MORANDO X PAULINHO,
UMA ELEIÇÃO À PARTE
Orlando Morando e Paulinho Serra devem ser eleitos com certa folga. Serão deputados federais em 2027. Outubro do ano que vem é apenas uma etapa formal, determinada pela Justiça Eleitoral. A memória eleitoral que carregam, de oito anos de comando de duas das principais prefeituras do Estado de São Paulo, garante que o caminho será menos complicado do que para a maioria dos concorrentes locais. Mas ganhar a disputa não é necessariamente a razão principal que os move.
O que os mobiliza é a fixação mental de que chegar na frente é o que interessa. É preciso ganhar do outro. O outro para Paulinho Serra é Orlando Morando. O outro para Orlando Morando é Paulinho Serra. Esses tucanos do passado não se bicam faz muito tempo. Parece não haver possibilidade alguma de reconciliação, embora não tenham faltado tentativas. Tanto que Orlando Morando deixou o tucanato de lado. Paulinho Serra virou presidente estadual. Isso não vale muita coisa, como se sabe.
Meu palpite caso o jogo jogado fosse no próximo domingo seria uma barbada: Orlando Morando ganharia com certa folga. Afinal, tem mais passado e também mais presente. Como quem cuida do futuro está acima de tudo, é melhor manter uma interrogação sobre o desfecho. Estamos a um ano da disputa voto a voto.
MUITO MAIS CACIFE
O risco regional de que a polarização entre as duas candidaturas poderia impedir a composição de um grupo numeroso de representantes locais em Brasília não pode ser desprezado.
Notaram os leitores que não usei e não vou usar jamais a expressão “Bancada do ABC”, quando se trata de parlamentares estaduais e federais com domicílio eleitoral na região? Essa é uma das farsas institucionais mais agudas de uma região que jamais poderá avocar o distintivo de regionalidade. Região e regionalismo não se misturam como elementos culturais dos sete municípios.
O cacife eleitoral de Orlando Morando no momento, nesta temporada, é infinitamente maior que o de Paulinho Serra. Morando virou o secretário preferido do prefeito da Capital, Ricardo Nunes. Morando colocou a Secretaria de Segurança Pública da Capital na agenda de toda a mídia metropolitana e mesmo nacional. E, mais que isso, com resultados palpáveis. Saltou com folga para a condição de oitavo prefeito do Grande ABC, mesmo não estando no Grande ABC. Segurança Pública é gênero de primeira necessidade. A mídia da Capital invade a região sem pedir licença. O oitavo prefeito vira primeiro prefeito, em ordem de importância midiática. E isso faz diferença. Tanto que todos os prefeitos da região correm atrás de bandidos.
PAULINHO DEFINHA
Paulinho Serra definhou após cumprir dois mandatos tecnicamente fracassados à frente da Prefeitura de Santo André. Diferentemente, portanto, de Orlando Morando, que realizou oito anos de transformações. Paulinho deixou ou manteve Santo André abaixo de São Bernardo praticamente em todos os indicadores sociais, econômicos e administrativos.
E olhem que tanto um quanto outro assumiram as prefeituras pós-Dilma Rousseff, a destruidora do PIB do Grande ABC. Mais demolidora de São Bernardo automotiva que de Santo André petroquímica.
Em profundo contraste com Orlando Morando, Paulinho Serra foi e continua protegido pela mídia de papel diária. Orlando passou oito anos sob duríssimo combate. E mesmo com distinções entre dirigir São Bernardo de oposição vivíssima do PT, e Santo André de PT praticamente morto, Morando terminou os oito anos com aprovação popular semelhante à registrada por Paulinho Serra.
Não custa lembrar que aprovação popular não é carimbo de boa gestão. Paulinho Serra prova isso. Mas aprovação popular é sempre ativo de sensibilização do eleitorado.
GANHANDO DISTÂNCIA
Se o ritmo da chuva eleitoral seguir adiante conforme se verifica hoje, sem grandes transformações, Paulinho Serra verá Orlando Morando ganhar distância considerável quando as urnas eletrônicas se abrirem. Sem uma plataforma pública que possa chamar de sua, Paulinho Serra faz de um micro programa na TV Bandeirantes, de audiência pífia, abre-alas para chegar ao eleitorado do Interior.
Enquanto isso, em Santo André, deve sofrer os efeitos do divisionismo no Paço Municipal. Há quem fará de tudo para Paulinho Serra não ser votado demais, para não pretender atrapalhar a reeleição de Gilvan Júnior. Vão cortar as asas exageradas de Paulinho Serra.
Ainda não tive oportunidade nem curiosidade de assistir a um dos programas de Paulinho Serra na TV. É uma desatenção imperdoável. Mas vou corrigir a negligência. Tecnologias digitais guardam tudo para consulta a qualquer momento do dia e da noite. De fato, só assisti mesmo a apresentação da apresentação do programa. Acho Paulinho Serra um canastrão. Mas melhorou bastante entre o primeiro e o oitavo ano de mandatos.
Os marqueteiros de Paulinho Serra são competentes. Fizeram de uma administração caótica uma administração fantástica. Sempre sob a ótica ilusionista com respaldo da mídia parceira.
SEM ENFEITE
Orlando Morando tem mais experiência com a mídia em geral. Também ganhou traquejo ao longo dos anos. Cada entrevista é uma prova provada de que é um aluno aplicado. Não exala ares de político profissional. A sociedade já botou para correr ou desconfia profundamente dos políticos profissionais. Paulinho Serra precisa aprender com Orlando Morando.
O tom da voz, o gestual, a seleção de palavrinhas supostamente mágicas que remetem à democracia, essas coisas estão manjadas. São termos fastfoodianos no mercado de votos, que uniformiza os diferentes. Diferentes transformados em iguais significa prejuízo para quem é diferente de verdade.
O que mais distancia Orlando Morando de Paulinho Serra é que o primeiro toca a vida politica sem atropelos, enquanto o segundo está sempre enfeitando o pavão. Essa história de Harvard é patética. Quinze dias foram suficientes para enganar o público, dizendo-se especialista em determinado ramal de gestão. Justamente um ramal no qual Paulinho Serra tanto falhou, caso de parcerias público-privadas. Fugiu da raia após anunciar privatização dos cemitérios. A concessão do Semasa foi um trato com a opacidade.
Esses marqueteiros do Paulinho Serra parecem olhar a sociedade servil e desorganizada com descaso de quem sabe das coisas. A Secretaria de Efeitos Especiais que acrescentaram ao organograma da Prefeitura de Santo André foi um sucesso retumbante. O paradoxo é que, mesmo metafórica, foi a mais efetiva em resultados. Só faltou combinar com a realidade. Os marqueteiros de Paulinho Serra são bons mesmo.
DEMISSÃO NA CERTA
Caso houvesse aceitado o convite de Paulinho Serra para ser seu conselheiro especial, Paulinho Serra seria outro prefeito. Ou eu seria demitido em poucas semanas. Sugeriria a ele que não declarasse nada que não contivesse fatos, realizações, propostas e mesmo decepções. O ar de todo-poderoso e de infalível pode dar resultado temporário, mas sempre chegará a hora da verdade.
Aliás, como tem chegado com série gigantesca de dados de múltiplos ranqueamentos rigorosos que colocam Santo André em posição sofrível. Cansei de alertar Paulinho Serra sobre isso. Mas a turma de bajuladores que o cercava e ainda o cerca desconsiderou. Político mal acompanhado é redundância.
Não vou dizer que Paulinho Serra me consagrou como jornalista porque Paulinho Serra não foi o primeiro nem o ultimo agente público que resolve desafiar a lei da gravidade da sensatez. A coisa mais fácil do mundo é acertar os rumos do Grande ABC, como tenho acertado. Basta contar com dois neurônios e não dar bola aos chacais.
PERIFERIA SALVADORA
Paulinho Serra tem a sorte de o Grande ABC viver numa penumbra midiática. Fosse prefeito de uma cidade que não se identificasse como periferia da Capital, estaria ferrado. Todas as idiotices que colecionou ao longo de oito anos seriam desmascaradas por veículos de massa.
No Grande ABC, quando mais bobagens os agentes públicos falam, mais imunidades usufruem. O mais desatino de Paulinho Serra nos últimos tempos foi opor-se a Jair Bolsonaro e a Lula da Silva, desclassificando inadvertidamente eleitores. O meio-termo na política nacional transformado em bandeira de gestão já não engana mais ninguém. Demonizar conservadores e progressistas não é boa pedida eleitoral.
Nesse ponto, Orlando Morando é mais palatável a profissionais de imprensa que tem alguma responsabilidade social e sabem que não vale a pena avalizar besteiras. O erro de Orlando Morando como prefeito de São Bernardo, um erro comum entre os prefeitos da região, é que não esteve à disposição da mídia, em entrevistas coletivas, para explicar tudo o que se divulgava. Foram inúmeras as situações que evocavam encontros organizados. Administrador público que não dá respostas às críticas e mesmo a denúncias, por mais descabidas que sejam, sempre carrega peso sobressalente de culpabilidade no imaginário popular.
A impressão é que os dois políticos mais relevantes do Grande ABC nesta terceira década do século ainda precisam apurar as arestas aqui e ali. O que sobra de experiência e maturidade a um, falta ao outro. O leitor certamente sabe colocar o nome de cada um, entre parênteses, na frase anterior. Alguma dúvida?
TEMPO PARA CORRIGIR
Sinto muito ter de dizer a Orlando Morando e a Paulinho Serra que há espaço para que terminem essa terceira década do século menos distantes de Celso Daniel, sem dúvida a estrela máxima da Administração Pública do Grande ABC no último meio século. Orlando Morando estaria mais próximo disso. Celso Daniel é insuperável como prefeito regionalista em institucionalidade. Formatou o Grande ABC que os sucessores municipais desqualificaram e jogaram no lixo. Orlando Morando é insuperável como prefeito da infraestrutura regional, colocando a potencialidade de São Bernardo no campo de alternativas de investimentos, mesmo com todas as dores automotivas.
Paulinho Serra entra para a galeria dos prefeitos mais decepcionantes da história do Grande ABC. Asfixiou com populismo eleitoral uma cidade depauperada. Exigia-se um gestor reformista ao invés de ilusionista. Paulinho Serra deve tremer de medo a cada novo estudo que mede o tamanho da qualidade da gestão pública estadual e nacional.
Essa análise tem desdobramentos. Não falei das mulheres deputadas de Paulinho Serra e Orlando Morando. Dona Carla e dona Carolina podem ajudar muito e serem ajudadas com operações casadas. No sentido literal e metafórico.
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