Administração Pública

Entenda o fracasso de 40
anos do PT em Diadema (3)

  DANIEL LIMA - 07/11/2022

Selecionei um dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, integrante do G-22, para estabelecer algumas comparações de desempenho socioeconômico com a Diadema Avermelhada que o PT e partidos congêneres construíram nas últimas quatro décadas. Diadema também está no G-22.  

Nesse período, houve intervalo estruturalmente irrelevante de comando municipal por um administrador (Lauro Michels) conservador.  

Nada que alterasse o rumo da história. O Estado Socialista de Diadema não foi abalado por um intruso de curta duração.  

FRACASSO CONTÍNUO  

O fracasso do PT em Diadema é seguramente o que chamaria de retrato-padrão da dificuldade de uma agremiação partidária dar vazão à combinação de duas porções essenciais de uma sociedade: a gestão pública propriamente dita e a gestão econômica.  

Esta série de análises vai mostrar que o PT fracassou tanto numa quanto noutra.  

E vou repetir a cada capítulo um adendo essencial: sou testemunho do nascedouro do PT em Diadema quando, em 1982, conquistou a primeira prefeitura no País.  

36 ANOS DEPOIS 

Fiz para o Grupo Estadão, em 1986,  uma reportagem/análise memorável que está no primeiro capítulo desta série. A matéria virou manchetíssima do Jornal da Tarde tão badalado.  

Nenhuma publicação, desde então, jamais se preocupou em revelar a Diadema de verdade que nem o PT teve capacidade de transformar em peça preciosa, algo como uma vitrine de políticas públicas.  

Decidi escolher Jundiaí, vizinha da Grande São Paulo, como concorrente de Diadema. Poderia ter escolhido qualquer uma das demais cidades do G-22, para colocar frente a frente alguns indicadores econômicos. Somente Mauá e Guarulhos rivalizariam com Diadema.  

EMPREENDEDORISMO  

Jundiaí tem praticamente a mesma população de Diadema (432 mil habitantes). A realidade deste 2022 é amplamente favorável àquele Município do Estado de São Paulo que jamais foi administrado pelo PT.  

O que diferencia flagrantemente um endereço do outro é que Jundiaí espalha conceitos de empreendedorismo privado em seu território. Em Diadema, ao longo da história, os empresários sempre foram maltratados ou tratados com indiferença. O viés socialista se ramificou tanto que nem mesmo a Rodovia dos Imigrantes e a Via Anchieta, potenciais ferramentas de industrialização, são levadas em conta. Diadema é um nó logístico interno.  

O confronto entre Diadema e Jundiai coloca em choque o conceito de igualitarismo e desigualdade.  

QUEM GANHA?  

O que se pergunta é, afinal, qual é o endereço potencialmente de maior qualidade de vida, se o primeiro, Diadema, onde a distância entre famílias de Classe Rica e famílias de Pobres e Excluídos é estreita.  

Em Diadema, há 7,47% de famílias de Classe Rica em relação à Classe dos Excluídos. O restante é de Classe Média Tradicional e de Classe C. São 2.606 famílias ricas ante 45.705 de Excluídos. Respectivamente, 1,8% e 24,10%.   

Em Jundiaí,, há muito mais famílias de Classe Rica em relação à Classe dos Excluídos que também é menos densa. São 5,5% (8.038) ante 13,6% (19.895).  

CONSUMO DESIGUAL  

Sempre considerando como ponto à reflexão, Jundiaí e Diadema são municípios gêmeos demograficamente. Somente nesse ponto são iguais.  

No PIB de Consumo (também conhecido como Potencial de Consumo), uma especialidade da Consultoria IPC, as diferenças se agigantam. 

Em Jundiaí, o PIB de Consumo por habitante ( ou seja, o que poderia ser transformado em consumo nesta temporada) é de R$ 37.676,28 mil, enquanto em Diadema não passa de R$ 26.830,36 mil. Diadema só supera Guarulhos entre os maiores 20 municípios do Estado.  

28,55% MAIOR  

Enquanto a população de Jundiaí tem para gastar este ano R$ 16.229.509 bilhões, em Diadema o montante chega a R$ 11.596.702 bilhões. Ou seja: a disponibilidade de riqueza de Jundiai é 28,55% maior que de Diadema.  

Se o conceito de PIB de Consumo é definido claramente como a capacidade de gastos da população, o conceito de PIB Convencional é traduzido como capacidade de geração de riqueza que nem sempre fica no mesmo Município.  

A diferença entre os dois municípios também está estabelecida. O PIB per capita de Diadema é de 36.097,90, enquanto em Jundiai chega a R$ 112.068,21. Quase três vezes mais.  

VÁRIAS VEZES MAIOR  

A trajetória dos dois municípios neste século, tendo como base de dados o ano de 1999 e a chegada em 2019, a mais atualizada, Jundiaí registra crescimento nominal (sem considerar a inflação do período) de 971,37%. Diadema não passou de 224,78%.  

Em 1999, enquanto o PIB per capita de Diadema registrava (em valores nominais) R$ 11.114,45 mil, Jundiaí apontava um pouco mais – R$ 14.408,47 mil. Uma diferença de 22,86% a favor da cidade do Interior. Já em 2019, o PIB per capital de Jundiaí apontava para R$ 112.068,21 mil, enquanto Diadema registrava R$ 36.097,90 mil. A diferença se elevou a 67,79%.  

DISTÂNCIA CRÔNICA  

Sob qualquer aspecto econômico, as demograficamente gêmeas Diadema e Jundiaí oferecem cardápio de distanciamento crônico e resistente. E quem sempre vence é Jundiaí.  

O total de empresas em Diadema ao final de 2021 chegava a 39.651 unidades. Em Jundiaí são 62.640. Nada menos que 36,70% superior em Jundiaí.  

Nem se pode atribuir à velocidade do relógio do crescimento demográfico a separação desenvolvimentista dos dois municípios.  

FATOR DEMOGRÁFICO  

A taxa anual de crescimento da população é menor em Diadema (0,62%) do que em Jundiaí (0,89%). 

E essa velocidade comparativa não é algo de avaliação de poucas temporadas anuais. Vem de longe.  

Em 1999, Jundiaí contava com 77.130 residências, ante 86.404 de Jundiaí. Agora em 2022 são 144.253 residências em Diadema ante 146.147 em Jundiaí.  

OUTRO CONCORRENTE  

Talvez não faltem tentativas de desconsiderar o confronto entre Diadema e Jundiaí porque o adversário da cidade mais vermelha do Grande ABC estaria fora do foco metropolitano.  

É uma desculpa relativamente esfarrapada quando se considera que o PT e congêneres desperdiçaram formulação de modelo reformista nos municípios brasileiros. Tempo não faltou para tanto. 

Mas, considerando-se como legítima a argumentação, não custa buscar um exemplo no interior da maior metrópole da Grande São Paulo. Mogi das Cruzes também tem semelhanças demográficas com Diadema (são 460.293 moradores) que ocupam 142.419 residências.      

NOVA DERROTA  

A distância que separa famílias da Classe Rica e os Excluídos é de 18,6 pontos percentuais. São 3,3% de famílias ricas e 21,9% de famílias de pobres e excluídos.  

Há 15,07% famílias de Classe Rica em Mogi das Cruzes quando contrapostas a famílias de excluídos.  Portanto, sob o conceito de desigualdade social convencional, Mogi das Cruzes ocupa degrau inferior em relação a Diadema. Ou seja: Diadema seria melhor que Mogi das Cruzes. 

Mas quando se verifica o PIB de Consumo, Mogi das Cruzes supera Diadema. São R$ 31.295,36 mil por habitante, contra pouco mais de R$ 26 mil de Diadema.  

MAIS NEGÓCIOS  

O empreendedorismo em Mogi das Cruzes também é superior ao de Diadema. Há em estoque cadastral 54.118 negócios. Diadema, como se viu, não chega a 40 mil.  

O fato incontestável é que o dinamismo econômico necessário para Diadema dar um salto de qualidade geral em políticas públicas tornou-se heresia. Não existe cultura empreendedora no Município mais vermelho da região.  

Na média estadual, os dados de Diadema são semelhantemente ruins. A média do PIB de Consumo por habitante de todos os municípios paulistas alcança R$ 33.356.44 mil. Quase R$ 7 mil superior ao de Diadema. O PIB Convencional também é maior no Estado de São Paulo na média de todos os municípios: R$ 51.140,82 mil.  

MAIS EXCLUÍDOS  

Há proporcionalmente mais pobres e miseráveis em Diadema do que na média estadual: 21,4% do Estado estão nesse recorte, enquanto em Diadema são 24,1%.  

Diadema só supera e mesmo assim de raspão a média de PIB de Consumo quando o concorrente é a média brasileira, que registra R$ 26.262,62 mil por habitante. Como se vê, apenas levemente superior aos R$ 26.830,36 de Diadema.  

Mas nem mesmo essa vantagem é confortável, porque vai-se dissolvendo a cada temporada.  

Em 1999, o PIB de Consumo per capita de Diadema era em valores originais R$ 4.590,43, enquanto a média brasileira chegava a R$ 3.491,41. Ou seja: a distância favorável a Diadema de 23,94% caiu para 2,12%.  

Quem consegue a proeza de perder para o ritmo da média brasileira em duas décadas não oferece futuro encorajador.  Diadema parece destinada a seguir patinando economicamente, com graves problemas sociais.  

O quarto capítulo desta série vai mostrar novos ângulos de uma realidade desconfortável para quem, há 40 anos, comemorou um futuro promissor para Diadema.

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