Esportes

Santo André segue sinalização
de prefeito para aderir à SAF

  DANIEL LIMA - 09/11/2021

A direção do Santo André vai enviar nos próximos dias pedido de informações sobre o montante financeiro de que precisará para contratar consultoria especializada na nova legislação esportiva e consequente negociação com organização de negócio do futebol para se tornar clube-empresa dentro das regras da SAF, Sociedade Anônima do Futebol.  

As consultas serão enviadas a pelo menos três empresas do ramo, todas sediadas na Capital. Uma das quais já estaria definida e é conduzida pelos especialistas Carlos Eduardo Ambiel e José Francisco Manssur. Outras duas estão sendo cuidadosamente selecionadas. Ambiel e Manssur participaram ativamente da nova diagramação legislativa do futebol empresarial no País.  

O objetivo do Santo André é tornar-se um dos primeiros clubes do País a contar com os apetrechos legais da SAF, recentemente aprovados pelo Congresso Nacional e que já não dependem de regulamentação.    

Concorrência forte  

Apesar do desejo da direção do Santo André de sair na frente, há indicativos de que a iniciativa dificilmente estará entre as primeiras que se projetam para usufruir da legislação.  

Há uma combinação de clubes associativos mais adiantados em termos de documentação e acertos com investidores.  Além disso, a expectativa de que a transferência teria potencial econômico-financeiro bastante satisfatório não parece desfrutar de praticidade. Há avalanche de agremiações que já se manifestaram em busca de parceiros. Consultorias do setor estão abarrotadas de propostas ou de solicitações semelhantes às que o Santo André anuncia. Quando a demanda é maior que a oferta, a tendência é de baixa elasticidade dos preços.  

A direção do Santo André evita falar sobre o assunto, e está mesmo pronta a dissuasões iniciais, mas a posição favorável do prefeito Paulinho Serra, manifestada ontem na CapitalSocial, torna a iniciativa praticamente irreversível. 

Bola e Poliesportivo  

Primeiro porque o Santo André sabe que o futuro de clube associativo no futebol profissional é cada vez menos sustentável. Segundo porque a Prefeitura de Santo André estaria pronta a dispensar toda a atenção à empreitada, porque pretende promover a concessão do Estádio Bruno Daniel num novo modelo contratual. 

Os dirigentes do Santo André que já estariam decididos a procurar especialistas para dar conta do recado do negócio da bola preferem não antecipar informações além da principal, que visa proteger a agremiação: contratar uma empresa do ramo que também possa intermediar relações com investidores experientes que ficariam responsáveis pelo futebol dentro de uma estrutura que provavelmente separará a bola que rola nos gramados e o Parque Poliesportivo Jairo Livolis, reservado aos associados.  

A missão da consultoria especializada que vai tratar do futuro do Santo André Sociedade Anônima é árdua e complexa, e demandará, segundo especialistas, pelo menos quatro meses de análises, definições e eventual processo de transferência de controle. 

Inventário completo  

Um inventário completo do balanço patrimonial do Santo André, entre outras questões, seria a primeira medida a ser tomada. Haveria pelo menos 200 quesitos a responder. A sinergia entre a consultoria especializada e eventual grupo de investidores é compulsória no mundo da bola nestes tempos de profissionalismo também fora de campo.    

O certo atraso em dar um tiro de largada na contratação de empresa especializada é minimizado. A explicação é que praticamente nenhuma agremiação do porte do Santo André fez algo diferenciado para saltar na dianteira dos negócios.   

Além de a corrida de obstáculos rumo ao clube-empresa não oferecer tanto desconforto entre a realidade do Santo André e de clubes que teriam largado na frente, acredita-se que as condições financeiras, econômicas e esportivas do Santo André são particularmente vantajosas. Há passivo relativamente elevado, mas tudo enquadrado em cronograma sustentável de quitação. 

Importância do Paço  

O Santo André não é um clube inviável economicamente a eventuais investidores como o vizinho São Caetano, cuja montanha de dívida ultrapassa a R$ 60 milhões. Longe disso. O Santo André tem tudo sob controle, mas não dispõe de capacidade de investimentos e, mais que isso, de estrutura organizacional para dar salto de qualidade de forma a recolocar-se no circuito nacional.   

Acredita-se que um dos pontos mais sensíveis à obtenção de sucesso rumo ao clube-empresa está no comando do Paço Municipal de Santo André. Quanto mais a Prefeitura oferecer condições estruturais a uma parceria que permita a inserção do Santo André num novo patamar esportivo no médio prazo, mais haveria retorno à imagem do Município e também se estabeleceria uma ponte de adensamento do clube na cultura municipal e até mesmo regional. A implantação de gramado artificial no Estádio Bruno Daniel é um fator positivo.  

Entre os quatro principais clubes profissionais da região, o Santo André é o único solidamente associativo, contando para tanto com o Parque Poliesportivo no Jaçatuba, construído durante a gestão do então presidente Jairo Livolis, morto há quatro anos.  

Exclusividade associativa  

Os demais clubes da região (São Caetano, São Bernardo Futebol Clube e Água Santa de Diadema) têm outra conformação diretiva, sob o controle de grupos empresariais. Apenas o São Bernardo é ligado a investidores esportivos. Água Santa e São Caetano são comandados por empresários de outras atividades -- o primeiro de transporte coletivo e o segundo da Feira da Madrugada, na Capital. 

O que prevalece no escopo sonhado pelo Santo André Sociedade Anônima é uma modelagem que lembre o Bragantino, cuja parceria com o Red Bull é sucesso de público e bilheteria.  

A direção do Santo André não acredita que seria possível uma réplica do Bragantino ou algo assemelhado. Entretanto, está nos planos dos dirigentes a empatia de investidores de peso entre as maiores organizações brasileiras da atividade.  

Mais que proposta  

Certo mesmo é que a consultoria a ser contratada não será apenas a que apresentar a melhor proposta financeira, mas também que construa uma ponte segura em direção a investidores com histórico de sucesso no mundo de negociações no futebol.   

O Santo André não quer entrar em dividida, ou seja, não pretende traçar caminho que resulte em complicações futuras. A perenidade da agremiação é tão importante como peso nas negociações quanto a constatação de que o modelo atual está à beira de um colapso num quadro nacional e internacional em que os grandes clubes de massa elevaram a distância que os separa dos demais.  

Apenas durante a gestão do empresário Ronan Maria Pinto, o Santo André conseguiu (em 2009) disputar a Série A do Campeonato Brasileiro neste século. E mesmo assim durante uma única temporada. O sonho de consumo de dirigentes é que a agremiação, com novo recorte jurídico e operacional, caminhe em direção à Série B do Brasileiro, divisão que gera visibilidade e estabilidade financeira suficientes para sustentar planos concretos de investimentos mais robustos nas equipes de base, área cada vez mais disputada porque atende a demanda crescente de contratações principalmente para exportação. 

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