Economia

Região não é a China que
possa interessar à China

  DANIEL LIMA - 26/03/2024

Como vender o Grande ABC aos chineses, como pretende o sindicalista de São Bernardo Wellington Damasceno, se os chineses são bons de negócios e a competitividade dos negócios chineses é o inverso do que temos no Grande ABC?

A China que desembarcaria na região não seria a China que o sindicalista sugere, porque os chineses dos negócios chineses são espertos e opressivos no mercado de trabalho.  E o mercado de trabalho industrial da região, do qual os sindicalistas tanto se orgulham, embora já não seja o mesmo de outros tempos, é um mercado de trabalho do qual os chineses fogem como o diabo da cruz.

Por isso, essa é a maior contradição da visita que uma delegação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC fez ao centro da terra do capitalismo de Estado e de ditadura política.

Isso quer dizer que a viagem dos metalúrgicos à China é uma grande bobagem? Não necessariamente, porque aprender com modelos diferentes, mesmo que antagônicos, sempre tem o lado pedagógico. Inclusive de cair na real.

GATO POR LEBRE

O que não se pode é vender gato por lebre. Ou imaginar, como imagina o sindicalista entrevistado pelo Diário do Grande ABC, que é possível vender uma região que o próprio sindicalista desconhece como mapa de improdutividades industriais, de ajustes históricos que ainda estão longe de se encerrar.

Como fazemos sempre que a oportunidade aparece em forma de contraditório abelhudo, ingressamos no campo de perguntas e respostas do Diário do Grande ABC. A entrevista com Wellington Damasceno será integralmente reproduzida abaixo.

A diferença em relação ao que o Diário do Grande ABC publicou é que entramos na parada. Metemos o dedo com contraditórios que entendemos se fazerem necessários. Tanto são necessários que o apontamento dessa contradição de anunciar a tentativa de vender o Grande ABC para os chineses sem entender ou dizer que a proposta tem todo o jeito semântico de trapaça, no bom sentido, é coisa nossa, ou seja, deste jornalista.

TÍTULO EMBLEMÁTICO

O título da entrevista publicada no Diário do Grande ABC de ontem reproduz o pensamento e as declarações do entrevistado. “Fomos à China para vender o Grande ABC” é o arcabouço conceitual do que se verifica no conjunto ou no tom da respostas de Wellington Damasceno. Uma pretensão sem tamanho. Um entusiasmo juvenil. Um estrabismo econômico. Tudo que se pode elencar como voluntarismo ilusório.

É claro que tudo isso tem validade sob o ponto de vista de vendedor, porque é disso que se trata, mas há limites. O Código de Defesa do Consumidor de Informações precisaria ser acionado. E é isso que fazemos. CapitalSocial não adotou o mote “Ombudsman do Grande ABC” ou “Ombudsman do ABC Paulista” no sentido puramente propagandístico como, até prova em contrário, a viagem dos metalúrgicos à China. Trata-se de uma filosofia editorial.

Seguem as perguntas, as respostas e os contraditórios da entrevista do Diário do Grande ABC.

DIÁRIO -- Uma rodada de negócios envolvendo empresas chinesas que têm intenção de investir no Brasil, provavelmente em maio, por enquanto é o principal resultado da viagem que uma delegação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC fez à China. O grupo visitou indústrias automobilísticas, de semicondutores, entidades sindicais, de ensino e banco dos Brics. Segundo Wellington Damasceno, diretor administrativo do sindicato, um dos objetivos foi apresentar o Grande ABC para os chineses e mostrar que a região tem potencial para receber investimentos. Além de conhecer, na prática, os efeitos da eletrificação na produção e nas relações de trabalho. Leia a entrevista:

DIÁRIO DO GRANDE ABC -- Uma delegação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC acaba de retornar da China. O sr. consegue fazer um balanço dessa viagem?

WELLINGTON DAMASCENO -- Foi uma imersão espetacular. Viver a China é algo que não conseguimos explicar. É outra dimensão. Eles, em muito pouco tempo, conseguiram dar saltos tecnológicos e de qualidade de vida que a gente não tem dimensão nem parâmetro para comparar. Quando olhamos para as agendas práticas, olhar a indústria, olhar o conglomerado de investimentos, a gente percebe como eles associaram o crescimento do país com o desenvolvimento tecnológico e industrial. Além disso, o governo apoia muito o desenvolvimento das empresas, mas as contrapartidas são muito claras. A empresa precisa fazer a sua parte, ter preço acessível, contribuir com o desenvolvimento local – da cidade ou da região –, exportar e ganhar mercado e precisa desenvolver tecnologia para ser pioneira ou ter liderança em determinada área. Isso para nós choca por um lado, pois vemos que eles estão anos-luz à nossa frente. Por outro, serve de inspiração em muitas áreas em que o Brasil tem condições também de disputar o protagonismo. O que precisamos é organizar as ideias, políticas públicas e não ter medo de fazer. Nós conseguimos projetar o Grande ABC para além da indústria, além de ter uma imersão de como a China conseguiu se desenvolver do ponto de vista social, atrelado ao desenvolvimento econômico e tecnológico. E o crucial é como o desenho da política se concretiza. O regime é diferente do nosso, mas podemos fazer muita coisa. Nos inspira a dialogar com quem estiver disposto e fazer outros modelos de governança para ver acontecer também no Brasil.  

CAPITALSOCIAL – As declarações do dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é típica de deslumbramento que desconsidera todas as condicionantes entre uma potência mundial numa geopolítica cada vez mais asfixiante aos países de terceiro escalão. O capitalismo de Estado dos chineses é imposto a ferro e fogo tendo como plataforma de competividade não apenas a modernidade dos investimentos privados e o suporte orçamentário do Estado, mas um regime totalitário que não guarda qualquer relação com a realidade nacional, por mais que os abusos presentes sejam a antítese da democracia desejada. Transpor para a região a síntese do desenvolvimento econômico chinês é algo tão improvável quanto pretender esconder uma bola de futebol numa garrafa de refrigerante. No caso específico das pautas e ações históricas dos metalúrgicos da região, nem pensar. A intervenção do Estado nacional fundamentada numa carga tributária inimiga da competição colocou a indústria há muito tempo no acostamento de competitividade.  As chamadas conquistas históricas dos sindicalistas da região, obtidas a ferro e fogo de combatividade, não cabem nos investimentos chineses pretensamente na região. Exceto se forem permitidas iniquidades trabalhistas dos asiáticos. Há uma incompatibilidade estonteante entre o modelo chinês aplicado na China e o modelo chinês que se pretenderia no Grande ABC de embates sindicais históricos. Algo que não passa pela cabeça da ditadura asiática, exceto em condições diplomáticas e ideológicas muito especiais.

DIÁRIO DO GRANDE ABC -- Qual foi o resultado prático dessa viagem?

WELLINGTON DAMASCENO -- A primeira coisa é que nós fomos para conhecer o processo de eletrificação do setor automotivo. Temos buscado negociar tanto políticas públicas no Brasil quanto acordos, como foi com a Volkswagen para a produção de carros híbridos. A gente tem discutido isso, mas não sabe exatamente o que é. O impacto dessa eletrificação nos empregos, na qualificação profissional. Então fomos onde hoje é o principal polo de produção, de tecnologia, que lidera no mundo na eletrônica embarcada ligada ao setor automotivo. O que eles estão fazendo? Como estão fazendo? Como isso afeta os trabalhadores? Passado isso, fomos em empresas que já vieram conversar com o sindicato. E em algumas que não vieram, mas que têm intenção de vir para o Brasil. Nós fomos ‘vender’ o Grande ABC. Essa foi uma das nossas tarefas. E nós deixamos claro que o sindicato não é um bicho-papão para as empresas, pelo contrário, nós somos um sindicato de luta, mas um sindicato propositivo, que busca soluções conjuntas, que negocia diretamente com entes governamentais. E nós fomos além, fomos conversar com conglomerados que não são do setor metalúrgico/automotivo, mas que, de alguma maneira, têm interesse de entrar e fazer parcerias em obras no Brasil. Isso também é importante para a nossa região, como conseguimos atrelar as necessidades de investimento em infraestrutura com essa visibilidade que o Brasil ganhou novamente e com a China querendo parceiros comerciais para fazer investimentos. Hoje, a gente não está sabendo vender o Grande ABC, que já foi pujante, mas não está aparecendo quando se fala do Brasil. O Estado de São Paulo tem uma cartilha, que foi encaminhada à China, que fala muito de setor de suco de laranja, um pouco do setor sucroenergético e da produção de commodities. Mas não tem o Grande ABC como uma região de logística privilegiada, mão de obra qualificada, do lado do maior mercado consumidor do País, com o quarto maior PIB do Brasil. Ninguém está falando disso. Então nós fomos falar. Nós somos sindicato, não temos governança sobre as cidades, mas a gente dialoga e estamos tentando viabilizar a chegada de empresas e de algum tipo de investimento aqui.

CAPITALSOCIAL -- O sindicalista confessa que foi à China para vender o Grande ABC, mas não sabe o que fazer para vender o Grande ABC entre outras razões uma das quais essencial, sobre a qual não faz qualquer menção: o Grande ABC é um tremendo abacaxi industrial, de baixíssima atratividade. Pior que isso: se pretende vender o Grande ABC aos chineses, precisa superar um obstáculo desafiador:  os chineses vão manter os olhos abertos e a atenção máxima para não caírem no conto do vigário. Como assim? Ora, logística privilegiada, mão de obra qualificada e quarto mercado consumidor do País são cantilenas mais que surradas e contestadas. Sobretudo em logística, somos para valer um dos piores endereços metropolitanas do País. A derrocada industrial neste século, mesmo com o sindicalismo regional de baixa temperatura, é prova disso. O traçado do Rodoanel virou rota de fuga ao levar muito do que tínhamos de plantas industriais. E a mão de obra qualificada é cada vez mais democraticamente espalhada, porque a tecnologia bem treinada torna os trabalhadores muito mais próximos da qualificação necessária, independentemente de onde atuam. Os chineses que o digam, não é verdade? Ou os chineses do campo que invadiram as cidades não são trabalhadores industriais cada vez mais explorados com remuneração baixas e produtividade escravizante? Estariam os sindicalistas da região dispostos a seguir o mesmo receituário ou os chineses viriam para a região sem levar o modelo chinês em consideração? Um modelo chinês mais apropriado a Estados menos suscetíveis a demandas sindicais, como, por exemplo, a BYD na Bahia. Aliás, seria bastante produtivo a mesma delegação sindical que esteve na China dar uma espiadinha constante, quando não visitas esporádicas, para entender o modelo da BYD em Camaçari, com todas as benesses do governo federal. Não custa entender como se fabrica o modelo chinês de produtividade, correlacionando-os ao modelo verde e amarelo que maltrata os investimentos com elevadíssimos impostos.

DIÁRIO DO GRANDE ABC -- O que o sindicato trouxe de prático da China?

WELLINGTON DAMASCENO -- De prático, apenas um evento que marca os 50 anos de relações Brasil e China. A gente combinou tanto com a Embaixada do Brasil na China quanto com a Embaixada da China no Brasil e com algumas empresas de fazer um evento no sindicato. Queremos aproveitar para uma rodada de negócios. Trazer empresas chinesas que querem se instalar aqui e que nós tivemos contato e empresas brasileiras que, inclusive, podem receber injeções de recursos de capital chinês para se levantar. De forma prática alguma empresa sinalizou (que vem para o Grande ABC)? Ainda não. Isso nós não temos. E se eu tivesse não falaria nesse momento. Ia guardar, porque o jogo no Brasil está muito pesado. Empresas que conversam com a gente com interesse de se instalar no Grande ABC estão sendo assediadas por outras regiões do País. E com vantagens que nós não temos. Porque as conversas que tivemos com o governo do Estado não avançam no sentido de a gente voltar a ser um polo (industrial), ou ter o apoio do governo do Estado, como outros Estados estão se movimentando. Então, por isso, a gente está sendo um pouquinho mais retraído. No começo, anunciávamos os memorandos de intenção (de instalação de fábricas na região), depois percebemos que outros estavam procurando essas mesmas empresas. Então abrimos o olho e nos tornamos mais pragmáticos. Mas saímos muito animados.

CAPITALSOCIAL – Se forem considerados fatores exclusivamente econômicos, no sentido mais amplo possível da modalidade, o Grande ABC vai ficar a ver navios de desinteresse prático dos chineses em investimentos. Exceto em casos muito específicos e mesmo assim dentro de uma perspectiva de bom relacionamento com o governo federal que tem os asiáticos como parceiros de jornada muito além do campo industrial. O Grande ABC está no fim da fila de atratividade de empresas nacionais, quanto mais de plantas internacionais que não levem em conta privilégios tributários.  Caso da BYD baiana.

DIÁRIO DO GRANDE ABC -- É perceptível que há uma mudança de comportamento em relação ao sindicalismo, se comparado com décadas atrás. Como o sr. vê isso?

WELLINGTON DAMASCENO -- São momentos distintos. Nas décadas de 1970 e 1980, a briga era para alguém se sentar com a gente para negociar as questões dos trabalhadores, as exigências, a questão salarial. Tínhamos de judicializar ou fazer greve para que alguém ouvisse. Ninguém virava carro porque gostava ou porque dava uma foto bonita no jornal. É porque estávamos falando com as paredes. Hoje não. Nós aprendemos muito a dialogar. Dialogar com o empresário, com o poder público, com outros países. No fim das contas, o que a gente quer é que o Grande ABC se desenvolva. Se a região não for viável, as empresas saem, os empregos saem e a região acaba. Aqui é o lugar em que a gente vive. O sindicato só existe porque tem empresas aqui, porque tem um parque (fabril) que funciona, que tem uma rede de universidades que dá, inclusive, condições de fazer o desenvolvimento tecnológico. Se perdemos isso, o que vai ser da região? Esse é o avanço dessa concepção do sindicato. No dia que o presidente Lula foi na Volks (em fevereiro), havia dois representantes da empresa no palco, com fala, e dois representantes do sindicato. E se contar do lado do governo, havia dois ex-presidentes do Sindicato dos Metalúrgicos (Lula e o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho). Isso faz parte do amadurecimento do relacionamento com a Volks. A empresa tem claro que ela tem alguns interesses e nós temos outros. E que em certas medidas eles convergem. Mas diariamente tem discussões pesadas e duras para garantir que o trabalhador tenha melhores condições e a fábrica tenha maior viabilidade nos negócios. A gente sabe que em alguns momentos somos muito antagônicos, mas vamos discutir o que podemos fazer na convergência. O resto a gente vai brigar. Quando os dois lados entendem isso, a relação flui.

CAPITALSOCIAL – Uma montadora do tamanho e da importância da Volkswagen dificilmente deixaria o Grande ABC, mas a aproximação entre capital e trabalho e também do Estado em forma de governo deve ser mantida permanentemente como um esforço de compromissos que superem os desafios do mundo dos negócios. A Volkswagen de São Bernardo já deixou São Bernardo em porções significativas, com divisões de produção e enxugamento da máquina de produção. Milhares de trabalhadores tiveram o emprego destruído em nome da atualização tecnológica e da competitividade. Essa é a regra do jogo do capitalismo. O outro lado da moeda prática é o estatismo perdulário e corrupto. A Volkswagen não sairia de São Bernardo mais do que já saiu. Diferentemente da Ford, por exemplo, que foi embora integralmente.   

DIÁRIO DO GRANDE ABC -- Com relação à fuga de empresas da região, o que é possível fazer para que elas permaneçam no Grande ABC?

WELLINGTON DAMASCENO -- Aí tem uma questão das políticas públicas. Porque aqui é uma desarticulação enorme entre as três esferas de poder. O município normalmente olha e diz que não tem o que fazer. O governo do Estado, estrategicamente, não tem um olhar voltado à indústria e, na maioria das vezes, não entra na discussão. E no governo federal, tivemos o azar de termos (Michel) Temer e (Jair) Bolsonaro, que foram tragédias para o Brasil. No fechamento da Ford, procuramos o governo Bolsonaro. Pediram para o (Hamilton) Mourão (vice-presidente) receber a gente. Falamos que estavam envolvidos 25 mil empregos diretos e indiretos, que era uma fábrica histórica. Ele falou que esse era um problema do mercado, que o governo não poderia se meter. Se não era competitiva, tinha de fechar mesmo. Isso é um absurdo, do ponto de vista que era uma empresa que recebeu incentivos dos mais diversos ao longo dos anos, que tinha uma cadeia estruturada de fornecedores, teve empresa que fechou as portas. O sindicato pode provocar. Provocar governo, empresas, fazer rodadas de negócios. Articular com o Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC), com as universidades, com o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) para melhorar o ambiente. Agora, os governos precisam ter um alinhamento melhor. O governo federal precisa garantir um ambiente de competitividade semelhante, não pode haver desequilíbrios na relação de disputa das empresas no mercado. O governo de São Paulo, precisa ter um protagonismo. Não pode assistir a outros Estados tomando a dianteira, sendo ousados na estratégia de buscar empresas e achar normal. Na questão industrial, o governo de São Paulo é omisso. E as cidades da região deveriam fortalecer mais a governança do Consórcio. Infelizmente, cidades como São Bernardo se omitem na questão do fechamento de empresas. Tem pouco que se fazer, mas poderia pautar a discussão no Consórcio, chamar outros atores e ser mais proativo, liderar discussão, uma frente contra o fechamento. Tem de ser propositivo. As cidades do Grande ABC não podem querer resolver problemas isoladamente, que é o que tem sido feito nos últimos anos. Tem cidades que deixaram o grupo. Enquanto o Consórcio do Nordeste está nadando de braçada, com articulação muito bem feita. Um Estado não disputa com o outro e todos estão crescendo. O Grande ABC precisa ter a mesma governança. Os prefeitos precisam parar de buscar o protagonismo para si, o marketing pessoal e olhar para o que será deixado para a região para as próximas décadas. O Grande ABC não pode ser apenas sete cidades. Tem de ser visto como uma grande cidade que tem sete prefeitos. A região precisa voltar a buscar o protagonismo que sempre teve. E isso se dá nas relações, nas articulações, do ponto de vista político e também do ponto de vista prático. Os prefeitos precisam entender que se o Grande ABC vai bem, a cidade que eles governam também vai bem. Se uma cidade perde uma empresa, a outra sofre.

CAPITALSOCIAL – Basta a ressalva de que o sindicalista não faz menção alguma à maior catástrofe da história da região, no caso os dois anos de recessão do governo de Dilma Rousseff, quando foram para o beleleu 22% do PIB local, para que as declarações se percam na poeira do fanatismo ideológico e partidário. Atribuir a terceiros a desindustrialização da região, notadamente aos seis anos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, é uma agressão ao discernimento. O Grande ABC é decadente no setor industrial há três décadas, pelo menos. E tudo que o sindicalista enuncia agora em forma de ações coordenadas integra o receituário desta revista digital, primeira publicação do País a apontar, já em março de 1990, o processo de desindustrialização e, ao longo dos anos, a fragilidade institucional de organizações públicas e privadas locais. Até parece que o sindicalista consultou as páginas digitais desta publicação para elaborar um conjunto de medidas que jamais foram postas em prática e que provavelmente não serão. Os chineses aos quais fizeram a visita dita espetacular ficariam horrorizados se conhecessem a realidade institucional da região, uma terra em estado catatônico incapaz de reagir, por exemplo, à catástrofe de Dilma Rousseff. O que esperar de diferente se o próprio entrevistado sequer fez qualquer menção àquele bombardeiro?

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