Política

Quando eleitor decide
escolher o prefeito?

  DANIEL LIMA - 26/04/2024

Juntei duas coisas semelhantes ou assemelhadas e deu numa coisa que preciso contar para os leitores que também são eleitores e torcedores, quando não trouxas de cabo a rabo por acreditarem em certas coisas que também acredito.

O negócio é o seguinte em forma de pergunta de resposta complexa: quando o eleitor decide para valer em quem vai votar para prefeito?

Preciso repetir ou desenhar? Acho que preciso repetir e desenhar, porque a pergunta desafia respostas que tenham nexo com o que chamaria de conhecimento da realidade.

Vamos em frente, então? Vou me ater principalmente à geopolítica do Grande ABC dentro de uma Região Metropolitana ensandecida em que sobra pouco tempo a reflexões que levem em conta nestas alturas do campeonato quais as melhores opções ou as piores alternativas para cada Município.

DESCONHECMENTO AMPLO

A ideia de escrever esse texto vem de dois referenciais, um de minha própria cabeça e outro de uma declaração do prefeito Orlando Morando outro dia ao ABC em OFF, site especializado em ouvir principalmente as autoridades públicas.

Entro em campo com metade da autoria da ideia desse texto porque não é de hoje e sempre ficarei atento à situação: as pesquisas pré-eleitorais já divulgadas na região colocam em média 70% dos eleitores em situação de desconhecimento  quanto ao voto  para prefeito. Desconhecimento mesmo.

Na média das mais recentes abordagens, 70% dos eleitores não sabem apontar um candidato sequer como resposta à pergunta “em quem você vai votar para prefeito nas próximas eleições” sem o auxílio da cartela que relaciona todos os concorrente.

Traduzindo: no voto espontâneo, que é o voto consolidado, aquele que o eleitor responde de bate-pronto à pergunta sobre em que vai votar, apenas três em 10 dão nomes aos bois. E mesmo assim em muitos casos, na maioria dos casos, dá nomes errados aos bois. Um exemplo? prefeitos que não podem concorrer a nova reeleição. Trocando em miúdos: é um show de ignorância ou alheamento eleitoral.

APAGÃO GENERALIZADO

Imaginei que a situação de tanto desperdício do voto espontâneo tivesse como causa o gataborralheirismo geopolítico da região em relação á reluzente Capital. Ou seja, o Complexo de Gata Borralheira em estado político puro.

Mas não é exatamente isso ou tudo isso: na Capital, nas pesquisas para a Prefeitura, os institutos apontam em média 60% de desconhecimento, de voto espontâneo jogado às traças.

A diferença de 10 pontos percentuais é bastante discreta. Entendia até então que seria muito maior. Vamos acompanhar a próximas pesquisas para ver a evolução comparativa desses dados. A tendência é a de que a Capital avançará mais no voto espontâneo porque é a Cinderela dessa história.

Não quero aprofundar as razões que levam 70% dos eleitores da região a desprezarem nestes dias as eleições de outubro, além do que já expus acima. Há razões sociológicas a decifrar esse enigma, mas, sobretudo, o ritmo de vida nas metrópoles, com a massa de trabalhadores deslocando-se arduamente a cada dia entre casa-trabalho-casa. Definitivamente, isso não é vida de gente, mas é a vida que temos.

15 DIAS DECISIVOS?

Agora entra em campo a declaração do prefeito Orlando Morando na entrevista mencionada. Disse o prefeito de São Bernardo que os eleitores, em geral, decidem em quem vai votar apenas nos últimos 15 dias. Fiquei fulo de raiva por não terem perguntado ao entrevistado as razões que o levariam a essa resposta, que merece um capítulo à parte.

Aliás, essa questão de temporalidade do voto para prefeito merece muito mais que uma pergunta suplementar. Deveria provocar um encontro específico dos ditos especialistas políticos para averiguarem a fundo até que ponto o prefeito Orlando Morando tem razão.

Não sei sinceramente se o prefeito Morando diria fosse perguntado o que vou escrever agora sendo desafiado por mim mesmo. E o que digo sobre o voto decidido nos últimos 15 dias? Diria sem medo de quebrar a cara na parede da coerência que se trata do resultado final de uma corrida decisória que começa bem antes, não necessariamente agora, não descaradamente agora, mas que, certamente já começou.

VOTO EM CAMADAS

O voto para prefeito decidido nos últimos 15 dias em larga escala é o voto escolhido no dia a dia complicado de cada um. Os eleitores em geral que vão escolher os prefeitos da região em outubro já estão sendo alimentados por informações críticas ou adocicadas há muito tempo, mas não as revigoram sensorialmente. Preferem  uma espécie de descarte ou subestimação em graus diferentes, num processo biodegradável. Sobram sempre alguns fiapos aqui e ali de memórias avaliativas, positivas e negativas, que, em algum momento na corrida do tempo até outubro, vão ganhar corpo e forma que desembocarão nas urnas.

Traduzindo: em algum grau representativo, Orlando Morando tem razão mas tem razão mesmo nessa proporção se o que disse aos entrevistados que nada perguntaram a respeito do assunto continha essa conotação não explicitada. E acho que tinha.

Orlando Morando não é bobo nem nada e não iria lançar a sobrinha à sucessão municipal caso não levasse em conta tanto a memória eleitoral que é o seu maior patrimônio de terceirização do voto como não trataria de botar sebo nas canelas ao levar a jovem advogada e empresária às lides de espaços especialmente nas redes sociais.

Nada diferente de outros prefeitos que não podem concorrer mais à reeleição e que já definiram seus indicados. Basta ver o secretário Gilvan Junior colocado ao prefeito Paulinho Serra em todos os eventos.

VOTO A CADA DIA

Para fazer a lição de casa e deixar tudo esclarecido, ou encaminhado ao esclarecimento, então ficamos assim: voto para prefeito em cidade grande de região metropolitana como são os casos de vários endereços locais é voto que se assenta a cada dia que se acorda e se dorme mas de uma forma bastante lenta, gradual mas irreversível em premissas que desaguarão lá adiante.

Estamos combinados? Ou estou a desfilar bobagens? Acho que não seria redundância dizer também que,  mais que votos de hoje que as pesquisas eleitorais captam na região, e que são votos em larga escala vulneráveis porque são votos estimulados, ou seja, a segunda etapa da derrocada dos votos espontâneos, repetindo, mais que os votos de hoje, o que os especialistas procuram entender,  é como será o formato dos votos do futuro próximo.

É nesse ponto que entram as pesquisas qualitativas, com grupos específicos de eleitores, e também os votos de campo que prescrutam ou procuram prescrutar caminhos comportamentais da massa de eleitores.

Por essas e outras o que não falta na praça são mineradores de votos, gente que se decide a tentar perscrutar o futuro das urnas sem deixar de lado, muito pelo contrário, a geologia eleitoral do passado, no qual os mapas eleitorais de quem já foi às urnas para eleger prefeitos e vereadores geralmente expõem cardápios instigantes.

SEM GRANDES RUPTURAS

Ou alguém acredita na bobagem de que de uma eleição para outra, sempre na esfera municipal, há transformações abruptas? Um reduto em que prevalece o voto assistencialista será potencialmente muito mais interessante a concorrentes assistencialistas, ao passo que uma área de classe média com propensão, por exemplo, à segurança pública, vai ser mais suscetível a pregações conservadoras.

O que temos portanto é que para procurar desenhar o mapa eleitoral de um determinado candidato à Prefeitura tanto é indispensável olhar para o passado recente que envolve características especificas do eleitorado quanto as tendências de mudanças nem sempre perceptíveis.

Quando se verifica que, pela primeira vez, para valer mesmo, o voto para prefeito na região e em tantas outras geografias vai também incorporar o ambiente estadual e federal, com algumas lideranças que sustentam a polaridade Direita versus Esquerda, quando se verifica isso, os desafios são ainda maiores.

INFLUÊNCIAS EXTERNAS

Some-se, portanto, a indiferença ou a pouca aderência dos eleitores ao ambiente politico municipal de agora e mesmo de alguns novos meses e a polaridade nacional, principalmente, o que teremos em outubro é ainda um estranho quadro que comporta cuidados avaliativos. 

Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e mesmo Geraldo Alckmin têm algumas elevadas porções de influência no voto municipal que podem, em disputas acirradas, fazer a diferença. Mas isso é uma especulação. O melhor mesmo é esperar.

Os 15 últimos dias podem mesmo ser decisivos, como consequência dos meses sobrepostos em camadas de metamorfoses ditadas entre outros motivos por maquininhas diabólicas e seus aplicativos espetaculares. Maquininhas diabólicas que autoridades autoritárias e mídias que sempre desempenharam o papel nocivo de controladoras da opinião publicada querem banir,  frear ou qualquer coisa sem relação para valer com democracia.

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