Regionalidade

Um presente (imerecido) ao
novo prefeito dos prefeitos

  DANIEL LIMA - 23/12/2020

Paulinho Serra já está atuando nos bastidores como novo prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos. Aliás, mesmo na presente gestão de Gabriel Maranhão, Paulinho Serra é de fato prefeito dos prefeitos. O prefeito de Santo André não merece ganhar um presente de fim de ano, mas como sou teimoso e não vejo cores partidárias, vou ser generoso. Até porque, convenhamos, o presente, no fundo no fundo, não é para ele. É para o Grande ABC Sociedade Encalacrada.  

Serei breve neste artigo que possivelmente não será o último da temporada, mesmo com Natal e Ano Novo pela frente. O Coronavírus bagunçou o calendário de todos nós. Fiquei 20 dias de molho e pretendo recuperar algumas das perdas nessa arrancada final.  

É preciso estabelecer juízo de valor editorial ao trocadilho que faço desde sempre ao chamar o prefeito titular do Clube dos Prefeitos de prefeito dos prefeitos.  

Popularizando entidade  

No caso de Paulinho Serra e de tantos outros assim igualmente identificados, trata-se de uma jogada jornalística mais que necessária para que os leitores entendam o que significa Clube dos Prefeitos. E muito mais ainda àqueles que leem e ouvem Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, essa extravagância de conservadorismo nominativo que a passividade jornalística aceita e reproduz.  

E pensar que, por usar Clube dos Prefeitos e, sobretudo, Clube dos Construtores, fui criminalizado judicialmente por um meritíssimo sem noção do mundo da comunicação e, sobremodo, da inoperância daquela entidade, especializada durante muito tempo em especulação imobiliária cujo preço social está em cada quarteirão, com o canibalismo incrustrado em cada imóvel à venda ou esperando por locador. 

Vão dizer que estou enrolando, por isso chego ao que pretendo para, em seguida, destrinchar com brevidade os conceitos da proposta.  

Definindo iniciativas  

O fato é que Paulinho Serra precisa de um ferramental filosófico-doutrinário para comandar o Clube dos Prefeitos sem repetir a mesmice de nulidades dos antecessores e dele próprio, prefeito dos prefeitos durante o primeiro mandato de prefeito igualmente medíocre de Santo André. 

Há dois vetores essenciais para evitar que a nova caminhada do biprefeito dos prefeitos seja tão trôpega quanto tem sido como prefeito de Santo André, apesar dos aplausos dos puxa-sacos de plantão, uma turma de mandachuvas e mandachuvinhas que se refestela com o poder sem compromisso com o futuro da sociedade. 

No aspecto macroorganizacional do Clube dos Prefeitos, é indispensável a construção de dois pilares.  

O primeiro tendo como premissa prevalecente o dogma de competitividade econômica.  

O segundo, ligadíssimo ao primeiro, sustentado tecnicamente por consultoria internacional independente para preparar amplo diagnóstico e ações que alterem a situação do Grande ABC. 

Sem que a direção do Clube dos Prefeitos determine com convicção que o corpo, a mente e a alma da instituição estão estratificados no Desenvolvimento Econômico Sustentado, nada se efetivarão em forma de resoluções duradouras, como se observa, aliás, nos primeiros 30 anos da instituição.  

Sem injunções políticas   

Feita essa constatação e definido esse pacto, deixam-se de lado veleidades provincianas e contrata-se, com critério e sem injunção político-partidária, uma consultoria especializada em competitividade.  

O Grande ABC econômico precisa de diretrizes conectadas ao mundo dos negócios e das desigualdades sociais para sair do encalacramento histórico em que está metido --- como estou cansado de escrever e provar com dados irrefutáveis de fontes irrefutáveis.  

O segundo pilar estrutural que daria suporte ao primeiro sem que o primeiro, de especialistas consumados, seja tolhido nos trabalhos, constitui-se de inescapável redefinição organizacional do Clube dos Prefeitos.  

O modelo que está aí já está fora de moda desde que Celso Daniel disse a este jornalista que pretendia promover abertura da entidade, com novos agentes da sociedade.   

O Clube dos Prefeitos deixaria de ser apenas Clube dos Prefeitos. A democratização da instituição não implicaria necessariamente na quebra do poder decisório dos prefeitos. Apenas os colocariam em sintonia crítica com os anseios de peças relevantes do mundo econômico do Grande ABC. 

O que não se pode confundir é compartilhamento de conhecimentos ao agregar de novos colaboradores do Clube dos Prefeitos com assembleísmo inconsequente. Algo como o ritual que quebrou a espinha dorsal do Fórum da Cidadania, movimento social que provocou muita esperança de reação regional na segunda metade dos anos 1990.  

Uma maior representatividade do Clube dos Prefeitos com a inserção de novos agentes da sociedade deveria ser cuidadosamente forjada levando-se em conta a meritocracia da inteligência e da especialização. Ou seja: a tradição de entidades de classe e de trabalhadores, além da chamada sociedade civil (uma utopia) seria descartável de imediato. Não é longevidade que assegura competência em representação de classe. Mais que entidades, cabeças boas e personalidades críticas é que interessam. Estamos em chamas econômicas e sociais.  

Os pontos cardeais de nova configuração institucional do Clube dos Prefeitos seriam ditados pela premissa de competitividade econômica parametrizada pela consultoria especializada com eventuais e indispensáveis acréscimos e supressões sugeridos por gente da região que entenda dos respectivos riscados.  

Primeiro-ministro técnico  

Também consta do presente de Natal que reservei ao prefeito dos prefeitos Paulinho Serra a ideia em forma de determinação que definiria o novo papel do colegiado dos titulares do Paço Municipal. 

O prefeito dos prefeitos de plantão não seria tecnicamente a principal peça do tabuleiro de definições operacionais e estratégicas. Essa iniciativa caberia a uma espécie de executivo-chefe nomeado pela consultoria contratada. Esse profissional exerceria papel típico de primeiro-ministro.  

Há várias vantagens na aplicação dessa proposta. A primeira é que se despolitizaria o Clube dos Prefeitos. A segunda é que tornaria todos os prefeitos, não apenas o ocupante do cargo de prefeito dos prefeitos, comprometidos com o projeto de reorganização do tecido econômico e social da região. 

Vou parar por aqui, embora tenha ainda muito a escrever. O que apresento é apenas um ensaio breve de como é factível o Grande ABC perseguir uma nova trajetória econômica.  

Há muito mais elementos a destacar, inclusive uma atenção técnica, diplomática e mesmo fiscal às montadoras de veículos e autopeças da região. Não podemos continuar passivos ante a Doença Holandesa. E tampouco à Doença Holandesa Químico-Petroquímica. Mas tudo isso é secundário no tabuleiro de prioridade.  

Proposta com raízes  

Primeiro é preciso arrumar o quarto de despejo de triunfalismo, incompetência, procrastinações, encenações e demagogias em que se converteu o Clube dos Prefeitos.  

Paulinho Serra é de novo prefeito dos prefeitos. Rezo para que aceite o presente que lhe ofereço, mesmo que não mereça.  

O que ofereço não é um escopo inédito. Bato nessa tecla desde sempre e mesmo no âmbito municipal, há dois anos, acertei arremetidas semelhantes com o próprio prefeito de Santo André. Surpreendentemente, depois de aceitar com entusiasmo, pegou todos os demais voluntários de surpresa ao voltar atrás, pressionado por forças obscuras do entorno do Paço Municipal, além dos filhotes de urubus internos.  

O prefeito de Santo André e prefeito dos prefeitos precisa de grandeza de espírito, tanto como os demais, para abrir mão do protagonismo inservível no Clube dos Prefeitos e entregar a missão da largada de uma reviravolta econômica do Grande ABC a quem entende do riscado de competitividade.  

Paulinho Serra entende de votos, bafejado em 2016 pela destruição do PT pela Lava Jato e nesta temporada pelas desgraças da pandemia chinesa, mas não pode cair na besteira de que são seus lindos olhos gerenciais que fazem a diferença. Tanto que mais da metade do eleitorado não o levou em conta na guerra eleitoral.   

Paulinho Serra terá feito muito por Santo André e pela região em administração reformista, reestruturante, se aceitar o papel de coadjuvante. Melhor do que de falso líder, como pretendem alguns sem juízo no lugar. 

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