Economia

Santo André de Paulinho Serra
tem maior déficit de emprego

  DANIEL LIMA - 22/03/2023

O emprego industrial do Grande ABC ainda não conseguiu sair do fundo do poço deixado pela então presidente Dilma Rousseff. E o caso mais renitente de perda é registrado por Santo André. Há déficit de quase 10 mil empregos com carteira assinada na região desde que Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio assumiram as prefeituras em janeiro de 2017. O estoque de perda de Santo André é o maior. Houve queda de 10,36%.  

Portanto, seis anos já se passaram e os prefeitos de Santo André, São Bernardo e São Caetano, eleitos em outubro de 2016, ainda não conseguiram zerar o déficit de emprego industrial com carteira assinada pós-recessão com a então presidente Dilma Rousseff. Terão mais dois anos para tanto.  

Esta é uma nova edição reservada ao Observatório de Empregos do G-7, criado por CapitalSocial e que brevemente se tornará editoria específica. Trata-se de decisão editorial que dá uniformidade a uma imensidão de análises desta revista digital e da antecessora de papel, LivreMercado, sobre o mercado de trabalho no Grande ABC. 

ÚNICO ENDEREÇO  

CapitalSocial/LivreMercado é a única mídia regional a dar consistente análise da situação de histórica e comprometedora quebra do tecido industrial do Grande ABC.  

Desde 1985, nada menos que o equivalente a 291 fábricas da Toyota, que acaba de deixar São Bernardo, desapareceram em forma de emprego industrial no Grande ABC.  

O setor responsável pelo maior peso de mobilidade de classe não dá sinais de que teria respostas consistentes à derrocada.  

Tanto é verdade que nem mesmo os números que se seguem pós-desastre de Dilma Rousseff ganham cores positivas.  

PEQUENOS SOFREM  

A pergunta que se poderia fazer é como o prefeito de Santo André tem mais déficit a eliminar ou a reduzir se Santo André não perdeu nenhuma grande indústria, dessas grandonas, famosas, enquanto São Bernardo viu a Ford bater assas, a Toyota dar o fora como outras menos midiáticas? 

Esse é um grande desafio a ser descoberto em detalhes, mas para tanto seria preciso penetrar para valer nas entranhas da Prefeitura. Provavelmente não seria possível sair com uma resposta.  

O mais provável, porque quase certeiro, é que Santo André segue histórico camuflado pela indústria química e petroquímica, que gera muito Valor Adicionado, parente próximo do PIB (Produto Interno Bruto), e, com isso, disfarça ou minimiza as perdas de produção de outras atividades que têm pequenas empresas do setor como vítimas preferenciais.  

Foi assim que se deu a maior parcela da desindustrialização de Santo André ao longo principalmente das duas últimas décadas do século passado. Sobretudo durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, mas também antes disso, por conta de atividades sindicais e da guerra fiscal.  

FUNDO DO POÇO  

Antes de passar aos dados dos seis anos pós-Dilma Rousseff (dois complementares com Michel Temer e quatro com Jair Bolsonaro, uma pandemia e uma guerra de efeitos globais) é melhor explicar o conceito de déficit de emprego industrial, que se assemelha a todas as métricas de variadas temáticas quando se trata de enquadrar sob o mesmo conceito de tamanho o que é de tamanho diferente. 

O balanço que extrai os dados dos prefeitos dos três mais tradicionais municípios do Grande ABC leva em conta o estoque de empregos industriais formais existente em dezembro de 2016, ou seja, o segundo ano dos dois da maior recessão da história do País.  

No período daqueles 24 meses, o Grande ABC perdeu 20% do PIB Geral, que é a soma de todas as riquezas produzidas. E a quebra de 81 mil empregos industriais formais no período.  

O Grande ABC jamais viu tamanho emagrecimento do emprego industrial. Os números são semelhantes aos do governo Fernando Henrique Cardoso. A diferença é que foram oito anos do tucano na presidência da República. 

SEIS ANOS DE DADOS  

A queda ou o crescimento do estoque de emprego formal na indústria é o confronto do que existia em dezembro de 2016 e o que passou a existir em dezembro de 2022; ou seja, os seis anos de dois mandatos de cada um dos três prefeitos analisados.  

Juntos, Santo André, São Bernardo e São Caetano ainda registram déficit de 8.424 empregos formais industriais nos seis anos pós-Dilma. O total da região em números absolutos é um buraco de 9.129 carteiras assinadas.  

Diadema participa com 1.616 e Rio Grande da Serra com 495. Mauá e Ribeirão Pires reduziram o prejuízo da região: o saldo de Mauá é de 276 postos de trabalho, enquanto Ribeirão Pires é de 655. Em todos esses casos houve troca de comando nos paços municipais. Prefeitos em segundo mandato pós-Dilma Rousseff se restringem a Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio Júnior. 

MÉTRICA CORRETA  

Como é possível Santo André superar São Bernardo na contabilidade que leva em conta o estoque se a quantidade de perdas de empregos industriais formais é numericamente maior em São Bernardo?  

A resposta é tão simples quanto a medição de índice de homicídios, cuja métrica é a divisão dos casos pelo total da população. 

No caso do emprego formal que se escafedeu a população que serve de âncora a comparação é o total de trabalhadores do setor, ou seja, o estoque disponível em dezembro de 2016 e o que se registrou em dezembro do ano passado. 

Santo André está na primeira colocação quando se tem um ranking de cabeça para baixo, ou seja, um ranking negativo, porque perdeu 10,63% do estoque. Contava com 25.264 trabalhadores em 2016 e caiu para 23.054 em 2022.  

O déficit de Santo André é quase o dobro do registrado por São Bernardo no mesmo período. O estoque da cidade dirigida por Orlando Morando caiu 6,04%, resultado da quebra do estoque de 74.739 trabalhadores industriais para 70.227.  

CLÁSSICO EXPLICADO 

O saldo negativo de 4.512 postos de trabalho é superior em números absolutos a Santo André, mas é bem mais baixo quando se uniformiza estatisticamente territórios distintos em quantidade.  

Quem tem mais geralmente perde mais, mas em proporção ao que tinha, nesse caso, São Bernardo sofre menos.  

O resultado de São Caetano também fortemente ligada ao setor automotivo é semelhante ao de São Bernardo, com quebra do estoque de 6,10%: eram 20.106 trabalhadores em 2016 e passaram a ser 18.879 em dezembro do ano passado – quebra de 1.227.  

Diadema perdeu apenas 3,91% do emprego industrial do período: eram 41.312 e passaram a ser 39.696. Um perda líquida de 1.616 postos de trabalho. Mais que São Caetano, mas menos relativamente porque conta com maior universo de trabalhadores. 

PEQUENA DEMAIS  

Em termos relativos, Rio Grande da Serra é o Município da região mais duramente abatido pela recessão de Dilma Rousseff, mas, dado o tamanho do setor, não pode ser avaliado como um caso que afete a estrutura produtiva do Grande ABC.  

O estoque de Rio Grande da Serra, de 50 mil habitantes, registrava 1.606 trabalhadores industriais em 2016 e 1.111 em 2022. A quebra de 495 postos significou perda relativa de 30,82%. No conjunto do Grande ABC, Rio Grande da Serra conta com déficit de apenas 0,54% dos empregos registrados em dezembro de 2016. Bem menos que os 49,42% das 9.129 carteiras assinadas perdidas por São Bernardo. 

Ribeirão Pires e Mauá somam saldo positivo do estoque no ano passado frente a 2016. Em Ribeirão Pires o crescimento foi de 6,55%, fruto do confronto de 6.552 postos de trabalho registrados em 2016 e de 7.207 em 2022. No caso de Mauá, eram 20.957 carteiras assinadas industriais em 2016 ante 21.233 em 2022, com crescimento de 0,14% do estoque. O saldo líquido é de 276 carteiras assinadas. 

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