o passado pedagógico com um presente voltado exclusivamente às eleições.  

ESVAZIAMENTO DE CÉREBROS 

Para promover a mais impressionante covardia social os planejadores do imperialismo são ávidos em distribuir lantejoulas verbais em defesa da cidadania que sonegam.  

O totalitarismo se manifesta com o silêncio da maioria. Uma maioria que atua em larga escala fora de Santo André. O esvaziamento industrial cobra preço incalculável. As ramificações sociais se fragmentam e perdem o poder de articulações. Santo André é cada vez mais uma rede de relações frágeis, quando não interrompidas. É o ponto geográfico regional politicamente mais débil. Até o PT desapareceu como oposição. Mais que isso: se juntou à turma de Paulinho Serra sem disfarçar.  

Os danos são tão incalculáveis que grupos minoritários controlam os tentáculos da Prefeitura e das principais instituições do Munícipio em coalização com forças externas. Por isso, o ambiente de poder unilateral tornou Santo André um campo anestesiado.  

MEDIOCRIDADE  

Paulinho Serra de mandatos até agora medíocres está cedendo demais a grupos de influência e não há perspectivas de resistência. O modus-operandi ganhou tração intensa.  

A tragédia do futebol do São Caetano deve servir de alerta para que não dê mais corda a algo semelhante que se pretende em relação ao futuro do Esporte Clube Santo André.  

Não se está aqui condenando previamente o dirigente do São Caetano, preso ontem pela Polícia Civil da Capital. Manoel Sabino Neto estaria metido em rolo como presidente da Acircom (Associação do Circuito das Compras), entidade responsável pela Feira da Madrugada, na Capital.  

DIRIGENTE PRESO  

Manoel Sabino Neto foi preso em seu escritório, em Alphaville, em operação da Polícia Civil que investiga esquema de lavagem de dinheiro e outras irregularidades no comércio popular no Brás, região central da Capital.  

Trocando em miúdos: o São Caetano do qual Sabino virou chefe em maio do ano passado seria uma lavanderia de dinheiro sujo.  

Independentemente de qualquer desdobramento, a marca do futebol de São Caetano duramente construída no começo do século como Namoradinha do Brasil sofre duro golpe.  

Como se já não tivesse sofrido anteriormente, depois que o mecenas Saul Klein deixou a agremiação o comando virou rodizio de gente pouco confiável. Até que apareceu Manoel Sabino Neto.  

Algo que poderia ser considerado semelhante, até que se prove que não existe semelhança alguma, povoa os bastidores da Prefeitura de Santo André de Paulinho Serra. Pressiona-se o Esporte Clube Santo André que pretende virar Santo André Sociedade Anônima.  

ESVAZIAR PARA DOMINAR  

Setores da Prefeitura, sobretudo o secretário de Esportes Marcelo Chehade, mantêm interlocução com grupos que estariam dispostos a atrapalhar o EC Santo André. O prefeito sabe de tudo e não reage contrariamente.   

Mais que isso: dá corda para que se adie indefinidamente a cessão do Estádio Bruno Daniel, peça-chave à conversão do Esporte Clube Santo André em Santo André Sociedade Anônima.  

Espera-se que os estragos no São Caetano sejam pedagógicos e o prefeito Paulinho Serra não repita a negligência do vizinho em relação ao chamado Azulão.  

CHEFE DE ESTADO  

Deu-se a Manoel Sabino Neto todas as honras de chefe de Estado do futebol de São Caetano. O estouro da Polícia Civil de São Paulo não é, no fundo, nada surpreendente.  

Pelo menos entre os mandachuvas políticos e institucionais de São Caetano. Eles deixaram ir embora o mecenas Saul Klein, que investiu mais de R$ 500 milhões em 15 anos, e cercaram de bajulação um desconhecido que, pode até ser inocente, mas não tem lastro de empreendedorismo esportivo para liderar o futebol da cidade.  

Aliás, que o exemplo malfadado do São Caetano (de fato, mais um ao longo dos últimos anos) sinalize à direção do Esporte Clube Santo André redobrados cuidados à adoção da SAF, legislação que torna clubes de futebol em empresas.  

CUIDADO TOTAL  

Há duas fronteiras a serem cuidadosamente observadas.  

Primeiro, impedir que interesses escusos condicionem a formulação da SAF para dar espaço a gente sem tradição e competência no esporte.  

Segundo, que o grupo empreendedor que possivelmente venha a controlar o Santo André Sociedade Anônima tenha experiência esportiva e empresarial. Preferencialmente, que esteja entre as 20 maiores organizações do setor.  

Há um ranking disponível à filtragem do destino da agremiação. Um Red Bull é loteria, mas também não pode se descambar para o Azulão ou algo que flerte com a dúvida sobre a idoneidade de eventuais interessados. 

CASO ANTERIOR  

A prisão de Manoel Sabino Neto pela Policia Civil não inaugura o placar de envolvimento do dirigente do São Caetano no caso da chamada Feira da Madrugada.  

Em 2014 ele fazia parte da denúncia de improbidade administrativa Estadual contra o ex-prefeito da Capital, Gilberto Kassab, acusado de fazer “vista grossa” para uma empresa de venda de boxes na Feira da Madrugada.  

Segundo a denúncia do Ministério Público, o então gestor do centro comercial João Roberto da Fonseca e o presidente da Comissão dos Comerciantes da Feira da Madrugada, Manoel Sabino Neto, teriam recebido dinheiro do esquema. 

KASSAB INOCENTADO  

A Promotoria argumentou que Kassab e os ex-secretários Ronaldo de Souza Camargo, de Coordenação das Subprefeituras, e Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, de Desenvolvimento Econômico, sabiam da prática e não fizeram nada a respeito.  

“Diante das inúmeras notícias jornalísticas e denúncias apresentadas envolvendo os réus João Roberto da Fonseca e Manoel Simião Sabino Neto, deveriam os réus Gilberto Kassab, Ronaldo Camargo e Marcos Cintra, no exercício de suas funções, ter providenciado o afastamento administrativo ou mesmo a exoneração de João Roberto da Fonseca para que os fatos fossem apurados, o que não aconteceu”, afirma.  

SEM SUBORDINAÇÃO  

A omissão teria gerado “enorme prejuízo para o poder público, com o não pagamento de despesas como luz e gás pelos comerciantes, não recolhimento de taxas e impostos, colocando-se ainda enorme população em risco, em razão do não cumprimento de normas de proteção contra incêndio”. 

Ao rejeitar a ação contra Kassab, a juíza Alexandra Fuchs argumentou que não ficou provada a subordinação direta de João da Fonseca e Manoel Sabino Neto ao ex-prefeito. Segundo a juíza, a administração da feira era responsabilidade de um grupo gestor criado pela Portaria Intersecretarial 3/10. A tese foi defendida pelo advogado Igor Tamasauskas, do escritório Bottini & Tamasauskas. A juíza, no entanto, aceitou a denúncia contra Ronaldo Camargo, João da Fonseca e Manoel Sabino Neto. 

BOMBA DE ONTEM 

Já o noticiário de ontem que deu conta a prisão de Manoel Sabino Neto, baseou-se no posicionamento da Polícia Civil. A nota oficial inicial: 

“Policiais civis da 1ª Seccional (Centro) e do 12º DP (Pari) realizaram na manhã desta segunda-feira a Operação Hades. A ação que faz parte da Operação Sufoco, tem o objetivo de reprimir as atividades de uma organização criminosa que atua no comércio popular destinada à prática de vários delitos, incluindo lavagem de dinheiro. São cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão expedidos pelo Poder Judiciário, obtidos a partir de trabalhos de inteligência e investigação”.  

Mais tarde, o noticiário deu conta de que com o dirigente do São Caetano foram apreendidos simulacros de arma de fogo calibre 38, espingarda, além de dinheiro em espécie e bolsas do clube. Segundo a Policia Civil, a operação visa reprimir “atividades de organizações criminosas piramidais e hierárquicas que cria e mantém em vias públicas o submundo do comércio popular, permanente ou ambulante, onde se comercializam espaços físicos, o fornecimento de energia, a segurança armada, o fornecimento de máquinas de cartão de crédito/débito e outras atividades”.  

CAÇAPA CANTADA   

Para não dizerem que CapitalSocial é algo como engenheiro de obras feitas, não custa reproduzir um trecho do que escrevi na edição de quatro de outubro do ano passado sob o título “Como evitar que Santo André vire São Caetano no futebol”. 

“O Santo André precisa dar um salto em direção à Sociedade Anônima do Futebol antes que seja atropelado por eventuais oportunistas que tomariam a direção e fariam do futuro o que o São Caetano tinha como presente até outro dia e que ainda hoje não pode ser descartado. Ou alguém juraria por todos os juros que o novo mandatário, Manoel Sabino Neto, desconhecido na atividade e que atua com um perfil de presidencialismo sem contraditório – e de muita bajulação – não requer cuidados?  

INVASÃO À UFABC  

No mesmo dia (ontem, claro) em que o destino ofereceu a Paulinho Serra um safanão para acordar do delírio de incentivar o esvaziamento do Esporte Clube Santo André (é disso que se trata o descaso com a cessão do Bruno Daniel), a Universidade Federal do Grande ABC oficializava posição crítica à invasão do ginásio de esportes por um clube protegido por Paulinho Serra e seus assessores. Vejam o comunicado oficial da UFABC:  

Estimada comunidade universitária, 

Conforme anunciado, aconteceu, nesta segunda-feira (23/05/2022), uma reunião da Reitoria da UFABC com o prefeito do município de Santo André, Paulo Serra, para tratar sobre as intervenções não autorizadas ocorridas no ginásio da Universidade, na última semana. Durante a conversa, foi esclarecido o seguinte histórico de acontecimentos:  

a) No dia 16 de maio de 2022, no sentido de acompanhar a atuação da Secretaria de Saúde de Santo André na desinstalação do Hospital de Campanha, a equipe técnica de servidoras e servidores da UFABC vistoriaram, como tem feito semanalmente, o ginásio e seus espaços adjacentes. Na checagem da referida data, a UFABC aferiu que, naquele momento, não havia nenhum sinal de modificação no local.  

b) A intervenção, com colocação de revestimento no piso da quadra e de algumas faixas e adesivos com logomarcas, ocorreu após essa data, sem prévio consentimento da universidade. Nenhuma modificação foi realizada na edificação, além da melhoria nas estruturas de iluminação do ginásio, que haviam sido instaladas pela Prefeitura do Município de Santo André para uso do Hospital de Campanha, não configurando qualquer reforma do ginásio, como erroneamente foi divulgado.  

c) O jogo anunciado para o sábado (21/05) não aconteceu nas dependências da UFABC. De acordo com as divulgações em redes sociais, a partida foi realizada no município de Sorocaba.  

Diante do exposto, durante a reunião desta manhã, ficou repactuado entre a Reitoria e autoridade municipal, que a prioridade para o momento é garantir que o trabalho de desmobilização do hospital de campanha seja concluído com a máxima brevidade e que o espaço seja formalmente devolvido para utilização da UFABC, antes do dia 06/06. 

Vale reiterar que o termo de permissão de uso formalizado entre Universidade e Prefeitura de Santo André tem a finalidade exclusiva de cessão do espaço do ginásio e seus espaços adjacentes para instalação de consultórios e Hospital de Campanha e que os fatos ocorridos não geraram qualquer prejuízo material para a universidade.  

Convênios de outra natureza, que possam prever compartilhamento de espaços para práticas esportivas, poderão ser discutidos, a partir de um programa de promoção às atividades esportivas de todas as modalidades da UFABC, devidamente formalizados, a partir de amplo diálogo com entidades esportivas e anuência do nosso Conselho Universitário.  

A Reitoria lamenta novamente o ocorrido e reitera o compromisso de desenvolvimento institucional em parcerias responsáveis com as autoridades locais, em prol da comunidade universitária e de toda a população do ABC. 

Cordialmente, Reitoria Universidade Federal do ABC. 

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