Política

Afinal, qual é o peso do voto
municipalista em outubro?

  DANIEL LIMA - 30/01/2024

Qual será o peso do prefeito Paulinho Serra que incidirá como capital eleitoral na algibeira de votos do candidato que apoiará em outubro próximo em Santo André? Essa pergunta vale para todos os prefeitos da região e também aos demais titulares do Executivo da Região Metropolitana de São Paulo. São Bernardo, Diadema, Mauá, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, na região, vão fazer os novos prefeitos ou reeleger os habilitados levando-se em conta quais vetores?

Somente uma pesquisa muito bem elaborada poderia aferir com alguma margem de segurança como o eleitor vai entender o apoio, por exemplo, de Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio, que não podem concorrer a nova disputa.

Para ser mais objetivo: que influencia terá o ambiente estritamente municipal dos eleitores das cidades da região na definição de votos? E o cenário estadual isoladamente ou associado ao cenário nacional? As redes sociais estão aí para potencializar essa equação, dominadas pelo ambiente político nacional.

LULA, BOLSONARO, TARCÍSIO

Trocando ainda mais em miúdos: até que ponto três estrelas da politica nacional influenciarão os resultados às prefeituras da região? Como Lula da Silva, Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas vão fertilizar o voto combinado com os fatores locais e também com fatores exclusivamente ou conjugados estaduais e federais?

Lula terá mais influência no voto a ser definido às prefeituras da região do que Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas separados ou juntos?

Quem tem coragem de responder a esses questionamentos não pode munir-se apenas de voluntarismo. É necessário contar com dados empíricos, que pesquisas específicas poderiam responder ou dar alguma luz, porque a missão seria desafiadora.

MUNDOS DIFERENTES

Vou exercitar um pouco essa questão para ver se consigo entender o que pretendo. Antes disso, como espécie de resumo da ópera, não tenho dúvidas de que o voto municipal será influenciado por fatores estaduais e federais. Muito mais que na maioria das cidades de pequeno e médio porte do Interior do Estado, nas quais as disputas municipais são fortemente municipalizadas, com perdão da redundância. Quanto menos registros de relacionamentos sociais metropolitanos, quanto menos vida metropolitana, mais os votos de cunho municipalista prevalecem.

Nas regiões metropolitanas a situação é diferente, muito diferente. No caso da Grande São Paulo, são 22 milhões de habitantes. Mesmo as cidades de pequeno porte dessa área terão algum grau de sensibilização extra, do governo estadual e do governo federal. E também, num escala menos relevante, do governo municipal da Capital do Estado.

Há uma forte inflexão socioeconômica na metrópole que não pode ser ignorada. Quem mora na Grande São Paulo é cidadão metropolitano. Com ativos e passivos de vida metropolitana.

DISPUTA ACIRRADA

O caso possivelmente mais emblemático e até certo ponto fortemente explicitador de que a estadualização e a federalização do voto municipalista teria uma camada superior à dos demais municípios da região é São Bernardo. Berço do PT do presidente da República, o peso da federalização será potencial complicação à eleição do candidato do prefeito Orlando Morando.

O que deveria fazer a campanha de Orlando Morando para abrandar o potencial petista em São Bernardo, considerando-se que Lula da Silva é mesmo o candidato que empurraria para valer o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira? Sem Lula da Silva, Luiz Fernando Teixeira seria um candidato-pangaré, sem lastro à competitividade, porque é inexpressivo como agente público municipal. Com Lula da Silva a embalá-lo, passa a um patamar de respeitabilidade.

Embora conte com potenciais e mais que esperados suportes de Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro pelo simples fato de ser antipetista, Orlando Morando possivelmente vai coordenar a campanha de sucessão tendo em vista uma pauta municipalista.

A REBOQUE DE LULA

O tom deverá convergir para os dois mandatos de excelentes resultados no cômputo geral. Não se pode esquecer que Orlando Morando pegou uma São Bernardo destruída pelo PT. O PIB foi rebaixado em quase 50%, na maior catástrofe municipal de todos os tempos.

Os dois ativos – um governo competente e os escombros petistas – poderão fluir em conjunto para fortalecer a doutrina municipalista rumo à consagração do candidato da situação ainda desconhecido.

Já o PT de Luiz Fernando Teixeira, sem ativos respeitáveis em São Bernardo, teria mesmo de recorrer à pauta de esquerda e principalmente aos ativos subjacentes na imaginação de uma população de operários.

A calibragem dos fatores municipais, estaduais e federais daria, portanto, dará encaminhamento ao resultado final.

A vitória de Lula da Silva nas últimas eleições presidenciais em São Bernardo é uma reserva de muito valor para o candidato Luiz Fernando Teixeira. Entretanto, não se pode desconsiderar que Lula e o PT são uma coisa, e Luiz Fernando Teixeira é outra. O repasse dos votos não seria de magnitude automática. Até porque não se pode duvidar que até outubro o ambiente macroeconômico nacional estaria menos satisfatório que o atual. O PT Federal já está em campanha municipal porque sabe que não tem tempo a perder.

Também não se pode desconsiderar os cálculos que fiz ao fim da disputa presidencial do ano passado. Entre o primeiro e o segundo turno da corrida Lula versus Bolsonaro (e algo semelhante também ocorreu entre Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad), os candidatos conservadores obtiveram maioria dos votos de eleitores que no primeiro turno não votaram em nenhum deles. 

BOTAFOGO POLÍTICO?

Em Santo André o cenário é outro. Já foi jogo resolvido e agora é jogo enigmático. O peso de Paulinho Serra Bom de Voto no apontamento do candidato exige um tempo de ponderação. A situação está embaralhada demais. Expectativas de indicação do candidato a prefeito frondosas estão sendo substituídas por desencantos e fissuras. Os ativos de Paulinho Serra podem ser estilhaçados com divisionismos.

A candidatura do vereador Eduardo Leite, do PSB, parece determinadíssima. Com apoio a Eduardo Leite do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin no primeiro turno e um suporte adicional do PT no segundo turno, o candidato apontado por Paulinho Serra estaria enquadrado num cubículo de interrogações.

Já comparam Paulinho Serra, nessa perspectiva, ao Botafogo do último Campeonato Brasileiro – um cavalo paraguaio que demorou para se mostrar cavalo paraguaio, mas quando se mostrou, dançou feio.

BUSCANDO SAÍDAS

A possível alternativa para Paulinho Serra seria mesmo buscar uma composição que manteria o que integra o espectro de sua administração: o apoio escondido, envergonhado mas essencial do conglomerado petista, do qual o PSB faz parte.  Teria de neutralizar a candidatura de Eduardo Leite, ex-petista.

Outra saída para Paulinho Serra é buscar reforço no balcão de votos dos conservadores Gilberto Kassab, Valdemar Costa Neto e Tarcísio de Freitas.   A solução parece possível, mas falta combinar com parte do grupo embalado o tempo todo pela perspectiva de ser o candidato preferido do grupo de Paulinho Serra.

Dissidências ainda não explicitadas deverão compor uma zona de horrores. Paulinho Serra fez uma costura tática em que o prestígio popular o faria cabo eleitoral de um poste, mas exagerou na dose de soberba e contradições e agora pode ser eletrocutado.

O que acontecer a Paulinho Serra na disputa pelo controle do PSDB em São Paulo, presidente provisório e hostilizado pelo grupo de Aécio Neves, influenciará decisivamente no apontamento do candidato do Paço Municipal.

MANDO DE JOGO

Em São Caetano, o conservadorismo sempre vitorioso, mesmo quando não se trata da reeleição ou sucessão do incumbente, faz da disputa municipal potencial vitória de quem tem mais peças da engrenagem do poder.

Quem tem o mando de jogo, ou seja, quem ocupa o Palácio da Cerâmica, praticamente festeja o título. É preciso muita coisa estranha para que alguma coisa diferente ocorra. Paulo Pinheiro se elegeu prefeito em 2012 porque era conservador, a adversária Regina Maura foi criminalizada por ser mulher e o PT Regional de dinheiro a rodo bancou a campanha vencedora, em troca de dezenas de cargos.

Agora a situação é outra: Regina Maura, a candidata, é uma mulher com crédito junto à consciência machista da cidade que a discriminou, o PT dificilmente vai se meter na engrenagem de votos e ao principal candidato de oposição, o jovem Fabio Palacio, os recursos financeiros são escassos. Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro são praticamente dispensáveis porque pesarão pouco numa São Caetano que não nutre paixão alguma por Lula da Silva e a esquerda.

As outras disputas municipais na região ficam para outra ocasião. Os números de pesquisas eleitorais em Diadema surpreendem porque o favoritismo do prefeito José de Filippi Júnior está abaixo do que se poderia supor, petista que é em quarto mandato. Em Mauá, sobram candidatos. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra são complementos.

Leia mais matérias desta seção: