QUANTO MAIS REZO, MAIS
ASSOMBRAÇÃO APARECE

Quanto mais rezo para que o Clube dos Prefeitos tome rumo que não seja a continuidade de um vexame de três décadas, com alguns períodos de seriedade e compromisso, mais assombração de incompetências aparece. A confirmação do evento de ontem na sede da instituição, um fracasso completo, remete a outra máxima popular: a emenda de besteiras apressadamente aplicadas é pior que a bobagem dos erros inicialmente anunciados.
Antes de entrar propriamente no trágico resultado do encontro, é preciso reiterar algo que explica o vexame: a nova turma do Clube dos Prefeitos, Marcelo Lima prefeito dos prefeitos à frente, marcha para algo extraordinariamente demolidor: vai conseguir superar todas as turmas anteriores em despreparo genético mesclado com marketing mequetrefe. Ou seja: viveremos durante quatro anos, salvo um cavalo de pau surpreendente, o pior ciclo de prefeitos regionais.
Cada vez mais o Clube dos Prefeitos reforça a imagem de que se trata mesmo de Clube dos Prefeitos Pedintes, quando não Clube dos Prefeitos Despreparados. Pode ser que eles, os prefeitos, se tornem ao longo dos próximos quatro anos bons prefeitos municipais, porque municipalismo é a vocação deles, mas como prefeitos regionais estão se cristalizando como a negação da regionalidade que tanto desfilam a plateias iludidas, porque ignorantes.
PÚBLICO-ALVO REDUZIDO
Vamos ao caso do encontro de ontem na sede do Clube dos Prefeitos, um encontro sobre o qual fiz análise aqui anteontem. O lançamento do programa Nova Indústria Grande ABC, cópia mal ajambrada do Nova Industrial Brasil, do governo federal, ultrapassou os limites da desfaçatez. O Clube dos Prefeitos não pode ser subestimado, portanto. Afinal, insiste em pretender que um bebê de dois meses atravesse a nado o Canal da Mancha.
Depois de anunciar nos jornais virtuais e de papel que o universo pretendido à inclusão no Nova Indústria Grande ABC alcançaria 136 mil empresas industriais, informação sobre a qual opusemos dado reais, eis que saltou uma mudança de rota numérica.
O secretário-geral do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico (que não passa de ficção), Adroaldo Oliveira da Silva, reduziu drasticamente a quantidade para 11.925 pessoas jurídicas.
Está enganado o leitor que acha que o recuo corretivo seria suficiente para aplacar qualquer restrição. Nesse novo total, ou seja, quase 12 mil, estão incluídos, vejam só, além de Micro e Pequenas Empresas, também os chamados Microempreendedores Individuais, MEI.
UMA ABERRAÇÃO
Todo o mundo razoavelmente bem-informado sabe que MEIs não passam, em regra, de trabalhadores travestidos de empreendedores, não empreendedores travestidos de trabalhadores. São profissionais de áreas distintas que, em larga margem, mal conseguem pagar os tributos legais.
Traduzindo: são predominantemente desempregados e subempregados deserdados precocemente ou não de emprego com carteira assinada numa região e num País que insistem em colecionar fracassos.
Convenhamos (e eis um motivo mais que justo à indignação que não nego porque tenho sangue nas veias e uma bala de calibre 38 no pescoço, depois de descer pela boca a 1.040 quilômetros por hora) que é uma aberração, quando não um desrespeito, considerar que esses deserdados possam integrar um pelotão, apenas um pelotão, de empreendedores que desafiem as leis da natureza econômica e se insiram em grandes cadeias de produção industrial.
Como acreditar nisso, senhoras e senhores, se pequenas empresas de verdade, com patrão e muitos trabalhadores, foram varridas do mapa produtivo da região nas últimas três décadas – a partir principalmente do governo elitista de Fernando Henrique Cardoso, não bastasse o sindicalismo de tratamento uniforme burro?
FALTA TRANSPARÊNCIA
Diz o noticiário que o encontro de ontem contou com a adesão de 30 empresas. Não se divulga nada sobre essa lista. Transparência é raridade nas ações do Clube dos Prefeitos. E isso vem do passado. As reuniões são secretas. Se até o Banco Central transforma os encontros em atas públicas, como explicar a opacidade dirigista do Clube dos Prefeitos? Se isso não for arrogância, o que seria?
Querem um, apena um, exemplo do que isso significa? Durante o período da pandemia do Coronavírus, o Grande ABC viveu um dos piores tormentos nos indicadores de mortalidade. Superamos a média brasileira em mais de 30%. Registramos número de mortes semelhante ao Distrito de Sapopemba, da Capital. Fomos um território de fracassos e confirmação de individualidades municipalistas acima da cooperação regionalista. O mandachuva do Clube dos Prefeitos no período, prefeito Paulinho Serra, protegida pela mídia de conveniência, simplesmente deu de ombros àquela realidade. Mais que isso: cantarolou eficiência no combate ao demônio incontrolável.
SEM O PREFEITO
O secretário-geral do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico carrega no peito o mesmo vírus de descaso e intolerância ao contraditório informativo. Mais que isso: faz proselitismos diversionistas dos números e de ações ocasionais, ou seja, sem um regramento metodológico incremental ao enfrentamento em diversas categorias que abalam a economia da região.
Para quem anunciou inicialmente um universo de 136 mil empresas, reduz para quase 12 mil e coloca nessa contabilidade os pobres Microempreendedores Individuais, o mínimo que se pode dizer é que existe no Clube dos Prefeitos uma insistente lacuna de bom senso, responsabilidade, respeito e compromisso com a sociedade que paga impostos para manter aquelas duas instituições.
Levando-se em conta o noticiário, nem mesmo o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, Marcelo Lima, deu as caras no encontro de ontem com supostos 30 empreendedores decididos a participar do projeto. Se o próprio prefeito dos prefeitos não aparece na foto, e o prefeito dos prefeitos é tarado no quesito, imagine o ambiente que antecedeu o encontro, após a revelação nesta revista digital da aberração anunciada.
Pior que isso, mesmo, é o destaque que o jornalismo de papel deu ao encontro barca-furada, colocando-o no topo de primeira página, naquilo que chamo de manchetíssima.
ANÁLISE PROPOSITAL
Confesso que foi proposital, muito proposital, a edição de ontem sobre o pós-Lula da Silva no Grande ABC, especificamente do setor industrial. Pretendi e o fiz com o sentido de que coincidisse com o encontro marcado com o potencial de 136 mil donos de indústrias na região – repito, um número estrondosamente mentiroso.
A melhor maneira de combater a mentira, o triunfalismo, a suposição de que a sociedade desorganizada e servil é um bando de imbecis, como deixou evidenciada a programação do Clube dos Prefeitos, é introduzir vacinas de realidade no mesmo organismo enganado. São alertas de verdades consolidadas em estudos e em dados insofismáveis. É o que procuramos efetivar todos os dias.
ERRO ZERO
A correção de rota do público-alvo do programa do Clube dos Prefeitos foi imediata em relação ao que se divulgou nos jornais, mas a emenda de besteiragem, como escrevi lá em cima, foi pior que o soneto do erro.
Como interpreto cada análise editada nesta revista digital como um capítulo novo de uma interminável telenovela dividida em várias temáticas, nada melhor que continuar a compor esse mosaico histórico que o tempo trata de confirmar.
Infelizmente, o Grande ABC institucional se tornou uma obviedade que não exige cognição crítica de erro praticamente zero. Aliás, como já escrevi, esta revista digital e a antecessora LivreMercado, que formam uma mesma publicação, só errou e errou feio em algumas situações em que a torcida para que o Grande ABC desse certo foi muito maior que a racionalidade de interpretar contraceptivos de precaução com o triunfalismo de ocasião.
INADIMPLÊNCIA ELEVADA
Apenas para complementar o quadro regional e nacional que envolve os Microempreendedores Individuais, o jornal Repórter Diário publicou ontem uma reportagem emblemática. O material dá conta de que o diretor de Fomento do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresas de Pequeno Porto, Marcelo Strama, ao visitar o Clube dos Prefeitos em março, declarou que são cerca de 250 mil cadastrados na região. Desse total, a maioria é de prestadores de serviços como cabeleireiros, vendedores em geral e prestados de serviços administrativo, além de serviços d pedreiro e alvenaria.
Mas o principal mesmo da reportagem é que metade dos MEIs entra na conta de inadimplência tributária. “São pessoas que por algum problema ou falta de informação estão atrasado as contribuições e esse diagnóstico vai nos ajudar a entender como ajudá-los a se regularizar. O Ministério quer trazer toda a estrutura e amparo para o MEI. Com o Contrata+ ele vai poder contratar com mais facilidade com o poder público e as prefeituras vão ter uma plataforma desburocratizada para contratar os serviços de menor valor – disse o representante ministerial.
Como se vê, não falta combustível de ilusão à grande maioria da massa de trabalhadores-empreendedores frustrados duplamente.
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