Sociedade

Afinal, quem mandou matar
a reputação de Saul Klein? (2)

  DANIEL LIMA - 25/09/2023

Que mataram, mataram, mas a pergunta é outra: quem mandou matar a reputação de Saul Klein? Essa é uma interrogação guarda-chuva que tem toda a razão de ser lembrada. E deve ser reproduzida insistentemente. Até prova em contrário, ou provas em contrário, o filho mais novo de Samuel Klein é inocente. De namorador de Alphaville virou predador sexual. Um serial sexual, por assim dizer.  

Talvez a primeira pergunta e a pergunta seguinte causem estranheza aos mal-informados que, por desconhecimento ou por conta da massificação de suposto crime que jamais ultrapassou a linha de fundo de materialidade judicialmente comprovada, entendem que tudo está mais que resolvido.  

Ou seja: que Saul Klein seria um tarado sexual de bolsos cheios, como o desenharam algumas mulheres protegidas por mulheres embora fossem mulheres metidas até as vísceras no caso, quer como denunciante, quer como engenheiras e executoras de operações negociais que fazem da Capital do Estado a meca da libido.   

A questão central é saber de quem partiu a acusação contra Saul Klein? Essa é uma pergunta que não vale um milhão de dólares porque é muito fácil de responder e está nos autos. Mais precisamente no inquérito do Ministério Público Estadual.  

QUEM COMANDOU  

Quem comandou o inquérito em segredo de Justiça, um segredo de Justiça que se dissolveu como bolha de sabão em atendimento à especulação de três veículos de imprensa? 

Ora, quem disparou o tiro de partida e o tiro de morte que atingiu em cheio o coração reputacional de Saul Klein foi Gabriela Manssur, feminista, suposta feminista ou preposta feminista que, à frente do movimento Justiceiras, apurou apressadamente a responsabilidade de Saul Klein num cipoal de denúncias de moçoilas que se apresentaram como vítimas, embora fossem freguesas de caderneta do namorador de Alphaville.   

Como está na moda e não custaria lembrar, o chamado devido processo legal foi surrupiado dos trâmites convencionais porque a denúncia assinada pela então promotora criminal não passa de um apanhado de declarações principalmente de Ana Banana, a mulher colocada por outra mulher para comandar as mulheres que frequentavam a casa de Saul Klein. Ana Banana deitava e rolava enquanto o anfitrião estava fora de combate, atacado por gravíssima depressão.  

TESTEMUNHO COMPLEXO  

Ana Banana, ex-namorada de Saul Klein, portadora, confessa, de problemas emocionais relatados na própria denúncia do MP de Gabriela Manssur, era os braços e as pernas da cafetina Marta Gomes de Souza na casa de Saul. Não se garante que Ana Banana tenha sido também a mente da cafetina Marta porque a cafetina Marta é muito esperta.  

Ainda não se tem uma pista sólida, inquestionável, da origem da denúncia que impactou demais a vida de namorador e de empresário de Saul Klein.  

Quem está por trás da acusação da promotora criminal Gabriela Manssur? Essa sim é uma pergunta de um milhão de dólares. Teve-se um caso de combustão espontânea feminina, na esteira do movimento internacional Me Too, ou os autores intelectuais da operação seguem mesmo protegidíssimos? 

De onde teria partido a ordem para colocar água no chope do divertimento sexual caríssimo que Saul Klein mantinha tanto na casa em Alphaville como numa chácara em Boituva, Interior de São Paulo? 

Enquanto a cautela e o juízo recomendam que é melhor esperar um pouco por eventuais novas revelações, porque o Caso Saul Klein ainda vai longe, é certo que a promotora Gabriela Manssur vazou, fez vazar ou proporcionou mesmo que indiretamente o que não deveria ter vazado porque o processo estava respaldado pelo segredo de Justiça. 

VAZANDO, VAZANDO  

O que Gabriella Manssur vazou ou fez vazar vazou como uma torrente morro abaixo e desespero de Saul Klein também. Numa única e portentosa decepada, Saul Klein perdeu a cabeça de respeitabilidade e virou o maior vilão brasileiro naquela segunda quinzena do ano 2020.  

Primeiro a reportagem bombástica saiu numa extensa reportagem no site UOL, do Grupo Folha de São Paulo. O mundo da Internet não tem limites. No dia seguinte foi a vez do jornal Folha de S. Paulo, coluna lidíssima de Mônica Bérgamo. E no final de semana, nada menos que o Fantástico da Globo. Uma tijolada da mesma intensidade atrás da outra.  

O que veio depois, ao longo de meses, foi naturalmente demolidor, um impacto jamais assimilado. A CNN Brasil fez um arremedo de documentário no mesmo tom acusatório, o UOL repetiu a toque de caixa também com um documentário mequetrefe e a Agência Pública, um site engajado no feminismo típico do Me Too, também acertou a mira.  

Nem Samuel Klein, o patriarca morto em 2014, escapou da ofensiva. Reviraram o passado do fundador da Casas Bahia. Especulou-se espetacularmente. Um devorador de virgens se transformou o até então orgulho de São Caetano.  

REDES SOCIAIS  

Por mais que a unanimidade condenatória a Saul Klein exposta pela grande mídia tenha influenciado críticas e reprovações, o placar moral se equilibrou de alguma maneira nas redes sociais. As vozes populares são mais flexíveis e desconfiadas. Muitas saíram em defesa do pai e do filho com ou não as bençãos do Espírito Santo.  

Entretanto, a fertilidade com que brotaram informações de mão única que fizeram de Saul Klein um monstro sexual, praticamente interdita o contraditório. Já se formou juízo de valor politicamente correto. Consistência judicial não é artigo de primeira necessidade ética quando a espetacularização sem freios toma conta do pedaço moral.   

Saul Klein é um lobo mau que pegou jovens inocentes e puras, maltratando-as sexualmente. Um lobo mau tão mau que se formavam filas de espera às dependências festivas de Saul Klein. Todos queriam participar dos eventos. Participavam e voltavam. Síndrome de Estocolmo numa versão mais amplificada, diriam os pervertidos éticos.  

MOÇAS DE CONVENTO  

Só faltou publicarem que Saul Klein mandou a cafetina Marta Gomes da Silva seduzir madres superioras para montar um exército de jovens temporariamente puras saídas diretamente de conventos.  

Mas como imaginar tamanha sandice se Marta Gomes da Silva, peça-chave do sistema mercadológico do sexo feminino, mal fora citada nas reportagens?  

As mulheres que disputavam espaço nobre na casa de Saul apareciam do nada vezes coisa nenhuma. Num passe de mágica. O femismo disfarçado de feminismo faz estragos.  

Não há exagero nessa retórica quando se entende que retórica tem o sentido de dimensionar a profundidade dos buracos das investigações de Gabriela Manssur, até agora sem amparo de investigações policiais.  

As meninas bonitas que tornavam as casas de Saul sinônimo de festa quase interminável foram selecionadas no mercado do sexo. Talvez tenham se esquecido disso. E, enquanto a festa durou, jamais apontaram qualquer inconformidade de tratamento comum entre homens e mulheres que fazem do mercado de sexo um PIB indecifrável, mas movimentadíssimo, quando não elevadíssimo, para não dizer empinadíssimo.  

As corridas de Fórmula-1 no Brasil são um dos picos no fluxo de demanda. O PIB de produtos sexuais cresce, aparece e é avantajado com multiplicidade étnica.   

MULHERES ESQUECIDAS  

Não custa repetir que a cobertura midiática do Caso Saul Klein é tão estupidamente parcial e por isso desmoralizadora como fonte de credibilidade a ponto de ignorar por completo as mulheres que estão metidas na história porque as mulheres que estão metidas na história são expressões fundamentais da história. 

A cafetina Marta Gomes da Silva, a primeira-ministra da cafetina nas festas de Saul, Ana Banana, e a promotora criminal de então, Gabriella Manssur, são todas mulheres. Até prova em contrário. 

Pois a mídia sempre as poupou de contratempos. Ninguém ousou questionar a então promotora sobra a vulnerabilidade da peça acusatória que construiu tendo Ana Banana como principal declarante. 

Mais que isso: Ana Banana e Gabriela Manssur foram fontes constantes da versão de lobo mau de Saul Klein. Ana Banana atuou diretamente como interlocutora das denúncias. No Fantástico, da Globo, mesmo com a voz tecnicamente distorcida, os acordes vocais de Ana Banana não resistiram à identificação. 

GABRIELA ATUANTE  

Já Gabriela Manssur atuou como espécie de consultora, incluindo no documentário da CNN a preparação de um organograma da organização criminosa supostamente coordenada por Saul Klein. Qualquer remissão ao organograma da força-tarefa da Lava Jato no caso do Petrolão não seria mera coincidência.  

Nada melhor para dar ares de eficiência a denúncias do que uma colagem inspirada num caso investigado para valer e a salvo de qualquer contestação à hierarquia do crime dos políticos que fizeram da maior estatal brasileira uma vaca leiteira de esculhambação.

Próximo de completar três anos, o Caso Saul Klein se soma a outras tantas intervenções midiáticas sem maiores cuidados com os resultados das informações veiculadas. O que interessa mesmo é atiçar a audiência.  

O ponto-chave para chegar aos mandantes da operação que culminou na morte reputacional de Saul Klein é mesmo a promotora criminal Gabriela Manssur. Corrigindo: então promotora criminal, porque ela abandonou a carreira de olho em virar deputada federal, mas se deu mal. Perdeu o MP e uma vaga de parlamentar.  

AGORA, ADVOGADA  

Gabriela Manssur não obteve os votos com que sonhava nas eleições parlamentares do ano passado. A atuação à frente das Justiceiras não deu a visibilidade e a densidade que Gabriela Manssur imaginava. Agora atua como advogada de causas femininas. E exibe o caso Saul Klein como marketing profissional. Coloca-o no mesmo nível propagandístico de João de Deus, um fazedor de milagres e industrializador de abusos mais que comprovados.  

Gabriela Manssur foi contratada outro dia pela deputada estadual Carla Morando, atingida por uma frase de mau gosto e machista desferida pelo deputado estadual petista Luís Fernando Teixeira. No campo político, o caso foi encerrado com pedido de desculpa do deputado, seguido de descarte de punição pela comissão legislativa.  

O que impressiona mesmo é o conjunto da obra dilaceradora da imagem de um homem louco por mulheres que eram não necessariamente loucas pelo homem louco por mulheres, mas no mínimo loucas pelas noitadas de festa que o homem louco por mulheres oferecia sem regatear despesas e presentes.  

ACABOU A FESTA  

As mulheres loucas por dinheiro e por festas que o dinheiro proporcionava perderam o chão quando novas festas foram suspensas. Aí a organização criminosa que sequestrou o anfitrião partiu para o ataque. Qualquer contraponto a esse resumo exige provas, segundo recomenda o Judiciário.   

Numa etapa da vida em que a tecnologia de bolso e de bolsas infesta os ambientes, nenhum flagrante a sustentar as denúncias é algo que deveria acautelar os bravos produtores de narrativas espetaculosas. 

Toda a infraestrutura que Saul Klein oferecia às moças que o visitavam e compartilhavam programações de mil e uma noite estava voltada à segurança pessoal e coletiva das meninas, mas as denúncias remeteram as preocupações do anfitrião ao campo da segurança armada e castradora de movimentos de liberdade. Saul é obcecado por segurança como qualquer homem com fama de milionário.  

INFRAESTRUTURA  

Saul Klein contratou médicos e preparou uma imensa dependência da mansão em Alphaville para que as meninas quase puras pudessem receber tratamento de pele, dos dentes e de tudo que as preocupasse como ativo de beleza e de negócios da beleza. Construíra uma academia esportiva e médica.   

À falta de provas e documentos que remetessem Saul Klein a materialidade de um lobo mau de verdade, uma meia dúzia de fotos de uma festa temática serviu de falsa comprovação dos pecados de todos os dias ou quase todos os dias nas casas de Saul Klein.  

A mídia tomada pela irracionalidade e lubrificada pelo modismo de um feminismo contestável porque não sabe distinguir sedução de violação, prazer de imposição, ganância de inocência, fez daqueles flagrantes pretensas peças acusatórias.  

Qualquer idiota observará que as sorridentes convidadas estão em êxtase ao redor do anfitrião, visivelmente debilitado, vítima de uma depressão que o exauriu durante muitos anos.  

Reler e acompanhar as ações midiáticas do UOL, da Folha e da Rede Globo, além da CNN, entre outras fontes de informações, é uma oportunidade de ouro para ingressar num espaço altamente tóxico.  

EXTORSÃO NA ORIGEM  

Não custa lembrar sempre a origem do desencadeamento dessa até prova em contrário narrativa fraudulenta: a cafetina Marta Gomes da Silva, que armou uma quadrilha para sequestrar o debilitadíssimo Saul Klein, partiu para o ataque ao incentivar comandadas a impetrarem ações judiciais porque a fonte de gastança do dinheiro de Saul Klein secou.  

Saul Klein interrompeu o circuito de abastecimento feminino no momento em que, já se recuperando da debilidade clínica, reagiu às tentativas de extorsão.  

O que menos Saul Klein queria na vida e por isso mesmo se mantinha distante dos holofotes a ponto de poucos saberem que Michael Klein contava com um irmão, o que menos Saul Klein queria na vida era virar notícia de qualquer espécie. Mesmo como generoso mecenas do São Caetano, onde enterrou R$ 500 milhões em duas décadas, o silêncio sempre manteve Saul Klein anônimo. 

Só faltou combinar com Gabriela Manssur e sua turma de feministas. Mas a pergunta central ainda não está respondida: quem estaria por trás dos estragos na vida de Saul Klein e que teriam abastecido Gabriela Manssur? Familiares, dirigentes esportivos, dirigentes políticos? Quem? 

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