DIPLOMA PARA QUE NUMA 
 ECONOMIA FRAGILIZADA?                                                                                                  
   DANIEL LIMA - 02/10/2025
  DANIEL LIMA - 02/10/2025
Fiz e refiz as contas. Duvidei do que constatei. Procurei constatar outra vez. Quase entrei em parafuso mental. Será isso mesmo o que encontrei? Não é possível que seja isso. Mas é isso. Um desastre. Diploma de Ensino Superior no Grande ABC não quer dizer praticamente nada no mercado de trabalho de uma região decadente embalada por ufanistas. Somos um retrato piorado do Brasil de assistencialismo em cada nova manchete de jornal.
Observei atentamente os dados desta temporada, dei uma espiada no mercado de trabalho do ano passado. Não teve jeito: de 22.112 novos trabalhadores da região com carteira assinada neste ano, apenas e tão somente, miseravelmente, 109 contam com diploma de Ensino Superior. Não dá 5% do total.
Sugiro aos leitores que façam breve exercício crítico. Se cada leitor escolher três adjetivos para essa tragédia, a língua portuguesa provavelmente contará com neologismos a dar com pau. O estoque não dará conta.
Essa análise não está rigorosamente completa, rigidamente impenetrável a eventuais imprecisões, mas está tecnicamente sustentada nos termos que coloco, independentemente de outros fatores.
MERITOCRACIA EDUCACIONAL
Conclusão: o mercado de trabalho do Grande ABC é um atentado ao que chamaria de meritocracia educacional. E isso tem, em síntese, irreversível avaliação: onde o Estado Todo Poderoso bota as mãos e os pés para mandar e desmandar, o troço fica feio demais.
O resultado é uma lástima. Nem 5% de ocupação de vagas em diversos setores é demais aos portadores de diplomas do Terceiro Grau. E não faço agora juízo de valor quanto à qualidade da indústria de diplomas. Isso é outra tragédia.
Faltam alguns dados agregados que poderiam aprofundar as conclusões, mas, como já antecipei, nada disso altera o ritmo da chuva ácida de uma realidade latente: o emprego formal no Grande ABC é um catado de profissionais de baixa escolaridade. Diante da gravidade dos efeitos colaterais longevos da desindustrialização, o que temos são os setores de comércio e de serviços de padrão terceiro-mundista predominando nos indicadores contratuais e de baixos salários.
SEM REAÇÃO
Por conta disso, intuitivamente despertado à iniciativa de aprofundar os dados, ainda ontem alertava mancheteiros de jornais de papel e digitais sobre o risco de comemorarem dados supostamente positivos do Grande ABC quando se trata de acompanhamento dos números do Ministério do Trabalho.
Se é verdade que é muito melhor ter saldo líquido de empregos a cada mês do que ver a vaca indo para o brejo como o foi, entre outros períodos, durante os dois anos dantescos de Dilma Rousseff, ou os oito anos massacrantes em termos de Grande ABC de Fernando Henrique Cardoso, se isso é verdade, não é menos importante, ou mais importante, constatar que cada vez mais sofremos rebaixamento da qualidade de mão de obra e dos rendimentos decorrentes disso.
Sabem os leitores o que é pior em tudo isso? Como essa desgraceira vem do passado e não para de destruir a mobilidade social do Grande ABC, os titulares das secretarias de Desenvolvimento Econômico dos sete municípios da região, os prefeitos, as instituições privadas, as entidades sociais, tudo isso, absolutamente tudo isso, não vai se importar com essas revelações.
Nenhuma medida será sequer imaginada, quanto mais proposta. Tudo ficará como se estivéssemos sob céu de brigadeiro socioeconômico. Mais ainda: o estúpido do analista será mais uma vez execrado pela banda podre de puxadores de saco de gestores públicos e oportunistas que lideram várias organizações coletivas de araque.
VALOR AGREGADO
Gostaria de avançar uma pouco mais nessa seara indigesta, mas faltam matrizes de dados que permitam enveredamentos. Não há ainda disponíveis detalhes mais consistentes desse descalabro de descarte do emprego formal para quem tem diploma completo do Ensino Superior.
Entretanto, para bom entendedor, os números expostos bastam: não há na região mercado demandante de cérebros supostamente mais apetrechados. Nosso terciário, como já dizia Celso Daniel há 30 anos, é sofrível. A evasão de talentos, principalmente em direção à Capital, é processo que vem de longe. Perdemos capacidade de produzir com valor agregado, antes farto no setor industrial e, mesmo com ressalvas e limitações, irradiadores de capital social na região.
Pensem bem nos números que repassei no início desta análise. Sabem lá o que são apernas 109 empregos formais com Ensino Superior ante o total parcial da temporada de 22.112? Não dá 5%.
O universo de moradores da região portadores de Ensino Superior está desatualizado, mas se aproxima de 20% da População Economicamente Ativa. Isso significa, em linhas gerais, que há defasagem assombrosa. Que muita gente diplomada que está no mercado de trabalho não está no mercado de trabalho da região. E que muita gente diplomada que não está no mercado de trabalho da região e também no mercado de trabalho fora da região provavelmente está desempregada.
RASTREAMENTO TOTAL
Funcionasse para valer, mas para valer mesmo, funcionasse de modo que deixasse a política partidária de lado, que desse um chute na troca de gentilezas e vantagens mútuas com o dinheiro público, o Clube dos Prefeitos há muito teria, também, dado um safanão no desconhecimento regional.
Com isso, criaria força-tarefa para devassar o mercado de trabalho nos sete municípios. Estaria, com isso, abrindo todo um organismo em metástase. Mercado de trabalho reflete o dinamismo de um território.
Não vou entrar em detalhes sobre o que os prefeitos e assessores poderiam fazer, mas o que poderiam fazer de imediato é montar sim um grupo de técnico para mergulhar na realidade do emprego formal na região. Esmiuçar todos os pontos. Conhecer profundamente o passado, o presente e as tendências que se cristalizam.
Não é possível que não seja observado esse caos que exponho pela primeira vez nesta publicação. Diploma de Ensino Superior desprezado, subtilizado ou evaporado é desperdício de tudo.
Também me faltam, porque parece não existirem disponíveis com alguma facilidade de acesso, os dados nacionais e estaduais que revelem analogamente a participação de profissionais com Ensino Superior no mercado de trabalho. Desconfio de que são semelhantes ao que temos no Grande ABC. Essa é apenas uma possibilidade conclusiva e mesmo assim uma possibilidade conclusiva com certo grau de inconsistência.
VIÉS DE PERDA
Suponhamos que o Grande ABC tenha números relativos de trabalhadores com carteira assinada portadores de Ensino Superior Completo semelhantes à média Nacional e à média do Estado de São Paulo. Duvido que isso ocorra, porque neste século perdemos de goleada para o PIB per capita dessas duas esferas de poder. Mas, repito, suponhamos que isso seja realidade. O que diferenciaria, então, o tratamento ao caso regional?
Ora, diante da possibilidade de semelhança de resultados, o que emergirá em forma de resultado provavelmente imperceptível aos descuidados é que a linha do tempo demarcará comportamento de viés extremamente negativo da região, enquanto a média nacional e a média estadual correriam em sentido contrário, ou seja, de avanço relativo, embora não muito.
Para traduzir tudo isso em termos supostamente mais compreensíveis: a defasagem dos diplomados do Ensino Superior no Grande ABC reproduzida na forma de baixa acessibilidade ao mercado de trabalho formal é muito mais inquietante do que em qualquer lugar do planeta.
Os efeitos da desindustrialização persistente são extensivos no tempo e corrosivos às corporações que perderam parte ou o todo dos carros-chefes de demanda agregada, no caso as grandes empresas que se escafederam. Só nos restam o setor automotivo e o setor químico/petroquímico das imensas cadeias de produção do passado. E esses dois tentáculos estão cada vez mais abatidos. E vão se esvaziar ainda mais. O mundo não tem limites. Principalmente para os chineses predadores, glorificados por sindicalistas ideologicamente cegos, surdos e mudos.
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