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DECÁLOGO DESPREZADO:
NOTA ZERO DEZ VEZES

  DANIEL LIMA - 22/09/2025

Para quem não sabe o que é regionalidade, e por isso mesmo confunde regionalidade com região, algo como acreditar que focinho de porco é o porco inteiro, para esses incautos ou despreparados, afoitos ou desatentos, trago hoje aos leitores (que também podem ser eleitores ávidos por informações e análises) uma análise que fiz há 19 anos. E que, por conta disso, claro, completará duas décadas redondas em agosto do ano que vem.

Poderia esperar até o ano que vem para abordar o assunto. Para que esperar se o tempo já concebeu solidez de elementos concretos que garantem com folga toda assertiva que exponho sobre o fato de que regionalidade é uma anedota de mau gosto no Grande ABC.

Muito antes do que os leitores vão ler em seguida, publicado na revista de papel LivreMercado, antecessora desta CapitalSocial, muito antes disso,  o que o leitor vai encontrar foi publicado centenas de vezes antes de 2006 de forma interligada em permanentes edições de LivreMercado. E segue sendo nesta revista digital.

O que os leitores vão ler é o que chamaria de alma editorial de 35 anos completos de LivreMercado/CapitalSocial. São provas vivíssimas – um minuto para o comercial mais que justo, porque verdadeiro – de que quando se leva a sério a etimologia social de regionalidade, exclusiva neste endereço,  os leitores vão encontrar respostas, questionamentos, dúvidas e tudo o mais.

Mais que republicar aquela análise, vou fazer o seguinte: estou atribuindo a cada um dos enunciados uma nota excludente de Zero e Dez. Vamos ver qual será o resultado final? Será que não passaremos tanta vergonha como pretendo fazer crer?

Decidi antecipar o resultado na manchetíssima desta análise. O resultado é mesmo o que está aí em cima: nenhum dos 10 enunciados de quase 20 anos foi atendido sequer parcialmente. Ou seja: nossa regionalidade é um fracasso estrondoso, continuado, irresponsável e devastador. Qualquer afirmação em contrário é charlatanismo individual ou institucional.

Juro por tantos os santos que ao me meter computador adentro na tarde de sábado, porque não tenho dia nem hora para trabalhar, dei de cara, pesquisando outro assunto, com a análise que os leitores vão ler em seguida para entender esse babado. Bati os olhos, lembrei da Reportagem de Capa que o material gerou, e me alimentei de expectativa de esperança. A memória não retém grande parte do executado, todos saem.

Estava crente de que alguma coisa saltaria daquelas páginas de LivreMercado transpostas para a plataforma digital de CapitalSocial. Afinal, são publicações siamesas, ou seja, do mesmo cromossomos autoral.

E não é que caí do cavalo da esperança de que o Grande ABC não teria sido tão perfeito na imperfeição do descaso? Absolutamente nada,  em cada um quesito do Decálogo de Desenvolvimento Econômico,  moveu-se em direção a qualquer coisa que possa ser chamada de mudança. E quando não existe avanço diante de expectativas traçadas, o resultado de fato é catastrófico.

Entenderam os leitores por que é impossível ser otimista no Grande ABC? E olhem que o decálogo em questão evidentemente só comportou 10 questões a resolver. Em outras oportunidades, elenquei muito mais que isso e fiquei igualmente frustrado. Com um número mais enxuto de propostas, imaginava que alguma coisa de bom aconteceria. Nada disso. Seguem a tristeza.  

 

Decálogo de Desenvolvimento

Econômico é missão permanente

 DANIEL LIMA - 19/10/2006 

A revista LivreMercado, que circula há quase 17 anos no Grande ABC, decidiu reiterar e manter em permanente vigília o "Decálogo de Desenvolvimento Econômico" publicado na edição de agosto como espécie de farol para os então candidatos a deputado estadual e deputado federal do Grande ABC. 

A iniciativa, síntese de parte do histórico núcleo editorial da melhor publicação regional do País, será sistematicamente enfatizada ao longo das edições como compromisso com o destino da região de 2,5 milhões de habitantes. 

Uma das decisões que tomamos para que o quadro de jornalistas de LivreMercado jamais se deixe levar por pautas estranhas às necessidades econômicas e sociais do Grande ABC é forrar as paredes da Redação com quadros que identifiquem com clareza e objetividade o que chamamos de mandamentos sagrados da regionalização no contexto contemporâneo de metropolização com valor agregado de federalismo e globalização.

A reprodução do Decálogo de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC para a rede de e-mails qualificados da Editora Livre Mercado é muito mais que uma decisão que pretende reforçar o compromisso com o futuro do Grande ABC. Nosso objetivo vai além disso. Queremos que interlocutores virtuais e materiais da Editora Livre Mercado estejam integrados aos objetivos estratégicos da revista e, com isso, possam contribuir mais e mais para a recuperação regional.

Abaixo, segue o que também poderíamos chamar de Decálogo de Compromisso com a Cidadania do Grande ABC:

1. Profissionalização do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos com a coordenação de um executivo de reconhecida experiência em questões metropolitanas. Prefeitos passariam a formar o Conselho de Gestão. Representantes dos governos locais, empresários, sindicalistas e membros da sociedade comporiam o Conselho Consultivo. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

2. Contratação de consultoria especializada em competitividade para reorganizar todo o sistema econômico do Grande ABC, de modo a enfrentar o mundo globalizado sem perda de tempo. 

RESULTADO – NOTA ZERO. 

3. Definição de cronograma para reduzir gradualmente as despesas com os legislativos locais a níveis dos melhores indicadores das cidades mais importantes do Estado. A conta de chegada para a aferição de reforma de custos dos legislativos é simples: a divisão das despesas gerais, incluindo-se salários dos vereadores, pela população do Município. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

4. Utilização de parcelas relativamente pré-definidas do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para execução de planejamento e projetos para valorização das atividades de comércio e serviços de forma descentralizada principalmente para fortalecer pequenos e micros empreendimentos. 

RESULTADO – NOTA ZERO.  

5. Mobilização junto às instâncias estadual e federal para reforço de finanças dos municípios locais de acordo com a participação territorial no contexto da lei de proteção dos mananciais. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

6. Formação de um conselho regional com representantes governamentais, não-governamentais e econômicos para gerar e impulsionar políticas de potencialização do sistema de segurança pública, cuja ressonância atingiria principalmente os governos estadual e federal. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

7. Reorganização do Grande ABC à ocupação e reocupação de espaços físicos que jamais foram objeto de investimentos produtivos ou que sobraram como péssima lembrança da evasão industrial. 

RESULTADO  -- NOTA ZERO.

8. Extensão das ações sistêmicas de empresas do Pólo Petroquímico de Capuava para o conjunto de interesses econômicos e sociais de Santo André e de Mauá, municípios altamente dependentes dos tributos dessa atividade econômica, de modo que a cadeia de terceira geração de transformadores plásticos contribua para a geração de mão-de-obra intensiva. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

9. Elevar o Rodoanel e o Ferroanel a patamares de providenciais estruturas de transporte, impedindo-se a possibilidade mais que viável de tornarem-se modais prevalecentemente de passagem de riqueza pela geografia do Grande ABC, como ocorreu ao longo da história com a rede ferroviária. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

10. Constituição de grupo especial que tratará especificamente da indústria automotiva, com a participação de representantes de governos locais, estadual e federal, executivos, empresários e sindicalistas. 

RESULTADO – NOTA ZERO.

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