Administração Pública

André do Viva diz à Polícia que
crime tem motivação política

  DANIEL LIMA - 22/08/2023

Quem mandou invadir a residência do misto de jornalista e político André do Viva em primeiro de julho do ano passado levando terror à mulher e à filha do homem que era candidato a deputado estadual e que decidiu concorrer a deputado federal?  

André do Viva não revelou a identidade do mandante do crime quando prestou depoimento à Polícia, mas deixou claro que se tratava de uma ação delituosa de estrutura motivacional política. Ou seja: tinha tudo a ver com o calendário eleitoral do ano passado. 

As declarações que André do Viva expôs aos policiais em depoimento logo em seguida ao terror que criminosos levaram à casa da família não são elucidativas sobre a origem detalhada da operação que poderia ter-lhe custado a vida.  

Mais abaixo reproduziremos integralmente o Boletim de Ocorrência dessa etapa do Caso André do Viva. Foram ouvidos não só o apresentador de um popular inventário diário sobre as precariedades da periferia de Santo André, mas também a mulher e a filha.  

TRECHO DENUNCIATÓRIO  

Optamos por reproduzir o conteúdo integral do Boletim de Ocorrência porque queremos transmitir aos leitores o ambiente de autenticidade dos relatos.  André do Viva afirma que o componente político (eleitoral) estava na raiz da ameaça que poderia ter desfecho mais grave do que a prisão de dois criminosos em seguida à tentativa frustrada.  

Para melhor compreensão, reproduzimos em seguida parte das declarações de André do Viva que serão mantidas no depoimento da família logo abaixo. Leia: 

 O declarante informou que acredita que a invasão de sua residência tenha motivação política, uma vez que no dia anterior tomou uma decisão muito importante em sua vida: aceitou ser candidato para disputar as eleições como deputado federal. O declarante acredita na motivação política pelo fato de haver recebido ameaças anteriores, para não aceitar a candidatura, e ainda pela quantidade de fechaduras arrombadas. 

MORTE ENCOMENDADA  

Embora não tenha sido específico e tampouco mais explicativo ao relacionar o caso a implicações político-eleitorais, André do Viva estimula interpretações variadas tendo como premissa (como se verá a seguir) que sua casa foi invadida deliberadamente, ou seja, por determinação específica.  

A invasão da casa de André do Vivo não foi escolha aleatória. Houve orquestração nesse sentido. Trocando em miúdos: tudo indica que os meliantes foram requisitados para a tarefa de expropriar do proprietário a quantia de R$ 300 mil. Não parece haver no documento transcrito abaixo uma ordem tácita para assassinar o dono da casa, mas declarações anteriores de familiares do apresentador apontam nesse sentido.  

O que se pergunta para valer na busca de alguma ramificação mais segura da origem da ordem de invadir a casa de André do Viva em conexão com interesse político é sobre a identidade do mandante. As suspeitas sobre um tal de “Espanhol”, mencionado por um participante da operação, no caso Pitágoras Araújo, conforme conclusão da Polícia Civil, não abrem até agora o caminho à solução do enigma.  

Sabe-se que a expectativa de que André do Viva teria votação próxima a 70 mil votos em Santo André mobilizou a campanha de Carolina Serra, mulher do prefeito Paulinho Serra. Tanto que o objetivo foi alcançado: André do Viva concorreria a uma vaga a deputado federal e reforçaria, com dobradinha, a campanha de Carolina Serra. Como de fato ocorreu. 

MANENTE E MARANGONI 

Quando André do Viva sugere no depoimento à Polícia Civil naquele primeiro de julho do ano passado que a decisão de concorrer a deputado federal gerou insatisfação de terceiros, surgem dois concorrentes relevantes: Alex Manente e Fernando Marangoni, com amplo apoio da Administração de Paulinho Serra.  

Alex Manente reelegeu-se deputado federal no ano passado e Fernando Marangoni chegou a Brasília pela primeira vez. Santo André reforçou em muito a escalada de votos dos dois concorrentes.   

O escândalo do Caso André do Viva foi abafado no ano passado e na sequência da disputa do calendário eleitoral o jornalista acabou tendo dificuldades de mobilização popular. Terminou a disputa com pouco mais de 17 mil votos. André do Viva teria sofrido bombardeio de marketing eleitoral dos dois candidatos de preferência do prefeito Paulinho Serra nos últimos três meses de disputa.  

Um encaixe logístico na investigação da Polícia Civil pode alcançar as relações entre um dos participantes do crime contra família de André do Viva, Pitágoras Araújo, e o deputado federal Alex Manente. Multiplica-se nas redes sociais uma fotografia que coloca Pitágoras entre Manente e o vereador Julinho Fuzari durante o período eleitoral. Fuzari foi um dos polos da campanha de Alex Manente em São Bernardo. Os dois são muito próximo do prefeito Paulinho Serra. Até que ponto isso significaria discriminação, desprestigio ou algo semelhante à candidatura de André do Viva e o que isso tem de imbricamento com a invasão de domicílio somente a Polícia Civil poderá elucidar. 

EMBARALHAMENTO  

O embaralhamento do Caso André do Viva vai se destrinchando aos poucos, a partir da retomada de investigações pela Polícia Civil. Há outros personagens que aparecerão tendo em comum fortes ligações com Espanhol, supostamente uma peça importante na avaliação policial.  

Espanhol ainda não teria sido identificado oficialmente, mas há indicativos de que se trata mesmo de José Antonio Acemel, detentor de alta patente na Administração de Paulinho Serra, de quem é homem de confiança.  

O endereçamento das declarações de André do Viva sobre motivação política é o a mais factível entre outras razoes porque não existe variante que rivalizem com o apontamento do jornalista.  

CLAREZA E ESCURIDÃO  

Sabe-se que investigações policiais mostram com clareza vários pontos de conexão, mas também outros que ainda não se conectaram ao enredo mais provável. Incursões tecnológicas nos celulares de suspeitos e de presos preventivamente dariam contornos definitivos às apurações.   

Nesse ponto, um dos aparelhos mais avidamente observados pelos policiais estava no bolso de Pitágoras Araújo e de outro personagem cuja prisão não teria sido ainda determinada, mas que seria de relações muito estreitas com o enigmático Espanhol.  

BOLETIM DE OCORRÊNCIA  

Acompanhe a transcrição dos depoimentos de primeiro de julho do ano passado ao delegado Roberto Von Haydin Júnior, da Polícia Civil de Santo André. O relato envolve um policial civil, André do Viva e sua mulher. A transcrição do depoimento da filha do casal torna-se desnecessária porque basicamente repete as declarações da mãe. Eles viveram juntas o inferno daquela manhã.   

O declarante informou que acredita que a invasão de sua residência tenha motivação política, uma vez que no dia anterior tomou uma decisão muito importante em sua vida: aceitou ser candidato para disputar as eleições como deputado federal. O declarante acredita na motivação política pelo fato de haver recebido ameaças anteriores, para não aceitar a candidatura e anda pela quantidade de fechaduras arrombadas. 

O presente registro (...) dirigiu-se então até o local irradiado e encontrou os criminosos saindo da residência, imediatamente realizou a abordagem logrando êxito em deter os dois criminosos que estavam prestes a se evadir da casa da vítima, com o autuado Luiz Fernando Conceição Oliveira foi encontrado um revólver calibre 38 com cinco munições intactas, um notebook e uma garrafa de Whisky. Com o autuado Gabriel Braga dos Anjos foi encontrado os aparelhos celulares, o dinheiro, a bolsa que continha um drone pertencente à vítima e ainda um alicate de pressão usado para arrombar a casa, uma chave de fendas e a chave do carro Ford/Ka produto de roubo, que utilizaram como transporte até o local do crime. O depoente ainda afirmou que o autuado Daniel ao perceber que seria preso, lançou seu aparelho de telefone celular no chão de forma violenta, com o intuído de quebrá-los e dificultar as investigações. Diante dos fatos, deu voz de prisão aos criminosos, encaminhando-os a esta CPJ. A vítima André Ribeiro declarou que é repórter e proprietário do Viva ABC, que hoje às 11.03 estava no gabinete do prefeito de São Bernardo do Campo em uma reunião, quando recebeu um telefonema de sua esposa dando conta de que havia criminosos tentando invadir sua residência. Imediatamente desligou o telefone e dirigiu-se até sua residência, onde visualizou diversas viaturas no local, dois presos detidos pelos policiais militares. Os policiais militares ainda não tinham a informação se haviam mais criminosos na casa, sendo assim pediram para aguardar antes de adentrar na casa, mas os criminosos já haviam se evadido do local. Conversou com sua esposa e filha e elas disseram que os dois indivíduos arrombaram seis fechaduras, invadiram a casa e perguntaram: “Onde está ele?”. Elas disseram que ele não estava em casa, mas os criminosos não quiseram falar nomes de ninguém. Durante o roubo os delinquentes faziam um contato com alguém por telefone celular e segurando com a mão o pescoço de sua filha Camila, falava com alguém que perguntava: “ele está aí”. O criminoso então disse: “ele não está aqui”. Os criminosos, diante da certeza de que o declarante não estava no interior da casa, passaram a subtrair mediante grave ameaça uma quantia que existia na residência, quando então a vítima disse que a polícia estava a caminho, pois havia ligado para o 190, imediatamente os criminosos saíram de forma acelerada, mas foram detidos, mas foram detidos pela polícia na saída da casa. O declarante informou que acredita que a invasão de sua residência tenha motivação política, uma vez que no dia anterior tomou uma decisão muito importante em sua vida: aceitou ser candidato para disputar as eleições como deputado federal. O declarante acredita na motivação política pelo fato de haver recebido ameaças anteriores, para não aceitar a candidatura e anda pela quantidade de fechaduras arrombadas.  A vítima Nelli, esposa de André, declarou que estava no interior de sua residência quando escutou um barulho vindo da porta da frente, procurou observar o que ocorria, quando viu dois indivíduos desconhecidos no interior de sua casa, chamou sua filha Camila e pediu que ligasse para seu marido (André) e se trancou com sua filha em um quarto, até que os criminosos arrombaram a porte com um chute e gritaram: “cala a boca, me dá o dinheiro”, arrancou o telefone celular da mão da declarante e de sua filha e com uma arma em punho apontou para sua cabeça e disse: “se não ficarem quietas vamos mata-las”, com a arma apontada para sua cabeça desceram (mãe e filha) para o pavimento interior da casa, começaram a revirar as gavetas e perguntar: “cadê ele, onde está o dinheiro”. O criminoso então retirou o telefone celular da blusa, que já estava em uma ligação por viva voz com outra pessoa, e a referida pessoa dizia “pode procurar que eu sei onde ele tem dinheiro. Sua filha Camila então lhe entregou R$ 4.300,00 em dinheiro e um drone, momento em que um dos criminosos obrigou as duas a ficarem sentadas na sala, sob a mira de uma arma de fogo, por cerca de 10 minutos, enquanto outro criminoso revirava a casa no andar de cima, a declarante então disse ao criminoso que havia chamado a política e que eles estariam prestes a chegar, quando o roubador então gritou para o seu companheiro: “vai, vai vai ela chamou a polícia e então evadiram-se da casa, posteriormente tomaram conhecimento que os dois criminosos foram presos ao tentar sair de casa. 

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