Política

Sucessão de Paulinho Serra
vira um forrobodó infernal

  DANIEL LIMA - 24/01/2024

Quem diria que a eleição mais fácil desta temporada na região poderia estar a caminho de uma derrapada de estratégias que não se combinam porque os grupos de pressão e de mando da Administração de Paulinho Serra se sentem paradoxalmente desprestigiados e empoderados?  

Em casa que falta moralidade e ética, todos gritam e ninguém tem razão? Depende.  

Há concorrentes à vaga que será deixada obrigatoriamente por Paulinho Serra que podem dizer aos quatro cantos que não têm os fundilhos sujos. Mas outros estão até o talo sob suspeições. 

O fato é que Paulinho Serra terá uma temporada presumivelmente infernal. Há pressões de todos os lados. No campo político e no campo criminal. Questões institucionais não o afetariam. A passividade de instâncias da cidade e da região não faz verão. Está todo mundo para lá de inadimplente diante da sociedade mesmo que omissa, servil e desorganizada.  

TORMENTO  

O erro de Paulinho Serra e dos grupos que o sustentam é que imaginaram um mar de rosas e o que se tem é uma tempestade. Desconsiderou-se que o homem por natureza e safadeza é ambicioso e vaidoso, quando não raivoso e exclusivista.  

A oposição a Paulinho Serra que parecia inexistente numa Santo André imperial, onde quase todo mundo se submeteu ao torniquete de uma avassaladora movimentação em torno de unanimidades burras, a oposição a Paulinho Serra, dizia, não existia até que evolui a cada dia, avoluma-se de forma preocupante para o ocupante do Paço Municipal. E vem do próprio Paço Municipal 

Vou explicar ou está implícito? Os aliados forçados ou não de Paulinho Serra, todos de alguma forma relacionados a forças de pressão que querem ter o controle da Prefeitura de Santo André, esses aliados estão se engalfinhando pelo cargo de prefeito ou vice-prefeito da próxima temporada.  

É claro que ser prefeito é a bola da vez. O prêmio de consolação de vice-prefeito é mesmo de consolação.  

MUITOS CANDIDATOS  

Não faltam nomes à sucessão. Todos ligados aos grupos do Paço Municipal. Mesmo o do vereador Eduardo Leite, ex-petista, hoje do PSB, partido de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República.  

Eduardo Leite já tem um naco de apoio que, com o reforço igualmente opositor de uma dissidência do Paço Municipal e o possível ressurgimento mesmo que envergonhado do PT em Santo André, poderia levar a disputa ao segundo turno. Aí o bicho pegaria.  

Que o diga Vanderlei Siraque. O petista poderia ter matado a disputa em 2008, deixou escapar por menos de dois pontos percentuais e depois teve de acompanhar, no segundo turno, a vitória da zebra de branco chamada Aidan Ravin, um dos maiores e fugazes fenômenos de fracasso político na região. 

Além da soberba de acreditar que com alguns dos mais proeminentes apoiadores de sua gestão o jogo estava tão bem encaminhado a ponto de se dar ao luxo de brincar de concorrentes em nome do Paço, Paulinho Serra está enroscado com nova denúncia, ignorada pela mídia chapa branca.  

O que Paulinho Serra fez durante sete anos com a Receita Municipal é o fim da picada. E ao que tudo indica haverá aprofundamento da crise. Os agentes fiscais têm o prefeito na ponta da agulha do que chamaria de vingança técnica. Eles não se conformam com a desconsideração a que foram submetidos.  

RECADOS DADOS  

Não se duvida entre outras camadas de consequências que, apesar do sigilo profissional, alguns vazamentos que comprovem relações incestuosas de Paulinho Serra com determinados empresários venham a explodir o prestígio do prefeito e de quem ele indicar como sucessor oficial.  

Ainda pretendo fazer uma análise específica sobre os recados subliminares que os integrantes da Receita Municipal deixaram na representação-denúncia oferecida ao Tribunal de Contas do Estado.  

Certo é que ninguém produz documento tão abrasivo sem contar com reservas não só de provas mas principalmente de estratégia questionadora ao chefe do Executivo. O mercado imobiliário de amigos muito íntimos seria o principal canal de irrigação de falcatruas. Empreiteiras urbanas são urubus a rondar os paços municipais.  

Riquezas diretas e indiretas saltam aos olhos. E alguns empresários inescrupulosos ainda se dão ao luxo de zombar da sociedade ao elegerem ações sociais como vitrines de humanismo. São vigaristas juramentados.  

Duvido que a Administração de Paulinho Serra teria a coragem de desafiar a Receita Municipal com a abertura de todas as contas relacionadas ao setor imobiliário, especialmente IPTU e ITBI, fontes de corrupção como insinua a denúncia do agente fiscal que assinou a representação levada ao Tribunal de Contas.  

QUEBRA-CABEÇA 

Voltando ao aspecto puramente político-eleitoral, tem-se na mesa de cartas especulativas inúmeras composições que pretenderiam harmonizar o forrobodó geral e infernal. Mas sempre existe condicionantes a serem levadas em conta: é preciso combinar com as respectivas partes dos encaixes pretendidos. 

Parece que será difícil montar o quebra-cabeça de disputa à Prefeitura de Santo André. Falta o molde que inspiraria os participantes. O que foi preliminarmente sugerido, sempre com alternativas prováveis de modo que as peças acessórias não criassem dissidência, parece ter ido à bancarrota.  

Nomes nestas alturas do campeonato podem ser importantes, mas mais importantes que nomes e sobrenomes são mesmo a flexibilidade e as ponderações que procurariam justificar eventuais recomposições.  

O esnobismo do Paço Municipal, que chegou a anunciar um conjunto de nove pretendentes viáveis à sucessão de Paulinho Serra, provavelmente foi a pedra de toque da reação deflagradora de rompimentos.  

A lista apresentada teria colocado em igualdade de condições concorrentes que até então se sentiam individualmente mais próximos da indicação – e portanto, acima dos demais. Os sinais emitidos pelo Paço Municipal favorecendo individualmente muitos integrantes da lista, numa perspectiva incompatível com os fatos, foram um tiro no pé. Cada concorrente se imaginava mais importante na soma geral dos fatores.   

OPOSIÇÃO SE MEXE  

Não será ainda desta vez que vou detalhar a individualização de nomes mais indicados na bolsa de apostas do Paço Municipal. Certo mesmo é que já não se tem mais certeza alguma de que a palavra do prefeito vale uma pitadinha a mais do que a daqueles grupos de empresários comprometidos com determinados candidatos. E que esses mesmos empresários teriam a generosidade de abrir mão em favor de terceiros as preferências cultivadas há muito tempo. 

O leitor pode até não estar entendendo bulhufas, mas é de uma algazarra eleitoral que estamos falando com clareza. Sobram concorrentes e faltam garantias.  

O pior é que a oposição de verdade, de quem não quer ver o indicado do grupo majoritário que domina a Prefeitura de Santo André com força para indicar o que seria o novo prefeito, essa oposição ainda dispersa, começa a juntar peças. O horizonte de dois turnos parece compatível com o contexto de degradação dos poderes limitados de Paulinho Serra.  

VAZIO ESTADUAL  

Como se desgraça municipal não bastasse nesse caldeirão efervescente, Paulinho Serra pode sofrer revés estadual. A presidência provisória do esquálido PSDB pode fugir pelos vãos de uma nova arquitetura do partido que botou para correr a turma do governador gaúcho Eduardo Leite, a quem Paulinho Serra é ligado.  

Paulinho Serra está numa bifurcação tenebrosa: ou enfrenta a máquina tucana que tem como capitão de combate Aécio Neves, embora seja o ex-governador de Goiás Marconi Perillo expoente midiático, ou entrega a rapadura e se acomoda no partido sem a eloquência de antes, combustível dos planos que mantém para o pós-governo.  

Seja qual for a escolha, Paulinho Serra não carregaria mais a ainda de alguma forma respeitável ocupação nos quadros estaduais do PSDB, sobrando-lhe provavelmente o papel de antes, ou seja, de atuação municipal. Dar a volta por cima da situação partidária em que se encontra faz de Paulinho Serra um navegante à deriva e a procura de um farol de salvação.  

PARA ONDE IR?  

Não é carregar nas tintas dizer que Paulinho Serra saiu de um confortável papel de mágico da companhia circense, com direito a zombar do eleitorado, tamanho o prestígio e a harmonia dos grupos que o alimentam e cobram reciprocas, e se meteu num daqueles espetáculos de risco em que se metem moças bonitas diante do atirador de facas. Não é pecado dizer que o atirador andou tomando uma cachaça antes de iniciar a sessão.   

Sair do PSDB representaria para Paulinho Serra um grande dano em plena tormenta que se avizinha com a disputa municipal. Muitas arrumações teriam de ser reformatadas.  

SANGUESSUGAS SOCIAIS 

Estaria Paulinho Serra com um dos pés já no PSB de Geraldo Alkmin? Essa avaliação encontra restrições estratégicas, porque o vereador Eduardo Leite já ocupou a poltrona principal, de primeira classe, e não abriria mão da disputa pela Prefeitura. Qualquer proposta substituinte não encontraria eco.  

Talvez a Paulinho Serra seja mais racional abrir mão também da ideia fixa de apontar um sucessor igualmente tucano. Apeado do partido, como se apresenta no momento de hostilidades flagrantes, restaria a Paulinho Serra bandear-se humildemente ao PSB próximo do governo federal ou optar pelas veredas semelhantes de Gilberto Kassab, Valdemar Costa Neto e Tarcísio de Freitas, que ocupariam o outro lado do balcão nas disputas municipais.  

Paulinho Serra está fazendo de tudo para se converter num case de fracasso teoricamente impossível: é dono de um patrimônio de votos imensurável, ou seja, é mesmo bom de voto, mas, como é ruim de governo tanto na gestão administrativa quando na político-partidária, pode se ver em maus lençóis. É isso que dá ficar refém do que existe de pior na política, especialmente do entorno da política, os sanguessugas da sociedade.

Leia mais matérias desta seção: