MINISSÉRIE EXPLORA FIO
CONDUTOR DO REFORMISMO

Sei que não é fácil e cômodo enfrentar um ou outro filhote de abutre que, por ser gataboralheirista, não admite que alguma coisa ou muita coisa pode dar certo na região. Em represálias risíveis, procura-se retaliar a verdade incômoda. Qual verdade? CapitalSocial, originalmente LivreMercado, pratica há exatos 35 anos o melhor jornalismo regional do País. Melhor: dis-pa-ra-da-men-te o melhor jornalismo regional do País.
Por essas e tantas outras, nada melhor que -- em comemoração a esses mesmos 35 anos de uma história vitoriosa iniciada em março de 1990 -- reproduzir em forma de coletânea o eixo editorial que determinou uma profusão de sucessos que ultrapassaram as páginas físicas e digitais da publicação.
São sete capítulos de uma minissérie que começa na próxima terça-feira e, intercaladamente, ganhará páginas desta publicação em no máximo três semanas, se tanto. Essa nova iniciativa integra um projeto que se estenderá até dezembro com incursões em outras temáticas. Começamos, como se sabe, mês passado com a recuperação do que chamei de “a primeira edição a gente nunca esquece”, confrontando-a com os tempos atuais.
UM NOVO MODELO
Se você estiver pensando que vai ler uma minissérie autobajulativa, marquetológica, como se vê em praticamente em tudo hoje em dia, mais do que antes, porque as redes sociais incrementam a vaidade e o ego, principalmente de políticos que correm atrás de votos mal os votos tenham sido apurados, se você estiver pensando nisso tire o cavalinho do pressuposto da chuva.
Vamos trazer para o presente um passado que também já foi presente e que à época de presente procurava levar aos leitores a trajetória de uma publicação que começou humilde como instrumento de necessidade deste jornalista.
LivreMercado/CapitalSocial é a maior obra de minha vida. E dividi essa obra durante duas décadas com jornalistas e equipe de apoio inesquecíveis. Tenho no sótão de minha residência cinco exemplares de cada edição. Vivo literalmente sob o domínio memorial de desbravadores de um novo modelo de jornalismo regional. Um novo modelo que completa, repito, 35 anos, sem que nenhuma réplica concorrencial tenha surgido. A Economia é a âncora.
PAIXÃO E NECESSIDADE
Dizem – e aí provavelmente se explica por que é a maior obra de minha vida – que o sonho de qualquer jornalista é ter um veículo próprio. Jamais pensei nisso. Tudo foi obra do acaso do cruzamento de dedicação ao jornalismo e necessidade de criar minha família. E agarrei a oportunidade com devoção.
Minha paixão pela profissão é um atestado de estupidez. O jornalismo jamais foi uma ferramenta de marketing pessoal ou financeiro para quem começou a vida profissional na área aos 16 anos de idade.
Jornalismo é hoje, depois da fase de necessidade de ganhar o pão de cada dia, uma ferramenta dedicada a um propósito de vida. Poderia estar já há algum tempo numa casinha no Interior do Estado, viver uma vida modesta e tranquila mas, estúpido, continuo aqui incansavelmente produzindo conteúdo independente, reformista, atrevido, fundamentado e tudo que se exige do bom jornalismo.
Pago muito caso por isso numa quadra da vida em que os valores se dissipam, a verdade se esvai, o autoritarismo diplomático e concentrador de poderes não encontra antídoto.
PAPEL DURADOURO
O que já reservei aos leitores para acompanhar a minissérie é um conjunto de decisões que tomei à frente de LivreMercado/CapitalSocial que, entre outras definições ao longo dos últimos 35 anos, ajudam a entender essa obra.
Não será ainda, nesta minissérie, que daremos espaço a explicações sobre o planejamento estratégico editorial de LivreMercado/Capital. Ficará para depois. E de forma bastante reduzida. A carga de respostas aos desafios de produzir um jornalismo personalizado numa região acostumada a, em larga escala, informações rasas, quando não protocolares, não é nada fácil.
Vou produzir um spoiler para os leitores entenderem o que verão a partir desta terça-feira.
Adotamos na publicação como estratégia de produtividade na área que sempre me foi reservada, a Redação propriamente dita, a prioridade de conciliar qualidade, quantidade, produtividade e temporalidade máxima. Por isso, desde a primeira edição, sendo que era um tabloide modesto, optamos pelo uso de papel sulfite, não papel-jornal.
EM PLENO PLANO COLLOR
A razão era simples: com o papel-jornal, culturalmente descartável antes que a noite chegasse a cada edição, haveria incompatibilidade conceitual explicitada no primeiro mote que adotamos. Que mote era esse? “Leitura o mês inteiro”. Era preciso adotar não só na linha editorial, mas na materialidade física da publicação, uma sintonia fina que mantivesse cada edição a salvo do lixo ou de outro uso mais emergencial.
Esse é de fato um spoiler que antecipa outra fornada de recuperação da história de 35 anos de LivreMercado/CapitalSocial, porque não está na minissérie em fase de lançamento. Pretendi, com o exemplo, apenas deixar claro que naquele 1990, em plena convulsão do Plano Collor, quando já somava 24 anos de experiência profissional, reunia alguns dos dispositivos essenciais à empreitada de preparar alternativa diferenciada de leitura na região. Existia uma cratera temática a ser preenchida. A Economia e o regionalismo no mais amplo sentido da expressão eram desprezados. Respirava-se arrogância. A inviolabilidade do poderio regional não poderia jamais ser contestada, quanto mais sugerida. LivreMercado/CapitalSocial o fez já na primeira edição. Foi um choque.
O insumos que os leitores vão conhecer nessa minissérie, relativos a conceitos de produção aplicados durante a trajetória de LivreMercado/CapitalSocial, foram retirados principalmente do mundo corporativo sem qualquer semelhança com as redações dos jornais em que trabalhara.
Sabem por quê? Porque os jornais em que trabalhei não os apresentava nem como exceção no figurino de produção de informações.
CASE ILUMINADOR
Querem saber mais? Uma das maiores sacadas do que revelaremos em detalhes na minissérie foi retirada de uma entrevista que fiz pessoalmente numa empresa do Polo Petroquímico de Capuava. Saí dali com a entrevista feita e uma porção de decisões na cabeça. Todas retiradas daquele case que tive oportunidade de preparar. Algo fora de qualquer contexto de então e mesmo de hoje em redações semelhantes às que comandava. Chamei de “multifuncionalidade” a medida adotada. Não inventei a roda denominativa.
Multifuncionalidade, então há quase 30 anos, já era um conceito que se consagrava em organizações privadas mais próximas do que os novos tempos de globalização exigiam. Ou seja: competitividade.
Por essas e outras, duvido que o leitor com alguma preocupação com o Grande ABC tão à deriva no mundo comunicacional, onde o padrão dominante, embora não único, é a entrega pura e simples de conteúdos ao gosto dos donos provisórios dos poderes públicos municipais, principalmente, e da cadeia restrita de anunciantes igualmente presos às mesmas prefeituras, duvido que o leitor deixará de acompanhar o que está prometido.
DESAFIO INSUPERÁVEL
É inevitável que, diante dessa breve exposição, não haverá quem resista a perguntar: afinal, por que a revista de papel, LivreMercado, cedeu espaço à revista digital, CapitalSocial, se o conjunto da obra é comprovadamente de tanto sucesso. Poderia escrever um livro em resposta, mas vou ser breve: porque desde a chegada da Internet o mundo do jornalismo virou de cabeça para baixo. Imagine então a Internet como sucessora de um fenômeno regional, a desindustrialização?
Na região, regularmente, é pouco provável sustentar independência como tem mantido CapitalSocial digital caso se metesse a voltar ao formato de papel de LivreMercado. Teria de entregar-se aos desejos daqueles que são prioritariamente a razão de fazer jornalismo, ou seja, os agentes principalmente públicos que decidem a vida de gerações.
A sociedade servil e desorganizada não oferece respaldo a iniciativa dessa configuração. A sociedade empresarial também não. Duvidam? Vejam praticamente toda a mídia regional. Reparem, pesquisem. Cadê as inserções de publicidade do setor privado? O que temos são heróis da resistência.
GUERRA DUPLA
Uma combinação de novas tecnologias digitais, que fecharam milhares de publicações em todos os cantos do mundo e, no caso do Grande ABC, do massacre às pequenas e médias empresas comerciais, de serviços e mesmo industriais ao longo dos anos 1990, solapou a resistência publicitária de LivreMercado.
O esquartejamento foi gradual e insano. A marca LivreMercado foi avaliada em R$ 1 milhão por um comprador egocêntrico e completamente alheio às nuances do mercado editorial. Desfigurada, não resistiu a 12 meses de circulação.
CapitalSocial, que existe desde 2001, justaposta à LivreMercado, perdeu uma redação inteira, dos melhores profissionais da praça regional, mas manteve um jornalista que procura suprir a demanda como se uma redação inteira fosse.
O desafio é abrangente. De futebol à sociedade, de Política à Desenvolvimento Econômico, de tudo que possa ser explicativo e muito além do puramente noticioso, sempre tendo o Grande ABC como palco. E ainda somos a única publicação regional do País com a convicção e o compromisso de que é essencial ir além, muito além, de informações cada vez mais epidérmicas e sujeitas à desconfiança.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Nenhuma Inteligência Artificial será capaz de competir em conteúdos com CapitalSocial, exceto se fizer uma clonagem dos textos de CapitalSocial. Quer fazer um teste? Vá à Internet e procure o que a IA reserva sobre o que é o oficialmente o Consórcio dos Prefeitos do Grande ABC. Vá lá, teste?
Feito isso, procure em nosso arquivo o que temos sobre o que chamamos de Clube dos Prefeitos em forma de análises históricas. São nada menos que 680 opções. Se procurar “Consórcio Intermunicipal” serão cumulativamente e não cumulativamente outras 570 opções.
Você ainda acha que a minissérie que começa quinta-feira é dispensável? O fio condutor do reformismo vai se revelar por inteiro. Não se faz o melhor jornalismo regional do País sem inspiração, metodologia, planejamento e determinismo.
O despojado formato de LivreMercado/CapitalSocial possivelmente passou despercebido da quase totalidade dos leitores nos primeiros anos de circulação. Ao ganhar o formato de revista, em 1996, o destino estava definitivamente sacramentado.
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