Política

PT ENTRE CELSISMO E
LULISMO. O QUE DARÁ?

  DANIEL LIMA - 17/09/2025

O PT de Santo André está se organizando para tentar voltar ao que era. Isso é ótimo. Prefiro a política como fonte de conflitos que possam criar barreiras ao imperialismo que se vive em Santo André. O problema é que o PT conta com poucas possibilidades eleitorais no futuro próximo, tanto quanto se esfarelou no passado recente. O PT de Santo André registra duas enfermidades graves. O Celsismo que se foi sem reposição e o Lulismo que segue em frente como força competitiva sem espalhar uniformemente os efeitos a todos os candidatos municipais do PT.

Lembro aos leitores que pretendo escrever um texto complementar nos próximos dias. Pretendia matar no peito e baixar na terra tudo em apenas uma edição, mas optei por algo inicial e algo complementar. Vou escrever hoje sobre conceitos.  

Na próxima edição sobre esse assunto tratarei de fundamentar dados quantificados e qualificados. Dados quantificados e qualificados que se ajustam à teoria como provas. Portanto, estou escrevendo com foco em conceitos do Lulismo, do Celsismo e do Petismo com base nos dados de que já disponho. E da memória vivida na prática. Uma coisa se junta à outra e estamos conversados.

TEORIA DO CELSISMO

Fiquei em dúvida se usaria “Celsismo” para definir o que chamaria de legado socio-eleitoral de Celso Daniel. Achava que não havia nenhum registro no acervo desta publicação. E não é que O encontrei? Mas vou deixar a outra ocasião a razão daquele uso fortuito.

Celsismo é a linha política-administrativa de Celso Daniel, resultado da relação forte que conquistou com a classe média tradicional de Santo André. Somada à classe trabalhadora naquele final de 1980, e fortalecida nos anos 1990, quando se elegeu com retumbante votação, Celso Daniel construiu um Partido dos Trabalhadores local muito acima da competitividade de Lula da Silva, visto com desconfiança.

Diferentemente de Lula da Silva, Celso Daniel era filho de classe média profundamente conservadora. Ao se juntar à classe trabalhadora, tendo o sindicalista José Cicote e João Avamileno como maiores expressões, ganhar eleição em Santo André foi uma mamata para o PT.

CAINDO AOS POUCOS

Desde a morte de Celso Daniel o Celsismo desmilingua. Não há desde então nenhum representante político de esquerda que ao menos faça cócegas de intimidade eleitoral no estrato economicamente mais alto da sociedade local. Tentaram vender uma réplica pálida de Celso Daniel, o vereador Eduardo Leite, mas o eleitorado não é bobo.

João Avamileno foi eleito em 2004, no pós-morte de Celso Daniel,  capitalizando a morte de Celso Daniel. Carlos Grana, também sindicalista, superou Aidan Ravin em 2012 porque Aidan Ravin concorreu à reeleição carregando nas costas um desprestígio continuado. Já o petista contava com o PT no governo federal até então de bons resultados.

Tudo antes do desastre de Dilma Rousseff que, entre 2014-2015 abriu as portas da Prefeitura para Paulinho Serra, tucano que se infiltrou na gestão petista como secretário e em seguida deu o bote eleitoral. Paulinho Serra e seus conselheiros sabiam que a Economia estava indo para o brejo com Dilma Rousseff e anteciparam rompimento com o governo petista local.

Nas duas eleições seguintes, com a vitória de Paulinho Serra de novo, agora em 2016, e de Gilvan Júnior, ano passado, o PT de Santo André afundou de vez. Nunca obteve tão poucos votos.  

MUITAS DIFICULDADES

Acredito muito pouco no ressurgimento do PT em Santo André. Por mais que caprichem no modelito pretendido, novas e antigas lideranças do partido que juntam forças enfrentam um porco espinho de perspectivas políticas, econômicas e eleitorais. O Celsismo desapareceu, o Petismo municipal enfraqueceu e o Lulismo nacional vive momentos críticos. Entretanto, a bem da verdade, o PT sempre será ainda nos próximos tempos uma força eleitoral razoável para quem gosta de embates, ao invés de compadrios de falsas oposições, de fato sob controle de mandachuvas e mandachuvinhas.

O Celsismo era um patrimônio petista especial do petismo porque era um petismo de paletó de um elegante professor universitário visionário em regionalismo e em políticas públicas sociais. Isso não existe mais em Santo André. Há algumas tentativas de copiar o original, mas como faltam talento e inteligência, para não dizer outras coisas, soam como patéticos.

Paulinho Serra é o maior deles. Arrumou um cursinho vapt vupt em Harvard para dizer que é cerebral. Quinze dias não transformam um político da velha guarda, embora jovem, em algo diferente de político de velha guarda. Nem 15 dias nem 15 anos. Celso Daniel era produto intelectual de uma vida inteira. Algo como aquela história de Picasso. Conhecem? Cada obra dele não era fruto de temporalidade circunstancial, da fase de criação à execução. Era uma história estrutural de vida.

UMA VIDA INTEIRA

Quando escrevo esse texto em menos de 40 minutos, tenho 60 anos de jornalismo nas costas. Sou uma máquina de escrever, costumo dizer a mim mesmo. Sem empáfia. Gosto de me desafiar ao próximo texto. Mas há todo um preparo estrutural e circunstancial para sair da pasmaceira do jornalismo fastfoodiano que consumimos diariamente.

Voltemos ao que interessa porque estou bagunçando as ordens dessa coisa de analisar. Celsismo, portanto, também já morreu em Santo André. Conquistar a classe média de Santo André, que é uma classe média diferente das demais classes médias dos municípios da região, aproximando-se apenas da classe média de São Caetano, é barra pesada.

Sair da classe média de Santo André um novo Celso Daniel parece impossível. Santo André está dominada pelos medíocres da política de resultados. Reformismo com nova visão, mas conectado às ideias de Celso Daniel, não consta da programação de ninguém da classe média de Santo André.

O PT sem a classe média de Santo André precisaria de redobrada força do PT sindicalista de Santo André. Outra impossibilidade praticamente portentosa. A classe trabalhadora industrial de Santo André (vou dar dados no próximo texto) jamais foi preponderante, embora muito importante,  à transformação política de Celso Daniel e na construção do Celsismo.

ASSISTENCIALISMO DIVIDIDO

A outra vertente portentosa que poderia dar impulso ao PT de Santo André nas disputas municipais seria o um terço de pobres e miseráveis que a cidade agrega num processo de empobrecimento resultante da desindustrialização e também de migrações internas na Região Metropolitana de São Paulo.

Esse naco importante da sociedade como massa eleitoral foi capturado pelos governistas de Santo André. Mais de uma centena de entidades assistenciais constam da rede sob controle dos mandachuvas e mandachuvinhas do Paço Municipal. O projeto Moeda Verde é um achado e tanto. É o Bolsa Família do grupo mantenedor das redes político-eleitorais em Santo André. O Bolsa Família original também é volumoso, mas perdeu exclusividade assistencialista.

Sem o Celsismo, sem o sindicalismo pujante e sem o monopólio do assistencialismo municipalista, o PT de Santo André vive o contraste comprovado (e que vou explicar também em novo texto) que coloca o Lulismo como forte competidor nas disputas federais, caso da Presidência da República, e mesmo ao governo estadual.  A dificuldade mais que comprovada de transformar o Lulismo em Petismo em Santo André é enorme justamente por conta do municipalismo assistencialista e da morte do Celsismo.

SACO QUASE VAZIO

Repararam os leitores e eleitores que o Partido dos Trabalhadores de Santo André é quase um saco vazio de expectativas concretas? Como pegar essa maçaroca toda de dificuldades e transformá-la em massa de viabilidade eleitoral no âmbito municipal?

Não sei se as lideranças do PT de Santo André já fizeram esse diagnóstico. Alguém precisaria fazer. Acho que estou cumprindo minha obrigação. Declaro permanentemente que não priorizo nomes. Longe disso. A mim não interessa a cor do gato político, desde que cace o rato de incompetências. E incompetências é sustentar improdutividades do Estado Municipal, assim como do Estado Estadual e do Estado Federal.,

Sou de direita e de esquerda. Sou ambidestro politicamente. Como jornalista, apenas como jornalista. Quem gosta de partido único ou de partido único travestido de partido múltiplo é a turma ditatorial. 

A polarização excomungada por Paulinho Serra nas páginas do Diário do Grande ABC lembra o apanhador de fruta na beira da estrada que ao não apanhar  a fruta na beira da estrada sai resmungando que a fruta na beira da estrada está podre.

O PT de Santo André nãopode seguir os passos de Paulinho Serra na estratégia de fechar os olhos e fabricar ilusões.  Vou voltar com tudo com o complemento dessa abordagem. Vou dar números aos bois. 

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