PIB INDUSTRIAL ESTÁ 
 MAIS VULNERÁVEL                                                                                                  
   DANIEL LIMA - 15/10/2025
  DANIEL LIMA - 15/10/2025
As duas Doenças Holandesas do Grande ABC (dependência exagerada de determinadas atividades econômicas) dominam o PIB Industrial neste século de grandes transformações, mas sofreram mudanças na configuração regional. Os otimistas podem chamar a mudança de seletividade. Os realistas não abririam mão de um desfecho mais inquietante: o que se tem de fato é vulnerabilidade.
A Doença Holandesa Automotiva perdeu força interna e praticamente empata em importância e em preocupação de produção com a Doença Holandesa Químico-Petroquímica. A distância regional da participação relativa de Santo André e Mauá no PIB Industrial em relação a São Bernardo e São Caetano está quase empatada.
Neste século, a partir do ano 2000, Santo André e Mauá ganham a disputa interna contra São Bernardo e São Caetano, mas no conjunto da obra do PIB Industrial, o Grande ABC perde feio no ritmo para o PIB Industrial Paulista. Traduzindo: ganhos internos e perdas internas relativamente ao Estado têm sincronismo deletério.
ESCOPO NEGATIVO
Se o Grande ABC fosse um endereço em que principalmente as autoridades públicas se preocupassem com o andar da carruagem industrial em constante desajuste, o comportamento do setor seria monitorado frequentemente. Não é o que se passa.
Apenas CapitalSocial tem-se dedicado à questão desde sempre, há 35 anos. E as duas Doenças Holandesas do Grande ABC são cumulativamente destrutivas, embora, paradoxalmente, salvadoras da pátria. Não fosse a soma das duas atividades, o Grande ABC industrial estaria mais enrascado ainda.
Mas de qualquer forma, o escopo negativo deve ser enfatizado. Primeiro porque as duas Doenças Holandesas criam dependência perigosíssima ao conjunto da obra de equilíbrio econômico e social da região. Principalmente o setor automotivo.
Segundo porque são atividades que restaram nos últimos 30 anos. As demais cadeias produtivas praticamente desapareceram ou sobrevivem à mingua, e mesmo assim porque contam com alguma inserção nas duas Doenças Holandesas resilientes. Há em várias dessas cadeias esvaziadas fortes ligações com os setores dominantes. Na medida em que se perde produção automotiva e também a produção químico-petroquímica, mais a indústria regional como um todo sofre abalos. Embora faltem estudos mais detalhados, há complementaridades entre as duas atividades que lideram a indústria local e os demais setores.
FRAGILIDADE SEM LIMITE
Quem perguntar a qualquer um dos secretários de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC o que vem a ser as duas Doenças Holandesas da região certamente receberá um abanar de cabeça como resposta. E mesmo que a pergunta seja traduzida como os dois setores mais importantes da região, eles certamente não saberão o que responder ou, na melhor das hipóteses, não terão noção de grandeza.
Nada disso é novidade, mas é precisa ser reiterado. Os cargos são ocupados, invariavelmente ao longo dos anos, com exceções que confirmam a regra, por agentes mais relacionados a votos do que à competência específica. Um bom cabo eleitoral pode virar secretário de Desenvolvimento Econômico. Enquanto isso, a Economia do Grande ABC não encontra limites à fragilidade.
Fortemente sob influência das duas Doenças Holandesas, Santo André, São Bernardo, São Caetano e Mauá têm poder de reação limitado quando se olha muito além do território do Grande ABC.
ABAIXO DO ESTADO
Desde janeiro de 2000, o PIB Industrial do Grande ABC, considerando-se todas as atividades, registrou crescimento nominal de 206,75% enquanto o PIB Industrial Paulista cresceu também nominalmente 310,72%. Ou seja: 50% mais.
De R$ 12.552,19 bilhões em 1999 o PIB Industrial da região chegou a R$ 38.504.718 em 2021. Sempre sem considerar a inflação. Já o PIB Industrial do Estado de São Paulo saiu de R$ 126.191,88 bilhões em 1999 e passou para R$ 518.292.532 bilhões em 2021. Dessa forma, a participação do PIB Industrial do Grande ABC no PIB Industrial dos Paulistas caiu de 9,95% em 1999 para 7,43% em 2021. Uma queda de 25,32%% . Mais de um ponto percentual por ano.
Santo André e Mauá contam com impactos menos ruinosos causados pela Doença Holandesa Químico-Petroquímica. Neste século, entre 2000 e 2021, a soma dos dois endereços saiu, sempre sem considerar a inflação, de R$ 3.543,76 bilhões para R$ 15.539,39 bilhões. Um crescimento de 338,50%. Tudo por conta do aumento da produção do Polo Petroquímico, centro nervoso do PIB Industrial dos dois endereços. A participação relativa do PIB Industrial de Santo André e Mauá no PIB Industrial do Grande ABC saiu de 28,23% em 1999 para 40,36% em 2021.
MAIS COMPLICADO
Já a situação de São Bernardo e São Caetano é diversa. O PIB Industrial, fortemente influenciado pelo setor automotivo, saiu de R$ 6.809,29 bilhões em 1999 e atingiu R$ 16.732,81 bilhões em 2021. Um crescimento nominal de 145,73%. A participação relativa do PIB Industrial de São Bernardo e São Caetano no Grande ABC caiu de 54,25% em 1999 para 43,46% em 2021.
Com essas mudanças, a diferença favorável a São Bernardo-São Caetano no PIB Industrial da região caiu 26,02 pontos percentuais em relação a Santo André-Mauá. Ou seja: de 54,25% a 28,23% para 43,46 a 40,36%. É muito provável que quando o IBGE atualizar os dados do PIB dos Municípios das temporadas em atraso (2022, 2023 e 2024) Santo André e Mauá teriam dado uma virada no placar amplamente desfavorável de 1999.
As Doenças Holandesas do setor automotivo e do setor químico-petroquímico estão caracterizadas em dados oficiais publicados pelo IBGE que CapitalSocial transformou em análise. No caso de Santo André, Produtos Químicos contam com participação relativa interna no PIB Industrial de 51,20%. Quando se soma esse total aos 23,10% do setor de Borrachas e Material Plástico, que integra a cadeia químico-petroquímica, o total de Santo André chega a 74,3%. Outras atividades com menor nível de participação relativa também sofrem a influência químico-petroquímica, caso da Metalurgia.
No caso de Mauá, Produtos Químicos ocupam 33,60% do PIB Industrial. Um pouco abaixo de Derivados de Petróleo, com participação relativa de 41,8%. Em conjunto, os dois setores relacionados diretamente à Doença Holandesa Químico-Petroquímica registra participação relativa de 75,4% do PIB Industrial de Mauá.
POUCA ALTERAÇÃO
A Doença Holandesa Automotiva de São Bernardo tem 77,7% de participação relativa com a soma de 51,10% do setor de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias e os 13,7% de Produtos Químicos. Podem se somar também os 9,7% de Metalurgia. Isso tudo diretamente ou quase tudo diretamente. Mas as demais atividades industriais têm forte ligação com o parque automotivo.
Em São Caetano, outro braço da Doença Holandesa Automotiva, o setor de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias representa 52,9% do PIB Industrial, enquanto Metalurgia chega a 10,1%. Entre as duas atividades está o setor de Produtos Alimentícios, com 11,4%.
O PIB Industrial desses quatro municípios do Grande ABC correspondia em 1999 a 82,48% do PIB Industrial do Grande ABC. Depois de mais de duas décadas deste século, praticamente nada mudou: Santo André, São Bernardo, São Caetano e Mauá representam 83,80% do PIB Industrial da região.
DIADEMA DESPERDIÇA
Diadema não entra nessa contabilidade porque Diadema não conta com Doença Holandesa. Há uma harmoniosa, mas nem por isso inabalável distribuição de geração de riqueza industrial no perfil de Diadema. Borracha e Material Plástico ocupa 16% do parque industrial, Produtos Químicos 15,4%, Máquinas e Equipamentos 12,5%, Metalurgia 12,5%, Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias 10,0% e Produtos de Metal 9,0%.
Mesmo com toda essa diversidade, o balanço do século no setor industrial de Diadema não é dos melhores, quando comparado à média regional e à média estadual. O PIB Industrial de Diadema cresceu nominalmente apenas 163,51%, abaixo da média regional de 206,75%. E muito aquém da média estadual nacional, de 310,72%.
Diadema já foi objeto de várias análises deste jornalista. Embora seja o endereço regional potencialmente mais bem dotado de logística, cercada pelo Rodoanel, Anchieta e Imigrantes, Diadema consegue o milagre da incompetência estratégica ao se embananar na ocupação dos espaços urbanos que se tornaram labirínticos.
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