Imprensa

Eduardo Leite capricha
em respostas superficiais

  DANIEL LIMA - 01/03/2024

Estou sendo generoso e educado, para não dizer cortês e diplomático, ao qualificar de superficialidade o conjunto de respostas que o vereador Eduardo Leite, do PSB, concedeu à Entrevista Especial que publicamos nesta semana.

Candidato à Prefeitura de Santo André, Eduardo Leite não surpreendeu: ele sugere ser espécie de reserva cautelar dos grupos que dominam o Paço Municipal como alternativa à sucessão do prefeito Paulinho Serra. Ou o fizeram acreditar que seria reserva cautelar. Talvez mude de ideia nos próximos tempos, quando, supostamente, estaria num mato sem cachorro.

Não se pode esquecer jamais, para que não se atire na vala comum de ilações caluniosas ou de baixo teor ético, que Eduardo Leite constava da lista de nove nomes preferenciais do Paço Municipal como sucessor de Paulinho Serra.

Conjecturas político-eleitorais sequestraram por conveniências múltiplas a dissidência aparentemente amigável de Eduardo Leite. Ele correrá em raia própria, embora se especule que seria uma corrida experimental que, mais adiante, teria desfecho diferente. São especulações que não se podem desclassificar tendo como ponto de partida de factualidade provável a própria lista dos nove nomes.

SHOW DE DIPLOMACIA

A conclusão de que a Entrevista Especial com Eduardo Leite foi um show de diplomacia e superficialidade não é uma ofensa, muito menos uma precipitação, também está distante de simplificação.

Passasse Eduardo Leite por uma bateria de exames cardiológicos em tempo real, observando-se cada frase das respostas sincronizada com cada questionamento de CapitalSocial, teríamos um samba de uma nota só, um monocórdio, por assim dizer.

Eduardo Leite pareceria um homem de ferro ante potenciais comprometimentos que as questões poderiam expressar.

É claro e evidente que nenhum entrevistado desta série especial que talvez ultrapasse o calendário eleitoral desta temporada é obrigado a responder conforme a ótica crítica deste jornalista ou da demanda reprimida dos leitores. Longe disso.

Cada entrevistado deve responder somente aos próprios atos, planos, ideias e conveniências. Entretanto, deve preparar-se para uma avaliação de todos que pretendem saber quem poderá, em última instância, contemplar nas urnas desta temporada.

A impressão que se teve no consumo da Entrevista Especial é que as respostas de Eduardo Leite teriam sido terceirizadas ao ex-governador Geraldo Alkmin, presidente do PSB, partido do vereador eleito pelo PT, do qual migrou após ser hostilizado pelo diretório por haver elogiado o prefeito Paulinho Serra.

Eduardo Leite lembra, na Entrevista Especial que publicamos esta semana, o melhor da consagração popular das manifestações de Geraldo Alckmin como governador do Estado durante os tempos de conciliação e falso antagonismo com o PT. Nada, portanto, de Geraldo Alckmin dos ataques a Lula da Silva durante um debate eleitoral. Seguem avaliações às respostas de Eduardo Leite.

PANDEMIA ENVIESADA

Eduardo Leite fez elogios ao prefeitos Paulinho Serra por ações durante a pandemia. Uma avaliação duplamente equivocada porque os números são implacáveis. Santo André registrou um dos piores índices de óbitos por 100 mil habitantes no País e a gestão do setor de compras da Fundação do ABC, o Clube da Saúde da região, foi impactada por desvios de recursos públicos segundo apuração da Controladoria-Geral da União, antecedido por auditoria externa independente contratada pela então presidente. Mais que isso: a visão puramente municipalista da pandemia faz de Eduardo Leite o que poderia ser chamado de suprassumo provincial. A pandemia deveria ser objeto, portanto, de curadoria regional. Sem nem nessa situação o entrevistado parece entender que se vive num território dividido em sete partes, e que um dos prefeitos de uma dessas sete partes esteve no comando do Clube dos Prefeitos, é inescapável que seu olhar foi restritivo demais, além de estrábico.

ATUAÇÃO LEGISLATIVA

Eduardo Leite disse que “sempre me posicionei a favor dos projetos que considerei fundamentais para o progresso de nossa cidade”. E prosseguiu: “No entanto, também mantive minha posição firme ao não apoiar aquilo que, em minha opinião, não se mostrava coerente”. Eduardo Leite não apontou, entretanto, nem uma coisa nem outra. Os eleitores não foram informados sobre o conceito que o sustenta para definir como “fundamentais para o progresso de nossa cidade”, ainda mais que, no campo econômico, que diz diretamente ao bolso dos contribuintes, Santo André aumentou em termos reais, acima da inflação, os custos de vários tributos, inclusive do IPTU.

CONCESSÃO DO SEMASA

Também a respeito da concessão do Semasa à Sabesp, negociação recheadíssima de dúvidas, porque pouco transparente, como registramos em análises, Eduardo Leite preferiu o caminho do quase descaso. Não se estendeu sobre o significado de “deveríamos ter buscado uma negociação mais vantajosa para nossa cidade, que nos permitisse garantir o acesso à água para todas as famílias, mas com tarifas mais justas”. Convenhamos que se trata de abstração até que se prove economicamente que é possível chegar a essa equação. Como legislador, não se tem notícia de que tenha atuado no sentido exposto na entrevista. Se o fez, deveria manifestar-se sobre isso com os dados pertinentes.

PLANO DE AÇÃO

Eduardo Leite preferiu não se estender sobre a situação fiscal de Santo André, embora a reconhecesse. Foi superficial na abordagem, bem como em transportar para o terreno da realidade prática o que apontou como caminho rumo ao futuro em Tecnologia da Informação tanto em Osasco quanto São Carlos. Talvez o entrevistado não tenha observado contingenciamentos estruturais e legais que o dissuadiriam à empreitada. Os dois modelos sugeridos há muito estão maturados e incrementados, uma corrida alertada pelo então prefeito Celso Daniel que, entretanto, não encontrou reação em forma de motor de arranque.

CIDADE ENDIVIDADA

Também sem explorar com alguma profundidade a situação fiscal de Santo André, embora fizesse alerta quanto ao desafio, Eduardo Leite mencionou cortes de despesas, reavaliação de contratos e fortalecimento de parcerias com os governos estadual e federal. Objetivamente, não fez nenhuma incursão para apontar os pontos nevrálgicos e mais inquietantes das finanças de Santo André. Eduardo Leite leva a duas conclusões conflitantes: ou desconhece os dados ou os tem mas prefere sonegá-los.

EMPOBRECIMENTO CONTÍNUO

Também fez uma abordagem diplomática sobre a queda permanente de Santo André no ranking de PIB per capita no Estado de São Paulo. Nada que saísse do quadradismo de obviedades programáticas. “Entendo que mais do que simplesmente investir em programas sociais, é fundamental criar oportunidade reais para a população, promovendo a geração de emprego, renda e a identificação do potencial vocacional de Santo André”.

POLARIZAÇÃO NEGADA

Para Eduardo Leite, não existe polarização político-ideológica em Santo André como consequência do ambiente nacional. “Eu não vejo polarização na cidade. Sinto que as pessoas desejam o melhor para Santo André, e certamente vão buscar alguém capaz de assegurar a continuidade do que foi positivo e progredir em áreas que ainda necessitam de desenvolvimento, como, por exemplo, à Segurança Pública”. Parece pouco provável que o eleitor de Santo André, em algum grau de influência ainda longe de qualquer assertividade, deixe de considerar os fatores de direita e esquerda que se engalfinham nestes tempos de calcificação política.

HISTÓRICO FAMILIAR

Eduardo Leite se manifestou sobre o histórico familiar em Santo André, destacando a origem de andreense. Provavelmente pense como o prefeito Paulinho Serra que, ainda recentemente, alçou o berço andreense como fator de distinção de competência e compromisso social. Eduardo Leite poderia ter exposto como andreense alguns pontos programáticos que já tenha desenvolvido ou pretende desenvolver para retirar o discurso do campo teórico.

LEGISLATIVO-EXECUTIVO

Também nas relações entre o Legislativo e o Executivo de Santo André o candidato Eduardo Leite aponta um mar de tranquilidade. Nada diagnosticou que pudesse caracterizar alguma similaridade com o Congresso Nacional, mesmo que em contraste. Diferentemente, portanto, do que afirmou do que ocorre em Brasília, onde “existe uma interferência exagerada por parte do parlamento no orçamento da União, algo que considero prejudicial”.

CONFORMISMO ECONÔMICO

Indagado sobre a destruição da cadeia de produção industrial de Santo André, onde só sobraram os setores químico e petroquímico e variáveis mais diretas, Eduardo Leite respondeu com o otimismo conformado de que “o nosso desafio vai além da reindustrialização, precisamos estimular e atrair setores econômicos. Tenho me dedicado a buscar experiencias em outras cidades, como Recife, que vem desenvolvendo fortemente o setor de tecnologia através da capacitação da população, incentivos ao setor e desburocratização do processo de abertura de novas empresas”. Faltou a Eduardo Leite o principal – Santo André como o Grande ABC não tem planejamento estratégico econômico e nada será resolvido sem a contratação de especialistas no assunto e que vejam o território regional como uma grande empresa em crise.

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