LIVOLIS ILUMINA PRESENTE 
 PARA PAULINHO BRILHAR              
   DANIEL LIMA - 03/07/2025
  DANIEL LIMA - 03/07/2025
A realidade nua e crua é a seguinte: o Esporte Clube Santo André pode cair nas garras do crime organizado, numa operação de SAF (Sociedade Anônima do Futebol) que há algum tempo vem-se ensaiando. Por isso, ouso sugerir o principal nome entre quase 800 mil habitantes da cidade para dar uma reviravolta na situação e o Santo André ganhar força para virar uma SAF de respeito e seguir como a principal referência cultural do Município.
O ex-prefeito Paulinho Serra, ovacionado pela mídia e consagrado nas urnas como o principal agente público de Santo André, é meu indicado, recomendado, carimbado e despachado para assumir a responsabilidade de representar a sociedade esportiva e social de Santo André.
Em conjunto com a diretoria do Santo André, Paulinho Serra marcaria nome da história do esporte. Espero que ele e seu entorno entendam a situação e tenham a dimensão da importância de agir. Essa é a melhor ou única saída que se observa no momento. De resto, é esperar desenlace nada exemplar.
O crime organizado quer o Santo André. Muita gente da Polícia sabe disso. Muita gente do Poder Público sabe disso. Muita gente da mídia sabe disso. O Ministério Público sabe disso. Só não sabe disso quem não quer saber disso.
MÁ EXPERIÊNCIA
Não vou entrar em detalhes de sugestões complementares para justificar além da obviedade já exposta a ideia de Paulinho Serra ser espécie de garoto-propaganda da salvação do Santo André. O roteiro estratégico, que é o mais importante de tudo, foi desenhado há 26 anos pelo então presidente do Santo André, Jairo Livolis.
A transformação do Santo André em clube-empresa mereceu três reportagens de capa da revista de papel LivreMercado, antecessora de CapitalSocial. A primeira das quais na edição de junho de 1999. As demais em 2006 e 2007.
O Santo André virou clube-empresa distinto do que pretendia Jairo Livolis em 2008, com a formação da Saged (Santo André Gestão Empresarial), integrada por duas dezenas de investidores. Foi um sucesso apenas temporário dentro de campo e um fracasso total fora de campo. Dentro de campo o Santo André tornou-se vice-campeão paulista em 2010, perdendo a finalíssima para o Santos de Robinho, Ganso e outros craques. E disputou na sequência a Série A do Campeonato Brasileiro. Foi rebaixado na mesma temporada. Quando a Saged perdeu o fôlego e voltou ao berço da direção do Esporte Clube Santo André, constava da Sexta Divisão do futebol brasileiro. Um desastre.
Depois de altos e baixos hierárquicos, desde o ano passado o Santo André está de volta à Sexta Divisão (Série A-2 do Campeonato Paulista) e, portanto, fora do circuito nacional. Ficou para trás. Não tem horizonte minimamente sustentável. O Departamento de Futebol Profissional foi terceirizado para a disputa da Copa Paulista. O Santo André parou no tempo enquanto muitos adversários avançaram, principalmente com parcerias de investidores.
PENDÊNCIA BUROCRÁTICA
Desde que o Congresso Nacional aprovou a legislação da SAF, o Santo André busca parceria. Não encontrou nada satisfatório. Nem o fato de ser uma agremiação com as contas bem ajustadas, pouco comum no futebol brasileiro, tem dado suporte à iniciativa de virar clube-empresa.
Há uma pendência burocrática que quebra o entusiasmo de interessados. Trata-se do regime de uso preferencial ou único do Estádio Bruno Daniel. Sem a garantia desse dispositivo, os potenciais investidores desaparecem às primeiras tratativas.
Por isso que se pode juntar o útil ao agradável. Paulinho Serra pode encaminhar as duas saídas que colocariam o Santo André em outro potencial patamar, juntando-se aos clubes-empresas bem aventurados em perspectivas.
Primeiro, Paulinho Serra precisaria montar um grupo de voluntários para desenvolver ações para fazer o que Jairo Livolis pretendia há quase 30 anos. Segundo, sensibilizar o prefeito Gilvan Júnior a fazer o que ele, Paulinho Serra, poderia ter feito. Ou seja: garantir a cessão de uso do Estádio Bruno Daniel. Como todas as prefeituras do País fazem em situação análoga. São Bernardo e São Caetano são exemplares na região.
DUAS RESPOSTAS
Não pense o leitor que este jornalista é um poço de ingenuidade ao apresentar essa proposta. Esqueça essa possibilidade. Já não tenho idade para barbeiragens. Essa sugestão é um caso pensado. Mas um caso pensado que deveria receber do prefeito Paulinho Serra duas respostas.
A primeira resposta, de agradecimento pela assessoria de imprensa gratuita e sem quaisquer vícios de conveniência. A segunda resposta seria botar a mão na massa e seguir em frente com a proposta. Quem nasceu em Santo André como ele e quem não cansa de dizer, com certo exagero, que a cidade tem o que chama de senso de “pertencimento” como força abstrata que a colocaria no coração de todos, não pode deixar escapar a oportunidade de presentear quase 800 mil moradores com um gesto de extraordinário poder transformador desse mesmo sentimento cada vez mais rarefeito.
No caso de tornar o Santo André um clube que pulverizaria parte das ações com representantes populares, primeira etapa para o chamamento público a um parceiro de sucesso comprovado na execução do projeto de SAF, Paulinho Serra seria consagrado no esporte assim como Celso Daniel o foi como mestre da regionalidade.
ENRAIZAMENTO SOCIAL
Tenho uma porção de ideias para auxiliar a jornada de Paulinho Serra como motor esportivo da sociedade de Santo André. Já escrevi dezenas de matérias sobre a funcionalidade promissora de uma SAF no Santo André. Mas ainda há mais condimentos a um tempero de culinária social e esportiva chique.
A definição do projeto que poderia ser chamado de “Mais Santo André no Santo André” exigiria cuidados especiais. Seria um processo de camadas complementares e que teria como ponto terminal a consumação de um modelo inédito em que a SAF do Santo André teria a robustez de empreendimento privado com suporte social. Exatamente ou muito próximo do que o visionário presidente de então do Santo André, Jairo Livolis, expôs naquela Reportagem de Capa de 1999. E também nas duas seguintes.
O conceito de clube-empresarial com forte enraizamento social de Jairo Livolis diferencia-se pouco do que surgiria em forma de SAF do Santo André. Naquele fim de século, o que vigia na legislação esportiva nacional era a Lei Pelé. Uma comparação entre os dois modelos torna a situação atual muito mais próxima de execução. Aliás, como se tem visto em dezenas de acordos firmados entre clubes e investidores de todo os portes no País.
Nos tempos de Jairo Livolis (como se verá no texto abaixo) as ações ficariam agregadas à Bolsa de Valores. Agora não tem nada disso. A SAF facilita a transformação de paixão pelo clube em confiança dos acionistas.
Mais escreveremos sobre isso em outro artigo. O que repassamos na sequência é a Reportagem de Capa de 1999. Jairo Livolis, um dos maiores presidentes de clubes do Grande ABC, virou saudade, mas segue vivo. Quase 30 anos depois o dirigente que não poupava um má-apresentação da equipe ao invadir o vestiário e dar bronca geral, conciliava paixão e racionalidade. Quando o passado é fértil em sustentabilidade, não há futuro que deixe de ser iluminado. O futuro é agora.
Santo André Sociedade Anônima
adota modelo Margareth Thatcher
 DANIEL LIMA - 05/06/1999
 DANIEL LIMA - 05/06/1999 
Dentro de três meses o Conselho Deliberativo do Esporte Clube Santo André vai estar reunindo para tomar a decisão mais importante em 32 anos de história desta que é a instituição esportiva mais popular do Grande ABC. O presidente Jairo Livolis, empresário que há sete anos transformou o que era apenas um time de futebol num imenso e concorrido parque poliesportivo, prepara estudos para o salto mais delicado, complexo, instigante e revolucionário da agremiação — torná-la uma sociedade anônima, adequando-a à chamada Lei Pelé.
Embora não seja o primeiro clube da região a adaptar-se de fato à legislação, já que a Associação Desportiva São Caetano e o Grêmio Mauaense vivem experiências que podem ser interpretadas como de terceirização do Departamento de Futebol, o Santo André deverá consolidar modelo inédito de empreendedorismo no setor, porque possibilitará a toda a comunidade da região adquirir lotes de no mínimo 100 milhões de um total de um milhão de ações com direito a voto.
COMO THATCHER
Adaptando a proposta do Esporte Clube Santo André ao terreno das privatizações, o sistema que se pretende implementar é semelhante ao que a ex-primeira-ministra Margareth Thatcher liderou na Inglaterra, quando decidiu desmontar o império de estatais deficitárias ao democratizar o acesso às ações das companhias.
A diferença entre a decisão de Margareth Thatcher e a proposta de Jairo Livolis é que o Santo André não é uma organização estatal e muito menos contabiliza prejuízos.
Trata-se de clube saudável, com perto de 30 mil associados entre titulares e dependentes, os quais desfrutam de variedade de opções de equipamentos de lazer e entretenimento no Poliesportivo instalado no Parque Jaçatuba. São 60 mil metros quadrados de área.
Além disso, o Santo André conta com tradição de força média do futebol do Estado de São Paulo. Já subiu três vezes para a Primeira Divisão e disputa o campeonato de acesso com amplas possibilidades de estar entre os grandes clubes paulistas na próxima temporada.
PRAZO À EXECUÇÃO
O lançamento das ações do Santo André S/A, cuja previsão do presidente Jairo Livolis é para o início do ano que vem, independe do acesso à Primeira Divisão. Afinal, trata-se de obrigatoriedade imposta pela Lei Pelé. Mesmo que a legislação sofra mudanças e passe a ser puramente opcional, como defendem algumas lideranças de grandes clubes, o Santo André já fez sua opção pelo mercado de ações.
Jairo Livolis reconhece que passar para a elite do futebol paulista pode ser a pedra de toque que provocaria esperada enxurrada de torcedores e não-torcedores decididos a investir em ações do clube-empresa.
Se não houver mudança de rota, serão efetivamente 499 mil ações lançadas no mercado a R$ 5 por unidade, correspondentes à participação de 49,9% do capital social do Santo André Sociedade Anônima. O Esporte Clube Santo André ficará com 50,1%.
Por que a diferença de apenas um ponto percentual entre as ações que serão levadas aos investidores e a parcela que corresponderá à participação acionária do Esporte Clube Santo André? Simples: o Esporte Clube Santo André, pelo menos até que o projeto ultrapasse a fase de decolagem, terá mecanismos legais de manter maioria numérica entre os membros do Conselho Gestor, o órgão diretivo que vai dar os rumos ao Santo André S/A.
DUAS PARTES
Antes que se conheçam os detalhes preliminares sobre as atribuições do Conselho Gestor do Santo André S/A é importante que os potenciais investidores entendam como vai se proceder o surgimento desse clube-empresa de ações atomizadas. A partir da aprovação do Conselho Deliberativo, o Santo André será dividido em duas partes.
O Esporte Clube Santo André, como é identificado juridicamente hoje, vai ter reconhecimento exclusivamente como instituição associativa. Gozará, portanto, de todos os benefícios da legislação, manterá o Conselho Deliberativo, o Conselho Fiscal e a Diretoria Executiva. O patrimônio material permanecerá intocável.
Já o Santo André S/A vai se submeter à legislação especifica que atinge as empresas como se fosse uma construtora, uma megaloja, coisas assim. A diferença é que o comando administrativo caberá ao Conselho Gestor eleito em assembleia pelos acionistas.
SEIS EXECUTIVOS
A formação inicial do Conselho Gestor, como pretende o presidente Jairo Livolis, terá seis representantes do Esporte Clube Santo André e cinco do Santo André S/A. Todas as diretrizes do Santo André S/A passarão pelo Conselho Gestor. Jairo Livolis vai mais longe. O órgão poderá, inclusive, reunir-se extraordinariamente diante de situação emergencial.
Jairo Livolis cita especificamente o caso recente em que o técnico Luiz Carlos Ferreira resolveu aceitar proposta do XV de Piracicaba e rompeu contrato verbal com o clube. O Santo André não teve disponibilidade de recursos financeiros para cobrir a proposta financeira do XV Piracicaba.
Se já funcionasse como Santo André S/A, uma reunião do Conselho Gestor poderia ser convocada para decidir por eventual contraproposta ao treinador. Nesse caso seria necessário aprovar desembolso financeiro ou, diante de falta de recursos, promover aporte de capital, provavelmente com o lançamento de naco complementar de ações no mercado, forma de capitalização que pode alterar a participação relativa dos acionistas.
O mais provável mesmo é que se o Santo André S/A já estivesse em atividade, o técnico Luiz Carlos Ferreira não deixaria o clube no meio de uma competição. Uma empresa esportiva, como pretende ser o Santo André S/A, teria maior respaldo financeiro para dificultar, contratualmente, uma ação oportunista de um executivo tão importante no cronograma da organização.
FORTE CONCORRÊNCIA
O Santo André nos moldes atuais, claramente clubista, não clube-empresa, tem dificuldades de acompanhar a concorrência que acentua a cada dia diferenciais de competição. O XV de Piracicaba que investiu sobre o então treinador do Santo André é emblemático desse quadro, já que dispõe de recursos financeiros estratosféricos para a realidade estrutural do clube do Grande ABC.
A resposta para essa diferença está na terceirização do futebol da equipe interiorana. O presidente Mario Pacheco Fernandes Filho, diretor de uma empresa de publicidade, associou-se ao ex-jogador Alemão, volante que vestiu a camisa do São Paulo e da Seleção Brasileira, entre outras, e passou a ocupar o cargo de diretor-executivo. Alemão é dono da Player, empresa de administração esportiva.
Nem mesmo a Imprensa de Piracicaba consegue explicar o funcionamento desse clube-empresa, cujas receitas e despesas são tratadas sob sigilo pelos dois sócios, mas o fato é que esse esquema atrapalhou a vida do Santo André.
CONTRAPARTIDAS
A integralização de capital por parte do quadro de acionistas terá a contrapartida da cessão definitiva dos direitos e de todos os esperados dividendos que envolvem o futebol — desde a vaga no Campeonato Paulista até cotas de transmissões esportivas pela televisão: das bilheterias dos jogos até patrocínio nas camisas; de painéis de publicidade no Estádio Bruno Daniel até vendas de passes de jogadores.
A expectativa de Jairo Livolis é de que o movimento de compra de ações poderá viver situações distintas. A primeira, de certa correria se a equipe conseguir o acesso à Primeira Divisão. A segunda de comedimento se o sonho de frequentar o mesmo ambiente de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos for protelado.
De qualquer modo, em uma ou outra situação, o presidente do Esporte Clube Santo André acredita que pelo menos 20 grandes investidores vão se lançar às compras de ações. Esse pelotão de elite seria composto por antigos dirigentes e conselheiros do clube que gozam de condições financeiras para disputar vagas no Conselho Gestor na assembleia dos acionistas.
PODER TRANSFERIDO
Jairo Livolis tem consciência de que o poder de comandar o futebol do Santo André será radicalmente transferido com a instalação de colegiado cujas responsabilidades estarão muito além de resultados puramente esportivos. “Todos vão ter de temperar paixão e razão” – diz o dirigente.
A decisão de propor a constituição de um Conselho Gestor é pensadamente muito mais que uma concessão de quem hoje tem o poder supremo de decidir o destino de tudo que se passa no futebol do clube. “A complexidade do futebol profissional exige mudanças diretivas, novas posturas, novos paradigmas, e não teria sentido o Santo André ficar fora dessa transformação. Só não vamos colocar a história do clube em riso” – avisa o dirigente, referindo-se à necessidade de a diretoria do Esporte Clube Santo André participar ativamente da gestão do Santo André S/A, pelo menos até que a nova sociedade alcance a maturidade conceitual defendida por Jairo Livolis.
O novo formato que prevalecerá na administração do futebol do Santo André sugere que as dificuldades financeiras serão teoricamente menos tormentosas. A realidade atual não é das mais satisfatórias para o clube. O time que está fazendo sucesso na Segunda Divisão é quase um milagre se comparado aos investimentos de concorrentes às duas vagas da Primeira Divisão.
ORÇAMENTO BAIXO
O orçamento mensal de R$ 60 mil reais está muito aquém, por exemplo, do que América de Rio Preto, São Caetano, Ponte Preta de Campinas e Botafogo de Ribeirão Preto aplicam em busca do Acesso. Sem contar o Etti/Jundiaí, um clube-empresa subsidiário da Parmalat. Esses clubes, em média, aplicam entre R$ 250 mil e R$ 400 mil por mês no elenco de profissionais e nas respectivas comissões técnicas.
A expectativa de que o Santo André tenha um Conselho Gestor formado por investidores vips estimula projeções de medidas que potencializem as receitas, que, por sua vez, proporcionariam melhores resultados financeiros e, ainda como parte de um processo de vantagens, a consequente valorização acionária. Um Santo André S/A fortalecido financeiramente e reluzente como estrela do Acesso ou da Primeira Divisão teria maiores probabilidades de despertar o interesse de grandes investidores institucionais em disputar seu controle acionário.
Por isso mesmo não só os acionistas vips como também os demais que engrossarem a lista de investidores e que escolherão seus representantes no Conselho Gestor terão motivos de sobra para mobilizar forças e ações cujos desdobramentos se traduzam em receitas. Enfim, o que se espera com a democratização do capital do Santo André S/A é que a responsabilidade de resultados emocionais e racionais, ou seja, do futebol e dos investimentos financeiros, seja uma tarefa de grande dimensão coletiva, não, como é hoje, um fardo para uma diretoria de voluntários.
MAIS CONFIÁVEL
O presidente do Esporte Clube Santo André não nega que o modelo democrático previsto para o Santo André S/A é a alternativa mais confiável que encontrou para compensar a ausência de uma companhia que decidisse investir no clube em regime de cogestão, como o Palmeiras introduziu de forma pioneira com a Parmalat.
É esse recorte institucional, de parceria responsável entre uma empresa privada e um clube, que Jairo Livolis tanto aprecia. Só lamenta não ter encontrado esse parceiro até agora. Outros modelos de parceria o assustam porque em muitos casos limitam-se a privilegiados personagens.
Não será um grupo de poucos investidores, pessoas físicas ou jurídicas, que, de repente, assumirá o controle acionário com finalidade explicitamente mercantil. Daí a decisão de capitalizar as ações num primeiro momento de mudança e a cautela de contar com maioria provisória de membros do Esporte Clube em relação a Sociedade Anônima no Conselho Gestor.
NOVOHORIZONTINO
Jairo Livolis cita o exemplo do Novorizontino, equipe que chegou a ser vice-campeã paulista em 1990, com alerta à justificativa de gradualismo da passagem do comando do futebol do Esporte Clube Santo André para o Santo André Sociedade Anônima por meio do Conselho Gestor. A equipe do Interior praticamente se desintegrou depois de passar por espécie de arrendamento da família Chedid, comandada pelo velho político Nabi Abi Chedid, cujos raios de influência também se esparramaram durante muito tempo pela Ponte Preta de Campinas e ainda se mantêm no Bragantino.
O Novorizontino foi largado à própria sorte, com dívidas que o transformaram num mico para os próprios dirigentes esportivos da cidade. Enfim, uma marca de respeito que conheceu o inferno da decadência por obra de investidores sem compromisso com suas tradições.
Embora sem o formato anunciado pelo Santo André, Sociedades Anônimas de capital fechado ou mesmo Sociedades Limitadas não são novidades no futebol brasileiro. A mais recente e retumbante composição acionária envolve o Corinthians de 20 milhões de torcedores no País e a Hicks Muse, empresa norte-americana com sede em Dallas e especializada em investimentos de capital privado.
PARCEIRA DE 10 ANOS
O primeiro ano de vigência do contrato que transformou o Departamento de Futebol do clube em Corinthians licenciamentos Ltda reverterá em R$ 100 milhões de investimentos. A parceria tem duração inicial prevista de 10 anos e nos três primeiros garantirá a construção de um estádio multifuncional, para futebol e shows, para 45 mil espectadores. A empresa norte-americana administrará o estádio por 20 anos, depois o repassará ao clube.
O contrato entre Corinthians e a Hicks Muse estabelece que o clube continuará detentor dos passes dos atuais jogadores. Diferente, portanto, do que propõe o Santo André, já que os passes constarão dos ativos que justificariam as ações que estarão disponíveis aos investidores. No Corinthians, a Hicks Muse terá 85% dos passes dos jogadores que contratar. Isso quer dizer que o Corinthians receberá 15% de todas as transferências.
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) ainda não registrou nenhum contrato de Sociedade Anônima de capital aberto. Essa é uma realidade diferente do que se respira na Europa e nos Estados Unidos, onde a descoberta do esporte como negócio já ultrapassou a barreira da novidade e se cristaliza como interessante alternativa de investimento.
MERCADO DE CAPITAIS
Especialistas brasileiros explicam que ainda é muito cedo para ingresso de clubes de futebol no mercado de capitais. Acredita-se que haveria dificuldade de liquidez exatamente porque se vive situação de transição de regime de profissionalismo romântico para estágio em que cifrões tornam se componente tão importante quanto gols, muitos gols.
O clube brasileiro mais próximo de abrir o capital é o Bahia Sociedade Anônima, criado pelo Banco Oportunity em parceria com a diretoria do Esporte Clube Bahia. O Atlético Mineiro está seguindo caminho semelhante, sob o comando da consultora financeira Elena Landau, dona da consultoria ELandau, Rio de Janeiro.
Há muito tempo um decadente sparring do Cruzeiro, seu arquirrival mineiro, o Atlético contratou recentemente o técnico Bebeto de Freitas, colecionador de títulos em clubes e seleções (brasileira e italiana) de voleibol. Bebeto é o principal executivo do clube mais popular de Minas Gerais e que também iniciou transição para o negócio do esporte.
EXEMPLO INGLÊS
O Manchester United, clube inglês que disputará a final do Campeonato Mundial com o vencedor da Copa Libertadores da América (Palmeiras ou Deportivo Cali, da Colômbia), tem ações no mercado de capitais de Londres desde 1991. A Parmalat, que no Brasil reúne o Palmeiras e o Juventude como parceiros de cogestão, além do Etti/Jundiaí como negócio próprio, negocia ações em bolsa dos clubes que patrocina na Venezuela (Deportivo Chacao) e Itália (Parmas). As ações do Manchester apresentaram em 1997 lucro operacional de 42,8% e lucro líquido de 31,2%.
O patrimônio do Manchester é superior a US$ 660 milhões mas é por meio da bolsa londrina que faz as principais captações de recursos para controlar e manter o atual elenco de estrelas, além de ter custeado toda a reforma do estádio.
As ações do campeão inglês e europeu tiveram valorização de 600% entre 1991 e 1997. Depois de conquistar o título europeu, o estoque de ações do clube em poder do público investidor saltou para US$ 2 bilhões. A simetria entre os resultados financeiros e os esportivos é mais antiga, já que no período o time ganhou cinco vezes o campeonato nacional.
RELAÇÃO INTESTINA
Nos Estados Unidos a relação entre esporte e negócios é mais intestina e complexa. A maioria dos clubes especialmente de basquetebol da milionária NBA, pertence a grandes redes de entretenimento e comunicações, que mantêm o capital aberto. Isto quer dizer que o investidor aplica ações que representam gama variada de atividades econômicas lucrativas, entre as quais o esporte.
Nem mesmo o ainda incipiente negócio do esporte no Brasil bloqueia a multiplicidade de ações de cardápio de investimentos que se antecipa ao limite cronológico da Lei Pelé. O Vasco da Gama do Rio de Janeiro parece decidido a impermeabilizar o Departamento de Futebol às investidas empresariais. Tanto que estabeleceu limites no acordo com o NationsBanks para exploração de licenciamento de produtos com a marca do clube, depois de antecipação de R$ 30 milhões.
O contrato prevê que a instituição financeira não terá qualquer influência na negociação de passe de jogadores nem na administração direta de futebol. Apenas cuidará da marca Vasco da Gama, comercializando patrocínio no uniforme, direitos de TV, publicidade estática nos estádios e licenciamento de produtos como camisas, bonés, chaveiros, isqueiros, óculos e bolsas com a marca oficial do clube.
EURICO MIRANDA
O vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda, é a melhor explicação para essa cautelosa conexão entre futebol e negócios. Ele é um símbolo do cartolismo nacional. Entenda-se por cartolismo algo pejorativo, de quem não abre mão do comando de um elenco de jogadores, de quem decide contratar e demitir técnicos e de quem faz de regulamentos gato e sapato.
Deve-se considerar também que, para a torcida, cartolismo tem o lado positivo de identificação automática com um defensor intransigente das cores do clube que ama, sentimento ao qual se subordinam diplomacia, regulamentos, calendários e tudo que venha, eventualmente, antepor-se à única alternativa aceitável para os 90 minutos de cada jogo de futebol — vitória.
Por ser tudo isso, Eurico Miranda luta, inclusive como deputado federal eleito pelos vascaínos, contra a obrigatoriedade de aplicação da Lei Pelé. Resta saber até quando manterá essa fórmula porque o maior rival da equipe, o Flamengo, também já embala sonhos de invencibilidade com uma parceria milionária de estilo corintiano.
O mergulho de um século inteiro do futebol brasileiro no passionalismo exacerbado fora das quatro linhas, ônus proporcionalmente inverso ao brilho de gerações de craques que se refletiu na conquista de quatro Copas do Mundo, torna a contratação de executivos esportivos objeto de desejo de cada novo empreendimento.
BRUNORO PIONEIRO
Precursor dessa linhagem de profissionais do esporte empresarial, José Carlos Brunoro virou referência no setor. O Botafogo de Ribeirão Preto, negociado com instituições financeiras, tem na Brunoro Sports novo ensaio de nicho esportivo-empresarial voltado para a terceirização administrativa e técnica do Departamento de Futebol.
Incapaz de revelar a toque de caixa administradores que combinem paixão e racionalidade, o negócio do futebol sai à caça de treinadores de esportes ainda chamados de amadores, como o voleibol e o basquetebol. Não foi só Bebeto de Freitas que se viu disputado a peso de ouro antes de aceitar transferência para o Atlético Mineiro. Hélio Rubens, treinador da Seleção Brasileira de Basquetebol, recusou proposta do Corinthians Licenciamentos Ltda porque pediu prazo de até julho para desincompatibilizar-se de seu clube, o Marathon/Franca.
O Corinthians não pôde esperar e a escassez de profissionais levou os novos administradores do clube a acertar a contratação de José Roberto Guimarães. Ex-jogador e técnico de voleibol da mesma geração de conquistas de Brunoro e Bebeto, José Roberto Guimarães sabe que a função que passa a exercer está muito além das responsabilidades de um executivo de empresa privada ou pública.
GAVIÕES DA FIEL
No meio de um temporal emocional que marca a transposição da paixão para a razão na administração do futebol, o fato de ser são-paulino confesso pode acirrar os ânimos se os resultados dentro de campo não forem os esperados. A torcida Gaviões da Fiel, cuja influência no dia-a-dia da equipe se traduz na canonização de Dinei, herói da conquista do Campeonato Brasileiro de 1998, e na satanização do inseguro goleiro Nei, ainda não sabe o que é negócio do futebol e dificilmente submeterá a paixão à frieza da racionalidade.
Para impedir que o vácuo de recursos humanos voltado à face negocial do esporte comprometa o fluxo de investimentos ou provoque a importação de especialistas, a Fundação Getúlio Vargas promove cursos para novos administradores esportivos. O projeto foi lançado em fevereiro do ano passado, portanto dois anos antes da anunciada aplicação da Lei Pelé. A Escola de Administração de Empresas da FGV está aplicando disciplinas como Administração em geral, Dimensões Econômicas, Marketing, Legislação e Estratégia Empresarial. O curso é resultado da GV, do Clube dos 13 e da Abracef (Associação Brasileira de Clubes de Futebol).
MOTOR DA TELEVISÃO
Uma das principais ferramentas que impulsionam o esporte, e particularmente o futebol, como atrativo de negócios é a televisão. Desde que a Rede Globo começou a apostar na Taça Libertadores da América, quando o São Paulo chegou ao título de bicampeão em 1992 e 1993, o histórico das equipes brasileiras na competição sofreu radical transformação. Nem poderia ser diferente, porque esse é o principal torneio sul-americano e a maior porta de entrada ao mercado europeu, já que o campeão disputa o Mundial Interclubes no Japão, Metade dos 10 títulos colecionados pelas equipes brasileiras ao longo da Libertadores, contra 17 dos líderes argentinos, foi contabilizada nos anos 90.
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