Esportes

Sabotagem de Paulinho afasta
investidores do Santo André

  DANIEL LIMA - 14/04/2022

O prefeito Paulinho Serra (e sua turma do barulho) está afastando investidores até então interessados em participar do processo de clube-empresa do Esporte Clube Santo André. O prefeito totalitário tornou complexo o que era compulsório. Nada mais interessante para quem embaralha o jogo do que ser o dono do jogo.  

A janela da SAF, Sociedade Anônima do Futebol, se fecha após aberta discretamente. Januária de uma oportunidade de ouro está vendo a vaca da redenção ir para o brejo da esculhambação.   

Os leitores vão entender na sequência desta análise que só existirá um responsável em potencial pela destruição do maior ativo social de Santo André, o futebol da cidade.  

Os obstáculos criados pela gestão de Paulinho Serra vão destruir o futuro pavimentado pela diretoria do clube que se reconhece incapaz de enfrentar novas configurações do futebol profissional. Como tantos clubes tradicionais e ainda maiores que o Esporte Clube Santo André reconhecem.   

O imperialismo do tucano que envolve um entorno de autoritarismo opressivo não é ambiente que agrade a investidores do futebol.  

IMPERIALISMO MUNICIPAL  

O grupo de Paulinho Serra praticamente domina as principais instituições sociais de Santo André. Por isso quer invadir o Esporte Clube Santo André. A invasão de fato já ocorre, mas pode se estender ao território físico, no Parque Jaçatuba.  

O Esporte Clube Santo André está perdendo a corrida rumo à modernização já adotada por vários clubes de grande porte, casos de Cruzeiro, Botafogo, Vasco, Atlético Paranaense e outros.  

O Esporte Clube Santo André vai comer poeira e corre o risco até mesmo de desaparecer como futebol ainda razoavelmente competitivo, integrante da Série A-1 do Campeonato Paulista e classificado à Série D do Campeonato Brasileiro.  

TRAVESSIA AO FUTURO 

A SAF é a grande travessia rumo ao futuro. Paulinho Serra tem todos olhos e ouvidos voltados para o passado. O tucano é incapaz de enfrentar o futuro de uma Santo André que ocupa a 114ª colocação no ranking do PIB Per Capital do Estado. Paulinho Serra desenvolve uma operação de sabotagem. Deveria cuidar da economia da cidade, que cresceu em média míseros 0,64% ao ano durante o primeiro mandato, de 2017 a 2020.   

Dirigentes seguem com providências burocráticas para transformar o Esporte Clube Santo André em Santo André Sociedade Anônima, como dezenas de clubes brasileiros também o fazem.  

Mas prevalece ambiente de inquietação. A gestão de Paulinho Serra faz de tudo e mais um pouco para atrapalhar. 

O entorno do prefeito Paulinho Serra vê na criação da SAF uma grande oportunidade de juntar política eleitoral e futebol profissional. Por isso tomou providências que geraram a criação de espécie de Santo André Genérico, o Santo André Futebol Clube.  

A nova agremiação gestada nos corredores do Paço Municipal pretende disputar campeonatos do Estado nas divisões de base e habilitar-se a suposta concorrência de concessão do Estádio Bruno Daniel.  

CADÊ INVESTIDORES?  

Dividir para reinar é a máxima do maquiavelismo que Paulinho Serra e sua tropa invasora lançaram para impor condicionalidades à concessão do Estádio Bruno Daniel, construído para atender ao clube representante do futebol profissional de Santo André desde 1967.  

Diretores do Esporte Clube Santo André mantêm-se o quanto podem distantes de terceiros na avaliação do quadro. Sabe-se que estão se reunindo toda semana para avaliar a situação político-esportiva imposta pelo prefeito Paulinho Serra e seu entorno.  

As reuniões com três consultorias especializadas em SAF prosseguem escalonadamente. Há indicativos de que refluíram os investidores inicialmente interessados no processo de transformação do Santo André em clube-empresa.  

AMBIENTE NOCIVO  

O ambiente político de Santo André é um espantalho a quem conduz futebol como empreendimento competitivo.  

Mantive nos últimos tempos contato com três comandantes de consultorias especializadas no negócio chamado futebol e todos trafegaram no mesmo sentido: os investidores exigem múltiplas informações sobre condicionantes à decisão de assumirem um clube profissional e o ambiente político-institucional é um dos mais relevantes.  

Sem harmonia entre as instituições, não existe possiblidade alguma de um empreendimento com responsabilidade corporativa e social sair da fase de pré-projeto.  

O Esporte Clube Santo André entrou na lista negra no ranking de clubes com potencial de virar empresa. São inúmeras as organizações associativistas que pretendem virar clube-empresa. A oferta é muito maior que a demanda.  

E os indicativos seguem o rumo de que vai aumentar ainda mais a proporção de clubes associativos interessados em virarem clubes-empresas e empreendedores dispostos a fazer negócios no futebol.  

A retração e o desencanto de investidores potenciais que veem o Santo André como ativo de risco não poderiam ser diferentes. Afinal, foram detectados vários pontos vulneráveis que impediriam qualquer abordagem de construir projeto em comum com a atuação direção do Esporte Clube Santo André. Os observadores fazem uma lista de problemas. 

a. O prefeito Paulinho Serra é espécie de preposto de grupos políticos locais e da Capital que o impedem de ter liberdade decisória em vários campos, entre os quais a concessão da SAF para o Esporte Clube Santo André. 

b. O prefeito Paulinho Serra e seu entorno criaram um clube (o Santo André Futebol Clube) para rivalizar-se com o Esporte Clube Santo André na concessão do Estádio Bruno Daniel, estabelecendo-se barreira supostamente legal para impor condições extracampo à transposição rumo a clube-empresa. 

c. Tentáculos político-eleitorais ligados à gestão de Paulinho Serra capturaram interesses eleitorais na expansão do que chamam de mandonismo oficial, ao manterem infiltrados nas torcidas organizadas para desestimular eventuais reações. Oferecem-se vantagens inclusive financeiras para o que os especialistas chamam de cala-boca. A politização das organizadas explicaria o silêncio.  

d. Conselheiros do Esporte Clube Santo André também estão na lista dos controladores de poderes do Paço Municipal, de forma a eventualmente tumultuarem o processo de adoção da SAF.  

e. Complacência de grande parte da mídia com os ditames do Paço Municipal, o que torna o ambiente hostil a eventuais medidas que possam causar choque entre o modelo associativista e o modelo empresarial pelo qual passaria o Esporte Clube Santo André.  

f. Negociações preliminares de integrantes do Paço Municipal com grupos de risco que ocupam espaço no mercado do futebol. São investidores sem lastro econômico-financeiro que se aproveitam de situações de fragilidade de agremiações para tomarem as rédeas. 

g. A falta de reação do Legislativo de Santo André também é observada como compulsório domínio do grupo político de Paulinho Serra. Apenas o vereador do PSOL, Ricardo Alvarez, estaria disposto a levar o tema SAF ao ambiente de resultados previsíveis da Câmara de Vereadores. E se espera muito pouco em forma de pressão.   

SILÊNCIO TOTAL 

Nenhum dirigente do Esporte Clube Santo André está disposto a falar sobre a pretendida transição organizacional.  

Há unanimidade em torno da aprovação da SAF e consequente abertura a negociações com interessados.  

O ambiente junto a diretores e conselheiros converge no sentido de que há esgotamento do modelo adotado desde que a agremiação foi fundada. 

Entretanto, não falta quem lembre e com isso demonstre preocupação com o modelo a ser incorporado caso a SAF seja mesmo adotada. Há temores de que o Esporte Clube Santo André seja novamente estiolado em sua história com algo semelhante à Saged, uma empresa que geriu o futebol da cidade durante cinco anos de seguidos   rebaixamentos e perdas econômicas e financeiras que até hoje mancham os balanços financeiros da agremiação.  

O recorte da Saged, entretanto, não passa pela porta de entrada da sede do Esporte Clube Santo André no Parque Jaçatuba.  

FRACASSO DA SAGED  

A Saged foi administrada por gente que não é do ramo do futebol. Diferentemente do que se pretende agora. Uma das condições que deverão emergir do modelo do Esporte Clube Santo André é que eventual controlador das ações tenha lastro no futebol de negócios. Outro ponto é que o Santo André Sociedade Anônima tenha um representante no Conselho de Administração.  

Mas tudo ainda é muito precoce como pretensão ao formato final, entre outras razões porque consultorias especializadas estão apurando a artilharia de propostas aos clubes em geral com base inclusive em exemplos que estão emergindo nestes primeiros tempos de aplicação da SAF.  

DITADURA DINÂMICA  

O Santo André Sociedade Anônima provavelmente ficará no fim da fila de pretendentes. A sabotagem do prefeito Paulinho Serra e seu entorno está dando resultado.  

O imperialismo numa Santo André sem alma prevalece. O regime democrático rui em Santo André com o esfacelamento da política partidária após a destruição municipal do Partido dos Trabalhadores. Não existe sequer segunda via no ambiente institucional de Santo André.  

Quem reclama da polaridade direita versus esquerda no Brasil precisa conhecer o regime de partido único e de poderosos e gulosos grupos organizados que tomaram o poder em Santo André.  

A cidade que dormiu três séculos, segundo o escritor Octaviano Gaiarsa, está vivíssima nos últimos cinco anos. Santo André pulsa dinamismo ditatorial.  

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