Entrevista Especial

Primeira resposta que
Bigucci jamais daria

  DANIEL LIMA - 19/03/2024

Vamos cumprir a partir de hoje promessa editorial da série “Entrevista Especial”. Combinamos com os leitores que perguntas enviadas aos entrevistados seriam respondidas pelos entrevistados com toda a autonomia que a democracia informativa exige.

Combinamos também que eventuais refratários teriam as respostas respondidas por este jornalista. É o que vamos fazer a partir de hoje. Segue a primeira pergunta enviada a Milton Bigucci e a resposta que ele jamais daria:

CAPITALSOCIAL – Qual é o perfil de prefeito que o senhor gostaria que prevalecesse na região a partir do ano que vem, especialmente em Santo André, São Bernardo e São Caetano, localidades nas quais os atuais titulares não poderão disputar a corrida eleitoral e que são os maiores mercados imobiliários locais?

RESPOSTA – Nenhum perfil de prefeito para o empresário do mercado imobiliário agrada mais à corporação que ele dirige e, desde sempre também, a organização dito institucional a seu serviço desde 1988, quando foi criada, do que chefe de Executivo submisso aos delírios de verticalização da paisagem urbana, entre outras demandas menos visíveis.

Milton Bigucci comanda o Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC (oficialmente Associação dos Construtores, Incorporadores e Imobiliárias) com a solidariedade pungente de um menino que só divide o doce com amigos se os amigos oferecerem alguma coisa interessante em troca. 

A entidade da qual Milton Bigucci deixou de ser eterno presidente, consequência de críticas deste jornalista, continua sob o controle da Família Bigucci. Portanto, está a léguas de distância de qualquer compromisso com a sociedade, mesmo uma sociedade desorganizada como é a sociedade da região.

O mandachuva do Clube dos Construtores, portanto, quer prefeitos que lhe ofereçam todos os requisitos de privilégios a uma atividade que está longe de merecer respeito da sociedade exatamente porque jamais respeitou a sociedade. Os nacos que existem, de empreendedores do setor que não são simplesmente empresários, só confirmam o desastre final.

O Grande ABC é uma terra de ninguém em logística urbana também porque nas últimas três décadas sofreu consequências do pantagruelismo voraz de um capitalismo selvagem em forma de construção civil, notadamente de torres residenciais e comerciais.

Temos uma bem azeitada máquina de domínio do espaço público a partir do controle nefasto de uma legislação inspirada (e isso foi dito ainda recentemente por um filho da dinastia dos Biguccis) nas extravagâncias e abusos de Camboriú, cidade do litoral de Santo Catarina onde estão as maiores torres residenciais do País. Do chão para cima não há limites éticos. Nem ambientais.  

Camboriú é um mundo que até pode não ser completamente infernal, porque banhado por águas do mar e movido a entretenimento todos os dias da semana diante da avalanche de turistas, mas a reprodução do modelo seria ainda mais comprometedora numa megalópoles como a Grande São Paulo, notadamente num Grande ABC de desenhos ilógicos de privilégios.

Milton Bigucci jamais vai enfrentar para valer e com transparência qualquer debate sério que confronte as insanidades do mercado imobiliário de mandachuvas resistentes tanto ao contraditório em forma de jornalismo quanto de enfrentamento de barreiras legislativas, estas mais maleáveis e suscetíveis a cantos de sereias exploratórias da qualidade de vida prometida e jamais entregue. Exceto se qualidade de vida for algo como se meter no trânsito adentro para mais um dia de trabalho duro com retorno igualmente diário e igualmente sofrido.

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