Entrevista Indesejada

Ação de Luiz Fernando está entre
perguntas ao prefeito Luiz Marinho

  DANIEL LIMA - 25/11/2014

O agora eleito deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, presidente do São Bernardo Futebol Clube, estaria para a Administração Luiz Marinho assim como Paulo César Farias para o governo Fernando Collor de Mello. Esse é o conceito popular à aproximação entre o sindicalista que virou prefeito de São Bernardo e o dirigente esportivo que faz parte de uma equipe não-oficial da gestão do Município mais rico da região. O que se passa entre eles? Essa é uma das indagações da Entrevista Indesejada que CapitalSocial está encaminhando hoje a Luiz Marinho.

 

Para um trabalho jornalístico denominado “Entrevista Indesejada”, não teria sentido dispensar um dos pontos mais polêmicos da gestão de Luiz Marinho em São Bernardo. Luiz Fernando Teixeira é uma figura central do comando político, partidário e administrativo do Município. Mas outros questionamentos integram esta Entrevista Indesejada.

 

CapitalSocial decidiu encaminhar perguntas a Luiz Marinho entre outros motivos porque esta é uma ótima oportunidade para o prefeito de São Bernardo ir muito além de frases convencionais e de entrevistas amenas a alguns representantes da mídia regional. Luiz Marinho é avesso ao contraditório. E isso é péssimo para a cidadania regional, porque sua Administração é extremamente conservadora. Entenda-se como conservadora a forma de se relacionar com a sociedade. A interlocução é travada. Tem-se a impressão que qualquer pergunta que fuja ao modelo traçado pelo petista se configura agressiva.

 

Entrevista Indesejada, marca de independência de CapitalSocial que já provocou dores de cabeça a outros personagens da vida regional, não foi concebida como ferramenta de diplomacia inútil que geralmente permeia o jornalismo de levantamento de bola para gol de placa dos entrevistados. Entrevista Indesejada tem o potencial de um chute na canela do entrevistado. Potencial que só não se concretiza se o entrevistado reunir argumentos que se contraponham às estocadas incômodas. Acompanhem as perguntas: 

 

CapitalSocial – O senhor admite que o anúncio, em outubro de 2011, de que São Bernardo construiria um aeroporto internacional, ou seja, de grande porte, o que resolvemos chamar de Aeroportozão, não passou de precipitação, para não dizer outra coisa? Como explicar esse empreendimento num Município que só teria espaço se fosse sacrificada ainda mais a lei de proteção dos mananciais, porque exigiria em área equivalente ao território de São Caetano, de 15 quilômetros quadrados? O senhor fica irritado quando se coloca essa proposta entre as lorotas mais extraordinárias da história regional?

 

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – O senhor acha normal anunciar um aeroporto, seja qual o tamanho reservado, sem revelar os investidores privados e tampouco a área que seria utilizada? Não se trata de algo muito estranho, que transmite a sensação de que se protege um grupo empresarial ou se pretende promover especulação imobiliária nos mananciais?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Como se explica que após três anos do anúncio do chamado Aeroportozão o ministro da área não tenha recebido um projeto sequer sobre o empreendimento, dito isso pelo próprio ministro, Moreira Franco, durante uma visita a São Bernardo? O senhor não acha que está exagerando mesmo quando diz, sem o menor constrangimento sobre a origem do anúncio, que São Bernardo recepcionará um aeroporto de pequeno porte, ou seja, para voos de carga e descarga de aviões executivos?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – O senhor disse recentemente que não permitiria a construção de qualquer empreendimento imobiliário em espaço antes ocupado por indústria. O senhor tem conhecimento de que não está sendo levado a sério, entre outros motivos porque a atração de  empresas é cada vez mais problemática em São Bernardo e os espaços urbanos não podem ser discriminadamente negados à construção de moradias, já que feriria a própria legislação de uso e ocupação do solo?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Por que o tratamento a questões como uso e ocupação do solo é tão obscuro em São Bernardo? Diante da constatação histórica de que o setor imobiliário é um dos mais abusivos, com casos de corrupção em profusão, o senhor acredita que a ausência de transparência é a melhor política-administrativa? Por que o senhor não promove um balanço anual público sobre as mudanças que se consolidaram no território de São Bernardo?  

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial -- A verticalização imobiliária continua a correr solta em São Bernardo, como em outras tantas localidades metropolitanas, com prejuízos enormes à mobilidade urbana. Não lhe passou pela cabeça a ideia de dar exemplo de inquietação com o futuro metropolitano introduzindo medidas que disciplinem para valer a construção civil?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Santo André é o único Município da Província do Grande ABC a adotar uma legislação de uso e ocupação do solo que permite a multiplicação de pequenos construtores em estreita sintonia com o projeto federal Minha Casa Minha Vida. Por que a Prefeitura de São Bernardo não adota politica semelhante em vez de privilegiar grandes corporações imobiliárias?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Denunciamos as irregularidades que marcaram a licitação pública que culminou no arremate fraudulento da área em que a MBigucci constrói um empreendimento imobiliário, o Marco Zero, entre a Avenida Kennedy e a Avenida Senador Vergueiro. O então procurador-geral do Município de São Bernardo, cargo que pertence ao Executivo, garantiu que agiria para punir os responsáveis.  Na sequência, o que tivemos foi o que chamamos de engavetamento do processo. Tempos depois o procurador-geral deixou a Prefeitura. Como se explica essa fragilidade investigatória das instâncias internas da Prefeitura de São Bernardo? O senhor se preocupou alguma vez em esmiuçar o problema ou o relacionamento com o presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários é mais importante?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Sua Administração mantinha distanciamento quase leproso do Clube dos Especuladores Imobiliários, dirigido pelo empresário Milton Bigucci. Tempos depois, coincidentemente após o descaso na apuração da irregularidade do empreendimento no terreno irregularmente conquistado pela MBigucci, sua Administração e aquele dirigente passaram a viver em lua de mel. O senhor, inclusive, chegou a prefaciar um dos livros que o empresário lançou. Como se explica essa mudança?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Caso sua Administração fosse combatente para valer aos malfeitos denunciados pela mídia, não seria correto imaginar que, ante as irregularidades apontadas na licitação do terreno arrematado pela MBigucci, se sensibilizasse o Legislativo de São Bernardo a criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as responsabilidades daquele ilícito? Não cabe uma resposta de que Executivo e Legislativo são poderes independentes porque todo mundo sabe que a bancada de sustentação de um administrador municipal está sempre pronta a atender todos os pedidos.

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Por qual razão o senhor não divulga com periodicidade regular e também com uma planilha de resultados o significado das chamadas outorgas onerosas, instrumento que permite elevar os níveis de construção do setor imobiliário? Não lhe parece que as outorgas onerosas são uma fonte de irregularidades que uma Administração que preze a seriedade e a transparência deveria escancarar em forma de informações?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Por falar em obscuridade, quem eram os proprietários das áreas onde será construída a fábrica de estruturas do projeto Gripem? Há informações desencontradas sobre aquele espaço, inclusive com versões sobre vantagens negociais por conta de ações pouco ortodoxas. Como um negócio de tamanho vulto, que envolve recursos públicos, já que os custos do Gripem serão bancados pelo orçamento federal, não conta com qualquer preocupação em termos éticos?

 

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Por falar em termos éticos, como o senhor explica as relações com o agora eleito deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, muito íntimo do poder municipal a ponto de ser considerado um supersecretário? Não falta quem remeta a aproximação do senhor com o também presidente do São Bernardo Futebol Clube às relações entre Fernando Collor de Mello e Paulo César Farias. Quem é afinal Luiz Fernando Teixeira para a gestão petista em São Bernardo?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Como o senhor se sente ao estar na vice-liderança de passivo do Observatório de Promessas e Lorotas, monitor de anúncios de obras e intervenções dos prefeitos do Grande ABC, superado apenas pelo prefeito de Santo André, Carlos Grana? Não lhe parece que tenha faltado planejamento, porque a distância entre o prometido e o realizado é estratosférica e até agora, após seis anos de mandatos, o senhor não entregou uma obra sequer entre as quase três dezenas que constam daquele Observatório?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – O senhor concorda com o tratamento que esta revista digital dispensa ao território regional, identificando-o como Província? Lembramos apenas que, embora tenha sido adotada por este jornalista, a expressão contou com apoio maciço de representantes da sociedade regional que atuavam no Conselho Editorial desta publicação. Apenas uma minoria foi contrária ao batismo de cunho crítico.

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – O senhor foi consultado pela direção do São Bernardo Futebol Clube sobre a aposentadoria da camisa 13 da agremiação, reservada ao ex-presidente Lula da Silva? O senhor considera válido misturar futebol e política quando se pretende massificar um representante esportivo da cidade? A mistura explícita entre futebol e política partidária é um caminho saudável?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – O senhor ainda acredita que um dia chegará ao Palácio dos Bandeirantes? Acha possível que um ex-sindicalista seja capaz de convencer a população do Estado de São Paulo que tanta ojeriza tem ao PT? O que pretende fazer quando encerrar seu segundo mandato na Prefeitura, tendo em vista eventual candidatura ao governo do Estado?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Temos revelado com base em dados oficiais que São Bernardo vem perdendo continuamente vitalidade econômica e social, com quebra dos valores reais do PIB e também da capacidade de gerar maior velocidade em mobilidade social, sempre comparando com os municípios economicamente mais fortes do Estado. A fragilização de São Bernardo é latente e se manteve inclusive durante os anos de fartura automotiva. O que fazer para mudar esse horizonte?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial -- Fosse o senhor um empresário premido pela concorrência globalizada, teria coragem de investir numa fábrica em São Bernardo levando-se em conta que a atuação sindical é considerada um dos vetores que elevam o Custo ABC? O senhor discorda daqueles que afirmam que já passou da hora de o sindicalismo da região observar com mais atenção o entorno de sua atuação, com consequências inibidoras a novos investimentos?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Não lhe parece um acinte, um descaso, o fato de São Bernardo não dispor de qualquer trabalho de pesquisa que extraia dados informativos que ajudem na construção de análises sobre os pontos positivos e negativos de contemplar o traçado sul do Rodoanel? Como um território pode ter seriedade no gerenciamento do uso e ocupação do solo sem contar com um conjunto de informações, entre as quais o impacto do traçado do Rodoanel no Município? O senhor acredita na frase cor-de-rosa do governador Geraldo Alckmin que, durante a inauguração do Rodoanel, disse que somos a melhor esquina do Brasil?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Depois de observar atentamente a série de anúncios de programas na área econômica divulgados por São Bernardo, chegamos à conclusão que há um excesso de propostas em contraposição à escassez de medidas resolutivas. Tenta-se agarrar o mundo com uma série de medidas mas nada de efetivo se dá no campo prático. Pode-se argumentar que são semeaduras para o futuro, mas isso é muito pouco, até porque há anúncios que não se sustentam, porque completamente divorciados da realidade. Exemplos são os vários Arranjos Produtivos Locais, que de APLs não têm nada, porque simplesmente conflitam com o escopo do enunciado, que pressupõe integração e complementaridade entre os agentes públicos, privados, acadêmicos e sindicais. Esse é um processo que demanda atenção permanente dos gestores públicos e é sabido que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo vive de apenas alguns profissionais e de frágil estrutura física e financeira.

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Por que o senhor não abre sua Administração a um grupo de especialistas da sociedade de São Bernardo para atuar como espécie de comitês de fábricas no acompanhamento das políticas públicas, com amplo direito a questionamento e propostas? Por que não faz o mesmo em relação ao Clube dos Prefeitos, do qual é presidente, chamando gente independente para ter voz nas reuniões? Será que o critério de participação só é válido nas relações trabalhistas? Relações entre o Poder Público e a Sociedade não mereceriam inovações que possibilitassem  série de garantias de que os recursos públicos em forma de impostos estão sendo devidamente bem administrados?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Por que o senhor desistiu de comandar o Clube dos Prefeitos pelo terceiro ano seguido, após estimular parceiros de jornada a preparar o terreno para a empreitada? O que o fez desistir da ideia de seguir adiante? O senhor disse que o dono do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto, ligou pessoalmente aos demais prefeitos da região para fazê-los crer que o melhor seria não permitir que continuasse à frente do Clube dos Prefeitos. O recuo não teria sinalizado alguma coisa que combinaria com a suposta impossibilidade de não ser comandado pelo tradicional jornal da região?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – Ainda sobre o Clube dos Prefeitos: como se explica que até quando perdurou a impossibilidade legal de o organismo receber recursos financeiros do governo federal o senhor jamais se interessou pela presidência e que, assim que houve a regulamentação, com promessa de mais de R$ 2 bilhões do PAC, Plano de Aceleração do Crescimento, com supervisão do organismo, o senhor decidiu ocupar o cargo e pleitear mudança estatutária para reeleger-se a um terceiro mandato?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – O Museu do Trabalho e do Trabalhador está praticamente com as obras paralisadas. O que é pior: a falta de recursos para dar continuidade ao projeto ou ter esquecido que o museu poderia ser uma referência à importância do capital e do trabalho em São Bernardo, não somente ao trabalho?

Luiz Marinho –

 

CapitalSocial – O senhor se calou sobre as obras do chamado teleférico, transporte reservado aos moradores de áreas topograficamente mais acidentadas. O projeto do teleférico morreu?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial -- Qual a dificuldade que o senhor encontra para abrir as planilhas do transporte coletivo em São Bernardo, mostrando à sociedade uma série de detalhes que poderiam eliminar ou recrudescer dúvidas sobre o gerenciamento do setor? Por que não se contrata uma auditoria independente para analisar as relações entre sua Administração e a concessionária de transporte público de São Bernardo de modo a transmitir aos contribuintes a certeza de que o dinheiro dos impostos está sendo aplicado sem favoritismos e vantagens inconfessas?

Luiz Marinho --

 

CapitalSocial – Por que São Bernardo, maior investidora de recursos financeiros na Fundação do ABC, instituição que presta serviços na área de saúde, jamais demonstrou preocupação com a rede de inconformidades gerenciais mas que por força de interesses transversais acabam desprezados à apuração? O senhor não se inquieta quando se afirma que a Fundação do ABC é  a maior caixa-preta da Província? Não valeria a pena passar a instituição a limpo?

Luiz Marinho – 

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