Economia

Vizinhança surra Grande ABC
nos anos de FHC/Lula/Dilma

  DANIEL LIMA - 27/01/2022

Na sequência do que começamos a analisar ontem e que terá ainda mais edições além desta, a acentuada queda da riqueza produzida em forma de Valor Adicionado durante os 22 anos dos governos FHC, Lula da Silva e Dilma Rousseff é uma especificidade dolorosa do Grande ABC. Também ou principalmente quando se compara com a vizinhança mais próxima, no caso Guarulhos, Osasco e Barueri.  

Os resultados do G-3 Metropolitano são muito melhores. Uma das explicações é a construção do Rodoanel, especialmente dos trechos Oeste e Sul. O Grande ABC perdeu a corrida de competitividade que já rateava por conta entre outros pontos do sindicalismo bravio, reestruturante mas bravio.   

O Grande ABC perdeu a viscosidade econômica desde muito tempo mas, nesse período de 22 anos, tornou-se um carro desgovernado. Apesar de, ainda maior fabricante de veículos no País.  

Valor Adicionado é espécie de PIB (Produto Interno Bruto) líquido, livre de impostos. Mede com grande eficiência a temperatura econômica dos municípios. E o Grande ABC teria muito a ganhar nos 22 anos se houvesse sido congelado em situação já preocupante.  

FORA DO RADAR  

Como o Valor Adicionado não foi congelado, derreteram-se as calotas de incompatibilidades concorrenciais. Traduzindo: ficou fora do foco de investimentos e produção ante à vizinhança mais próxima.  

Numa rapidíssima explicação macrocontextual para que se entendam as informações que se seguem, há pelo menos dois vetores de gravíssimas importâncias a definirem um divisor de águas do comportamento da economia do Grande ABC e da vizinhança à Oeste e à Norte na Região Metropolitana de São Paulo. 

O primeiro está sobreposto ao segundo, ou se encavalam porque se tornaram indissociáveis até que tudo se esgote.  

O primeiro é a herança maldita de o Grande ABC ter sido região pioneira na industrialização automotiva, a partir de metade do século passado.  

VANTAGENS SUPERADAS  

Quem chega primeiro tem vantagens que viram desvantagens na medida em que o tempo passa e as providências de modernização não brotam.  

O Grande ABC também é um veículo desgovernado em competitividade industrial, sobremodo nas atividades automotivas, a mais feroz do mundo.  

Perdemos o ritmo e desabamos. Mas ainda dependemos demais de montadoras e autopeças, principalmente. O efeito-contaminação impactou outras atividades. E seguirá impactando.  

Segundo, a partir do começo do século, chegou o trecho Oeste do Rodoanel, que colocou Osasco e vizinhança na cara do gol de investimentos e repaginação econômica.  

Depois veio o trecho Sul, que contempla geograficamente o Grande ABC. Apenas geograficamente, porque não tem intimidade nenhuma ou quase nenhuma com o Grande ABC se o assunto é Economia.  

OSASCO PREMIADA  

O trecho Sul, saudado com festas, beneficiou mesmo e para valer Osasco e áreas próximas, juntando-se ao trecho Oeste como fator de desequilíbrio.  

O pior de tudo isso, ou seja, desse voo panorâmico que acabo de realizar para apontar apenas dois dos pontos cruciais da derrocada regional, é que ainda há interlocutores institucionais do Grande ABC que exaltam supostos benefícios econômicos do Rodoanel.  

Como se observa, é uma estultice sem limites porque não resiste a qualquer sabatina crítica.  

Uma situação de alto risco que vai se ampliar quando internamente, no inferno de mobilidade urbana da região, se acrescentarem linhas de metrô ou de qualquer modal coletivo: a debandada de consumidores, agora rumo à Capital, será igualmente letal. Está aí a estrada ferroviária como prova menos badalada. 

Ou seja: por mais que um investimento público pareça excelente, nada resiste à ausência de competência gerencial da região. O Rodoanel e o metrô, quando chegar o metrô, vão se completar como roteiro da via-crúcis econômica do Grande ABC.  

NEM CHEFE NEM CHEFIADOS  

Por que tantos estragos? Porque o Grande ABC não tem chefe, não tem liderados, não tem lideranças, não tem nada. O Estado, em forma de sete municípios, não funciona. É refratário a mobilizações. As instituições civis são uma lástima. Analfabetas economicamente.  

E, para completar o circo de horrores, a sociedade, que mal tem tempo para se virar nos trinta da labuta diária, sofre com a falta de gente qualificada e disposta a planejar o futuro que sempre chega em forma de presente de grego.   

Dando números à desgraceira dos 22 anos: enquanto os sete municípios do Grande ABC cresceram nominalmente (sem considerar a inflação do período) abaixo da deterioração da moeda nacional, o conjunto formado por Barueri, Guarulhos e Osasco avançou fortemente.  

Para o crescimento nominal de 336,40% do Grande ABC (contra um IPCA de 369,85%, o G-3 Metropolitano avançou também nominalmente 712,57%. Quase o dobro, portanto.  

SÓ ACOMPANHANDO  

É impossível ficar insensível diante de tamanha catástrofe? Qual nada: ainda somos um Titanic no sentido de que os músicos do triunfalismo provinciano e acrítico seguem em ação enquanto os tripulantes e passageiros do Desenvolvimento Econômico em pandarecos procuram a solução de salvamento individualizado.  

Solidariedade em qualquer sentido, inclusive de aglutinação de forças institucionais, é fetiche de prevaricadores. 

Ainda não será nesta edição que vamos discriminar os dados do Valor Adicionado durante os 22 anos de Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff, estabelecendo confrontos individuais dos sete municípios do Grande ABC e os três da vizinhança. Talvez sejam incluídos outros três, agora do Interior do Estado, no caso Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.  

Esses seis municípios (o G-3 Metropolitano e o G-3 Interiorano) somam-se aos cinco maiores endereços do Grande ABC como integrantes do G-22, o Clube das 20 maiores cidades do Estado de São Paulo, exceto a Capital. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão no grupo apenas por formalidade à composição do Grande ABC.  

SEMPRE ABAIXO  

A constatação que não é deste texto -- porque vem do passado, de que o Grande ABC é o patinho feio do Desenvolvimento Econômico no Estado de São Paulo neste século -- fica evidente também na comparação dos números do Valor Adicionado dos 22 anos que ligam tucanos e petistas à frente do Palácio do Planalto.  

O ritmo de velocidade do Valor Adicionado no período é a prova disso: avançar como o Grande ABC avançou abaixo da inflação do período, enquanto Guarulhos, Osasco e Barueri nadaram de braçadas, é a prova provada de que os problemas da região são mais que circunstanciais, como pretendem fazer crer alguns ilusionistas. Trata-se de evidente depauperação estrutural.  

Perdemos a competitividade econômica ao longo das duas décadas finais do século passado, numa derrocada gradual que, ao chegar na virada do século, já dava sinais de que poderia se agravar.  

Tanto que o legado de Fernando Henrique Cardoso foi um descalabro. Nem a chegada do novo século e a ascensão de Lula da Silva, fruto político-sindical de São Bernardo, salvaram a prática regional. Durante um período, até que Lula da Silva devolveu parte dos empregos perdidos com Fernando Henrique Cardoso, mas logo a realidade se impôs.  

Os anabolizantes em forma de commodities que levaram o Brasil a crescimento contínuo no segundo mandato do petista se esgotaram não só na queda da balança comercial, mas sobremodo na gastança sem planejamento e inflacionária que a sucessora Dilma Rousseff implementou para tentar segurar o rojão de descaminhos anteriores.  

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